Uma nova viagem se inicia, dessa vez sem que o roteiro esteja rigorosamente definido, sem estar acompanhada, é como da primeira vez, à vontade dos ventos.
domingo, 30 de agosto de 2009
Altiplano boliviano, Deserto do atacama, Salta e Buenos Aires
Dia 18 lagoa colorado
Acordamos às 4 da manhã para ir ver os geisers, o frio era medonho, colocamos todas as roupas de frio que tínhamos, saímos ainda noite do abrigo que chamei de Antártida, ainda vimos o céu super estrelado. O frio não deixava ninguém se mexer. Sentamos no último banco da vam. Andamos muito até chegarmos no geisers. Quando chegamos, saltamos para ver e tirar fotos, era 5 horas da manhã, frio demais para sair do carro, mas fomos, coloquei a mão no gás para tentar tirar foto, Sebastian tentou duas vezes mas não conseguiu,coloquei as pernas e era de fato quentinho,minha vontade então era de ficar sobre o gás. Malu depois conseguiu fazer uma foto minha .
De lá partimos para as águas termais , o frio nos corroia, ainda o sol não tinha nascido quando chegamos. As duas neozelandesas foram logo tirando a roupa e entrando, nós não conseguimos entrar, me sentia abandonada, que é a sensação que tenho quando sob o frio extremo. Fomos para o comedor e tomamos café. O café era preparado por cada cozinheiro do grupo fora do comedor, no meio do frio. O motorista e a cozinheira percorrem o salar com turistas cada 3 dias, dormindo fora pelo menos 2 dias. Depois do café fomos de novo para a piscina termal que estava já lotada, pois todos os carros haviam chegado, o sol já apontava, então nos animamos, tiramos a roupa e entramos, eu e Malu, a Lilia não teve coragem.
Que delícia!!!, aquele frio rachante do lado de fora e nós dentro da piscina , água a 35 graus, maravilhosa. Quando tirei a roupa, o biquíni estava por baixo, pois dormimos com ele. Tirei muito rápido a roupa e mergulhei, não tinha vestiário. Ao sair sentimos menos frio, vestimos a roupa nos trocando ali mesmo, minha mão queimada de limão ficou boa naquele momento, o enxofre da água produziu uma reação química que descascou todo o queimado ficando uma pele nova e límpida.
Saímos de novo, entretanto, antes disso, fizemos fotos lindas. Era de uma beleza ímpar aquele lugar, o dia amanhecia e o azul intenso se tornava cada vez mais forte, quando saímos em direção ao Chile. A fronteira não era muito longe. Ficaríamos na fronteira com o Chile para irmos a São Pedro do Atacama, na fronteira outro carro nos buscaria . No caminho a paisagem era deslumbrante, desertos com a cordilheira ao fundo, os vários vulcões, um deserto com areia marrom com pedras soltas lembravam o quadro do Salvador Dali, as montanhas coloridas, paisagens jamais imaginadas por nós, uma natureza completamente inóspita sem nunca ter sido mexida . Sem vegetação, ou apenas com uma vegetação rasteira. Não sei do que as vicunhas se alimentam, pois tinham muitas nesses lugares, acho que devem ser selvagens, pois nada, nem ninguém existe por perto . Nosso tour está quase acabando ,ao nos deixar no posto de fronteira a expedição volta ao Uyuni em um dia, com parada apenas para comer.
Nossa expedição finaliza na fronteira, saímos das águas termais e vamos a lagoa verde, uma cor linda, mas impossível de entrar para qualquer ser, porque mistura metais pesados, ela é verde, linda, mas sem qualquer tipo de vida.
Nesse lugar faz muito frio, o tempo mudou completamente, o vento é muito forte e corta nossa face, temos que colocar toda roupa que temos,.tiramos fotos e corremos para o carro, eu tive que concluir nossa expedição fazendo mais um totem, fiz vários durante a viagem, simboliza a minha chegada àquele espaço, encontramos muitos pelo caminho e eu incorporei o ato. Fiz na lagoa verde um bem grande, várias pedrinhas umas sobre as outras.
Entramos no carro e rumamos para o posto da aduana. Lá uma fila enorme nos aguardava. Entramos no posto porque o frio era demais.Começamos a ser atendidos e logo vem a cobrança de 20 bolivianos para sair do país. Pergunto o motivo da taxa e dizem os guardas que é determinação do governo, fazer o que? Pagamos a taxa e nos encaminhamos para o carro que nos levará . Demora um tempão até que entremos no carro, um micro ônibus e vamos. A temperatura começa a mudar. As estradas agora são ótimas . Chegamos ao posto da aduana chilena, lemos as determinações de entrada, sem produtos de origem hortifrute, etc e tal. Entregamos os papeis e vamos para a fiscalização .Uma saleta ao lado do guichê, o posto muito cheio pois é domingo. Entra um cara e pede para abrirmos a bolsa, ele é brasileiro então fica tudo bem, nem vê nosso amendoim, e o monte de coisas da Lilia com sua fala dispersa. Mas não temos nada de proibido.
Desde cedo já estávamos no Chile, é um território em que os três países se confrontam, Chile, Bolívia e Argentina.O Chile tem uma paisagem muito interessante, sua faixa de terra é comprida e não é larga, embora a parte em que passamos e que passaremos será a mais larga. Nesse espaço, por muitas vezes desértico, encontramos vários oásis em que se plantam sobretudo frutas. E essas frutas são muito saborosas e suculentas.
Chile
A população chilena é também misturada. Tem gente com face de índio e morena e gente com cara de gente branca, influência espanhola. Muitos peruanos e bolivianos vem ganhar a vida por aqui. Chegamos do passeio do Vale da lua e paramos logo na padaria em frente ao hostal. Lá tinha umas empanadas de forno que comemos. De carne e de queijo com tomate e tomamos suco de pêssego muito gostoso. Um cara que entrou na padaria no presenteou com dois merengues, acho que gostou da gente, foi nossa sobremesa . Depois de comer fomos para ao hostal tomar banho e arrumar as malas. Depois de toda aquela poeira e areia do Vale da lua, tudo que queria era muita água quente, pois a noite do deserto é muito fria.
Fui tomar um banho quente e tirar toda terra que estava na pele, pé e cabelos, nós fizemos o passeio da duna e o por do sol sem sapatos. Quando chegamos a São Pedro aposentei tênis e andei o tempo todo de havaianas, mas aqui não tem calçamento e , lógico, fica tudo sujo.
As meninas também fizeram o mesmo.São Pedro é uma cidade muito cara, quando chegamos fomos ver como sairíamos daqui. Aí é que foi nossa furada. Sabíamos que só tinha ônibus 3 vezes na semana para Salta(Argentina), mas não sabíamos que não tinha vaga nos ônibus e que eles não colocam ônibus extras. Então para sairmos tivemos que a pagar mais do que o triplo da passagem de ônibus. O ônibus custa 28 mil pesos e o transporte alternativo custa 100 dolares, ou seja, pagamos, porque se não, não poderíamos chegar a Salta. A viagem é longa,demora, mas existe uma combinação entre os donos de agência e os ônibus para beneficiar aqueles, só no nosso carro o dono lucra 1400 dólares, é muito dinheiro.
O vilarejo de São Pedro cresce e vive em torno do turismo,é muito caro até para quem vive aqui e também para os turistas. Seu atrativo é que é a porta para o deserto do atacama, lagos , lagoa da cordilheira, isso faz com que a cidade, ou pueblito, se tornasse um pólo do turismo local. Não deu tempo de vermos a periferia do lugar,mas certamente existe. As casas são baixinhas, ou melhor tem um tipo de construção em meia água, mas o pé direito é muito alto. Não há sobrados e muitos telhados são de palha ou de barro,uma massa de argila que deve refrescar por dentro, como as casas gregas, só que aqui não são caiadas. Nunca chove por aqui, mas ontem pegamos uma trovoada muito forte com chuva que durou, no máximo 10 minutos.
As ruas são estreitas e barrentas, como disse, tudo gira em torno do turismo, lojinhas com artigos artesanais, prata etc, aluguel de bicicletas é uma boa opção para passear. Ou seja, como Búzios, só que no deserto, a gente que nós conhecemos nos tratou muito bem, mas os preços arrombaram nossas finanças de fim de viagem, sem comprar nada.
Gastamos mais em dois dias em São Pedro do que em 10 na Bolívia.
20/1 Caminho para Salta.
Já são 18 dias de viagem. Foram tantas coisas que nem sei se lembrarei de tudo para depois contar. Não sou muito de ficar falando das viagens que faço, nem mesmo gosto de mostrar as fotos e ficar falando o que é. Acho que isso é algo pessoal. Hoje com a internet cada um vê o que quer, a hora que quer. Se tiver curiosidade a pessoa entra e vê. Mas eu gosto de ter as fotos e manuseá-las de vez em quando. Uma materialização das fotos. Para não ficar só no computador, onde jamais abriremos. As últimas viagens que fiz, tenho tudo no computador e nunca mais vi nada, nem mesmo o interesse em montar um álbum me ocorreu. Parece que apagou, fica apenas na memória, se ficar, porque com o tempo esquecemos detalhes. Acho que a forma atual não é a melhor,a memória é seletiva demais, guarda muito pouco, ainda mais quando é algo tão rápido e intenso.
Gosto de fotografar, e não precisa ser comigo na foto, porque aí a foto nunca fica do jeito que quero. Gerencio bem as fotos dos outros que tiro, ficam boas, e com fundo bem legal. Não tenho também as preocupações que as meninas tem de aparecer na melhor forma, de roupa diversa com batom e perfume.
Salta 22/1.
Chegamos à Salta dia 20 à noite.Nos deixaram na perional, chamada rua de pedestres no centro da cidade. Era noite e não tínhamos hotel, apenas alguns nomes de albergues. Entramos primeiro no mais perto, que era o hostelling internacional,não tinha quarto para três, somente coletivo e caro 64 pesos por pessoa. Não ficamos, resolvemos tomar um taxi e fomos em busca do Los cardones, que haviam indicado para nós. Conseguimos um motorista de taxi que nos levou, eu apenas tinha 12 pesos que havia apanhado com minha mãe antes de sair, e aquela hora não tinha casa de câmbio aberta.
O taxista nos levou ao Los cardones. Entrei correndo para ver se tinha vaga. E nada. O rapaz que estava na recepção então vendo minha desilusão e cansaço resolveu ajudar.Ligou para um outro hotel e nos conseguiu uma vaga, todavia o quarto era coletivo, aquela hora era o melhor que conseguimos. A contra gosto, como não tínhamos para onde correr aceitamos, para no dia seguinte voltarmos ao Los Cardones, onde tínhamos reservado para o dia seguinte.
