domingo, 24 de maio de 2009

Chegamos a Bolívia- Titicaca e La Paz











Bolívia
Copacabana, 7 de janeiro 2009

Ficamos em Cusco todo o dia andando, comprando e se despedindo da cidade. Assistimos uma missa na Igreja da Mercês na Plaza de armas. Sentei na praça para escrever e a noite partimos rumo a Copacabana, já na Bolívia.
Esse dia foi de reflexões sobre nossa estada no Peru. A noite saímos às 8h para a rodoviária rumo a parte mais complexa da viagem.
Pelos cálculos a maior parte do tempo será mesmo na Bolívia. A viagem de ônibus não foi péssima mas foi ruim. Pegamos o melhor ônibus, o mais caro para ter conforto mas esse termo por aqui parece desconhecido, era da empresa Litoral e pagamos 70 soles, o ônibus ia para La Paz e nós ficaríamos em Copacabana, seria uma viagem direta sem trocas em Puno, seria.Saímos às 10 h da noite e às 7da manhã nos deixaram numa encruzilhada onde uma van caindo aos pedaços nos recolheu para levar a Copacabana. Era um frio medonho, muito frio mesmo. Entramos no carro e rumo a fronteira, aduana, polícia, tudo tranqüilo sem apurrinhações, ou propinas. A guia do ônibus no encaminhou a um hotel ,caro mas nem por isso muito bom. Decidimos ficar mesmo assim, era bem central, mas aqui em Copacabana é tudo central, a cidade deve ser do tamanho de Mangaratiba. Uma pracinha com a igreja da Virgem e o lago Titicaca. Nosso quarto do Hotel colonial(45 bolivianos por noite) parece a estrutura do panóptico, quatro janelas de vidro e ferro com vista para todos os lados. Imagina pensando em Foucault a essas horas. Mas o que é interessante é que depois descobrimos que de baixo eles também nos viam, ainda bem que olham pouco para cima. Era um quarto de esquina e dava a vista para a praça em que ficavam os ônibus e a rua que dava no lago. De mal gosto mas limpo e grande, a droga das comparações é que sempre o padrão que temos é muito mais alto, então tudo fica mais ou menos, mas com o tempo se acostuma com essa estética.
Não entramos de imediato no quarto somente depois de 11:30 da manhã .
Deixamos as mochilas e fomos então trocar dinheiro e comer algo. Demos uma volta pela cidadezinha, fomos a Igreja tiramos fotos e voltamos ao hotel. Banho e cama no meio do dia. Dormimos até as 4 da tarde. Quando acordamos tínhamos que ir ver o lago, comer. Saímos para o lago, andamos e paramos para comer em frente ao lago. Comemos truta e tomei cerveja pacenha, muito bom e ali no restaurante encontramos 2 brasileiros com os quais consegui boas dicas. Agnaldo um paulista e o nome do outro esqueci. Depois fiquei com dor de cabeça não sei se da cerveja ou da altitude.
Aqui não é muito alto, ou é? Não tinha tomado remédio somente chá de coca.Voltamos ao hotel e comecei a escrever e depois dormi.
O lago- uma enormidade, olhando parece mesmo que estamos no mar. Escrevo agora no barco, no meio do lago, a sensação é de que estamos no meio da baia indo para Ilha Grande, com a diferença de que estamos todos com excesso de roupa. Todo mundo empacotado. As terras laterais não tem muita vegetação. Cascalhos e aquele capim, ou grama rasteiros e amarelado, alguns pinheiros.
No sol, aqui no teto do barco é quente, mas na sombra é muito frio. O barco é lento, ou está lento, apesar dos dois motores a disel me parece.
Aqui no teto do barco muitos argentinos e outros não se de onde. Lilia e Malu conversam o tempo todo sobre assuntos variados. Se importam e perguntam em parte estou do diário, sabem que estou atrasada. Falam de gatos e televisão e outras cositas, elas são semelhantes em sua maneira de ver. Vaidosas se preocupam com a aparência o tempo todo, acho isso legal, não consigo ter a mesma disciplina, o mesmo ritual de beleza que a Lilia tem. Tem que acordar uma hora mais cedo para arrumar a pele, a roupa etc, aí ninguém mais dorme, são saquinhos, potinhos e por aí vai
Muito tempo convivendo com as pessoas, as conversas se repetem. Algumas pessoas repetem muito as coisas, não entendo muito porque.
Outra coisa interessante é a forma de organização. Às vezes elas se perdem nas próprias coisas. Colocam seus pertences em múltiplos lugares e perdem, aí depois de longo tempo até acha-os outra vez. Todo dia tem coisa pedida e achada. Parece uma grande brincadeira. Até eu acabo perdendo coisas como o pratinho que comprei para minha mãe e não sabia aonde tinha colocado, aí elas me sacanearam. Talvez sejam os duendea que somem com as coisas, mas o fato é que o quarto fica uma zona, eu delimito espaço para cada uma quando chegamos ao quarto. Se não a cosia fica impossível . Procuro não desfazer muito a mochila, com preguiça de arrumar depois, mas é quase inviável porque para tirar uma coisa , tem que tirar o resto e está muito apertada a mochila.

