Uma nova viagem se inicia, dessa vez sem que o roteiro esteja rigorosamente definido, sem estar acompanhada, é como da primeira vez, à vontade dos ventos.
domingo, 24 de maio de 2009
sábado, 16 de maio de 2009
Quando tudo começou
Escrito por Elis Crokidakis Castro
Este blog começa com um diário de viagem.
Cada dia vai sendo colocado aos poucos, com dicas de hotéis, preços e grandes emoções.
Aproveite!!!
Viagem sentimental, diário de viagem pela América do Sul
Prólogo
Janeiro de 2009
Este diário iria chamar-se “Viagem sentimental pela América do Sul”, algo meio sob a influência sterniana ou com influência do diário do Che que li faz pouco tempo, em julho passado.Na verdade, o roteiro tem a ver com o trajeto do Che, só que ao contrário, por questões de altitude não muito corretas, descer seria melhor que subir. E foi assim.
Fazia tempo que eu tinha colocado os Andes na gaveta, desde que em 1987 ou 1988 quando não fui a Machu Pichu, com amigos da faculdade. Eles foram e eu tinha muita vontade de ir e não fui. Estava trabalhando na ocasião, e os meninos, não sei, já não me lembro mais, se me convidaram, de qualquer maneira eu não me convidei. Depois disso estive envolvida com a viagem de um ex-namorado e sua namorada. Que estranho! Acho que eu queria é que ele fosse para o fim do mundo com ela e desaparecesse da minha frente. Sei que fiz um enorme bem a eles. Vai entender!!!
Mas voltando, essa viagem sentimental vai tentar passar para você, caro leitor, todas as mais fortes sensações. Lógico que não todas, algumas são intransmissíveis e só terão a intenção de deixar aquela vontade de querer ir e ver o que é.
Outras posso falar, e muito, e isso farei. Todos sabem que falo muito pouco, sou uma pessoa quieta, calada, costumo guardar as emoções e tentar decifrá-las, depois de digeri-las. Nada impulsiva. Aliás, isso nem faz parte do meu vocabulário, acredite o leitor que quiser. Mas essas informações não são importantes para um diário de viagem.
Digamos que esse é um diário sui generis .
Um diário às vezes traz reflexões sobre uma vida, reflexos de vida. Um tempo de vida, um dia, uma semana, um ano. Esse será de um mês, janeiro de 2009, tudo que escrevi leva em consideração o antes e o depois. Não me construí de novo para viver esse janeiro, nem me descarreguei de todo meu passado e de tudo que sou e fui para ultrapassar esse mês. Simplesmente esse mês é uma espécie de ciclo fechado, que talvez devesse ser feito há 20 anos atrás, mas não foi. E como aprendi nessa viagem, ao encontrar um casal idoso, nunca é tarde demais para fazermos o que um dia pensamos ou sonhamos, pode até parecer lugar comum, breguisse, mas é verdade.
Talvez essa experiência seja única, talvez eu nem volte lá nesta vida, em outra, pode ser. Tem muito ainda para ver, mas certas coisas que vi, podem piorar ou se transformar, ou quiçá desaparecer da sociedade.
Fato é que vi, vivi e foi muito legal, foi muito interessante imaginar tudo tão perto e ao mesmo tempo tão longe.
Quer mais alguma informação amigo leitor? Não mais a darei nesse prólogo. Agora você terá que se virar. Tem tudo por aí no texto, pelo meio, desde o preço da água até a diária do hotel. E certamente te será muito útil desvendar esses caminhos do nosso continente.
Boa leitura...
Capítulo-I - Antes de tudo uma confissão.
Eu confesso que apesar de ser uma contumaz escritora de diários eu jamais fui leitora desse gênero, se é que posso assim chamar. Nem mesmo os meus diários eu reli, qualquer vez na vida. Ultimamente é que me tem ocorrido a idéia de fazê-lo, mas ainda não tive coragem. Sei que tem muita coisa que me surpreenderá , como os diários da adolescência, ou o do casamento, ou de viagem como a primeira vez à Europa, por exemplo, com 21 anos de mochileira, sozinha e sem falar qualquer idioma além do meu próprio. O diário de cada amor que tive, cada um deles, pode-se dizer, tem um. Entretanto, um apenas perpassa por 13 anos, intercorrentes. Ou os diários de Roma, com seus cadernos coloridos, cada um com cores diferentes e canetas também, que seriam muito completados pelas cartas que mandei ao PM, que por egoísmo não me devolveu, quem sabe rasgou, sabe-se lá o que é alguém que é constantemente atormentado por cartas testamentos enormes vindos do outro lado do oceano.
Fato é que lembrando agora e fazendo um balanço talvez eu tenha lido na vida, de verdade, somente o “Diário de motocicleta” do Che, se li o da Anne Frank não me lembro mais. Li o “O grande bazar Ferroviário” do Paul Theroux, a viagem de trem pela Ásia. Às vezes, com o tempo parece que a gente assimila a história de tal forma que já não tem certeza se leu ou se te contaram, ou se ela sempre fez parte de suas lembranças..
Mas já estou enrolando demais para iniciar. Acho melhor parar de escrever e começar logo a digitar tudo isso, sim, porque diferente dos franceses do hostal de Salta, eu ainda estou na pré-história, não tenho lap top, embora meus alunos já tenham matérias on line. Talvez porque os brasileiros de fato tenham essa super capacidade para serem autodidatas, e o professor, hoje, seja apenas um ser em extinção, sem valor ou pudor para se submeter a salários ínfimos. Isso para não dizer que somos os meros intermediários, as barreiras entre quem quer vender o diploma, apenas, e quem quer comprar.
Mas isso é outro diário. Melhor ir logo para Cusco porque já prometi a muita gente a publicação virtual dessas informações.
2 de Janeiro de 2009.
Rio – Cusco
Chegamos a Cusco às 16 horas, depois de sairmos do Rio às 3 da manhã, passarmos por São Paulo e Lima,onde não deu para sairmos do aeroporto porque não tínhamos certeza se chegaríamos a tempo, para pegar o voo doméstico.
No avião, eu olhava o trajeto de cima, o tempo todo, dei sorte de sentar sempre à janela e ver do alto, mesmo sem saber onde estávamos, a cordilheira, a floresta. Certas horas via um deserto de uma terra escura sem qualquer vegetação. Algo árido no alto, tudo montanha e nada plano. Do alto via pequenos pontos prateados que não identifiquei como casa. Casas no meio do nada, de uma montanha como as de minério? Pareciam as montanhas de minério de Minas Gerais. De repente a paisagem muda. Continua alto, e picos ao longe são nevados. Depois explode um verde claro. A parede de minério desaba de repente num azul de água que não identifiquei se era mar ou lago, mas acho que era mar, porque não vi nenhuma ilha flutuante, ou margens, então talvez não fosse o lago.
Plana o avião e começa a descer, chegamos a Lima. A periferia não tem morros . Relevo parece um altiplano, acho que minha vista procura sempre os morros do Rio de Janeiro com seus recortes e árvores e enseadas harmoniosas.
Lima do alto tem cor marrom, tudo parece uma grande periferia. Aeroporto novo, gente simpática, coisas caras como em qualquer aeroporto. A cotação do Real é de um para um com o Sol, eles enlouqueceram. A do dólar é de um para três.
Trocamos dinheiro no aeroporto e fomos comer algo. A tarefa de se acostumar com o dinheiro dos outros às vezes é chata, ficamos calculando e avaliando. Comemos uma grande salada no fast food e aguardamos o novo embarque, observamos o povo que vem ao aeroporto. Sempre igual, todos aguardando quem chega ou trazendo quem vai, mas sempre uma certa expectativa, um burburinho, gente de toda parte, iludidamente penso num espaço democrático que não é. Imagina, quantos por cento da população tem grana para viajar de avião?
De novo mais um embarque, todo ritual outra vez. Acho que mostrei o passaporte umas dez vezes hoje. Arrumei até um bordão, entrego o passaporte e digo “ soi jô”. E sempre provoca um riso e isso é um contato legal, abre uma aproximação.
Entramos no avião, dessa vez eu fiquei lá longe, separada das meninas, e tive que ficar meio calada. Dormir impossível . Senta ao meu lado Patrícia e Érico, e eu como sempre inicio a conversa com ela.
Do alto descortina-se agora o vale sagrado de um verde intenso, é época das chuvas de verão.O avião começa a descer em Cusco, menos de duas horas de vôo, quinze graus, faz frio.
A cidade do alto é muito maior do que eu imaginava. Também de uma cor diferente. Sem árvores, sem verde, ela é terracota. Os morros são pertos e todos ocupados. Mais de 400mil habitantes. Penso na capital de Pizarro, o sanguinário, em como isso era habitado por incas e depois pelos espanhóis com sua fome de ouro e prata, com sua sede de conquistar, de se apossar sempre do que não era seu. . Mas de quem era? De quem já estava, mas se quem já estava tirou de outro? Sempre assim, colonizadores, desbravadores, tudo igual, só muda o endereço de partida, no fim todos fazem o mesmo. Todos querem se impor de sua forma e enriquecer e descobrir algo, até hoje continua o mesmo, talvez seja do homem, do macho essa necessidade de marcar seu território, como os bichos mesmo, e ali naquele lugar faziam o mesmo, se primeiro os incas chegaram, depois os espanhóis, só mudou a origem, a forma de transformação e de utilização do espaço e sua criação. Mas isso é outra conversa.
Olho ao longe e vejo a torre da praça de armas imponente sobre o resto da cidade.
Procuramos uma placa com nossos nomes e nada. Saímos do aeroporto e várias pessoas aguardam. É um pequeno aeroporto, minúsculo na verdade. De repente alguém fala: Elisa , achei que fosse eu, iniciamos ir, mas outra pessoa fala: Crokidakis , aí fomos.
Na vam, o acompanhante pergunta se alguém fala italiano, não sabia de onde éramos, uma loura, uma com feições árabe e uma com cara de índia, não era peruana, parece egipciana, me diziam na Itália.
Então eu converso em italiano com o cara que foi nos buscar. Engraçado isso, aqui na América do sul e eu falando italiano com um peruano. Não pode. Eu falo a ele que falo um italoportunhol e é isso que falo e falarei por toda viagem, na verdade nenhuma das 3 línguas .