Entramos de novo no taxi que estava esperando e ele nos levou ao hostal Prisamata. Ao chegarmos um rapaz –Nani_ meio Hare krisna nos recebeu com beijos na porta .
O hostal, um antigo casarão lindo com redes e quartos enormes com beliches e um pé direito altíssimo.Uma cozinha coletiva e ao fundo uma outra sala com churrasqueira. Nani nos levou para conhecer tudo. No fundo do hostal, todo povo estava reunido comendo churrasco com cerveja e fumando maconha. Demos alô para a galera que em média tinha uns 21 anos, jogamos as coisas e fomos procurar um restaurante. Nani nos ofereceu a comida Hare Krisna de uma moça que estava lá,mas nós, que não tínhamos almoçado, somente tínhamos comido empanadas no posto de fronteira da Argentina com Chile não aceitamos. Saímos em busca de um restaurante, achamos um muito bom com gente local. Parecia uma galera classe média para alta, com preços bons.
Aliás os preços em Salta são ótimos para tudo, comida, hotel, compras. Se dividirmos o real pelo peso da vontade de comprar tudo e é muito mais barato que Buenos Aires. Nossa última chance de comprar artesanatos andinos e coisinhas para os familiares,já que em Buenos Aires tudo é muito mais caro e não tem artesanatos.
Têxteis e estátuas, tenho vontade de trazer, mas seguro a onda, pois depois fica tudo entulhado sem lugar para colocar em casa.
Não quero ter uma casa peruana ou só decorada com os Andes. Gosto de objetos, das minhas coisinhas que compro onde vou, como minha coleção de caixinhas. Mas aqui elas são caras e não muito diferentes.
Tem também as mantas que comprei uma de cada cor, hoje fechei com a rosa que vou levar para fazer uma bolsa. Na verdade, devia ter comprado tudo na Bolívia mas pelo peso desisti de transportar.
Aqui em Salta é tudo muito bonitinho. Tem um estilo misturado. A cidade tem influências espanholas,é lógico, coisas que parecem com o sul da Espanha , a arquitetura meio árabe , entretanto dizem que teve influência italiana e isso parece que se vê em certos monumentos com colunas Greco-latinas. A praça central é linda com uma igreja cor de rosa, muito grande e bonita, uma catedral. Parece as praças espanholas e também italianas como a de Siena ,com o em torno cheio de prédios,ou seja rodeada de sobrados que embaixo são calçadas sob arcos. Entretanto, no meio da praça tem muitas árvores , um coreto e estátuas. A cidade é muito arborizada. Do cerro que tem um teleférico vemos toda a extensão da cidade e de fato tem árvores em quase todas as ruas e tem praças verdes por todos os lados.
As ruas são largas como Buenos Aires.Não sei de quando é sua fundação mas tudo leva a crer que seja do século XIX. Os sobrados antigos são bem o estilo desse século com ferro e vidros e vitrais, muito diferentes de Cusco ou outras cidades que visitamos. A cidade agradou muito,moraríamos aqui. Ficamos ontem e hoje desvendando seus mistérios citadinos,descobrindo suas ruas e lugares que não ficam a mostra para qualquer um ver. Nosso hotel é muito perto do centro e não tomamos ônibus ou taxi nenhuma vez. Hoje fomos pela segunda vez ao Parque São Martim onde tem o teleférico e as bancarelas pelo caminho só que hoje exploramos um lado mais pobre da cidade. As caras eram diversas e o comércio também .No caminho almoçamos num lugar popular.Pelos rostos já se via que a população mais pobre tinha cara de índio e boliviano, é a mistura, bem diversa da população que estava ontem na praça 9 de julho, quando sentamos num café-restaurante e tomamos vinho e comemos pizza.
O lugar estava bombando,muita gente curtindo o verão na praça ,muitos homens bonitos,mulheres não reparei. De fato los hermanos são belos. Gente mais nova que as do restaurante do dia que chegamos. Encontramos lá a menina que veio conosco no traslado do Atacama , e ela veio falar conosco e apresentar seus amigos, hermanos. A noite então foi longa, com muitas estrelas para todo mundo.
Tomamos uma garrafa de vinho Malbec da Bodega Trapiche, muito gostoso, fiz as meninas beberem comigo, porque durante toda viagem só eu bebia e isso é chato, certas horas bebo sozinha, mas dessa vez as obriguei. Tomaram e foi ótimo . Lilia diz que ficou de porre e fala que não beberá mais, porque perde o senso e ri a toa. A Malu também bebeu bem. A noite estava muito agradável, esfriou bastante mas eu tinha levado casaco ao contrário da meninas. Odeio sentir frio porque me sinto abandonada, então sempre tenho um casaquinho em mãos ou na minha bolsinha. No fim da noite estávamos rindo a toa depois de deixarmos os ticos. Entramos numa confeitaria na Avenida Mitre e a moça nada entendeu, ríamos como crianças, viemos para o hostal e logo estávamos dormindo.
22/1 Salta
Caramba!!! hoje já é dia 22. Abri meu email agora e vi aviso de 3 reuniões que não poderei ir , espero que isso não me prejudique. As reuniões são no cinema. Até agora parece a única turma certa que tenho.Isso me preocupa ,mas a Estácio faz sempre isso, uma total indefinição .A outra faculdade já me mandou email com as turmas de direito em Nilópolis. E a secretária ainda de outra faculdade, que não paga, me pergunta sobre o que farei . Digo a ela que não ficarei. Impossível ficar onde não nos pagam. Puta merda, saiu agora o salário de setembro. Trabalhei 5 meses de graça, o salário uma merda e ainda assim não pagam, é uma violação estúpida aos direitos do trabalhador. O básico, o pré-requisito de um contrato de trabalho é o pagamento dos salários, do pro labore e esses caras nem isso fazem. E a justiça, o Estado, nada fazem. Não sei como agirei.Preciso pensar sobre o que farei. Quero fazer obra no meu apartamento, preciso disso para viver e moderniza-lo , assim ficará do jeito que quero.
Tô entrando em outros assuntos que não são de viagem, mas como viver sem pensar no resto do ano, na sobrevivência . Meu bairro é o que eu escolhi e do qual não pretendo sair, a não ser que seja para uma casa de preferência ali mesmo. Cada dia tenho mais convicção de que era o lugar que me esperava, Santa Teresa . Estou no hotel agora, escrevendo. Aqui é muito gostoso, tem gente de todo o mundo, franceses, australianos, argentinos, americanos. Malu está na internet e Lilia dormindo, acho que ela tá muito cansada . Às vezes fico preocupada, ela diz que não dorme quando temos que acordar cedo e fica cochilando, ou mesmo dormindo na condução, dorme como criança no ônibus . Acho que o ritmo está meio pesado para ela, mas ela não dá o braço a torcer. Muito forte. Quando na altitude ela dizia que seu nariz estava muito mal, mas sempre que eu oferecia remédio não aceitava com medo e nem é um remédio forte. Mas deixa preocupadas nos duas outras.Certas vezes reclama muito de tudo. Eu faço que não escuto, como devem fazer comigo, mas é chato. O que acontece é que ela acaba atraindo para si as piores coisas. O pior lugar, o pior prato de comida, o troco errado, o furto.
Não sei se sempre foi assim, não me lembro mas deve ser algo passageiro, espero, porque torna a pessoa chata. Agora tem coisas que são muito engraçadas . A teimosia é uma delas e a repetição de histórias. Isso todas minhas amigas leoninas fazem. Elas esquecem que contam as histórias e contam sempre de novo. Lilia, Malu, Gisele e também gostam de fazer poses nas fotos e fazem as mesmas ,é incrível e engraçado de ver. Nessas viagens quando ficamos 24 horas direto com as pessoas e vivemos várias situações diferentes, e as vezes no limite do bom senso e do medo é que percebemos bem como são as pessoas. Minhas amigas, posso dizer que são muito gente boa. Apesar do medo que sentiram não colocaram tudo a perder.Não brigamos ou discutimos uma vez se quer, até agora 20 dias de viagem. Tudo que fizemos foi de comum acordo e também na base da solidariedade e amizade que é muito bom. Certamente elas também terão reclamações de mim, meu jeito de resolver as coisas com simplicidade e meio rápido para me livrar logo do que me perturba. Mas, parece que dessa vez, estou um pouco mais paciente. Deixo que cada um resolva o que é seu e não fico falando ou resolvendo as coisas pelos outros. Menos monopolizadora e menos autoritária
Cada um toma sua decisão, por isso estou menos cansada que da outra vez que viajamos em grupo.
Acho que nessa viagem o fato de querer escrever tem me feito mais introspectiva,silenciosa. Não é que eu não fale. Falo e muito, mas minhas falas e observações são mais comedidas.
Lembro de coisas de casa, do Brasil, do meu rolo pessoal com o cara. Que coisa mais doída isso. Que maluquice, certas manias e determinações que as pessoas se impõe que são sem explicações, ou melhor, que devem se explicar por algum trauma ou medo indevido, posto no lugar errado. Até mesmo a própria pessoa já deve ter percebido isso. Mas sei de antemão, o que é uma pessoa de quem nada se deve esperar em termos emocionais, é isso, me parece estranho,inexplicável demais.
É sem compreensão pensar que alguém tem intimidade com uma pessoa e fica o tempo todo se controlando para não ter. Deve ser horrível viver meio torturado e limitado por suas próprias convicções. Coisa de louco mesmo . Eu por mim sei que nada disso adianta. O que foi, ou é, ou será, não me compete. O momento para mim é o que é bom .Não que o resto não me importe, ou não me seja interessante. Importa-me e interessa-me,mas sei que o que sinto não vai mudar.
Como sempre, variam os personagens secundários da história. Eu já passei a barreira do medo, já sei que estou, e que não sei o que fazer com isso, apenas viver, mas nada. E como diz o Dalai Lama se não temos como resolver as coisas,se elas não dependem de nós, devemos deixa-las de lado, que a vida se encarrega, por si só de resolver. No vulgo, se o estupro é inevitável, relaxa e goza. Isso pode ser impactante mas é assim mesmo . Deixa que a vida se encarrega de resolver as suas próprias mazelas e as coisas que ela nos cria, principalmente quando estamos na TPM, quando tudo parece ser muito maior do que realmente é .