Copacabana 9/1
Pegamos o barco e fomos para Ilha do sol e ilhas flutuantes no meio do Titicaca. A dor de cabeça da altitude tem sido minha constante companheira aqui. Mesmo com o chá de coca ainda me resta um pouco de incômodo na cabeça. Deixei para trás a linearidade e cronologia do relato, talvez seja melhor assim.
No barco que começa a andar com dois motores logo fica comum só. O frio é impossível para nós que viajamos no teto do barco. Chegamos a ilha e compramos o ingresso para o museu e o sítio arqueológico , vimos o museu, mas o sítio desistimos no meio do caminho, cada subida , por mínima que seja é seguida de um cansaço horrível. Paramos no meio porque não conseguiríamos voltar a tempo para pegar o barco e ver ainda a parte sul e as ilhas flutuantes.Chagamos a tempo mais o barqueiro ficou 45 minutos esperando sei lá o que. Como sempre começamos a reclamar, as meninas falam e ficam buzinando e eu é quem acabo indo falar.
Finalmente saímos. O lago realmente impressiona, pelo tamanho e cor, um verde esmeralda intenso, lindo!! Não coloquei a mão na água mais ainda vou faze-lo. Tem muita gente que vem à ilha para ficar. Jovens que chegaram com barracas para ficar acampados na praia. Acho que já passei dessa fase. O conforto da minha casa é tudo de melhor. Talvez esteja envelhecendo, porque não quero mais passar perrengues em viagem. Cama boa, hotel bom, água quente, limpeza, tô ficando chata e ainda convivendo com outros chatos fica pior. Daqui a pouco encarno o ermitão G e não saio mais de casa. Um perigo para mim porque de certa maneira já faço muito isso.
Mas a experiência está sendo boa. Não sei se certos lugares da Terra conseguem mudar mesmo com esse fluxo intenso de turistas. Talvez eles tenham pequenas transformações, seu povo descubra novos formas de viver e modifique seus hábitos, seu estilo de vida, acho que isso já acontece. Lugares onde passava uma pessoa nova a cada ano, hoje recebe mil turistas por dia, é lógico que isso causa um impacto, pensando bem as transformações devem ser grande e não pequenas. Não tem mais a coisa do desconhecido, tudo é mais que descortinado em todos os meios de comunicação, se quisermos achamos todo tipo de informação, tem comunidades e sites que dizem tudo, eu preferi dessa vez não ver nada, nem a história eu vi direito, queria ser surpreendida, na medida do possível, assim como não vejo mais programas como viajantes, tribos etc.
Faço isso porque não quero mais saber tudo antes de sair, quero viver o lugar, se isso é possível, se não acabo decepcionando, porque a edição torna tudo divino e maravilhoso. A não ser que eu vá fazer como De Esseintes, do As avessas, colocar em casa tudo que lembre e que me faça pensar que estou em viagem, mas sem sair de casa e sem correr perigos. Acho que em mim isso não dá, porque preciso viver nesse limite, na tangente, na beira do abismo, no risco, às vezes, total. Para a adrenalina ir ao alto.