Cortamos Cusco e entramos no bairro San Blas, bairro dos artistas, no alto. Pronto, descubro que vim para a Santa Teresa daqui, lugar dos artesãos. O carro entra pelas ruas estreitas sem calçadas e chegamos ao hotel.
O hotel é um casarão antigo transformado em hotel. Bom, legal, arranjadinho, com água bem quente, pagamos 43 dolares combinados pela internet.
Pela janela do quarto vemos os telhados terracota e a catedral. Estamos no alto. A construção é típica, antiga, com barro, parece estuque, nos fundos terracota , na frente branca com madeira,e dentro tudo branco, com pé direito altíssimo. A decoração também é típica como as mantas de que eu tanto gosto.
No quarto iniciamos nossos trabalhos de chegada, temos fome, mas não saímos para comer, preferimos dormir. Peço logo uma caneca de chá de coca, assim meu amigo Flores tinha me mandado fazer, e isso tirou a fome..
A primeira caneca de chá de coca, não abri mão,foi com uma iniciação com fotos e ritual inca.
Mortas de cansaço, conversamos um pouco e dormimos.
Cusco -3/1/2009
A cidade é linda, cidade terracota. Acordamos cedo demais, como aconteceria durante toda viagem, para meu prazer e de Malu e terror da Lilia . Tomamos café, um café esquisito, muito forte que tem que ser diluído no leite que também é forte, um pão redondo achatado, manteiga, geléia e suco, se quisermos. Desjejum fraco para os padrões brasileiros. Pedi chá de coca. O pessoal meio enrolado para servir mas muito simpático.
Saímos do hotel El Grial, e andamos toda a manhã pelas ruas. Chegamos à praça de armas e às igrejas, entrávamos em tudo que tinha porta aberta, paramos numa farmácia e compramos remédio para altitude. Não tínhamos mapa, o que é o melhor, sair e se perder e se achar. Foi assim. Finalmente chegamos à praça de armas, vi a imagem de cartão postal, aquela catedral e outras, tudo bem cuidado, para turista ver. Jardins organizados e coloridos, fazia frio mesmo com o sol. Muita gente sentada na praça, turistas e o povo da terra, era sábado, dia que normalmente tem movimento e feira.
Saímos andando sem destino e acabamos chegando ao comércio menos turístico e mais popular. A imagem se transforma. Ruas sujas, mal conservadas, gente com barracas pela rua, comida vendida sem qualquer higiene. Digo que chegamos a Nova Iguaçu de Cusco. Nas ruas o povo. Mulheres incas, com aquela aparência típica , aquelas roupas, chapéu, saias,carregam pesos enormes, crianças nas costas, embrulhadas com aquelas mantas extremamente coloridas, normalmente rosa. O povo é carente do mesmo jeito que em outros países subdesenvolvidos, mas o colorido dos incas vestidos a rigor dá o toque de diferença. Se olharmos sem atenção poderíamos dizer que estamos tanto na Índia , como em Caruaru, como na Bolívia, certos aspectos do espaço público acho que também foram globalizados, acreditem se quiser.
As vestimentas mudam, aquele colorido me fascina, e não se vestem assim apenas para tirar fotos, o que também tem, mas no lado não turístico da cidade não era tipo que elas faziam.
Entramos em muitos buracos, tinha feira no alto oposto ao de nosso hotel, no lado pobre, vimos as coisas sendo vendidas em pleno chão. Os carros passando enlouquecidos pelas ruelas estreitas e sem sinalização, alimentos , roupas, móveis, aparelhos elétricos, tudo vendido a céu aberto, parecia o Porta-portese romano. Descobrimos pracinhas bonitinhas e ruas em que apenas um ramo de negócio era praticado , parecia que era dividido em zonas, aí passamos pela zona das funerárias e caímos na das farmácias, muitas confeitarias com bolos decorados e docinhos, lojas de flores e tecidos, ou seja, como qualquer Saara, o Saara do Rio.
Chegando a uma pracinha fomos avisadas para tomar cuidado com assaltos. Então redobramos a atenção, o que não foi suficiente para que Lilia tivesse a bolsa de pano cortada por navalha, nada levaram mas a bolsa não pode mais ser usada. A técnica é a mesma, um tumulto, uma distração e quando se vê já foi. Entramos numa loja de tecido e um homem mandou outra vez tomarmos cuidado porque nos seguiam. Diante do duplo aviso, nos encaminhamos para a zona turística, não antes de almoçarmos em um restaurante, já numa transversal perto da praça de armas. Tinham sempre nos restaurantes os chamados menus turísticos. Nesse restaurante não havia turista , só gente da terra. O menu vem com salada, sopa, o prato principal, ainda sobremesa e uma bebida.
Nada mal, muito barato em alguns lugares, acho que esse primeiro almoço custou 12 soles.
Continuamos andando e quando já estávamos cansadas de bater pernas voltamos ao hotel, seguimos o que nos disseram para não forçar muito no primeiro dia por causa da altitude. Não saímos à noite, não tomei a Cusquenha, cerveja local que eu queria.
De volta a Cusco- 6/1/2009.
Hoje já é dia 6 e não escrevi nesses últimos dias. Foram tantas emoções, parodiando Roberto Carlos. Sonhos de adolescente finalmente realizados. Lembro-me da imagem de Machu Picchu na parede do meu quarto, pôster dado pelo Ricardo Ferretti.Mas isso é para depois.
Dia 3 passeamos por Cusco e fui captando as impressões da cidade. Ainda meu sensor estava se adaptando, assimilando o tom da voz, sentindo com quem deveríamos falar, o que fazer. No fim daquela tarde do dia 3 voltamos para o hotel e o Nico havia me telefonado. Achei que fosse o cara que os curitibanos tinham falado. Um parêntesis, caminhando pela cidade conhecemos uns meninos curitibanos que nos deram várias informações e ficaram de mandar o guia deles nos ligar para irmos com ele a MP. Mas não era o Nico e só depois vi isso. Nico era amigo do Ricardo Caval, o fotógrafo que faz a expedição Haribol e que super solícito me passou suas dicas na comunidade do orkut e nas mensagens que mandei para ele.
No hotel, chegou então um rapaz que eu achei que fosse o Nico e não era , era o tal John indicado pelos curitibanos. Bem, isso só foi desvendado depois. O tal John, cheio de lábia, chegou, falou, falou, sem se identificar e acabei fechando com ele o pacote para Machu Pichu,e aí chega o Nico e diz que era o indicado pelo Caval, fico na dúvida e faço a opção pelo que chegou primeiro. Foi horrível ter que decidir isso, porque o Ricardo foi tão bacana, enfim fechamos depois da confusão e prometemos comprar com o Nico a passagem para Copacabana, quando voltássemos.
Decidimos deixar tudo no hotel e ir para Machu Pichu, sem malas.
No domingo mesmo fomos em busca da cidade encantada, na verdade a cidade embaixo da encantada, Águas Calientes. Nosso roteiro foi o alternativo. Fomos de Van e não de trem.
Pegamos o pacote de carro que passava por Santa Tereza , lugar de termas e pela montanha, com uma noite em Águas Calientes, até aí tudo bem, abrimos mão de uma noite de hotel em Cusco.
Dia 4 acordamos cedo, chovia um pouco e a Van nos foi buscar no hotel. Depois de muito esperar, não sei o que, finalmente saímos em caravana pelo vale encantado e adjacências até começar a subida da montanha.
Dia inteiro viajando, passamos por vários povoados , iniciando no Vale Sagrado, Urubamba, Olontaytambo, Santa Tereza e lá pegando um trem até Águas Calientes.
Começamos a subir, subir até o alto do Vale Verônica. Subindo a paisagem se modificava, cada hora mais alto. De repente percebemos que a neve ficava mais próxima. À noite que em Cusco havia chovido inteira, no Vale havia nevado, tudo branco.
Ficamos encantados, todos latinos de países tropicais, exceto uma espanhola.
Cada lugarzinho que se descortinava tinha vales, casebres incas com lhamas no quintal, telhado de palha, a tundra e águas correndo do alto, do gelo derretido das cordilheiras. O gelo derrete e forma rios verticais, ou quedas d’água de uma força, que parecem grandes véus de noivas ou cachoeiras. A montanha toda cortada por essas águas que descem em busca de um leito de rio plano que vai desaguar no mar ou em outro rio, de que lado do continente eu não sei.
O carro vai subindo, não saio um segundo da janela,mais uma curva e crianças pequenas, muito pequenas, lindas com suas roupas coloridas alegres gritando acenando para os carros para que joguem qualquer coisa para eles. Às vezes elas cortam a rodovia na frente dos carros que buzinam sem parar. Aliás essa é uma característica dos motoristas peruanos. Buzinam sem parar . A cada curva, em todas ultrapassagens, com carros andando ou parados. Parece que seu sentido auditivo deve funcionar melhor que os outros.
Chegamos ao cume da montanha, uma igrejinha azul, neve por todos os lados. Ficamos encantados ,extasiados , todos no carro, colombianos, brasileiros , a espanhola e o peruano, pedimos para parar o carro. O motorista pára no meio da pista e saímos para fotografar. Lilia minha amiga que viaja ao meu lado parece assustada. Faço-a descer. Acho que temia a estrada tão perigosa, cheia de neve e o carro despreparado. Fica tão assustada que seu semblante não relaxa. Tiro uma foto dela rapidamente, tiramos foto de tudo, um cachorrinho negro está ali parado olhando e esperando que alguém lhe de algo, tão simpático que tenho vontade de levá-lo junto, mas apenas tirei foto. Outro carro para atrás de nós e quer passagem, começa a buzinar. Malu fotografa sem parar, eu também. Enfiei o pé na neve para ver se era mole ou dura. Curiosidade esquisita. Enfio rápido porque meu tênis de pano não poderia molhar, só tenho ele para um mês de viagem, meu amado All star que de branco virou cinza, no fim da viagem.
Entramos no carro e fomos, agora descida.