Nesses dias de TPM, ter atitudes desprendidas parece impossível , temos ciúmes do objeto de prazer.Mas é grande o esforço para pensar e sentir assim. E lá se vai quase um ano. Que coisa!!! Mas esse parêntese da narrativa de viagem deve acabar, afinal tem muita coisa e gente interessante por aqui, para se ver e contar.
Estava aqui sentada e um neozelandês se aproximou, fala português e começamos a conversar. Ele esta viajando há cinco meses e já passou pelo Rio. Disse que foi à Lapa e também foi a um pancadão, ou seja, baile funk. Digo que nunca fui. Também aqui uns franceses muito simpáticos, que estão sempre aqui, com seu lap top escrevendo. Eu me sacaneio com eles dizendo que estou na idade da pedra lascada com meu diário manual. Tem um com blue eyes que fica me filmando, já peguei ele olhando várias vezes e toda vez que batemos de frente ele fala assim meio tímido, sei lá. Outro Francês olha e é simpático, chegou agora com uma baguete.
Mas tem um outro carinha barbudinho, muito bonitinho,com olhos redondos parece um argentino, desde ontem que estamos numa azaração gostosa prá caramba. Um olhar assim interessante e penetrante. Hoje foi assim na manhã e depois nos encontramos no parque San Martim . O olhar foi o mesmo, super gostoso, a conversa boa e tudo mais assim também tão..., tão bom...passemos adiante.
O legal de albergue, ou hostel, é isso. Sempre rola esse contato que em hotel jamais rola , é quase impossível . Aqui ficamos sentados num lugar comum, a tarde, descansando e acabamos conhecendo uma galera. A disponibilidade para o contato aqui é enorme e não importa a idade que temos. Certas horas me sinto meio velha, o que é uma besteira, sei disso. Lembro-me quando fui a Europa de mochileira , sozinha, pela primeira vez. E escrevi um diário naqueles 42 dias que lá fiquei. Conheci nessa ocasião tanta gente, tive vontade de ficar,mas voltei. Diferente de muitos que ficaram, o que mais pesou na minha decisão foi a falta que senti de casa, apesar da enorme vontade de descobrir o mundo que eu tinha.
A saudade naquele momento foi mais forte que tudo. O tipo de relação que eu tinha em casa foi fundamental para que não tivesse vontade de ficar lá e quisesse voltar e construir aqui minha vida. E foi o que fiz.
Se como outros, eu tivesse minha relação conturbada, se minha família fosse tumultuada e chata eu certamente teria ficado naquela ocasião . Eu não tinha do que fugir, nem mesmo do meu namorado da época . Hoje tantos anos depois vejo isso com maior clareza. Minhas descobertas estavam por aqui mesmo. Ao contrário de 2003, quando fui para Itália, quando eu fugia de uma dor intensa, da perda, do rompimento da loucura que foi o ano de 2002. Fugia dos meus próprios sentimentos e achava que lá longe eu conseguiria me livrar deles, fugia então de mim mesma. E nessa fuga, descobri depois que nada adiantava fugir que aquilo tudo estava tão entranhado, que não passaria mesmo há um oceano de distância e não passou mesmo.
Quando voltei fiquei deprimida, ou melhor,não imediatamente mas um ano depois. Depois da tese defendida e quando sobrou espaço para a pressão sair. Despressionar, nessa hora o bicho pegou, sem que eu mesma me desse conta. O mundo cinza, horroroso. Hoje, aqui, vejo o mundo com a cor do pano que as incas usam para carregar seus filhos e tudo mais que carregam.
Hoje comprei esse pano, o mais característico de todos, um que é rosa choque com coloridos múltiplos entranhados. E esse rosa que antes eu não quis comprar, hoje me convenceu pois é o mais típico que existe, pois é o que elas usam.
Mas, no entanto, sei que em certas horas a cor cinza, não sei bem porque, sobrevêm . Talvez todos sejam assim, eu é que observei ou observo mal as pessoas e sei que assim faço .Uma visão meio narcísica, presa no meu mundo colorido de proteção e colo.
Uma visão, que com razão, pode parecer infantil e cor de rosa mesmo e às vezes também sem maldade ou inocente. Mas porque deve ser diferente? Não é mal achar que todos são bons até que prove o contrário. E são . Não é a teoria do Rousseau, se bem me lembro, homem bom, mal, sei lá.
Ali do outro lado o Francês fuma e me olha outra vez, dá um risinho,será que ele escreve sobre seu olhar, como eu escrevo sobre o meu. Tem uma cumplicidade de escritas rolando por aqui. Na camisa dele tem escrito,Mão Negra.
Minha caneta esta acabando, olho minha bic e seu canudo de dentro está branco. Preciso sair para comprar uma nova caneta. A outra que eu trouxe sumiu, assim como o canivete que não sei onde meti. Vou procurar. Lembro meus amigos. Ao meu lado um grupo de meninas argentinas mostram as compras que fizeram e tomam chimarrão . Parei de tomar chá de coca , aqui não precisa mais.As mulheres argentinas viajam em bandos são sempre cinco, seis,oito. Tocam o maior rebu no espaço, ontem quando Lilia queria entrar no banheiro, tarde da noite, elas estavam fazendo chapinhas no cabelo, tem que ter muito saco para esses rituais de beleza, ainda mais esses de cabelo, que levam horas para ficar prontos.
Salta 23/1
Sentadas na praça descansamos o almoço .Uma parrilhada um monte de carne vermelha num grill e ainda pedimos legumes e verduras. Comemos em um restaurante perto da praça 9 de julho. No restaurante tinha uma menininha filha da dona ou da garçonete, não sei. Bonitinha, que ficou o tempo todo nos falando, que chegava a ser chatinha. Tinha 3 anos de idade, mas era tão esperta e falante que parecia ter mais.
Hoje cedo saímos do hotel para rua já com tudo pronto.Fomos para a rua a fim de ver as últimas coisas e conhecer partes da cidade que não fomos. Agora na praça repassamos os últimos tempos nesse lugar agradável. Moraria aqui. Uma pequena grande cidade, capital da província do norte. Só não tem muitas livrarias ,mas hoje tudo se compra pela internet.
Uma cidade não tão pequena quanto Mangaratiba e não tão grande quanto o Rio, ou uma cidade média no Brasil.
É hora da cesta, as lojas fecham às 13 e reabrem só depois da 16 h, seguindo o modelo espanhol e italiano.
Estou com o maior sono aqui nesse banco da praça. O tempo parece que está mudando. Tudo está nublado, daqui a pouco, 21h, entraremos no ônibus para Buenos Aires serão 22 horas de viagem. Acabamos optando pelo ônibus não só pelo fato de sair mais barato,mas porque se fossemos de avião deveriamos ir ontem e não hoje. Mesmo hoje chegando amanhã a tarde eu tive que antecipar nossas reservas que eu achava que eram para amanhã e não eram .
Acho que já estamos cansadas,algumas mais que outras.já me preocupo com o trabalho. Ontem recebi uma proposta de trabalho de coordenação ,mas não aceitei, rejeitei,não daria tempo para dar aulas de direito em outra universidade e ainda coordenar o curso de letras em 2 campus. Mas temo que isso possa ter sido precipitado da minha parte. Eu e minha impulsividade.Nunca tive ambição por esse tipo de cargo e nem quero, me parece muita apurrinhação e estresse para um poder medíocre e sem retorno financeiro equivalente. Acho que me chatearia e não teria tempo para mais nada.
Fico com receio porque ,de fato, não sei o que terei de trabalho e isso é preocupante,mas de qualquer maneira não dá para mim,é complicado.
Nada sei o que se passa em meu país,nem aqui, nem em lugar nenhum,consegui me desligar mesmo e nem sequer abrir um jornal esse tempo todo,nem televisão , apenas de relance. Não tive preocupações , desliguei como dificilmente faço.Nem mesmo com grana me importei muito ,ou com as coisas, tive apenas o cuidado de registrar as coisas,mas também creio que falhei nesse ponto.
Por exemplo, lembro agora que não falei do Humberto. Um louco argentino que estava em São Pedro e veio para Salta. Ele chegou perto de mim e começou a falar milhões de coisas que eu pouco entendia.Falava do Fred Mercury,do presidente de futebol, tudo ao mesmo tempo. De todo mundo que ele se aproximava era o mesmo, falava até a pessoas não agüentarem mais. Quando no posto da fronteira houve a confusão com os meninos brasileiros do outro carro ele ficou que nem peru tonto, falando da sua mala primícia . Era um senhor com uns cinqüenta e poucos anos, boa aparência mas muito desorientado, o coitado.
O que aconteceu no posto de fronteira foi que os meninos, como nós, não tinham como sair de São Pedro e alugaram então uma van só para eles, que os levaria até Salta, quando estavam no meio do caminho, já passados do posto da aduana Argentina a van volta para o mesmo posto para pegar outras pessoas,atrasando a viagem deles em duas horas, eles então estavam irados demais, brigando quase batendo nos motoristas, que de fato eram os culpados da história. E diziam impropérios e fotografavam, etc e tal. De fato aquela cidadezinha é uma arapuca para o turista sem carro. Ficamos sujeitos às condições deles e tudo de uma forma impositiva, sem negociação . Aliás a negociação foi um dos grandes atrativos dessa convivência com os latinos americanos, no Peru e na Bolívia tudo pode ser negociado, existe um preço fixo que pode ser abaixado sempre, no Peru mais ainda que na Bolívia, eles olham para sua cara e vêem se você pode pagar baseado em um senso deles arbitrário, a Lilia com cara de madame, como disseram as brasilienses, acaba pagando mais, no entanto, ela desenvolveu uma técnica de contar histórias principalmente a de que foi assaltada na rua em Cusco e isso dá um enorme resultado, outra técnica é a de comprarmos tudo junto, assim sempre conseguimos um desconto, mas de qualquer maneira, o real está muito favorável nas conversões .
Aqui ao meu lado nesse banco da praça a Lilia dorme, acho que está muito cansada, o tranco foi demais para ela, mas ela é guerreira,não fala. E se não fala nada, às vezes nós impomos um ritmo mais violento no dia. Malu exercita sua matemática com a minha calculadora vermelha, que já viajou o mundo todo, esse hábito virou nosso passatempo. Contar, converter, rir das contas, errar e depois voltar atrás nos cálculos. Ela fez a média de toda a viagem, eu também anotei, mas tem coisa que esqueci .