Titicaca-16 horas. Estamos à deriva. Nervosismo a bordo, vou parar de escrever.

Ficamos por mais de uma hora à deriva, quando voltávamos da Ilha do Sol. O motor do barco quebrou e o mestre ficou o tempo todo tentando ligar e não conseguia. Não agüentávamos mais, as pessoas tensas, já iradas com o barqueiro.. Aí o motor pegou mais andando com uma velocidade muito baixa. Demoramos muito para chegar às ilhas flutuantes. Outros barcos passavam mas o barqueiro era demais orgulhoso e não parava,nem mesmo olhava para os outros barcos, quanto mais pedir ajuda. Incrível é ver que também os outros barcos viam o nosso à deriva e nada faziam. Uma falta completa de solidariedade. Eu estava calma, mas Lilia estava muito nervosa, talvez com medo, assustada porque não sabe nadar. Eu fazia piadas, mas também estava preocupada, embora tivesse certeza de que sairíamos dali, a marinha boliviana viria de alguma forma nos resgatar, eu falava.
Não tive medo, mas sei que não são todos assim, tem gente que não sabe nadar e fica apavorada com as possibilidades de naufrágio. Eu fico olhando a costa e vejo o quanto perto ela está e vejo se posso nadar, o problema é a temperatura da água que é muito gelada.
Mesmo no toque, toque do motor demorando o dobro do tempo chegamos às ilhas flutuantes.
Pode ser que tenham outras ilhas, mas essa era o maior cenário armado para turista idiota ver. Inclusive nós. Tudo arrumado, casinha de palha, barquinho, uma cena realmente bonitinha com todo glamour de produção cinematográfica. Como está do scripti saímos e fotografamos como todos os outros.
Estranho isso, tudo parece mesmo organizado dessa forma. As viagens são assim agora. Todos fazem o mesmo, o que já viram fazerem. Tudo pré-concebido sem muita naturalidade. A ordem é total, o controle também com poucos ou nenhum imprevisto. De novo lembro da viagem de Des Essentes. Queria ir a Londres. Saiu de casa chegou até o cais, entrou numa bodega estilo londrino com personagens como os de Dickens e comeu uma comida londrina e achou que era melhor voltar a Fontenay-aux-roses sua casa, seu museu de formas, sem correr os riscos da viagem . E voltou sem mesmo ter saído de Paris.
Entretanto, as pessoas ainda vão aos lugares. Tem vários programas na televisão que mostram os mais variados destinos e cada um escolhe o seu estilo de viagem.
Faz tempo, já disse, que deixei de vê-los porque me tirariam a surpresa dos lugares. Dessa vez li pouco, não reservei nada. Marquei os lugares no mapa e fomos chegando até lá. No meio do caminho pegamos as informações. Eu li dois livros que me fizeram fazer essa viagem . um foi o “ Diário de Motocicleta” que o Guillermo me emprestou, o outro foi “Inês de minhalma” romance histórico da Isabel Allende. Diários do Che me aguçaram para ver se a realidade daqueles povos tinha mudado algo. Acho que mudou o fluxo de pessoas que passam agora pelos lugares, eles parecem que também agora começam a acordar para o fato de que podem ganhar dinheiro com isso e de fato ganham. Entretanto, é de uma precariedade absurda. Porque uma coisa é irmos para um lugar que se encontra em estado natural, outra é saber que tem gente e que mesmo assim as pessoas não se dão conta da precariedade que vivem, ou se dão conta e nada tem a fazer.Sei que muitos estão saindo da agricultura de subsistência e indo para o terceiro setor da economia, vendem coisas para os turistas, artesanato, comida, e ainda bem que é frio, porque se não só ia ter gente com butolismo e diarréia.
Ketchua no Peru e Tiuanaco na Bolívia , não sei bem, devo confirmar essas informações, são diferentes. Acho que dois nomes que deram os incas, será?? Mas são diversos, fisionomias e detalhes de vestimentas possuem detalhes que mostram sua diversidade. Os bolivianos são mais parrudos que os peruanos, são de estatura maior, o rosto é mais largo, menos anguloso, tem a face ovalada. Os cabelos são iguais, lindos pretos e pesados. O peruanos são menores, baixinhos, face mais triangular, são mais morenos que os bolivianos.
Passamos hoje num bairro da periferia de La Paz em que vendiam as saias que as mulheres usam, uma coisa típica ,mas de uma cafonice só para nossa forma de vestir. Elas sempre tem um chale e aquele chapeuzinho sobre a cabeça. Os cabelos em tranças enormes muito compridas e grossas. Elas gostam de se arrumar. No interior se vêem mais mulheres vestidas assim do que nas capitais.