A paisagem de novo se modifica, agora aparece a placa “ área de derrumbes”, muitas pedras descendo da montanha, trechos de pistas completamente tomados por água e pelas pedras do lado de um despenhadeiro ,. olhar para baixo, era uma aventura. Num ponto só nuvens, parecia que estávamos numa estrada no meio das nuvens e depois as quedas. Essa estrada era asfaltada. Continuávamos a descer, de repente mais uma parada para desembarcar as bicicletas que levávamos no alto da Van. Tinha uma galera que ia descer de bike, ninguém da nossa Van.
Desesperados por um banheiro, já iam 5 horas de viagem,saímos e fomos procurar um. O lugar era uma parada que nada tinha, apenas um casebre. Enfiei-me pelo lugar e vi uma placa, banho: 0,50 soles. Um homem aparece cobrando. Um banheiro horrível, podre, sem luz, sem descarga, sem papel e o velho cobrando. Como sempre para o banheiro sou a primeira da fila. Quando ele fala o preço eu então falo: - quero papel. Ele reclama mas traz um rolo na mão tirando ele mesmo para a mulherada um pedaço do papel cor de rosa.
Lilia quase morre ao ver e chama minha atenção. Entro no banheiro/chiqueiro sem luz e vai, depois descarga também não tem, saio correndo e vejo o velho trazendo na mão dois baldes de água , depois de mim a Malu e depois a Lilia. Tudo por um xixi. Mal sabíamos o que ainda estava por vir até que aprendêssemos a não beber tanta água durante as viagens.
Voltamos para Van, descida, nova placa”caída de pedras”, acaba a estrada pavimentada e começa de terra. Chegamos a um vilarejo, ruas de barro, animais, aquela poeira preta. O motorista entra num bar e pergunta sobre a estrada, vem com a notícia de que a estrada principal esta fechada e temos que pegar uma alternativa. Duas horas a mais para chegar ao destino. Fácil se a estrada fosse boa. Era estrada também de chão, cheia de curvas, passagem para um só veículo a beira de um precipício . Povoados de campesinos no alto da montanha. Plantações de café e coca. Desespero, o povo com medo de cair ribanceira a baixo. Tem que “barrar”, diz o motorista. Teria que sair todo mundo do carro para ele subir e fazer a curva. Saem todos do carro para empurrar. Aí alguém fala, mulheres não precisam sair. Volto para o carro arrastando a Lilia que queria empurrar o carro com medo que ele caísse no precipício. Na verdade era para que o carro ficasse mais leve e não deslizasse no solo de pedras e barro. O carro fez a curva e voltou, umas três tentativas. Finalmente subiu e foi. De novo rumo a Santa Tereza. Chegamos ao vilarejo. Como sempre o carro e seu motorista param no bar já combinado com a empresa de turismo. Um bar metido.Mas imundo no banheiro onde fomos direto, sujo e sem papel . Cheia de autoridade e puta da vida, pedi ao cara o papel e ele fez corpo mole. Cansada de esperar entrei no bar que estava vazio na parte de trás e fui pegar papel absorvente que tinha na parede. Entrei no banheiro com parte do papel e deixei a Lilia na fila com o resto . Veio o cara e diz para ela que aquele papel não podia, coitada tomou bronca por minha causa.
É incrível como os peruanos são estranhos com limpeza, tudo parece imundo e eles economizam com os artigos higiênicos . Guardanapo é cortado e 4, recebemos uma folha fininha, no higiênico temos que pedir sempre. Eles não colocam os rolos antes das pessoas chegarem. Os banheiros são sempre ruins, só lugares muito bons tem bons banheiros. Lógico, o Mac Donald e um outro como ele servem de banheiro público. Eu não estou exagerando, é que limpeza nos causa, às mulheres em especial, um enorme terror. Não podemos fazer xixi na rua, nem num canto. É muita roupa para tirar, e mesmo que o vaso seja limpo o chão tem também que ser para não sujar a roupa.
Banho também não é um hábito costumeiro, eles não gostam, ou não tomam banho todo dia, nos disse Eduardo, um brasileiro casado com uma peruana que trabalha no Café Jack, o melhor de Cusco, na esquina da Tullumayo com Hatunrumiyoc, antes da subida para San blas.
Seguindo então de Santa Tereza fomos a hidrelétrica onde pegamos o trem. Todos os turistas em alternativos já estavam no trem, lógico saímos correndo porque o trem já tinha apitado. Vamos em pé eu e Malu, Lilia logo consegue um lugar oferecido por um menina gentil. Em frente a ela no banco um casal de velhinhos que faz a mesma viagem, brasileiros que acompanham a filha com os netos adolescentes. Ele tem uns 78, ela também, mas ela parece um pouco debilitada, e diz que não vai subir a Machu Picchu pois as pernas estão doendo muito.Um barato. Lilia vai conversando com eles a viagem toda.
Bonita a estrada, o em torno da ferrovia, e chegamos a Águas Clientes. Beirando a ferrovia as pedras imensas que já são o lado de fora da cidade encantada.
Águas Calientes é um povoado que cresceu a margem do conhecimento da cidade de Machu Picchu. Saímos do trem e fomos para o hotel deixar as coisas e voltar para comer.
A arquitetura é como das cidades de praia do Rio. Desordenada,mas tem um astral legal, meio Ilha grande, Pipa etc. muitos turistas e lojinhas, fica no meio do vale e tem também muitos restaurantes.
No hotel, o pior que ficamos, que já estava incluído no pacote, a maior furada. Um mal gosto horrendo. Ficava no buxixo,mas era muito feio. Quartos horríveis, o nosso especialmente. Não tinha toalha, não tinha papel higiênico, quanto mais sabonete. Tudo tínhamos que pedir, um saco.
Cheiro de mofo, sem lugar para pendurar as coisas.Uma roubada e como conseguir a esa altura, um outro lugar? E já tínhamos pagado. E agora?
Pedimos toalhas, a moça disse que não havia porque tinha chovido e tudo estava molhado. Eu já puta da vida, revoltada, olho para cima, como costumo. Por fim, conseguimos uma toalha para Lilia que não tinha levado.
Saímos fomos dar um giro na vila, não fazia frio ao contrário de Cusco, fomos jantar porque tínhamos só comido besteiras, todo o dia de viagem. Sentamos num restaurante bom e finalmente posso provar a cerveja cusquenha, só eu bebo,pelo menos conseguimos brindar não termos caído no precipício e chegarmos vivas. Jantar gostoso, lugar bonito. Comemos e fomos dar uma volta, comprar água e coisas para levar a Machu Pichu, onde uma garrafa custa 10 soles, dez reais, pelo câmbio louco deles.
Voltamos ao hotel e quando entramos encontramos os argentinos lindinhos.Gaston, Rodrigo, nossos rumos mudaram por algumas horas, que foram muito interessante, como contar estrelas em um lugar tão belo,muitas sensações interessantes, céus de muitos lugares, cada qual em um lugar diferente vivendo experiências doces,muito doces... Lilia conversava com um espanhol de Sevilha, não sei onde foram, mas foram. Voltamos para o quarto do hotel já pela madrugada, dormimos leves , que esquecemos até o cheiro de mofo.Nossa hora de saída era marcada para as 5 da manhã para subir rumo a Machu Pichu. São muitos micro-ônibus que levam à cidade, Na verdade a estrutura para chegar a Machu Pichu é boa e começa a ficar inviável para o turismo barato . O parque é fechado e ninguém mais pode se aventurar a ir só. Mesmo quem faz a trilha tem que ter um guia credenciado, não é mais como antes, tudo agora é delimitado, organizado pelo próprio bem das ruínas e pelo próprio bolso de quem explora todo o complexo. A Eurail Peru, que tem a concessão para explorar a ferrovia e cobra quanto quer, um preço altíssimo, em dólar. Aliás parece que a moeda do Peru é o dolar. Em certos lugares tudo é em dólar, nem tem o preço sem soles. Enfim subimos o cerro e chegamos a Machu Pichu, fila para entrar e quando se descortina a nossa frente aquela cidade em ruínas, sinto um arrepio dos pés a cabeça, meus olhos ficam embriagados com a beleza do lugar e sua preservação ainda hoje. Tem chovido muito e o verde dos gramados contrasta com o cinza das pedras é maravilhoso, impressionante, àquela estrutura escondida entre paredões de pedra. Não pensei em sentir essa coisa, esquisita que me deixou sem ar, impactada.
Cada degrau que subíamos , em cada ponto tínhamos um miragem diferente, um olhar diverso.
Lilia disse que MP é um lugar sagrado que remete a uma experiência espiritual muito forte embora a quantidade de flashes e risos e tudo mais que vem com os turistas e sua falta de sensibilidade em relação a tudo que a cidade representa. Para ela é difícil encontrar um lugar com tal energia em que pudéssemos ficar apenas contemplando ou sublimando a existência do homem diante da imensidão das pedras e da cidade. Ela esperava um experiência espiritual mas sabe que esse tempo já passou. Mesmo assim, tocou a roca cerimonial e tentou se energizar nas pedras pedindo algo para o além. Fascina-lhe a história do condor.
Para Malu, MP e sua arquitetura impressionam por terem os incas feito aquilo sem qualquer mecanismo moderno ou instrução. Colhi os depoimento das meninas quando voltamos . Cada qual do seu jeito, Malu na sua economia de palavras é sempre pontual. A forma tranqüila e simples de ver as cosias sem complexidade e sem exigir demais ou pensar com tantas digressões ou devaneios como eu .Pergunto a todas o que acharam e escrevendo na praça onde somos a cada 2 minutos interpeladas por mulheres e crianças vendendo coisas. Eu sentada no chão, fazendo o banco de mesa e elas sentadas no banco. As mulheres chegam- “Senhorita uma medalha, senhorita um anelo, senhorita um cordon” vinte soles, 10 soles.
Eu pergunto se elas já foram a MP, dizem que não,pergunto porque, dizem que é muito caro.
Logo chega uma menina pequena, Rubeley, que vende bonecas e ficamos mais de uma hora conversando. As crianças chegam sempre perguntando de onde somos e quando dizemos Brasil falam a capital e que o presidente é Lula que tem nove dedos e fazem um gesto. Ela Rubeley fala da bandeira brasileira e explicamos o significado das cores. Falo da miscigenação e fico puxando conversa com ela, falo muito e ela também quer saber tudo, tem 10 anos. Ela fala da sua família. Tem 3 irmãos menores e tem que vender 20 soles para voltar para casa. A mãe faz as bonecas, o pai pinta aquarelas e ela tem que vender. Disse que estuda e diz que quer ser doutora, pergunto se da medicina. Diz que sim.