Quando chegamos à Argentina parei de escrever tudo. Todos os gastos que estamos fazendo, eu queria anotar para depois passar para o povo da comunidade do Orkut, que tanto me ajudou para fazer os mínimos planejamentos de viagem, mas eu peguei o diário para escrever o que aconteceu, e os gastos ficaram um pouco de lado.
A proximidade da volta já me perturba, com todas as obrigações, as coisas que tenho para organizar. O bebê vai chegar , as preocupações no sentido profissional e pessoal. Talvez eu quisesse passar o resto da vida, assim lendo, escrevendo, viajando. Ou apenas dando aula uma ou duas vezes na semana, e pesquisando o resto do tempo, às vezes a gente se sente massacrado por esse mercado de trabalho que só nos estorque.
Me dá saudade da minha casa, do meu sofá branco, da minha caminha com meu povo. Comer a comida da minha mãe e comer o chocolate de sobremesa.
24/1 Salta – Buenos Aires
Pegamos ontem a noite o ônibus na rodoviária de Salta para irmos a Buenos Aires, ônibus bom , rodoviária também muito boa e limpa, melhor que a do Rio .Embarcamos atrasados e saímos com atraso. Agora são 7:30 da manhã e já paramos para o café da manhã. O ônibus não tá cheio o que possibilitou a Malu e a mim sentarmos cada um em duas poltronas.
Dormimos mais ou menos, já estava frio, agora quando paramos para o dejejum o cara do bar entrega um papelzinho com anotação do café e um pãozinho tipo biscoito ou meia lua. A parada é ruim mas nada terrível se comparada às paradas bolivianas e peruanas que são péssimas, sendo os banheiros a pior coisa que já vi na vida. Aliás, ao vivenciar isso aqui, fico imaginando o que seja a África e a Índia em temos de higiene, ainda quero ir a esses lugares mas necessitam que eu faça um planejamento mais elaborado e que o tempo seja maior. Talvez com a Hérida morando em Singapura isso possa ser mais fácil, não sei veremos.
Mesmo o Brasil em alguns pontos na ganha desses lugares. Tenho falado tanto em banheiros nesse diário que vão pensar que tenho mania de limpeza, TOC, ou coisa parecida. Mas não é isso, somente pelo fato de fazer muito xixi é que minha ida a casinha se torna recorrente, e isso faz com que eu fique incomodada com lugares sem o mínimo conforto e limpeza. É isso, não falarei mais, exceto do banheiro do nosso próximo hotel.
O ônibus pára. e um casal vai saltar, estamos perto de Santiago Del Estero,não sei se antes ou depois de Córdoba , uma cidade grande da Argentina que fica bem no meio do país . Olhando meu pequeno mapa fica antes de Córdoba . Hoje será o dia inteiro dentro do ônibus, a paisagem do lado de fora é bonita.Nesse trecho não vemos morros ou planaltos é uma imensa planície de perder os olhos, tudo verde, com pastos e plantações não sei de que. Parecem os pampas ou a região de criação de gado no Brasil. A pista , rodovia , não é dupla,e tem muitos pedágios .Lembro-me das paisagens altiplânicas do salar, e o quanto disso ficará na minha memória, de fato a coisa mais impressionante, a imagem do deserto, mas não aquela imagem do Saara, que quase todos temos na mente. De um mundo de areia branquinho e quentinha do sol, sem nada apenas com seres vivos que se escondem sob a areia, seres que vejo sempre no Animal planet , cobras, tarântulas, escorpiões lutando pela sobrevivência, nesse lugar quase sem água.
Mas esse deserto altiplânico que não é branquinho tem variações , paisagens só de paredões de pedra cor de chumbo, meio avermelhada, ou será cobre, com uma montanha no meio onde o cume está cheio de neve. Os tufos de capim, nesses lugares que passamos, muitas vezes estão cobertos pela neve, e esses é que devem servir de alimentos aos seres escondidos que nos espreitam nesse deserto perto do céu.
Pegamos neve em vários momentos, jamais caindo em flocos grandes . Apenas flocos pequenos no alto quando atravessávamos o deserto rumo a árvore de pedra, alto da cordilheira,muito alto mesmo.
Aliás se tem algo que varia muito, isso é a temperatura, às vezes muito quente de tirar todos os casacos e de repente frio de colocar tudo que é roupa.
Chegamos a 4900 de altitude isso é muito, não sei como essas pessoas conseguem viver aqui desse jeito, só mesmo mascando a folha de coca que só aprendemos a mascar aqui, não nos tinham falado que precisava tirar o caule da planta, então eu mascava e era horrível, aquela coisa amarga, que me fazia cuspir imediatamente, por isso preferi o chá que não tinha gosto de nada, mas não tomava a noite porque como estimulante não deixava dormir direito.
Recordo-me quando o Mario nosso chofer pediu que descêssemos do carro e subíssemos um morro naquela altitude, tínhamos tomado o sorophill mas mesmo assim o ritmo acelerado que tinha colocado no início da caminhada deu lugar a uma sensação de falta de ar e cansaço indescritível. Senti meu coração pular o diafragma fazer um esforço violento para puxar o ar. Teve um momento que tive medo de desmaiar,um certo desfalecimento,a pressão parecia cair, já imaginava a confusão da situação , o mesmo medo que sinto logo depois de um dia de desmaio, na verdade, um pânico de cair a qualquer momento e ficar ali mesmo desfalecida, como no dia que estava com Querido em casa e desmaiei no banheiro. Ufa! a montanha finalmente terminou e o carro nos esperava.
As paisagens que passávamos ao longo do percurso por terra, de fato, eram fora do comum para quem vive no Rio de Janeiro ou acostumada a florestas tropicais. Transitamos no verde intenso dos vales peruanos,que tem tonalidades fantásticas, com casinhas incas espalhadas pela montanha,casinhas de pedra com telhados de palha.No caminho para Machu Pichu muitas corredeiras de pedra, lascas de pedra que contornam a montanha, com água e sem vegetação,em meio as matas que às vezes parecem de selva tropical.Dois caminhos , Santa Teresa, plantação de café e coca e na montanha mais alta apenas a tundra.
A agricultura nesses altiplanos, quando há, é feita em pequenas vilas que ainda guardam os mesmos modos e praticas da forma rudimentar de cuidar do solo. Nessas vilas esses camponeses plantam normalmente o milho (mais) e a coca, que necessitam para passar o mal da altitude, também uma planta que tem uma florzinha lilás, que serve para fazer uma comida, entretanto nas paradas, já aparece outras formas de ganhar a vida com exploração do turismo.
Em alguns lugares eles vendem uma comida dentro de um saquinho plástico. A comida parece um lavagem de porco aos nossos olhos. É um arroz , que não é arroz, é kinua beneficiada, batata e um liquido alaranjado. Essa mistura fica em saquinhos plásticos e eles comem com uma colherzinha ou com a mão mesmo , também aparece o tal saquinho com batata e ovo cozido.
Voltamos as plantações, essas são feitas em terrenos cercados com pequenos muros de pedra. Quando tem pedra no local, redondinhas ou não eles fazem o muro que não tem cimento ou qualquer rejunte para colar as pedras, o sistema de distribuição de água também é interessante, fotografei um em Machu Pichu onde água vem descendo por pequenos dutos de pedras até chegar ao seu final.
Os muros de pedra parecem com os da minha casa em Mangaratiba ,algo bem rústico. Quando não tem pedra no local eles fazem o muro com um tijolo maciço de barro que deixam secar ao sol, ficam ums blocos grossos de imagem pesada aparentemente bem ecológico . Também plantam nas curvas do relevo, mas diferente da China eles sustentam o relevo com uma murada de pedra, isso nas montanhas e não nas planícies.
É incrível ver nessas planícies vários animais, principalmente as vicunhas,lhamas e alpacas. As pessoas, quando as lhamas são suas, e não selvagens, colocam nelas vários ornamentos coloridos, nas orelhas e pescoço dos bichinhos como se fossem brincos e colares, elas ficam lindinhas, parece que gostam, e são muito dóceis . Tiramos várias fotos de lhamas,principalmente as selvagens que ficam a beira das lagoas junto com os flamingos.
Certas lagoas são os lugares preferidos dos flamingos que tem sua plumagem rosada por causa do metal que tem nas lagoas. Eram muitas aves, tão bonitas no seu bailado solitário longe da nossa presença. Nem os flamingos, nem essas lhamas nos cobravam para serem fotografados, outros animais como coiote apareciam de surpresa, outras a aves também surgiam naquela imensidão solitária. Como será viver nesse lugar? Apenas com a presença da natureza predominante sobre qualquer outra forma de pensamento ou vida. Sem dúvida que não é vazio, pelo contrário as manifestações naturais nesses lugares povoam todo o nosso imaginário e preenchem qualquer mente, como diz o Amir Klink em sua viagem a Antártida . Não existe solidão ou solitude, a natureza é tão grande que não dá tempo para quem observa de dentro ou de fora seus fenômenos, cores, manifestações. Daria para viver ali? Pensando bem, acho que sim, se tiver uma rotina metódica de observações e leituras e escrituras acho que não seria difícil habitar por aqui, ou qualquer outro ponto, mas lógico com o aquecimento suficiente para não me sentir em abandono completo por causa do frio.
A mente se povoa sozinha,isso é fato, o contato humano acaba sendo conseqüência quando vivemos na sociedade, mas se nos povoamos sozinhos com idéias, planos , teorias, sonhos, não sentimos falta de outrem, a não ser por algum prazer que não dá para ter só, ou quando é melhor acompanhado.
Uma das paisagens mais bonitas da viagem foi o caminho para Pisac, Peru. Eram como sítios plantados ao pé das cordilheiras , tudo verde e arrumadinho, também a feira de Pisac com suas mantas coloridas e o grupo de crianças vestidas para fotografar mediante uma moeda. Tem gente nova e velha fazendo isso. Em Cusco tinha um homem muito bonito vestido de inca, certamente de uma casta nobre de inca pois ele era alto, moreno, cabelos lisos e as feições bem diferentes do povo em geral. Ele cobrava pelas fotos ao lado da muralha, igual aos caras em Roma vestidos de gladiadores, que cobravam par serem fotografados no Coliseu de Roma.
Tudo igual no final das contas, tudo se copia, essa é a globalização . Uma coisa chamou minha atenção aqui nos Andes, não sei se já falei, a calma das crianças e também do adultos. Não vejo aqui aquela coisa afoita que temos aqui no Rio. São tranqüilos , as crianças ás vezes mesmo maiores são carregadas pelas mães o tempo todo.