Despesas: Hotel Copacabana 270 bolivianos quarto triplo,Passeio Ilha do sol. 20 bolivianos, museu ilha 10 bolivianos, Passagem para La Paz ônibus e barco- 16,50 bolivianos


La Paz

Quando chegamos hoje a La Paz, depois de nos instalarmos no Hotel Torino( 40 bolivianos por noite), no centro, ao lado da catedral, fomos andar e conhecer a cidade, é sábado, muita coisa fechada. Ficamos de fato no centro histórico, boa dica do Agnaldo que conhecemos em Copacabana, e que confirmei no guia do alemão que veio comigo de Copa para La Paz. Na catedral estava acontecendo um casamento, todos estavam na porta. Os noivos dançavam ao som de mariaquis, um conjunto que fotografei junto com a noiva. São de um estilo peculiar. Vimos isso e outro casamento acontecia, entramos na igreja, linda altar de ouro. Olhamos bem e fomos para rua passear pela cidade. Entramos no museu vimos uma exposição de arte moderna que lembra Naif, muito bonita. Depois andamos pelo comércio e chegamos a uma grande avenida próxima a igreja de São Francisco de Assis também muito bonita. Parece que nessa parte uma obra muito grande está acontecendo. Entretanto, a cidade possui muita poluição visual. Muitos letreiros nas fachadas dos casarões antigos. Os olhos ficam cansados e é feio. Muitos casarões estão caindo aos pedaços, precisam urgente de uma restauração, outros mais ou menos embora os letreiros cubram o que eles tem de bonito.
La Paz fica numa espécie de vale e a cidade foi crescendo para o morro. De cima vemos que tem pouquíssimas áreas verdes, quase nada, é árido, seco e cor de tijolo, emboço muitas vezes só na frente. Nos cerros o que há não tem emboço. As vezes eles emboçam só a frente mas os lados e os fundos ficam na alvenaria, o cimento deve ser caro, muito caro.Por isso a cidade parece Cusco na sua cor. Cor de tijolo, mas esse aqui não é o mesmo que lá.
Em Cusco os tijolos são aqueles feitos com a terra do lugar, como os tijolos maciços feitos ecologicamente ou então são palha com barro e depois emboçado.O tipo de construção espanhola. Isso vemos em Cusco no bairro que ficamos, Sanblas. Já aqui em La Paz são tijolos comuns só que sem o emboço.Olhando de cima mais uma vez, onde nosso ônibus chegou, parece realmente um grande favelão. Temos que educar os olhos e fugir do padrão americano de urbanismo.
O trânsito é caótico . Muitos carros e pouca ou quase nenhuma ordem. Poucos sinais. Hoje mesmo sábado o povo estava na cidade , na parte da avenida que tem comércio e um jardim no meio, muito bem cuidado. Andando chegamos a igreja de São Francisco de Assis, meu querido. Muito bonita,abriga um museu sacro. Não fomos ao museu, ficamos rodeando por perto até chegar a hora em que a igreja abriria e quando abriu entramos. Magnífica!!. Um altar maior de ouro, mas o Chico não estava nele, somente do lado. Contentei-me em tirar foto da frente da Igreja que é do estilo barroco mestiço com motivos da fauna e flora tropicais na fachada entalhada na pedra, muito bonita.
Andamos pela ruas cheias de lojas de artesanato tudo igual em todos os lugares. Tenho vontade de comprar mas não tenho como carregar. Minha mochila é pequena e está cheia. Que fazer?
Aqui muita gente na rua pedindo,mulheres, crianças, homens cegos. Muita pobreza, muita mesmo, quando chegamos à cidade era uma coisa horrível pela periferia, mas não era muito diferente do que vi no nordeste do Brasil, ano passado. Quando passei por vilarejos pequenos beirando a estrada. Tudo na mesma condição de miserabilidade, pobreza e sujeira. A sujeira é pior que a pobreza. As vezes, não são tão pobres ,mas o senso de limpeza é diverso,não tomam banho todo dia, mas não sentimos nas pessoas cheiro ruim. O cheiro pior era dos gringos que caminham chegam suando e cheiram muito mal, que da vontade de vomitar. Sei que sou sensível a cheiros e visuais que remetem a cheiros. Parecem que os gringos, europeus e americanos não usam desodorantes, é um fedor que os daqui não tinham.
Em La Paz , toda hora o rádio e a televisão falam do Brasil. Do comércio , que vamos suspender o volume de compra de gás etc e tal. Sabemos que a Bolívia é rica em gás, mas sabemos que precisam do nosso now how para explora-lo. Eu brinco dizendo que vou deixar de comprar gás e eles não terão para quem vender.