O trabalho infantil aqui é uma realidade. Crianças muito pequenas sendo exploradas pelos pais e por outros. Trabalhando como cobradores, vendendo coisas. Não sei sobre a prostituição infantil, mas tem anúncios indicando que algo de errado acontece. Rubeley diz que as mulheres brasileiras são bonitas, eu digo que as peruanas também, que ela é linda e ela fica toda vaidosa, falo de seu cabelo e ela parece que não acredita que digo que ela é linda. De fato era, as crianças são muito bonitas por aqui e são calmas também. Os adultos não são bonitos,mais os cabelos são maravilhosos.
Nos despedimos de Rubeley e fomos .
Na volta de MP as emoções também não foram poucas. Saímos de Águas Calientes ao meio dia de trem e fomos pegar a Van na hidrelétrica. Por mais que reclamássemos o caminho seria o mesmo da vinda. Entramos no carro e fomos para Santa Tereza onde paramos para que alguns almoçassem . seu Jesus,nosso motorista, funcionário público aposentado , dirige seu próprio carro para as agências de turismo, diz que o caminho que é mais fácil ainda está bloqueado, ou seja, teríamos que voltar pela estrada de chão, cheia de precipícios.
Eu e Malu nos aboletamos do lado do motorista para ver de perto a estrada. Na verdade para controlar sua direção. Lilia foi atrás. Dessa vez não era o belo argentino que caia para seu lado , era o peruano que apelava para seus carinhos. A tensão da viagem a deixou torta pois seu banco era o da ponta. Deixamos Santa Tereza sem ir às termas. Como boas cariocas, é lógico que fomos para MP levando os nossos biquínis, porque teríamos no pacote as águas termais. Nada feito. O Jesus estava com medo da chuva e de cair mais barreiras, então cancelou nossos banhos termais. A maior frustração. Lilia que é peixe dágua só reclamava da falta de água, queria porque queria cair de boca nas termas, ainda mais depois que o guia disse que queria nos ver em trajes de banho.
Começamos o caminho de volta, subindo, cada curva um novo barranco, mas Jesus era prudente. Só dizia que não podia ir contra a Naturaleza.
Vamos andando, mais um povoado antes de pegar a carreteira, estrada asfaltada. Finalmente um pouco menos de balanço. Pouca emoção? Nada. Começam as neblinas, cerração. Olhamos para o lado e parece que andamos nas nuvens, vamos subindo ainda mais. De repente no topo do moro policiais param o táxi que estava na nossa frente e nos para também.
Começam a revistar o táxi e nós olhando. Todo mundo nervoso na vam, cariocas pensamos logo numa blitz falsa. Pronto, vão levar todo nosso dinheiro e aí, ciao viagem.Os policias tiram do táxi vários pacotes de coca processada. Tomamos um susto, eles levam o cara preso e liberaram o táxi, revistam a mala do nosso carro e nos manda partir. Seguimos, na próxima parada, que seria a última antes de Cusco, encontramos crianças jogando futebol no meio da carreteira. Entramos no lugar horrível, era um bar. Todos as filas de novo no banheiro. O pior, era uma privada turca, tudo escuro, molhado, nojento, fomos mesmo assim. Alguns tomaram chá de coca, mas nós nem isso, o frio era brabo, soltávamos fumaça pela boca.
De novo para o carro e saímos subindo até o alto e começamos a descer. Entramos já noite em Ollantaytambo, havia uma procissão do dia de Reis, a cidade muito bonitinha, a procissão também, com homens vestido a rigor, tudo colorido e eles dançavam, muito bonito e interessante. Atraso na viagem, tudo engarrafado, muitas vans que faziam o mesmo trajeto e a procissão a nossa frente o povo atrás. Tentei tirar foto, mas não dava.
Finalmente saímos da cidade e de novo a estrada, no meio do caminho eu já desesperada pedi para o Jesus parar em um bar para fazer xixi, era um restaurante,entrei, estava aberto, falei com a moça que estava dentro, me disse onde era,e fui, tudo escuro, perguntei sobre a luz, disse-me que estava queimada. Pronto, tô ferrada, a vontade era tanta, que não tive nada cheguei sei lá onde, e fiz meu xixi, só depois vi que tinha molhado as pernas da calça comprida, oh! Inferno!! Subi no carro onde todos me esperavam e fomos.
Chegamos em Cusco por volta das 10 horas da noite, Jesus nos deixou perto da praça de armas, reclamamos muito porque devia nos deixar no hotel. Saímos e fomos comer para ir ao hotel. Entramos num restaurante perto da praça e comemos, “pollo com papas”(frango com batatas fritas, a salada no buffet), aliás, é o prato mais comido aqui, quando não tem batata no prato é uma raridade, tudo é feito com base nesse legume, tomei uma cerveja cusquenha( 7soles) para relaxar e ficar mais leve, as meninas não beberam,depois fomos para o hotel mortas de cansadas.
Machu Pichu tinha ficado para trás, foi vista. Várias sensações são experimentadas. Não sinto como um lugar religioso, místico talvez, pela sua aura de encantamento e mistério ao ficar tanto tempo desaparecida dos olhos humanos, sob a selva. Entretanto, as cosias não são mais como antes. Muitas levas de turistas todos os dias a passar pelas ruas e admirar as ruínas .
Toda história é muito interessante. Seria a cidade encravada dentro do Vale, uma universidade onde logicamente a nobreza inca ia estudar. Não era como uma cidade qualquer. Entretanto, quando essa nobreza foi morta, talvez a tal universidade tenha sido abandonada e deixada ao esquecimento, já que não tinham nobres para povoa-la, e só no século passado é que foi descoberta por um campesino ou pelo americano, quem foi??
Emociona-me a cidade, me arrepiou, mas não vi aquilo com algo de espiritualidade. Não se tem noticias se aquilo foi um campo de batalhas ou coisa assim. Tem uma grande energia que envolve o local mas muito parece que se transformou, virando turístico . As vezes me pergunto porque vamos para os lugares para fazer as mesmas coisas, todos, milhões de pessoas a cada ano nos mesmos destinos. Alguns com buscas pessoais outros só para ver. Que sentido tem sair do seu próprio lugar e subir 3 dias um morro para ver a cidade? Alguns compram o pacote inteiro e só fazem o caminho de uma hora no leito da estrada,tem sentido isso? E por que vamos? Não existe mais lugares inexplorados, talvez há 25 anos atrás fosse MP uma maneira de encontro com a natureza ou qualquer coisa, hoje, o que é? Qual simbolismo representa essa cidade? Que elementos da identidade inca esse povo deposita nesse espaço? Não estudei sobre essa cultura para sair dissertando a respeito, aliás aqui no Brasil, nós praticamente nem vemos sobre esses povos, ouvimos dizer que existiram, mais nada. Nem mesmo dos nossos índios nós sabemos. Certamente fato esse proposital , somente valorizar a cultura européia e americana, é estratégico, não cria laços com os visinhos, não sentiremos todos repulsa de ter sido dizimados pelos colonizadores. Mas também os índios colonizavam, aí volto ao homem e sua necessidade de poder, de adquirir bens e riquezas, enfim, deixo essas coisas para quem tem mais bagagem para falar.
Vim para MP porque queria ver de perto tudo que pensava quando era adolescente. Mas já não sei se hoje isso tem a mesma força de ontem. Que símbolos, que representações retiramos de tudo aquilo? O que eu vim buscar? O que eu encontrei? Talvez esteja chegando a conclusões de que, nem sei se quero ir mais a algum lugar. Certas situações limites nos colocaram. Perrengues, noite sem dormir como a de ontem quando viemos de Cusco para Copacabana . Pagamos o melhor ônibus e era péssimo.
Em Cusco ainda ficamos 2dias descansando. Fomos a Pisac, um grande parque arqueológico muito maior que MP, uma feira de artesanatos, coisaS lindas. O colorido mágico das tapeçarias incas, a velha inca que vende na feira, os pós para tingir a lã. Uma figura inusitada, fotografei, sem que ela me visse, as crianças carregando uma lhaminha e cobrando para fotografá-las, Não tinham muita noção do dinheiro, mas queriam ver todas as fotos, ainda mais com as máquinas digitais, ela adoravam, se ver depois que tirávamos as fotos. É um fascínio, pensar que suas fotos vão para o mundo todo, lógico que elas não pensam assim, pensam apenas no reflexo, no seu espelho.
Pisac é pequena, casas baixas coloridas, ruas estreitas ,pouca gente na rua, fica num lindo vale. Fomos de ônibus(5soles ida e volta) e a paisagem é de tirar o fôlego, nesse caminho que vimos o condor e fazendolas, bonitinhas ao longo do caminho, qualquer vendinha tem artesanato e isso enfeita o espaço. A lhamas tem também seus enfeites, ficam muito bonitinhas com brinquinho colorido.
Na feira não compro nada, tudo é caro, apenas um lhama sentada de pedra. Não tenho como carregar as coisas, assim me limito. Minha mochila está cheia e pesada, roupa de frio pesa demais e não quero ficar cheia de tralhas pelo caminho.
Sinto-me cansada e tem apenas uma semana,a altitude da um cansaço, um esgotamento, subir uma escadinha é um estrago. Preocupo-me com o trabalho que terei quando voltar, se conseguirei me manter, se me pagarão o que devem. Se o doce permanecerá?Não quero esse ano ficar num estacionamento mental. E não quero ocupar minha mente com uma relação que se consome em si mesma. O que espero não sei, o que quero também não sei. Quero estar, mas quero qualidade no empenho. Talvez o alvo do meu desejo seja apenas um objeto para passar o tempo. Mas como saber se não se fala, não se envolve e se limita. Até pode ser mais simples, mas as pessoas não se permitem e causam sofrimento nas outras Pois é, tem tanta gente que finge que não sabe das coisas, finge tanto que chega acreditar que é verdade o que prega, cria uma realidade e fica se repetindo para que ela se torne real, esquece que relaxar, se largar sem neuras, se dar, pode ser o melhor.Chega, não quero cair na mesma neurose de novo, não , não aqui, nem esse ano.