Elas colocam o “aguacho “ aquele pano colorido que levam nas costas, que normalmente é de um cor forte com bordados coloridos. Eu comprei um e fiz foto com ele, quem sabe não vou carregar Alice assim para ela ficar calminha. As crianças são muito lindas,mas muito mesmo, as bochechas rosadas do frio, risonhas, os cabelos escuros e lisos. Calmas e belas. Peruanos de Cusco, muitos índios, baixos de estatura, mulheres que conservam o traje andino, saias fartas de um tecido pesado cortadas redondas, saias rodadas na altura dos joelhos, blusas coladas junto com as saias.Meias grossas até o joelho, cor da pele. Um xale grosso de lã de lhama, os enormes cabelos presos com duas grossas tranças negras e um chapeuzinho no alto da cabeça. Não sei a origem desse traje ,esse chapeuzinho não deve ser inca, nem mesmo o resto. Os homens vestem normal, nem é muito colorido, usam pulôver .
Ao contrário, do que certa vez ouvi dizer, não cheiram mal,já que sua alimentação é muito saudável . Acho que comem pouca carne vermelha, normalmente de alpaca ou então e frango,muito milho, amendoim, kinua e batata.
Talvez a invasão turística tenha modificado também certos padrões alimentares, isso é quase inevitável . Muita comida feita na rua, sem qualquer higiene devem acabar, o que talvez possa ser uma mudança de hábitos, que pode não ser vista como o melhor. A invasão do fast food, do refrigerante etc, uma quebra na rotina saudável e que provocará no fim coisas ruins, eu acho, como a obesidade.
Em Cusco, andamos por uma feira livre num bairro muito popular,lá pudemos observar bem o que compram e comem. Os vários tipos de batata e grãos , os vegetais, pequenos frutos de um cultivo orgânico .Foi nessa feira que passaram a gilete na bolsa da Lilia.
Também se vendem carnes que ficam expostas sem qualquer refrigeração ,ainda bem que é frio. Nesse lugar nos avisaram do perigo de ficarmos assim afastadas do centro histórico por causa de assaltos. Nos mandamos então para o centro, no caminho passamos por uma ponte sobre uma estrada e ferro e embaixo exatamente, sobre o leito da estrada os cusquenhos faziam um comércio de animais , cães e gatos. Cada filhote lindo. Aliás isso é algo comum em todas essas cidades, muitos cães pela rua, até mesmo em Salta encontramos os “perros ” que nos seguem e depois somem. Pelo que me recordo isso não existe no Rio. E aqui os perros são grandes e bonitos. Os gatos , para o prazer das minhas duas amigas de viagem, surgem também nos hotéis . Elas falam, brincam e também compram gatos,estátuas de cerâmica e madeira para suas coleções.
Para minha coleção de caixinhas comprei duas, uma de madeira e uma de sal, fui a várias igrejas do Chico mas não vi nenhuma imagem dele para acrescentar às minhas.
Há alguns dias em Salta eu vinha notando a beleza dos mosaicos que existem em entradas, igrejas etc. Então ontem resolvi fotografa-los. Na verdade são azulejos hidráulicos e outros vitrificados,não são bem mosaicos feitos com pedacinhos de tamanhos diferentes e cores também,mas são bonitos, não fotografei tantos quanto queria mas foram muitos.
Voltando às paisagens altiplânicas , que foi o que mais impressionou na viagem,lembrou-me agora das lagunas cada uma com singularidades e cores diferentes.Umas tem flamingos rosas pequenos, outras tem lhamas na sua margem, lhamas de todas as cores. Tem lagunas brancas, verdes, coloridas, azul que formam um espelho dágua refletindo o vulcão que fica ao seu lado,uma imagem linda. De acordo com o metal predominante mudam a cor. Quando tem sal e o fundo é claro a água fica mais clara refletindo o céu.
A borda das lagoas é uma massa mole com componentes orgânicos e cocô de lhama , que é redondinho, umas bolinhas pretas e marrons que fotografei, como o de ovelhas.
Depois vi uns cordões com bolinhas negras e disse que eram cordões de cocô de lhama. Permanecendo no campo escatológico lembro ainda do parque da reserva , nossa última dormida no Uyuni, há 4900 de altura, já falei dela que foi a expedição em que tomamos vinho e que fomos para a beira do lago de havaianas. Foi nesse dia também que ao irmos dormir cedo começamos eu e Malu a falar do almoço que tinha sido entre outras coisas couve flor frita e que isso provocaria no grupo um certo excesso de gases. Malu fala que em árabe chama-se “fussi” . Sei que começamos a rir falar besteiras, como adolescentes, rimos tanto, tanto, foram uns 15 minutos de gargalhadas que foi contagiando a todos no quarto. No fim nem mais sabíamos do que riamos . Mas fazia tempo que não via uma risada coletiva tão boa .Eu e Lilia também tivemos uma crise dessas de riso em La Paz,mas foi por menos tempo.
Não sei se estou me repetindo, mas vamos lá, faz parte da narrativa de diário já que só descobrimos isso depois de uma leitura total da história. Antes é impossível sabermos o que dizemos, eu esqueço, ficam flashes das coisas, mas nunca ela integralmente, a seleção de lembranças age sempre da mesma forma. E na viagem chega um estágio em que nada mais acontece de muito importante, talvez essa seja a hora de voltar para casa e pensar sobre o que foi, tem fatos que só nos damos conta anos depois quando vivemos coisa parecida, ou lemos algo.
Na minha primeira viagem a Europa eu vivi tanta coisa diferente do meu cotidiano, era tudo tão novo e mágico e interessante, e eu na pressão que não tive o sabor de observar, sublimar as coisas como deveriam, eu tinha pressa, pressa, dizia o coelho da Alice, queria ver o máximo em o mínimo tempo , talvez por ser tão jovem, mas disso só me dei conta anos depois quando voltei, ou quando li o que tinha escrito, que nem li bem. Queria na ocasião ver tudo sem distinção ou seleção, na corrida. Hoje tenho uma outra intenção mas às vezes me pego fazendo o mesmo, eu fico elétrica e esqueço de comer e ligar, é uma adrenalina, endorfina, que me atrapalha até o sono, vez por outra, por isso viajar com as meninas é bom, pois me impõem um ritmo diferente do meu,menos ligada.
Acho que nessa viagem tem um ponto marcante, os viajantes que encontramos pelo caminho. É lógico que estar em grupo inibe um pouco a disponibilidade de conversar com novas pessoas, mas mesmo assim , nós acabamos conhecendo muita gente e perguntando e falando. Foi assim que conseguimos excelentes dicas para a expedição ao Uyuni e para hotéis em La Paz , Potosi em São Pedro e em Salta. Ou seja, quase todos os lugares.Porque eu não tinha procurado nada por esses lugares. Mas não era isso que eu ia falar. Ia agora dizer dos museus e parques. Chegamos ao trajeto começando em Cusco, logicamente, Machu Pichu, que na verdade é a apoteose de toda viagem. Todos que vem por Santa Cruz , ou que atravessam a Bolívia e vem querendo conhecer a cultura inca vem conhecendo num crescente, Tiuanaco,Templo do sol, da lua, museus etc para no final chegar a Machu Pichu.
Conosco foi ao contrário , nosso primeiro ponto foi o mais alto, a apoteose, o desbunde da cidade misteriosa, porém isso nos causou um certo desinteresse pelo resto das ruínas incas ou pré-incaicas de forma que certos lugares nós nem entramos, preferimos a experiência da ruas até porque muitos sítios estão afastados e mal conservados e são todos muito parecidos. Na ilha do sol, no lago Titicaca, pagamos mas não conseguimos chegar por causa da altitude. O morro era alto e o tempo curto e nossa falta de ar começou a pesar e a preguiça também.Ou seja, depois da apoteose Machu Pichu o resto ficou sem graça, como já tínhamos ido ao museu pré-colombiano no Chile , deixamos de lado.
Outra coisa é a pobreza absurda do museu inca em Cusco. Estado lastimável , tudo feito domesticamente sem qualquer recurso. O acervo se estragando,mal ajambrado sem aclimatação e tudo muito mal feito,sem levar em conta a importância do acervo. Em Lima pode ser que tenha algo mais ou nos Estados Unidos, porque em muitas das peças tinha escrito: réplica do museu dos Estados Unidos.
Já na Bolívia os museus são mais tratados, organizados, profissionais.Em La Paz e Potosi tudo é arrumadinho em termos de museu e atendimento ao turista. Nos museus sacros nós optamos por não ir. As igrejas abertas já eram suficientes, eu particularmente,não tenho muito interesse em arte sacra depois da overdose de Roma e Ouro preto e Salvador. Mas faço questão de entrar em todas as igrejas que passo e ainda faço três pedidos e se tem livro de preces eu escrevo, isso sempre. Sei que no final, a rua foi nosso melhor museu e o povo nossa mais interessante experiência . Como não lembrar de Mario e Leo , ele com os olhos cheios dágua quando nos deixou na fronteira e nos abraçou, ela com seu olhar triste sem querer demonstrar . Como não lembrar dos meninos do El Grial super simpáticos e solícitos conosco e dos argentinos despachados que cantam todo mundo , onde sempre a segunda pergunta é se somos casadas.
Basta um sorriso e os caras se acham. Mas com um machismo brabo, ufa!sacal!!Não sei o que eles pensam quando vêem 3 mulheres não adolescentes viajando juntas e sozinhas. Perguntam se o marido não veio, perguntam se largamos o marido, e é uma festa quando falamos:_ sem maridos. E tanto faz se for na capital ou no interior. O modelo de homem latino ainda está entranhado. Mas em alguns países, que em outros. Mas eles olham descarados, pagam doces, pegam telefones e fazem galanteios, abraçam cheios de intimidade muito facilmente. Em todos os lugares em que preenchemos fichas temos que colocar o estado civil,não sei porque. Às vezes eu colocava solteira, outra divorciada dependendo da cara do pedinte, o que na verdade da na mesma. Todo mundo à deriva, ainda bem, sem encalhes chatos e sujeito a aventuras, que estão sendo bem interessantes e sem repetições , globalizadas, poliglotas.
25 e 26/1 domingo em Buenos Aires
Acordamos saímos cedo no domingo em direção a San Telmo. Uma gracinha de bairro parece onde moro, os sobrados antigos, muita lojinhas de arte e ateliers e no domingo uma feirinhas de antiguidades. Andamos muito até chegarmos a praça principal onde ficam os antiquários mais antigos . Ali um boa música com violão , guitarra como chamam, tocando clássicos como Vivaldi e concerto de Anraruez, que escutava muito lá em casa.