Parece-me que com essa coisa de nacionalização e de uma política de ir contra ou desfazer os contratos já feitos, os governantes tentam ter o apoio do povo jogando a culpa da miséria do país no Brasil. A imagem que parece que eles tem de nós, brasileiros, é de que estamos maravilhosamente bem, e somos os imperialistas da América do sul. E o povo que antes devia ser simpático, agora parece um pouco hostil. Somos o maior, o mais rico, eles dizem.
Escutava uma conversa entre peruanos e colombianos, na vam, falavam de política e eles jamais se referiam ao Brasil. Tudo bem que se identificam com a língua e isso é um grande motivo, mas também eles tem relações complicadas. Peru com Bolívia, Chile com Peru, Argentina com Chile, tudo por causa de terra, parece até a África fragmentada e reunida em etnias diversas.
Saber que muito falta para atingir um nível de crescimento e de organização social é algo complicado. Será que essa mudança não implicaria em outras, perdas culturais sociais, etc...
No ônibus conheci um alemão. Acho que uns 22 ou 23 anos. Fala espanhol e veio ficar um tempo por aqui , ficamos conversando, ele veio trabalhar em pequenos povoados, pueblos, e com crianças. Só volta para Alemanha em maio.
Penso sobre isso.Não sei se o que ele vem fazer é o mesmo que aquelas pessoas que conheci na Itália faziam com o pessoal na África . Será que querem ensinar a sua fórmula? A forma alemã de viver. Pero si, pero no, o que significaria isso em termos antropológicos. O cara tá entediando em seu país, porque tem tudo e vem para o fim do mundo mostrar aos outros como é que se vive lá, ensinar ou aprender?
Será como Ulisses que em cada lugar queria mostrar a superioridade e cultura do povo Grego? Com todo respeito ao meu avô. De outra maneira, o europeu continua fazendo a mesma coisa de sempre . Eles vem para cá pensando ou na tentativa de fazer algum tipo de trabalho voluntário. No Rio tem alguns grupos e ongs assim. Vem com muito boa vontade para ajudar, às vezes pegam no pesado, mesmo como pedreiros etc. Mas será que é isso que esses povos precisam?
Eu não sei. Fico na dúvida sobre a intervenção paternalista. Fico na dúvida também sobre o fato de ter uma forma de vida que é globalizada, presente em todas as grandes metrópoles do mundo , e essa forma ir saindo desses lugares e se alastrando pelas pequenas cidades através da televisão e dos turistas que chegam. Mas o processo é irreversível.
Penso que ainda são poucos os que vivem do turismo por aqui, digo América do Sul, mas logo que despertarem serão muitos. Entretanto, como já disse antes, algo deve mudar.
Essa forma primitiva deve dar lugar a outra maneira, principalmente em questões de higiene que leva às doenças etc.
Produtos que necessitam de refrigeração, aqui ficam expostos sem ela. o tempo todo. Sorte que é frio, porque se fosse um pouco mais quente seriam todos intoxicados.
A comida dos Andes parece saudável, com base em cereais como o milho, a quinua e outros. Também a batata é o carro forte de todos os pratos. A proteína vem da alpaca que é o bicho que tudo dá a eles. A carne é gostosa, muito mais que a carne de boi, também comem muito frango, o pollo, e truta que é boníssima. Na verdade é alpaca,lhama e vicunha. Esse são os animais,mais importantes por aqui.
Vegetais também aparecem e os empanados. Na rua vendem muita comida, daquele jeito, a céu aberto. Gelatina eles vendem em copinhos pela rua, isso em Cusco e também, aqui em La Paz .
A comida em Cusco parece saudável ,embora para os nossos padrões acabe dando certo nojo de comer.
Aqui na Bolívia, talvez por ser mais alto e frio, o uso de óleo é muito maior. Tudo é meio encharcado de óleo. Não parece que usam o azeite. É um óleo não sei de que, também não parece soja.
Eu que não uso óleo para nada, apenas azeite, sinto muita diferença. Não é que seja ruim, mas é encharcado e só de olhar já não me dá muita vontade de comer. Também as sopas são tradicionais, diferente do Brasil, eles aqui, talvez pelo frio, comem muita sopa. É sempre o primeiro prato ou o segundo, às vezes o primeiro é salada o segundo sopa e o terceiro a carne com algo mais. No Brasil é geralmente tudo junto.