Despesas: Passeio Machu Pichu- 150 dolares /pessoa, Hotel Cusco -43dólares,o quarto triplo,Passagem para Copacabana 70 soles,Museu inca- 10 soles, Passagem Pisac- 5soles.
Prólogo
Janeiro de 2009
Este diário iria chamar-se “Viagem sentimental pela América do Sul”, algo meio sob a influência sterniana ou com influência do diário do Che que li faz pouco tempo, em julho passado.Na verdade, o roteiro tem a ver com o trajeto do Che, só que ao contrário, por questões de altitude não muito corretas, descer seria melhor que subir. E foi assim.
Fazia tempo que eu tinha colocado os Andes na gaveta, desde que em 1987 ou 1988 quando não fui a Machu Pichu, com amigos da faculdade. Eles foram e eu tinha muita vontade de ir e não fui. Estava trabalhando na ocasião, e os meninos, não sei, já não me lembro mais, se me convidaram, de qualquer maneira eu não me convidei. Depois disso estive envolvida com a viagem de um ex-namorado e sua namorada. Que estranho! Acho que eu queria é que ele fosse para o fim do mundo com ela e desaparecesse da minha frente. Sei que fiz um enorme bem a eles. Vai entender!!!
Mas voltando, essa viagem sentimental vai tentar passar para você, caro leitor, todas as mais fortes sensações. Lógico que não todas, algumas são intransmissíveis e só terão a intenção de deixar aquela vontade de querer ir e ver o que é.
Outras posso falar, e muito, e isso farei. Todos sabem que falo muito pouco, sou uma pessoa quieta, calada, costumo guardar as emoções e tentar decifrá-las, depois de digeri-las. Nada impulsiva. Aliás, isso nem faz parte do meu vocabulário, acredite o leitor que quiser. Mas essas informações não são importantes para um diário de viagem.
Digamos que esse é um diário sui generis .
Um diário às vezes traz reflexões sobre uma vida, reflexos de vida. Um tempo de vida, um dia, uma semana, um ano. Esse será de um mês, janeiro de 2009, tudo que escrevi leva em consideração o antes e o depois. Não me construí de novo para viver esse janeiro, nem me descarreguei de todo meu passado e de tudo que sou e fui para ultrapassar esse mês. Simplesmente esse mês é uma espécie de ciclo fechado, que talvez devesse ser feito há 20 anos atrás, mas não foi. E como aprendi nessa viagem, ao encontrar um casal idoso, nunca é tarde demais para fazermos o que um dia pensamos ou sonhamos, pode até parecer lugar comum, breguisse, mas é verdade.
Talvez essa experiência seja única, talvez eu nem volte lá nesta vida, em outra, pode ser. Tem muito ainda para ver, mas certas coisas que vi, podem piorar ou se transformar, ou quiçá desaparecer da sociedade.
Fato é que vi, vivi e foi muito legal, foi muito interessante imaginar tudo tão perto e ao mesmo tempo tão longe.
Quer mais alguma informação amigo leitor? Não mais a darei nesse prólogo. Agora você terá que se virar. Tem tudo por aí no texto, pelo meio, desde o preço da água até a diária do hotel. E certamente te será muito útil desvendar esses caminhos do nosso continente.
Boa leitura...
Capítulo-I - Antes de tudo uma confissão.
Eu confesso que apesar de ser uma contumaz escritora de diários eu jamais fui leitora desse gênero, se é que posso assim chamar. Nem mesmo os meus diários eu reli, qualquer vez na vida. Ultimamente é que me tem ocorrido a idéia de fazê-lo, mas ainda não tive coragem. Sei que tem muita coisa que me surpreenderá , como os diários da adolescência, ou o do casamento, ou de viagem como a primeira vez à Europa, por exemplo, com 21 anos de mochileira, sozinha e sem falar qualquer idioma além do meu próprio. O diário de cada amor que tive, cada um deles, pode-se dizer, tem um. Entretanto, um apenas perpassa por 13 anos, intercorrentes. Ou os diários de Roma, com seus cadernos coloridos, cada um com cores diferentes e canetas também, que seriam muito completados pelas cartas que mandei ao PM, que por egoísmo não me devolveu, quem sabe rasgou, sabe-se lá o que é alguém que é constantemente atormentado por cartas testamentos enormes vindos do outro lado do oceano.
Fato é que lembrando agora e fazendo um balanço talvez eu tenha lido na vida, de verdade, somente o “Diário de motocicleta” do Che, se li o da Anne Frank não me lembro mais. Li o “O grande bazar Ferroviário” do Paul Theroux, a viagem de trem pela Ásia. Às vezes, com o tempo parece que a gente assimila a história de tal forma que já não tem certeza se leu ou se te contaram, ou se ela sempre fez parte de suas lembranças..
Mas já estou enrolando demais para iniciar. Acho melhor parar de escrever e começar logo a digitar tudo isso, sim, porque diferente dos franceses do hostal de Salta, eu ainda estou na pré-história, não tenho lap top, embora meus alunos já tenham matérias on line. Talvez porque os brasileiros de fato tenham essa super capacidade para serem autodidatas, e o professor, hoje, seja apenas um ser em extinção, sem valor ou pudor para se submeter a salários ínfimos. Isso para não dizer que somos os meros intermediários, as barreiras entre quem quer vender o diploma, apenas, e quem quer comprar.
Mas isso é outro diário. Melhor ir logo para Cusco porque já prometi a muita gente a publicação virtual dessas informações.
2 de Janeiro de 2009.
Rio – Cusco
Chegamos a Cusco às 16 horas, depois de sairmos do Rio às 3 da manhã, passarmos por São Paulo e Lima,onde não deu para sairmos do aeroporto porque não tínhamos certeza se chegaríamos a tempo, para pegar o voo doméstico.
No avião, eu olhava o trajeto de cima, o tempo todo, dei sorte de sentar sempre à janela e ver do alto, mesmo sem saber onde estávamos, a cordilheira, a floresta. Certas horas via um deserto de uma terra escura sem qualquer vegetação. Algo árido no alto, tudo montanha e nada plano. Do alto via pequenos pontos prateados que não identifiquei como casa. Casas no meio do nada, de uma montanha como as de minério? Pareciam as montanhas de minério de Minas Gerais. De repente a paisagem muda. Continua alto, e picos ao longe são nevados. Depois explode um verde claro. A parede de minério desaba de repente num azul de água que não identifiquei se era mar ou lago, mas acho que era mar, porque não vi nenhuma ilha flutuante, ou margens, então talvez não fosse o lago.
Plana o avião e começa a descer, chegamos a Lima. A periferia não tem morros . Relevo parece um altiplano, acho que minha vista procura sempre os morros do Rio de Janeiro com seus recortes e árvores e enseadas harmoniosas.
Lima do alto tem cor marrom, tudo parece uma grande periferia. Aeroporto novo, gente simpática, coisas caras como em qualquer aeroporto. A cotação do Real é de um para um com o Sol, eles enlouqueceram. A do dólar é de um para três.
Trocamos dinheiro no aeroporto e fomos comer algo. A tarefa de se acostumar com o dinheiro dos outros às vezes é chata, ficamos calculando e avaliando. Comemos uma grande salada no fast food e aguardamos o novo embarque, observamos o povo que vem ao aeroporto. Sempre igual, todos aguardando quem chega ou trazendo quem vai, mas sempre uma certa expectativa, um burburinho, gente de toda parte, iludidamente penso num espaço democrático que não é. Imagina, quantos por cento da população tem grana para viajar de avião?
De novo mais um embarque, todo ritual outra vez. Acho que mostrei o passaporte umas dez vezes hoje. Arrumei até um bordão, entrego o passaporte e digo “ soi jô”. E sempre provoca um riso e isso é um contato legal, abre uma aproximação.
Entramos no avião, dessa vez eu fiquei lá longe, separada das meninas, e tive que ficar meio calada. Dormir impossível . Senta ao meu lado Patrícia e Érico, e eu como sempre inicio a conversa com ela.
Do alto descortina-se agora o vale sagrado de um verde intenso, é época das chuvas de verão.O avião começa a descer em Cusco, menos de duas horas de vôo, quinze graus, faz frio.
A cidade do alto é muito maior do que eu imaginava. Também de uma cor diferente. Sem árvores, sem verde, ela é terracota. Os morros são pertos e todos ocupados. Mais de 400mil habitantes. Penso na capital de Pizarro, o sanguinário, em como isso era habitado por incas e depois pelos espanhóis com sua fome de ouro e prata, com sua sede de conquistar, de se apossar sempre do que não era seu. . Mas de quem era? De quem já estava, mas se quem já estava tirou de outro? Sempre assim, colonizadores, desbravadores, tudo igual, só muda o endereço de partida, no fim todos fazem o mesmo. Todos querem se impor de sua forma e enriquecer e descobrir algo, até hoje continua o mesmo, talvez seja do homem, do macho essa necessidade de marcar seu território, como os bichos mesmo, e ali naquele lugar faziam o mesmo, se primeiro os incas chegaram, depois os espanhóis, só mudou a origem, a forma de transformação e de utilização do espaço e sua criação. Mas isso é outra conversa.
Olho ao longe e vejo a torre da praça de armas imponente sobre o resto da cidade.
Procuramos uma placa com nossos nomes e nada. Saímos do aeroporto e várias pessoas aguardam. É um pequeno aeroporto, minúsculo na verdade. De repente alguém fala: Elisa , achei que fosse eu, iniciamos ir, mas outra pessoa fala: Crokidakis , aí fomos.
Na vam, o acompanhante pergunta se alguém fala italiano, não sabia de onde éramos, uma loura, uma com feições árabe e uma com cara de índia, não era peruana, parece egipciana, me diziam na Itália.
Então eu converso em italiano com o cara que foi nos buscar. Engraçado isso, aqui na América do sul e eu falando italiano com um peruano. Não pode. Eu falo a ele que falo um italoportunhol e é isso que falo e falarei por toda viagem, na verdade nenhuma das 3 línguas .
Cortamos Cusco e entramos no bairro San Blas, bairro dos artistas, no alto. Pronto, descubro que vim para a Santa Teresa daqui, lugar dos artesãos. O carro entra pelas ruas estreitas sem calçadas e chegamos ao hotel.