Ficamos lá ouvindo música e vendo as coisas, além de barraquinhas com toda sorte de coisas, também tinham lojas e entradas que davam em outros espaços . Antiguidades misturadas a releituras de coisas antigas e folclóricas , caras prá burro. Coisas de casa muito fashion , que me davam vontade de comprar, mas para nossa sorte ou azar, ficamos sem dinheiro o fim de semana, ou seja, sem dinheiro para consumo inútil ou besteiras.
Quando chegamos sábado a noite todas as lojas de câmbio estavam fechadas e domingo também. O que tínhamos sobrando era para pagar a reserva do hotel, que diferente dos outros cobra todas as diárias adiantadas e dinheiro para comer. Então dado esse imprevisto nada podemos comprar. Eu ainda tinha algum peso comprei 2 encharpes e deixei o resto para o almoço, já que as meninas estavam também sem nada, e não é todo lugar que aceita cartão.
Andamos , fotografamos muito, toda arquitetura de fim de século XIX, meio art noveau do bairro, também continuei fotografando os mosaicos de espaços diferentes, casas, igrejas, passeios.
Buenos Aires é uma cidade bonita e charmosa. Quando estive aqui a primeira vez, que também foi verão, achei tudo muito lindo e um quê parisiense, um estilo europeu.
É uma mistura de Paris e Barcelona, as duas lindas do velho continente, mas aqui tem um charme especial, embora o portenho seja meio marrento. É engraçado que mesmo os argentinos falam isso do portenho, acham eles bestas, afetados. Dessa vez não tivemos problemas com eles, mas da primeira eu reclamei dos atendentes do hotel que não eram nada gentis, e eles ficaram putos.
27/1
Quase dia de ir embora. Ainda não contei tudo que aconteceu,diário é assim chega uma hora em que ficamos com preguiça de escrever e juntamos tudo, ou quase tudo para uma hora de disposição .Também tem o fato de não ter escrito da maneira que eu esperava, não será um diário apenas informativo, já que é uma escrita subjetiva, e por isso cheia de meandros, coisas que nos vem a mente que nada tem a ver com a viagem, mas que lembramos ao andar pelo caminho.
Percebo que eu, de fato, me desligo pouco do meu cotidiano,penso muito sobre ele mas do que eu queria. Venho teorizando mentalmente inúmeras questões e ações e já sinto certa mudança na forma de ver algumas coisas. Mas sei que muito dessa viagem só mesmo compreenderei depois de muito tempo, depois do amadurecimento das imagens que fiz em minha mente, assim como agora revejo as outras viagens que fiz.
Os dias no fim da viagem passam mais rápido . Caminhamos por Buenos Aires desvendando a cidade que ainda não conhecemos por completo. Bairros, praças, lugares que não fazem parte do roteiro turístico e que tornam esse lugar ainda mais interessante. Saímos da Florida , passamos a Paraguai, atravessamos a 9 de julho e vamos toda a tarde caminhando por ruas desconhecidas , residenciais. Vemos a vida acontecer calmamente, sorrateiramente nesses lugares. Prédios novos misturados a uma arquitetura de século XIX, que muito me agrada, a mistura de ferro e vidro e concreto. Balcões belos, janelas bem colocadas . É como já disse uma mistura da capitais européias de maior sucesso, talvez Barcelona e Paris.
A Paris reformada por Haussmanm e aquela falada exaustivamente por Baudelaire e que o Marshal Berman fala no seu” Tudo que é sólido desmancha no ar”, a Paris da Belle epòque que tanto agrada do Decadentistas. Acho que Buenos Aires é meio assim, em suas ruas largas demais, que nunca tem um fim, seu obelisco imponente no meio da 9 de julho. As ruas parecem que convergem para um ponto que não é o Arco do Triunfo ,mas o obelisco, tão grande quanto fálico.
Assim como nossa Av.Presidente Vargas intencionava ser, as ruas são como veias do coração, era essa a idéia do prefeito francês e que nosso Pereira Passos copiou e muitos outros também copiaram. Não sei se Barcelona teve a mesma transformação ,mas lembro de seus prédios, principalmente os do Gaudi, que eu muito gosto, e que muitos são parecidos por aqui em Buenos Aires.
Aqui não é uma cidade de grande monumentos ,mas é uma cidade para flanar. Talvez eu esteja já repetindo um monte de coisas mas é assim mesmo. Uma cidade para flanar, andar sem destino pelas ruas observando tudo que nela acontece, um voyere da multidão que passa apressada para o trabalho, e a gente aqui passeando sem hora, ou tempo, de férias ainda. Três mulheres sozinhas olhando toda a beleza do lugar, sem destino certo, vamos até onde a perna agüentar, às vezes voltamos de ônibus, ou a pé mesmo por caminho diverso da ida. Nosso hotel é central por isso para qualquer lado que formos não tem diferença.
Tudo meio baudelariano, nessa nossa estada.
Fato é que tempo aqui já é diferente dos Andes., é mais apressado, mais estressado, parece mais com Rio e São Paulo, é mais pós- moderno do que moderno, a gente sente isso na veia o tempo todo , muito diferente de estar no altiplano, sem nada, sem tempo, sem espaço definido, em busca de nada também, ou de uma imagem qualquer jamais vista por nós. Talvez essa seja a busca do turista hoje, uma imagem que ninguém viu, mil fotos, por uma única inusitada.
Flanamos ontem o dia todo, fizemos compras e vimos o que deveríamos ver. Mesmo andando tanto não nos poupamos de quilos a mais. Acho que engordei tudo que tinha perdido em 3 meses de dieta, uma lástima . Do peru até aqui , haja batata!!! Sempre as variações são em trono do mesmo prato, ou carne e batata ou batata e carne.
Muitas vezes em alguns lugares conseguimos comer trutas, a beira do Titicaca e ontem aqui comemos peixe. Suspendi os helados e tenho tomado apenas uma sopinha no jantar, que depressão, acho que não passará de um dia. Essa noite não dormi bem, tenho que voltar para a minha acupuntura. Deixamos a janela do hotel aberta e foi tanto barulho que me atrapalhou o sono.
O dia parece nublado, as meninas não acordaram ainda e eu já. Quase sempre assim. Não sei se vamos encontrar a Luciene e família às 10 h no porto, chegará num transatlântico . Tomara que sim, pelo menos para eu ver a Aninha Luiza que deverá está grande, minha afilhada. E a Alice vai ser a quarta, eu sempre digo que sou péssima madrinha, desnaturada, esqueço datas, não dou presentes e até esqueço o que é ser madrinha,aviso isso tudo para os pais das crianças, mas eles não se importam. Então fico como madrinha e amo minhas afilhadas, as minhas meninas. Pena não ter contato com elas sempre, Julia e Ana Luiza são do mesmo dia 18 de janeiro, Oh sorte a minha, mas nunca as vejo. Mentalizo sempre boas coisas para elas.
Já estou preocupada com o trabalho e muito, rejeitei dirigir o Curso de Letras na baixada e não sei se isso pode me trazer represálias.
Mas eu não tinha como. Não levo jeito para o administrativo e deve-se ganhar uma miséria para o show de pepinos a resolver. É o poder que não me atrai, jamais atraiu. É pouco demais, só serve para quem acha que isso é status , ou gosta de mandar nos outros. Ainda mais na Estácio, às vezes é coisa para 10 minutos.
Mas estou preocupada, preciso das turmas para sobreviver independentemente. Na verdade eu tinha é que arrumar um emprego público para ficar tranqüila,sem essa neura todo fim ou melhor, início de ano e período.
Lembro-me de Ana Teresa, será que ela já foi para Moscou? Caramba que loucura. Nem me responde, por quanto tempo será? Acho que será bom para ela.
E o chocolate foi para Los Angeles. Vou chegar ao Brasil e os meus contatos semanais estarão todos fora. Que saco!!!
Chocolate doido mesmo, mas não sei o que fazer, nem quero pensar, porque não quero deixar.
Ontem pensava sobre o tempo de viagem, talvez tenha sido longo demais, porém não dava para fazer o mesmo roteiro em menos tempo.
Falei com a Êmili ontem e me dizia que havia um problema com o Felipe da agência de viagem. Espero que as pessoas não estejam se excedendo.
Noite-
O dia foi longo, hoje saímos cedo para encontrar Luciene só que não encontramos, talvez ela já tivesse saído e não tivemos contato. Uma pena queria ver a pequena, que nem deve me conhecer mais.
Andamos muito, eu e Malu, até encontrar o porto, depois voltamos para o hotel e encontrar Lilia. A tarde saímos para almoçar aqui embaixo do hotel algo que não tinha batata, depois fomos caminhar por ruas ainda não exploradas. Quando uma certa hora estávamos na Lavalle, a bolsa da Lilia estava aberta, ela fechou mas logo depois parece que alguém cuspiu ou jogou água no pescoço dela e se aproveitou para furtar a carteira amarela com os documentos e o cartão de crédito. Certamente a pessoa pensou que havia dinheiro, mas não havia. Imediatamente tivemos que ir para a delegacia que ficava na mesma rua. Ficamos lá um tempão, para fazer a queixa e depois tomar todas as medidas necessárias. Quando voltamos para o hotel , tinham deixado os documentos lá. Um lixeiro havia encontrado a carteira com tudo e entregou pois havia na bolsa um cartão do hotel. Apenas faltava o cartão de crédito e o papel de entrada no país.
Mas foi algo muito chato, o nervosismo e tudo mais,as providências etc e tal.
Andamos tanto que meu quadril tá duro e doendo. Falta de óleo de chocolate talvez, brinco com as meninas. Entramos em muitas lojas mas nada de comprar porque não temos grana para isso,mas o câmbio é favorável às compras.
Na volta fiquei com os meninos conversando um tempo até ir para o quarto.Amanhã será nosso último dia aqui. Acho que voltarei, mas quero voltar no frio e curtir a cultura do frio como diz o G.
Nenhuma notícia da Estácio o que me deixa na neura.
28 janeiro
Tem tanta coisa ainda para lembrar e já estou naquela ansiedade horrível de início de período e fim de viagem. Ainda não arrumei a mala, essa é a parte mais chata,adoro viajar mas detesto fazer e desfazer malas. A volta é sempre mais complicada porque nunca tem espaço suficiente para enfiar tudo que já está amassado e tudo que comprei. E eu normalmente quase não compro nada. Dessa vez o que mais tenho são mantas incas comprei 6, mas não daquelas mais lindas, porque além de muito pesadas são caras e eu somente com minha mochilinha preta, a menor da equipe, quiçá do hotel.