La Paz -11 /1

A catedral de La Paz, como já disse é aqui do lado do hotel Torino e a cada hora soam as badaladas dos sinos. Dormi tarde a noite passada escrevendo e acordei cedo como sempre. Penso mais sobre os problemas do meu cotidiano do que eu queria. Tenho tentado resolver a questão do horário no emprego novo que entrarei, se é que entrarei, porque querem fazer um horário complexo. A disciplina é de novo Introdução ao Direito. Não me agrada de todo, mas é o que está surgindo para dar.
Hoje vou ver o que tenho no emprego antigo pela internet. Essa internet, acaba fazendo com que não desconectemos do cotidiano.
Também tem o lado do coração, sinto falta de alguém que não queria sentir. Sinto falta dos encontros, costume é mesmo uma M. Mas não quero dar corda para isso que não vale a pena, é assunto que deve ser tratado como resolvido. Mas o desejo sei que às vezes foge do controle. Mas como elaborar isso da melhor maneira, devia ser máquina, só funcionar quando liga. Mas não é. Fico pensando se a outra pessoa consegue ser tão distanciada como diz. Será? Será tão insensível ?Não é, mas parece, mas quer ser o tempo todo distante, outro lado, medindo cada ato para não dar margem a outros entendimentos. Pergunto-me porque tudo isso? De que é o medo disso tudo, de viver talvez. Deixa pra lá. Vamos para rua que a vida espera e a fila anda.