O hotel é um casarão antigo transformado em hotel. Bom, legal, arranjadinho, com água bem quente, pagamos 43 dolares combinados pela internet.
Pela janela do quarto vemos os telhados terracota e a catedral. Estamos no alto. A construção é típica, antiga, com barro, parece estuque, nos fundos terracota , na frente branca com madeira,e dentro tudo branco, com pé direito altíssimo. A decoração também é típica como as mantas de que eu tanto gosto.
No quarto iniciamos nossos trabalhos de chegada, temos fome, mas não saímos para comer, preferimos dormir. Peço logo uma caneca de chá de coca, assim meu amigo Flores tinha me mandado fazer, e isso tirou a fome..
A primeira caneca de chá de coca, não abri mão,foi com uma iniciação com fotos e ritual inca.
Mortas de cansaço, conversamos um pouco e dormimos.
Cusco -3/1/2009
A cidade é linda, cidade terracota. Acordamos cedo demais, como aconteceria durante toda viagem, para meu prazer e de Malu e terror da Lilia . Tomamos café, um café esquisito, muito forte que tem que ser diluído no leite que também é forte, um pão redondo achatado, manteiga, geléia e suco, se quisermos. Desjejum fraco para os padrões brasileiros. Pedi chá de coca. O pessoal meio enrolado para servir mas muito simpático.
Saímos do hotel El Grial, e andamos toda a manhã pelas ruas. Chegamos à praça de armas e às igrejas, entrávamos em tudo que tinha porta aberta, paramos numa farmácia e compramos remédio para altitude. Não tínhamos mapa, o que é o melhor, sair e se perder e se achar. Foi assim. Finalmente chegamos à praça de armas, vi a imagem de cartão postal, aquela catedral e outras, tudo bem cuidado, para turista ver. Jardins organizados e coloridos, fazia frio mesmo com o sol. Muita gente sentada na praça, turistas e o povo da terra, era sábado, dia que normalmente tem movimento e feira.
Saímos andando sem destino e acabamos chegando ao comércio menos turístico e mais popular. A imagem se transforma. Ruas sujas, mal conservadas, gente com barracas pela rua, comida vendida sem qualquer higiene. Digo que chegamos a Nova Iguaçu de Cusco. Nas ruas o povo. Mulheres incas, com aquela aparência típica , aquelas roupas, chapéu, saias,carregam pesos enormes, crianças nas costas, embrulhadas com aquelas mantas extremamente coloridas, normalmente rosa. O povo é carente do mesmo jeito que em outros países subdesenvolvidos, mas o colorido dos incas vestidos a rigor dá o toque de diferença. Se olharmos sem atenção poderíamos dizer que estamos tanto na Índia , como em Caruaru, como na Bolívia, certos aspectos do espaço público acho que também foram globalizados, acreditem se quiser.
As vestimentas mudam, aquele colorido me fascina, e não se vestem assim apenas para tirar fotos, o que também tem, mas no lado não turístico da cidade não era tipo que elas faziam.
Entramos em muitos buracos, tinha feira no alto oposto ao de nosso hotel, no lado pobre, vimos as coisas sendo vendidas em pleno chão. Os carros passando enlouquecidos pelas ruelas estreitas e sem sinalização, alimentos , roupas, móveis, aparelhos elétricos, tudo vendido a céu aberto, parecia o Porta-portese romano. Descobrimos pracinhas bonitinhas e ruas em que apenas um ramo de negócio era praticado , parecia que era dividido em zonas, aí passamos pela zona das funerárias e caímos na das farmácias, muitas confeitarias com bolos decorados e docinhos, lojas de flores e tecidos, ou seja, como qualquer Saara, o Saara do Rio.
Chegando a uma pracinha fomos avisadas para tomar cuidado com assaltos. Então redobramos a atenção, o que não foi suficiente para que Lilia tivesse a bolsa de pano cortada por navalha, nada levaram mas a bolsa não pode mais ser usada. A técnica é a mesma, um tumulto, uma distração e quando se vê já foi. Entramos numa loja de tecido e um homem mandou outra vez tomarmos cuidado porque nos seguiam. Diante do duplo aviso, nos encaminhamos para a zona turística, não antes de almoçarmos em um restaurante, já numa transversal perto da praça de armas. Tinham sempre nos restaurantes os chamados menus turísticos. Nesse restaurante não havia turista , só gente da terra. O menu vem com salada, sopa, o prato principal, ainda sobremesa e uma bebida.
Nada mal, muito barato em alguns lugares, acho que esse primeiro almoço custou 12 soles.
Continuamos andando e quando já estávamos cansadas de bater pernas voltamos ao hotel, seguimos o que nos disseram para não forçar muito no primeiro dia por causa da altitude. Não saímos à noite, não tomei a Cusquenha, cerveja local que eu queria.
De volta a Cusco- 6/1/2009.
Hoje já é dia 6 e não escrevi nesses últimos dias. Foram tantas emoções, parodiando Roberto Carlos. Sonhos de adolescente finalmente realizados. Lembro-me da imagem de Machu Picchu na parede do meu quarto, pôster dado pelo Ricardo Ferretti.Mas isso é para depois.
Dia 3 passeamos por Cusco e fui captando as impressões da cidade. Ainda meu sensor estava se adaptando, assimilando o tom da voz, sentindo com quem deveríamos falar, o que fazer. No fim daquela tarde do dia 3 voltamos para o hotel e o Nico havia me telefonado. Achei que fosse o cara que os curitibanos tinham falado. Um parêntesis, caminhando pela cidade conhecemos uns meninos curitibanos que nos deram várias informações e ficaram de mandar o guia deles nos ligar para irmos com ele a MP. Mas não era o Nico e só depois vi isso. Nico era amigo do Ricardo Caval, o fotógrafo que faz a expedição Haribol e que super solícito me passou suas dicas na comunidade do orkut e nas mensagens que mandei para ele.
No hotel, chegou então um rapaz que eu achei que fosse o Nico e não era , era o tal John indicado pelos curitibanos. Bem, isso só foi desvendado depois. O tal John, cheio de lábia, chegou, falou, falou, sem se identificar e acabei fechando com ele o pacote para Machu Pichu,e aí chega o Nico e diz que era o indicado pelo Caval, fico na dúvida e faço a opção pelo que chegou primeiro. Foi horrível ter que decidir isso, porque o Ricardo foi tão bacana, enfim fechamos depois da confusão e prometemos comprar com o Nico a passagem para Copacabana, quando voltássemos.
Decidimos deixar tudo no hotel e ir para Machu Pichu, sem malas.
No domingo mesmo fomos em busca da cidade encantada, na verdade a cidade embaixo da encantada, Águas Calientes. Nosso roteiro foi o alternativo. Fomos de Van e não de trem.
Pegamos o pacote de carro que passava por Santa Tereza , lugar de termas e pela montanha, com uma noite em Águas Calientes, até aí tudo bem, abrimos mão de uma noite de hotel em Cusco.
Dia 4 acordamos cedo, chovia um pouco e a Van nos foi buscar no hotel. Depois de muito esperar, não sei o que, finalmente saímos em caravana pelo vale encantado e adjacências até começar a subida da montanha.
Dia inteiro viajando, passamos por vários povoados , iniciando no Vale Sagrado, Urubamba, Olontaytambo, Santa Tereza e lá pegando um trem até Águas Calientes.
Começamos a subir, subir até o alto do Vale Verônica. Subindo a paisagem se modificava, cada hora mais alto. De repente percebemos que a neve ficava mais próxima. À noite que em Cusco havia chovido inteira, no Vale havia nevado, tudo branco.
Ficamos encantados, todos latinos de países tropicais, exceto uma espanhola.
Cada lugarzinho que se descortinava tinha vales, casebres incas com lhamas no quintal, telhado de palha, a tundra e águas correndo do alto, do gelo derretido das cordilheiras. O gelo derrete e forma rios verticais, ou quedas d’água de uma força, que parecem grandes véus de noivas ou cachoeiras. A montanha toda cortada por essas águas que descem em busca de um leito de rio plano que vai desaguar no mar ou em outro rio, de que lado do continente eu não sei.
O carro vai subindo, não saio um segundo da janela,mais uma curva e crianças pequenas, muito pequenas, lindas com suas roupas coloridas alegres gritando acenando para os carros para que joguem qualquer coisa para eles. Às vezes elas cortam a rodovia na frente dos carros que buzinam sem parar. Aliás essa é uma característica dos motoristas peruanos. Buzinam sem parar . A cada curva, em todas ultrapassagens, com carros andando ou parados. Parece que seu sentido auditivo deve funcionar melhor que os outros.
Chegamos ao cume da montanha, uma igrejinha azul, neve por todos os lados. Ficamos encantados ,extasiados , todos no carro, colombianos, brasileiros , a espanhola e o peruano, pedimos para parar o carro. O motorista pára no meio da pista e saímos para fotografar. Lilia minha amiga que viaja ao meu lado parece assustada. Faço-a descer. Acho que temia a estrada tão perigosa, cheia de neve e o carro despreparado. Fica tão assustada que seu semblante não relaxa. Tiro uma foto dela rapidamente, tiramos foto de tudo, um cachorrinho negro está ali parado olhando e esperando que alguém lhe de algo, tão simpático que tenho vontade de levá-lo junto, mas apenas tirei foto. Outro carro para atrás de nós e quer passagem, começa a buzinar. Malu fotografa sem parar, eu também. Enfiei o pé na neve para ver se era mole ou dura. Curiosidade esquisita. Enfio rápido porque meu tênis de pano não poderia molhar, só tenho ele para um mês de viagem, meu amado All star que de branco virou cinza, no fim da viagem.
Entramos no carro e fomos, agora descida.
A paisagem de novo se modifica, agora aparece a placa “ área de derrumbes”, muitas pedras descendo da montanha, trechos de pistas completamente tomados por água e pelas pedras do lado de um despenhadeiro ,. olhar para baixo, era uma aventura. Num ponto só nuvens, parecia que estávamos numa estrada no meio das nuvens e depois as quedas. Essa estrada era asfaltada. Continuávamos a descer, de repente mais uma parada para desembarcar as bicicletas que levávamos no alto da Van. Tinha uma galera que ia descer de bike, ninguém da nossa Van.