Mesmo sendo equilibrada, ainda trouxe roupas que não usei. Meu vestido negro que trouxe para o tango, não usei, nem a camiseta da mesma cor não saímos de fato à noite,para balada, nenhuma vez, saíamos para jantar. Andávamos tanto o dia inteiro que por mais que eu insistisse elas não saiam, todo mundo morto.
Algumas poucas vezes que saímos foi legal, mas também foi no frio e vestido e camiseta eram impossíveis .
Hoje, andamos muito à tarde depois de tirarmos um cochilo gostoso. Almoçamos cedo no mesmo restaurante de ontem que é um daqueles que o povo do lugar come. Estava cheio, muita gente que trabalha por perto da Tucumam. Parece os restaurantes do centro do Rio. Comemos bem e sem papas fritas. Eu e Lilia ainda tomamos café e comemos torta.
Estávamos rolando ao sair, então resolvemos subi ao hotel para um soninho, fui a primeira a dormir e a primeira a acordar. Levantei,ou melhor, acordei as meninas dizendo que a rainha da Argentina nos esperava para audiência, La khisner.nos espera.
Saímos e fomos de novo por outros caminhos, eu procurava umas botas e uma livraria. Descemos a Corrientes,atravessamos o obelisco e fomos. Logo encontrei o livro que queria.Na verdade uma espécie de álbum com os primeiros anos da vida de um bebê, indo direto pela rua, muita livrarias, teatros, na transversal muitas livrarias , um paraíso, não me lembrava de já ter passado ali na outra viagem,andamos mais um pouco e chegamos até Abastos um mercado antigo, transformado em shopping, uma construção arredondada, interessante, meu quadril doía muito, entramos para sentar, ficamos sentadas observando a população local que se movia no shopping e logo resolvemos voltar. Já era quase 7 da noite. Tomamos um ônibus para voltar. Descemos pela própria Corrientes e quando saltamos perto da Florida já era 20:20, andamos até a Tucumam entramos numa loja de sanduíche e tomamos um lanche com pão de mica tostado. Um pão fininho e para mim muito sem graça.
Subimos para o quarto, tomei um banho e fui arrumar a mala. Oh! coisa ruim, fazer e desfazer malas, mas acho que já disse isso. Eu tinha que enfiar tudo na minha pretinha e em outra pequena laranja.
O pior é que depois que a gente usa a roupa ela fica volumosa. Comecei pelas mantas e na mochila laranja toda roupa suja.
Coloquei as meias dentro do tênis, fui apertando as roupas até não passar nem uma linha entre elas. Coloquei os bagulhos que comprei pelo meio para não quebrarem, mesmo assim a lhama de pedra que comprei se partiu e tive que colar. Consegui colocar tudo. As meninas ficaram surpresas como fiz aquilo de colocar toda trouxa inca que tava sobre a cama naquelas duas pequenas mochilas. Depois disso tentei dormir mas não consegui. Como sempre a ansiedade da volta. Acabei pegando no sono tarde e ainda assim dormi mal.
29 janeiro
Acordamos cedo, eu e Malu logo nos arrumamos e fomos para o café. Coloquei meu vestido preto e meu sapato também preto e a bolsa toda colorida que comprei para ir ao mercado aqui no Rio. Bolsa tipo ecobag para não usar sacola de plástico.
Acho que o vestido ficou meio chamativo porque foi um sucesso nas ruas. Um vestido básico, só realça o busto e por isso talvez os argentinos tenham olhado tanto. E o Lucas, o uruguaio, gerente do hotel, todo alegrinho, se chegado. Ficamos conversando por mais de uma vez nesse tempo em que ficamos aqui. Ele me contava de sua vida junto com turistas.
Há uma coisa engraçada, os argentinos são muito mais atrevidos na rua, do que os outros americanos, peruanos, bolivianos e Chilenos que já são metidos a conquistadores.
Eles,argentinos , mexem com as mulheres descaradamente, ainda mais se vêem que são estrangeiras. A Malu é um tipo exótico, faz muito sucesso, é grande e chama atenção, até mesmo eu que não sou grande, percebia o que era e ganhava galanteios ao ouvido e olhares, e nem estávamos perto da construção civil.
Tomamos o taxi as 11:30. Gustavo no levou ao aeroporto. A estrada era longa, passa por bairros distantes do centro. Segundo ele bairros favela com muitos peruanos nos diz, e que tem muita droga. Talvez uma visão preconceituosa em relação aos imigrantes. Pergunto sobre o valor de um apartamento em Buenos Aires. Nos bairros que eu acho mais interessantes como San Telmo por exemplo, Recoleta etc. Ele diz que o aluguel é alto e o condomínio mais ainda.
Acho que Buenos Aires seria uma cidade em que eu moraria por um tempo. Conversando com Tamires, a menina que trabalha no hotel, que é brasileira de Porto Alegre, e tem 20 anos e mora em BA, ela me diz que esta adorando morar na cidade. Estuda na Faculdade de BA e faz Letras. Faz inglês e espanhol e quer trabalhar com tradução, disse que é legal estudar na Argentina. Não entendi bem se ela já está na faculdade ou começará ainda. Que saudade dos meus 20 anos e quando viajei e tinha a pretensão de ficar pela Europa. Lembro que só não fiquei porque nada poderia ser melhor do que o contato com meus pais, irmãos e amigos.nem toda vontade de ver o mundo, ter vivências não foram suficientes para me fazer ficar naquele ano. Talvez eu não tivesse do que fugir por isso não fiquei. Depois fui de novo para um ano, para fugir talvez da falta de compreensão da história de mim mesma. Mas acho que já falei isso. E de fato o que valeu foi que descobri que o que está dentro não some com a distância, nos acompanha sempre até no lugar mais diferente, difícil, inóspito. O que tá dentro de nós, na verdade, só sai com o tempo, com a troca por outro dentro, com o auto-divórcio de algumas de nossas obsessões que muitas vezes nos perseguem e nos impedem de viver coisas que podem ser muitos interessantes e prazerosas.
Tomamos avião e o vôo foi bom. Às 17 horas chegávamos ao Galeão.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
domingo, 7 de junho de 2009
O mar de sal - Salar do Uyuni- Nossa Expedição
13 de janeiro -Potosi
A viagem foi boa, chegamos a Potosi às 6 da manhã e fomos para o Hotel que o Agnaldo, que encontramos em Copacabana, nos indicou, “Companhia de Jesus”(47 bolivianos por pessoa), bonzinho com um pátio interno bem bonitinho.
A cidade de Potosi é conhecida pela prata, foi a mina mais importante do império espanhol, está bem preservada mas com o término, em parte, do metal, ficou com sua economia debilitada.
Hoje não sei do que vive a cidade, tem um bom comércio e muitos colégios. Muitas crianças trabalham também aqui na Bolívia, tal como no Peru.
Ficamos em Potosi 2 dias, terça e quarta,mas na quarta aproveitamos e fomos a Sucre, depois de comprarmos nossas passagens para o Uyuni . A viagem até Potosi foi de fato boa, quando vimos já tínhamos chegado. Ao chegar pegamos um táxi e fomos para o hotel que era bem central em Potosi, não tínhamos reservado, mas havia um quarto nos esperando, a sorte nos acompanhou durante todo o nosso trajeto, sempre encontrávamos algo. A cidade é grande mas o centro histórico pequeno.Como sempre fica preservado o miolo mas as periferias crescem de uma maneira absurda engolindo a cidade antiga e a descaracterizando bastante. Na verdade é o mesmo crescimento urbano desordenado e traz poucas coisas de interessante para essas cidades antigas.
A poluição é demais também aqui em Potosi, como em Lapaz, muitos ônibus soltando uma fumaça negra o tempo todo que asfixia a todos na rua, mas os da Terra parecem nem mesmo se tocar do que está acontecendo aqui, ainda soma a isso o pó das minas que deixa o nariz ressecado e com bolas de sangue por dentro.
Rodamos tudo pela cidade, depois a Lilia foi dormir e eu e Malu pusemos as capas de chuva, única vez, porque tinha dado uma chuva de verão de granizo, muito forte, e saímos.
Desse vez, deixamos de Aldo o centro histórico ou fomos no seu limite e no mercado municipal. A mesma coisa de sempre, poluição e muita sujeira, o povo na rua.
Acho que acabamos sempre saindo um pouco do convencionalismo do turismo organizado de city tours e coisas belas. Sempre que saímos andando nos embrenhamos por ruas sinuosas a procura de coisas diferentes e acabamos dando em locais que não são tão turísticos, pelo contrário, populares demais. Lugares onde nem a urbanização, nem a saúde pública chegam, onde não há água encanada, nem banheiros bons. De novo a higiene é precária. Fico com nojo de comer e o cheiro me causa intolerância, e eu não sou fresca.
Depois de andarmos muito procurando uma casa de câmbio que trocasse real, voltamos ao hotel para logo sairmos de noite com a Lilia para comer algo.
Saímos para tomar um lanche, tentamos comer uma pizza, mas na pizzaria o garçom era tão enrolado que desistimos , apesar da vontade da Malu de comer pizza. Acho que o filho dela nascerá com cara de pizza. Fomos então comer um sanduba em um café. Não tem muitas opções por aqui, a não ser coisas fritas, frango frito com batatas para variar. Nem mesmo tem muitos restaurantes perto da praça central.
Bem o sanduba , ma sinceramente sempre acho que tão sujo.Devo está psicótica com isso.
Nunca fui maníaca com limpeza mas a coisa por aqui é mesmo braba. Voltamos ao hotel e dormimos.
Ontem quarta feira, 14, fomos a Sucre, . A cidade é capital constitucional da Bolívia . Bonitinha, toda ou quase toda branquinha. É conhecida como A cidade branca, tem o centro turístico histórico e o resto é igual às outras, crescimento desordenado que descaracteriza a cidade. Andamos todo dia. Ou melhor meio dia porque chegamos já era quase uma da tarde e tínhamos que voltar as 18:30.
Gostei da cidade. Antes de voltarmos a rodoviária achamos um supermercado de verdade , como os nossos. Graças , tínhamos que comprar algumas coisas para levar ao Uyuni, ela tinha um banheiro limpo.Não sabíamos como seria a expedição ao Salar, então era melhor prevenir comprando cereais, chocolate e outras cositas.
Nessa viagem também conhecemos um grupo de argentinos que foram e voltaram conosco de Sucre. Universitários muito legais, estudantes de psicologia, eram de Córdoba . O papo foi bom, simpáticos, eram meninos e meninas. Foi muito divertido.