La Paz 12


Estamos na rodoviária de La Paz, aguardamos o ônibus para Potosi. Será um ônibus com cama, são 9 horas de viagem, compramos passagem no melhor ônibus , empresa Dourado, foram 80 bolivianos. De Potosi vamos ao Uyuni.
A rodoviária aqui até que é boa comparada com Cusco. Só que é uma barulheira, ficam todos gritando o nome dos destinos. _ Potosi, Potosi, Sucre, parece um mantra para vender passagem. As pessoas saem do guichê e ficam nessa ladainha e nós ficamos imitando.
La Paz é muito poluída, os carros e ônibus velhos não tem filtro de combustível, catalizador, é simplesmente horrível, soltam aquela fumaça preta,na cara da gente, respiramos monóxido de carbono o tempo todo. Acho que o povo deve estar acostumado e estar com o pulmão preto.
Nós entramos na cantoria e ajudamos o povo gritando também o mantra e os vendedores ficam rindo. Duas loucas eu e Malu.
No nosso hotel, Torino, que fica no centro, perto do palácio do Evo Morales, havia hoje uma passeata, fecharam a rua e o exército estava lá com barricadas. Não queriam nos deixar passar. Fizemos pressão e os manifestantes também, e nos deixaram passar.Era uma hora da tarde. Almoçamos no restaurante Torino,lindo, o pátio interno do Hotel que é muito colonial. Todo com arcos de pedra e mesas e cadeiras de ferro.
Depois fomos ao hotel quando encontramos outros brasileiros que sentaram para conversar conosco e deram dicas.
No fim da tarde, fomos então de novo para rua,para umas ruas que são chamadas de mercado de bruxarias, lá compramos um monte de coisas, luvas, mantas etc. Tudo porque disseram que no Uyuni é muito frio, e ficamos com medo.
Nesse mercado tem toda sorte de coisinhas, desde artesanato até coisa para fazer mandinga, feto de lhama, bichos empalhados, de tudo tem um pouco e com preços ótimos, pena não termos como levar.
No domingo em La Paz ficamos explorando a cidade. Andamos muito fomos ao museu de arte moderna, almoçamos em um lugar, na verdade um hotel, cheio de gente da terra, não era um lugar popular, parecia uma galera classe média, as fisionomias eram distintas. Nesse dia também fomos a pé até a rodoviária para comprar nossas passagens para Potosi , a dica do ônibus dessa vez foi dada por uns argentinos que estavam no nosso hotel, eles foram muito simpáticos e explicaram tudo, quando eu perguntei. A diferença de preço da passagem nas agências e na rodoviária é grande, isso aprendemos. Depois de muito andar por La Paz, de sentar na praça e ver muita coisa, voltamos ao hotel para um banho, um descanso e depois descemos para um café que tinha perto do hotel. Tudo muito bonitinho e gostoso, ficamos lá comendo e conversando até tarde. No sábado também saímos para um chá, mas foi no café Torino, embaixo do hotel, também muito bonito, com um garçom muito legal, que ficou nosso amigo, aliás sempre arranjamos novos amigos, quando homem a primeira pergunta era onde estavam os maridos, Oh! sociedade machista, será que mulher só pode viajar com homem colado, e o que fazer com os belos do caminho??? Consultei a internet e mandei notícias nossas. Toda a viagem eu tinha essa obrigação, via os emails e mandava outros, e resolvia as coisas pela internet, realmente o mundo é outro, a tecnologia aproxima demais, resolve. Nem todos os nossos hotéis tinham computador disponível, mas muitos tinham, se não tinha entrávamos em qualquer lan house para ver. Assim tínhamos notícias do Brasil, quando não ligávamos para casa. Eu era a que menos ligava e quando ligava muitas vezes não achava ninguém em casa.
La Paz é bonita, quando entendemos sua arquitetura e sua forma meio favelada, é importante entendermos isso para não ficar achando que tudo é pobreza, se entramos numa cidade medieval na Itália, será a mesma coisa, só que em cores diferentes.
O Centro está tratado e limpo, os jardins são muito bem cuidados, somente as partes em obra estão feias, ainda. Os museus aqui são muito melhores, nota-se o profissionalismo ao montar as exposições, tem um cuidado especial, Posso dizer que o “Evo ta cumplindo”.
A cidade é diferente nos fins de semana, vazia, na segunda feira, tudo parece muito mais louco e movimentado.
No dia seguinte, segunda feira, tudo aberto em La Paz, andamos muito e depois de tomarmos um lanche final, nos despedimos de La Paz. Tomamos uma táxi e fomos para a rodoviária as 7 horas, o ônibus saia as 8 da noite. O ônibus sai na hora e logo pára, não sei para que, nos arredores de La Paz., um lugar feio, sujo, parece uma outra rodoviária, com bares, e lugares de banheiro, muita gente pela rua e chama atenção as ligações elétricas, um poste com milhões de fios ligados, uma loucura,se entra em curto um explode o bairro todo.Finalmente o ônibus sai.

Despesas: Ônibus Potosi – 80 bolivianos, hotel La Paz -240 bolivianos quarto triplo, museus- não anotei

Um comentário:

  1. Que delícia de texto..uma leitura clara e com um conteúdo que além de ampliar o conhecimento de novas culturas...traduz com suavidade uma história de vida...muito mais do que uma viagem cultural é perceptível o valor às relações, ao convívio social nas diferentes culturas e seu impacto à sua própria vida.
    Preciso urgente de uma viagem assim..e rever minha história..meus conceitos...

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