Desesperados por um banheiro, já iam 5 horas de viagem,saímos e fomos procurar um. O lugar era uma parada que nada tinha, apenas um casebre. Enfiei-me pelo lugar e vi uma placa, banho: 0,50 soles. Um homem aparece cobrando. Um banheiro horrível, podre, sem luz, sem descarga, sem papel e o velho cobrando. Como sempre para o banheiro sou a primeira da fila. Quando ele fala o preço eu então falo: - quero papel. Ele reclama mas traz um rolo na mão tirando ele mesmo para a mulherada um pedaço do papel cor de rosa.
Lilia quase morre ao ver e chama minha atenção. Entro no banheiro/chiqueiro sem luz e vai, depois descarga também não tem, saio correndo e vejo o velho trazendo na mão dois baldes de água , depois de mim a Malu e depois a Lilia. Tudo por um xixi. Mal sabíamos o que ainda estava por vir até que aprendêssemos a não beber tanta água durante as viagens.
Voltamos para Van, descida, nova placa”caída de pedras”, acaba a estrada pavimentada e começa de terra. Chegamos a um vilarejo, ruas de barro, animais, aquela poeira preta. O motorista entra num bar e pergunta sobre a estrada, vem com a notícia de que a estrada principal esta fechada e temos que pegar uma alternativa. Duas horas a mais para chegar ao destino. Fácil se a estrada fosse boa. Era estrada também de chão, cheia de curvas, passagem para um só veículo a beira de um precipício . Povoados de campesinos no alto da montanha. Plantações de café e coca. Desespero, o povo com medo de cair ribanceira a baixo. Tem que “barrar”, diz o motorista. Teria que sair todo mundo do carro para ele subir e fazer a curva. Saem todos do carro para empurrar. Aí alguém fala, mulheres não precisam sair. Volto para o carro arrastando a Lilia que queria empurrar o carro com medo que ele caísse no precipício. Na verdade era para que o carro ficasse mais leve e não deslizasse no solo de pedras e barro. O carro fez a curva e voltou, umas três tentativas. Finalmente subiu e foi. De novo rumo a Santa Tereza. Chegamos ao vilarejo. Como sempre o carro e seu motorista param no bar já combinado com a empresa de turismo. Um bar metido.Mas imundo no banheiro onde fomos direto, sujo e sem papel . Cheia de autoridade e puta da vida, pedi ao cara o papel e ele fez corpo mole. Cansada de esperar entrei no bar que estava vazio na parte de trás e fui pegar papel absorvente que tinha na parede. Entrei no banheiro com parte do papel e deixei a Lilia na fila com o resto . Veio o cara e diz para ela que aquele papel não podia, coitada tomou bronca por minha causa.
É incrível como os peruanos são estranhos com limpeza, tudo parece imundo e eles economizam com os artigos higiênicos . Guardanapo é cortado e 4, recebemos uma folha fininha, no higiênico temos que pedir sempre. Eles não colocam os rolos antes das pessoas chegarem. Os banheiros são sempre ruins, só lugares muito bons tem bons banheiros. Lógico, o Mac Donald e um outro como ele servem de banheiro público. Eu não estou exagerando, é que limpeza nos causa, às mulheres em especial, um enorme terror. Não podemos fazer xixi na rua, nem num canto. É muita roupa para tirar, e mesmo que o vaso seja limpo o chão tem também que ser para não sujar a roupa.
Banho também não é um hábito costumeiro, eles não gostam, ou não tomam banho todo dia, nos disse Eduardo, um brasileiro casado com uma peruana que trabalha no Café Jack, o melhor de Cusco, na esquina da Tullumayo com Hatunrumiyoc, antes da subida para San blas.
Seguindo então de Santa Tereza fomos a hidrelétrica onde pegamos o trem. Todos os turistas em alternativos já estavam no trem, lógico saímos correndo porque o trem já tinha apitado. Vamos em pé eu e Malu, Lilia logo consegue um lugar oferecido por um menina gentil. Em frente a ela no banco um casal de velhinhos que faz a mesma viagem, brasileiros que acompanham a filha com os netos adolescentes. Ele tem uns 78, ela também, mas ela parece um pouco debilitada, e diz que não vai subir a Machu Picchu pois as pernas estão doendo muito.Um barato. Lilia vai conversando com eles a viagem toda.
Bonita a estrada, o em torno da ferrovia, e chegamos a Águas Clientes. Beirando a ferrovia as pedras imensas que já são o lado de fora da cidade encantada.
Águas Calientes é um povoado que cresceu a margem do conhecimento da cidade de Machu Picchu. Saímos do trem e fomos para o hotel deixar as coisas e voltar para comer.
A arquitetura é como das cidades de praia do Rio. Desordenada,mas tem um astral legal, meio Ilha grande, Pipa etc. muitos turistas e lojinhas, fica no meio do vale e tem também muitos restaurantes.
No hotel, o pior que ficamos, que já estava incluído no pacote, a maior furada. Um mal gosto horrendo. Ficava no buxixo,mas era muito feio. Quartos horríveis, o nosso especialmente. Não tinha toalha, não tinha papel higiênico, quanto mais sabonete. Tudo tínhamos que pedir, um saco.
Cheiro de mofo, sem lugar para pendurar as coisas.Uma roubada e como conseguir a esa altura, um outro lugar? E já tínhamos pagado. E agora?
Pedimos toalhas, a moça disse que não havia porque tinha chovido e tudo estava molhado. Eu já puta da vida, revoltada, olho para cima, como costumo. Por fim, conseguimos uma toalha para Lilia que não tinha levado.
Saímos fomos dar um giro na vila, não fazia frio ao contrário de Cusco, fomos jantar porque tínhamos só comido besteiras, todo o dia de viagem. Sentamos num restaurante bom e finalmente posso provar a cerveja cusquenha, só eu bebo,pelo menos conseguimos brindar não termos caído no precipício e chegarmos vivas. Jantar gostoso, lugar bonito. Comemos e fomos dar uma volta, comprar água e coisas para levar a Machu Pichu, onde uma garrafa custa 10 soles, dez reais, pelo câmbio louco deles.
Voltamos ao hotel e quando entramos encontramos os argentinos lindinhos.Gaston, Rodrigo, nossos rumos mudaram por algumas horas, que foram muito interessante, como contar estrelas em um lugar tão belo,muitas sensações interessantes, céus de muitos lugares, cada qual em um lugar diferente vivendo experiências doces,muito doces... Lilia conversava com um espanhol de Sevilha, não sei onde foram, mas foram. Voltamos para o quarto do hotel já pela madrugada, dormimos leves , que esquecemos até o cheiro de mofo.Nossa hora de saída era marcada para as 5 da manhã para subir rumo a Machu Pichu. São muitos micro-ônibus que levam à cidade, Na verdade a estrutura para chegar a Machu Pichu é boa e começa a ficar inviável para o turismo barato . O parque é fechado e ninguém mais pode se aventurar a ir só. Mesmo quem faz a trilha tem que ter um guia credenciado, não é mais como antes, tudo agora é delimitado, organizado pelo próprio bem das ruínas e pelo próprio bolso de quem explora todo o complexo. A Eurail Peru, que tem a concessão para explorar a ferrovia e cobra quanto quer, um preço altíssimo, em dólar. Aliás parece que a moeda do Peru é o dolar. Em certos lugares tudo é em dólar, nem tem o preço sem soles. Enfim subimos o cerro e chegamos a Machu Pichu, fila para entrar e quando se descortina a nossa frente aquela cidade em ruínas, sinto um arrepio dos pés a cabeça, meus olhos ficam embriagados com a beleza do lugar e sua preservação ainda hoje. Tem chovido muito e o verde dos gramados contrasta com o cinza das pedras é maravilhoso, impressionante, àquela estrutura escondida entre paredões de pedra. Não pensei em sentir essa coisa, esquisita que me deixou sem ar, impactada.
Cada degrau que subíamos , em cada ponto tínhamos um miragem diferente, um olhar diverso.
Lilia disse que MP é um lugar sagrado que remete a uma experiência espiritual muito forte embora a quantidade de flashes e risos e tudo mais que vem com os turistas e sua falta de sensibilidade em relação a tudo que a cidade representa. Para ela é difícil encontrar um lugar com tal energia em que pudéssemos ficar apenas contemplando ou sublimando a existência do homem diante da imensidão das pedras e da cidade. Ela esperava um experiência espiritual mas sabe que esse tempo já passou. Mesmo assim, tocou a roca cerimonial e tentou se energizar nas pedras pedindo algo para o além. Fascina-lhe a história do condor.
Para Malu, MP e sua arquitetura impressionam por terem os incas feito aquilo sem qualquer mecanismo moderno ou instrução. Colhi os depoimento das meninas quando voltamos . Cada qual do seu jeito, Malu na sua economia de palavras é sempre pontual. A forma tranqüila e simples de ver as cosias sem complexidade e sem exigir demais ou pensar com tantas digressões ou devaneios como eu .Pergunto a todas o que acharam e escrevendo na praça onde somos a cada 2 minutos interpeladas por mulheres e crianças vendendo coisas. Eu sentada no chão, fazendo o banco de mesa e elas sentadas no banco. As mulheres chegam- “Senhorita uma medalha, senhorita um anelo, senhorita um cordon” vinte soles, 10 soles.
Eu pergunto se elas já foram a MP, dizem que não,pergunto porque, dizem que é muito caro.
Logo chega uma menina pequena, Rubeley, que vende bonecas e ficamos mais de uma hora conversando. As crianças chegam sempre perguntando de onde somos e quando dizemos Brasil falam a capital e que o presidente é Lula que tem nove dedos e fazem um gesto. Ela Rubeley fala da bandeira brasileira e explicamos o significado das cores. Falo da miscigenação e fico puxando conversa com ela, falo muito e ela também quer saber tudo, tem 10 anos. Ela fala da sua família. Tem 3 irmãos menores e tem que vender 20 soles para voltar para casa. A mãe faz as bonecas, o pai pinta aquarelas e ela tem que vender. Disse que estuda e diz que quer ser doutora, pergunto se da medicina. Diz que sim.
O trabalho infantil aqui é uma realidade. Crianças muito pequenas sendo exploradas pelos pais e por outros. Trabalhando como cobradores, vendendo coisas. Não sei sobre a prostituição infantil, mas tem anúncios indicando que algo de errado acontece. Rubeley diz que as mulheres brasileiras são bonitas, eu digo que as peruanas também, que ela é linda e ela fica toda vaidosa, falo de seu cabelo e ela parece que não acredita que digo que ela é linda. De fato era, as crianças são muito bonitas por aqui e são calmas também. Os adultos não são bonitos,mais os cabelos são maravilhosos.
Nos despedimos de Rubeley e fomos .
Na volta de MP as emoções também não foram poucas. Saímos de Águas Calientes ao meio dia de trem e fomos pegar a Van na hidrelétrica. Por mais que reclamássemos o caminho seria o mesmo da vinda. Entramos no carro e fomos para Santa Tereza onde paramos para que alguns almoçassem . seu Jesus,nosso motorista, funcionário público aposentado , dirige seu próprio carro para as agências de turismo, diz que o caminho que é mais fácil ainda está bloqueado, ou seja, teríamos que voltar pela estrada de chão, cheia de precipícios.
Eu e Malu nos aboletamos do lado do motorista para ver de perto a estrada. Na verdade para controlar sua direção. Lilia foi atrás. Dessa vez não era o belo argentino que caia para seu lado , era o peruano que apelava para seus carinhos. A tensão da viagem a deixou torta pois seu banco era o da ponta. Deixamos Santa Tereza sem ir às termas. Como boas cariocas, é lógico que fomos para MP levando os nossos biquínis, porque teríamos no pacote as águas termais. Nada feito. O Jesus estava com medo da chuva e de cair mais barreiras, então cancelou nossos banhos termais. A maior frustração. Lilia que é peixe dágua só reclamava da falta de água, queria porque queria cair de boca nas termas, ainda mais depois que o guia disse que queria nos ver em trajes de banho.
Começamos o caminho de volta, subindo, cada curva um novo barranco, mas Jesus era prudente. Só dizia que não podia ir contra a Naturaleza.
Vamos andando, mais um povoado antes de pegar a carreteira, estrada asfaltada. Finalmente um pouco menos de balanço. Pouca emoção? Nada. Começam as neblinas, cerração. Olhamos para o lado e parece que andamos nas nuvens, vamos subindo ainda mais. De repente no topo do moro policiais param o táxi que estava na nossa frente e nos para também.
Começam a revistar o táxi e nós olhando. Todo mundo nervoso na vam, cariocas pensamos logo numa blitz falsa. Pronto, vão levar todo nosso dinheiro e aí, ciao viagem.Os policias tiram do táxi vários pacotes de coca processada. Tomamos um susto, eles levam o cara preso e liberaram o táxi, revistam a mala do nosso carro e nos manda partir. Seguimos, na próxima parada, que seria a última antes de Cusco, encontramos crianças jogando futebol no meio da carreteira. Entramos no lugar horrível, era um bar. Todos as filas de novo no banheiro. O pior, era uma privada turca, tudo escuro, molhado, nojento, fomos mesmo assim. Alguns tomaram chá de coca, mas nós nem isso, o frio era brabo, soltávamos fumaça pela boca.
De novo para o carro e saímos subindo até o alto e começamos a descer. Entramos já noite em Ollantaytambo, havia uma procissão do dia de Reis, a cidade muito bonitinha, a procissão também, com homens vestido a rigor, tudo colorido e eles dançavam, muito bonito e interessante. Atraso na viagem, tudo engarrafado, muitas vans que faziam o mesmo trajeto e a procissão a nossa frente o povo atrás. Tentei tirar foto, mas não dava.
Finalmente saímos da cidade e de novo a estrada, no meio do caminho eu já desesperada pedi para o Jesus parar em um bar para fazer xixi, era um restaurante,entrei, estava aberto, falei com a moça que estava dentro, me disse onde era,e fui, tudo escuro, perguntei sobre a luz, disse-me que estava queimada. Pronto, tô ferrada, a vontade era tanta, que não tive nada cheguei sei lá onde, e fiz meu xixi, só depois vi que tinha molhado as pernas da calça comprida, oh! Inferno!! Subi no carro onde todos me esperavam e fomos.
Chegamos em Cusco por volta das 10 horas da noite, Jesus nos deixou perto da praça de armas, reclamamos muito porque devia nos deixar no hotel. Saímos e fomos comer para ir ao hotel. Entramos num restaurante perto da praça e comemos, “pollo com papas”(frango com batatas fritas, a salada no buffet), aliás, é o prato mais comido aqui, quando não tem batata no prato é uma raridade, tudo é feito com base nesse legume, tomei uma cerveja cusquenha( 7soles) para relaxar e ficar mais leve, as meninas não beberam,depois fomos para o hotel mortas de cansadas.
Machu Pichu tinha ficado para trás, foi vista. Várias sensações são experimentadas. Não sinto como um lugar religioso, místico talvez, pela sua aura de encantamento e mistério ao ficar tanto tempo desaparecida dos olhos humanos, sob a selva. Entretanto, as cosias não são mais como antes. Muitas levas de turistas todos os dias a passar pelas ruas e admirar as ruínas .
Toda história é muito interessante. Seria a cidade encravada dentro do Vale, uma universidade onde logicamente a nobreza inca ia estudar. Não era como uma cidade qualquer. Entretanto, quando essa nobreza foi morta, talvez a tal universidade tenha sido abandonada e deixada ao esquecimento, já que não tinham nobres para povoa-la, e só no século passado é que foi descoberta por um campesino ou pelo americano, quem foi??
Emociona-me a cidade, me arrepiou, mas não vi aquilo com algo de espiritualidade. Não se tem noticias se aquilo foi um campo de batalhas ou coisa assim. Tem uma grande energia que envolve o local mas muito parece que se transformou, virando turístico . As vezes me pergunto porque vamos para os lugares para fazer as mesmas coisas, todos, milhões de pessoas a cada ano nos mesmos destinos. Alguns com buscas pessoais outros só para ver. Que sentido tem sair do seu próprio lugar e subir 3 dias um morro para ver a cidade? Alguns compram o pacote inteiro e só fazem o caminho de uma hora no leito da estrada,tem sentido isso? E por que vamos? Não existe mais lugares inexplorados, talvez há 25 anos atrás fosse MP uma maneira de encontro com a natureza ou qualquer coisa, hoje, o que é? Qual simbolismo representa essa cidade? Que elementos da identidade inca esse povo deposita nesse espaço? Não estudei sobre essa cultura para sair dissertando a respeito, aliás aqui no Brasil, nós praticamente nem vemos sobre esses povos, ouvimos dizer que existiram, mais nada. Nem mesmo dos nossos índios nós sabemos. Certamente fato esse proposital , somente valorizar a cultura européia e americana, é estratégico, não cria laços com os visinhos, não sentiremos todos repulsa de ter sido dizimados pelos colonizadores. Mas também os índios colonizavam, aí volto ao homem e sua necessidade de poder, de adquirir bens e riquezas, enfim, deixo essas coisas para quem tem mais bagagem para falar.
Vim para MP porque queria ver de perto tudo que pensava quando era adolescente. Mas já não sei se hoje isso tem a mesma força de ontem. Que símbolos, que representações retiramos de tudo aquilo? O que eu vim buscar? O que eu encontrei? Talvez esteja chegando a conclusões de que, nem sei se quero ir mais a algum lugar. Certas situações limites nos colocaram. Perrengues, noite sem dormir como a de ontem quando viemos de Cusco para Copacabana . Pagamos o melhor ônibus e era péssimo.
Em Cusco ainda ficamos 2dias descansando. Fomos a Pisac, um grande parque arqueológico muito maior que MP, uma feira de artesanatos, coisaS lindas. O colorido mágico das tapeçarias incas, a velha inca que vende na feira, os pós para tingir a lã. Uma figura inusitada, fotografei, sem que ela me visse, as crianças carregando uma lhaminha e cobrando para fotografá-las, Não tinham muita noção do dinheiro, mas queriam ver todas as fotos, ainda mais com as máquinas digitais, ela adoravam, se ver depois que tirávamos as fotos. É um fascínio, pensar que suas fotos vão para o mundo todo, lógico que elas não pensam assim, pensam apenas no reflexo, no seu espelho.
Pisac é pequena, casas baixas coloridas, ruas estreitas ,pouca gente na rua, fica num lindo vale. Fomos de ônibus(5soles ida e volta) e a paisagem é de tirar o fôlego, nesse caminho que vimos o condor e fazendolas, bonitinhas ao longo do caminho, qualquer vendinha tem artesanato e isso enfeita o espaço. A lhamas tem também seus enfeites, ficam muito bonitinhas com brinquinho colorido.
Na feira não compro nada, tudo é caro, apenas um lhama sentada de pedra. Não tenho como carregar as coisas, assim me limito. Minha mochila está cheia e pesada, roupa de frio pesa demais e não quero ficar cheia de tralhas pelo caminho.
Sinto-me cansada e tem apenas uma semana,a altitude da um cansaço, um esgotamento, subir uma escadinha é um estrago. Preocupo-me com o trabalho que terei quando voltar, se conseguirei me manter, se me pagarão o que devem. Se o doce permanecerá?Não quero esse ano ficar num estacionamento mental. E não quero ocupar minha mente com uma relação que se consome em si mesma. O que espero não sei, o que quero também não sei. Quero estar, mas quero qualidade no empenho. Talvez o alvo do meu desejo seja apenas um objeto para passar o tempo. Mas como saber se não se fala, não se envolve e se limita. Até pode ser mais simples, mas as pessoas não se permitem e causam sofrimento nas outras Pois é, tem tanta gente que finge que não sabe das coisas, finge tanto que chega acreditar que é verdade o que prega, cria uma realidade e fica se repetindo para que ela se torne real, esquece que relaxar, se largar sem neuras, se dar, pode ser o melhor.Chega, não quero cair na mesma neurose de novo, não , não aqui, nem esse ano.
Despesas: Passeio Machu Pichu- 150 dolares /pessoa, Hotel Cusco -43dólares,o quarto triplo,Passagem para Copacabana 70 soles,Museu inca- 10 soles, Passagem Pisac- 5soles.
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