Em Sucre também vimos uma imagem que imaginava não ver mais. Uma criança fazendo coco no bueiro de uma esquina, também um mulher em trajes típicos junto da criança.
A população de Sucre é bem diferente. Parece mais mestiça, menos índios, bem menos que nos outros lugares. Mais brancos e parecem de classe mais alta. Casas mais luxuosas e tudo mais caro. Fui tentar trocar dólares e o cara teve a desplante de reclamar e não aceitar meu dólar porque estava amassado e rasgadinho no meio, na dobra do papel. Absurdo, já que o dinheiro deles, o boliviano é velho e muito sujo, da até nojo de pegar.
Aqui na Bolívia também está maior campanha pelo referendo da nova constituição, que é a primeira que tem elementos indígenas. Dentre seus preceitos exige que funcionário público fale duas línguas, o castelhano e o indígena, Kichua ou Kalamari( acho que é isso). Aí o cara da rádio pergunta se o Evo Morales será demitido porque não fala nenhuma língua indígena , Muito engraçado, o comentarista dizendo que vão demitir o Evo.
A campanha pelo referendo que ocorrerá dia 25 de janeiro está na rua com pichações pelo país todo, em pedras,árvores, galhardetes, etc.
Até o Lula aparece fazendo a campanha., dizendo que será bom para Bolívia .
Quando chegamos de Sucre, de novo em Potosi, entramos num a loja igual ao Mac Donald comemos e fomos dormir.
Despesas: Hotel em Potosi 141 bolivianos quarto triplo,passagem Uyuni 25 bolivianos, passagem Sucre- 22bol, ida 17,50 volta museu 10 bolivianos.
UYUNI
Hoje viemos cedo para o Uyuni. Saímos às 10 da manhã e só chegamos aqui às 17 horas,sem hotel, sem nada, estrada de chão o tempo todo.
A estrada de chão nos proporcionou momentos lindos, outros cansativos demais. È como uma estrada no meio do nada. Uma terra prateada, às vezes, arroxeada, uma cor escura mais não é negra. A vegetação é baixa, vegetação de frio.
Muitas pedras, alguns riachos, nesses riachos que formam lagoas, muitas lhamas, alpaca, vicunhas soltas nas pastagens verdes e na parte seca. Muitas pedreiras. Às vezes a mesma paisagem por horas. Uma planície imensa, depois morrinhos, muita terra desabitada. Penso no conflito entre Palestinos e Judeus. Podia alguém vender um pedaço dessa terra para os Judeus que tem dinheiro e podiam comprar. Assim, acabava essa guerra e tudo isso e a matança de gente inocente civis e crianças por uma faixa de terra seca. Se é que é mesmo só isso, porque nossas notícias nem sempre são as mais corretas. E tudo que diz respeito ao oriente médio fica sempre sem que possamos entender de fato o que se passa.
Depois de quase 7 horas de viagem chegamos ao Uyuni, não ao Salar, que só vamos amanhã.
Uma baixada imensa sem árvores, seca, árida, uma cidade no meio do nada. A entrada da cidade parece um grande lixão, plásticos, lixo espalhado, grudados na vegetação rasteira. Tudo seco demais. Hoje havia uma grande feira ,mas só passamos por ela rapidamente a procura de hotel.
A indicação de hotel que tínhamos não rolou, estava lotado, fomos a um outro muitíssimo caro então achamos um hotel novo, que tinha vagado um único quarto, tudo novinho e 50 bolivianos por pessoa sem café da manhã , o preço mas alto da Bolívia,mas valeu a pena. Tem uma coisa que é interessante, é que quando deixamos de fazer a conversão do dinheiro, tudo parece caro, se fizermos a conversão, aí vemos que é muito barato.
Achamos o hotel, deixamos as coisas porque o quarto ainda ía limpar e fomos comer, Entramos num restaurante bonito, vazio aquela hora e pedimos, foi a pior comida da viagem, um macarrão feio e ruim, frio, uma carne queimada e uma salada insossa
Saímos indignadas e muito caro.
Fomos a feira para Lilia comprar um toalha para levar ao Uyuni, já tínhamos fechado a expedição, com a agência do mesmo nome, muito boa, indicada pelo Agnaldo . Mariza dona , muito simpática com um bebe, ela disse que devíamos comprar água, papel higiênico, e outras coisas para levar. Então fomos às compras. Não tinha muita loja, mas a feira estava terminando e deu para ver algo.
Depois disso, fomos telefonar e votamos ao hotel, para dormir, mas uma vez não saímos a noite, o cansaço era muito..
Despesas: Hotel Uyuni, 150 bolivianos quarto triplo, Expedição ao Salar- 600 bolivianos.
17 janeiro ,Reserva da lagoa Colorado 4900 de altitude-
Ontem dia 16 saímos do Uyuni em direção ao Salar. Tudo no carro, expedição montada, 6 turistas e dois da terra para dirigir e cozinhar ( Mário e Léo sua mulher). O carro parte, uma 4x4 com a bagagem em cima, pegamos os melhores lugares e depois fomos revezando com os outros Sebastian, Kim, e Kelly. Vimos primeiro um cemitérios de trens, um monte de trens abandonados e enferrujados no meio do deserto. Bom para fotos interessantes, depois direto para o salar.
Uma enormidade de sal que mais uma vez faz a gente se sentir um nada diante daquela coisa tão grande e branca, que ofusca os olhos e os sentidos. Lá temos a dimensão de quanto a Terra é redonda, é como quando estou indo para Ilha grande, no meio da baia tenho a mesma sensação de que de fato é redonda.
O Salar é um mar pré-histórico, um dia tudo aquilo foi água e agora é sólido e branco, temos que estar de óculos escuro todo tempo para não queimar as retinas .
Andamos muito, o branco do sal nos dava sono, o motorista cochilava e estávamos controlando também para não dormir. Era meio dia, olhávamos para os lados e muito longe víamos algum vulto de terra marrom. De resto tudo branco, branco. Já tínhamos parado no meio da salinas, montes de sal que é arrumado em montinhos para depois ser levado para a industrialização e refino,muitas pessoas trabalhando e os turistas fotografando. Os montes ficam duros e podemos até subir neles. Passamos também pelo hotel de sal e o museu de sal. Eles constroem com o próprio sal fazendo blocos como tijolos e fica muito sólido e seco. Nos museus tem esculturas de sal com motivos andinos, tiramos fotos. O hotel é bonitinho e quente, tudo branco o que dá um aspecto de limpeza. Nos quartos as camas são largas e com colchas coloridas, camas de viúva que eles usam.
No meio do salar não tem pistas definidas para o carro, cada um vai por onde quer, onde sabem que não é mole o sal e não tem água. Pelo salar tem cruzes como aquelas que encontramos nas estradas para marcar alguma coisa, acidentes etc . Ficamos preocupadas porque nos avisaram que tinham motoristas que dirigiam bêbados nas expedições.
A Malu fica preocupada com o sono do motorista e eu também, embora não tivesse como bater em ninguém ficamos tensas.Finalmente chegamos a Ilha do Pescado. Um bloco de pedra grande no meio do salar. Ali inúmeros cactos milenares compõem a paisagem linda.
Pagamos os 15 bolivianos necessários para entrada e subimos. Fomos ao ponto alto da Ilha, eu e Malu. Por causa da altitude Lilia voltou, não se sentia bem.
Do alto é belíssimo. O sal do alto parece um mar, aquele branco condensado, as veias ficam marcadas como se tivessem composto um quebra cabeças. Não podemos ficar sem os óculos porque dá um desconforto, como na neve. Nossas retinas não estão mais fatigadas mas sim alertas, acordadas para tudo de novo que possa surgir.
Eu sempre preferi viagens por cidades, sempre pensei em ver o que o homem criou, porém hoje vejo que nos últimos anos tenho ido mais em busca do que existe e que não foi criado pelo homem.
Cânions, desertos, morros, neve, florestas, águas, sal, mares, tudo isso tenho visto e é de fato impressionante como impactam nossa visão e nossos sentidos.
Várias pessoas tem optado por esse tipo de viagem, roteiros ecológicos, mas eu..., jamais pensei em fazer o tal turismo Eco e vejo que sempre foi o que fiz. Aqui agora na laguna colorado na fronteira da Bolívia com o Chile estamos num abrigo que mais parece a Antártida. Eu chamei de estação Antártida e realmente parece.
Um lago congelado a frente, morros com neve no alto, minério cinza no chão, as casinhas com o telhado de resina, acho eu, que fazem um barulho enorme quando começa a cair a chuva de granizo que insiste em cair. Não molha nada mais o granizo faz um puta barulho.
Nosso quarto tem sete camas, dessa vez ficamos todos juntos menos o casal que nos leva. Somos 3 brasileiras, duas neozelandesas e um argentino, único homem depois do Mario.
É quente aqui, muito quente, aquecido, porque lá fora é gelado.
Chegamos ao cedo ao abrigo, nos lavamos como pudemos, de novo lenços umidecidos, não tem chuveiro. Eu peguei uma água mineral na garrafa e ensaiei um banho. Brasileiros sem banho não vivem. Com os lenços umidecidos , aqueles de limpar bunda de bebê, tomamos um banho tcheco,como digo.
Nossa!!!, depois de tanta poeira minha vontade era de mergulhar na lagoa. Finalmente uma certa sensação de banho. Eu e Malu colocamos biquini por baixo da roupa pois amanhã as 5 da manhã iremos sair e depois de ver os geisers iremos as termas onde podemos mergulhar numa água de 35graus.
Depois do processo de limpeza sentamos numa mesa e começamos a tomar vinho e conversar com as meninas do grupo Kim e Kelli, trouxe o amendoim que compramos em Sucre e ficamos ali trocando experiências, foram duas garrafas que elas trouxeram. Meu parco inglês dá ainda para conversar, se eu não ficar com vergonha . O álcool me destrava a língua e falo o que sei no meu pouco inglês , elas me entendem bem,e eu as entendo e ainda sirvo de interprete para Lilia e Malu.
Odeio ter esse bloqueio lingüístico . Chega então o povo da terra e com eles exercito meu italoportunhol e sirvo de intérprete entre as neozeolandesas e os bolivianos, Deus que terror. Acho que tô falando espanhol, mas é italiano. As vezes não distingo, mas me sinto mal por não falar inglês como deveria, recalque brabo.Isso é péssimo, falo ,mas me soa mal aos ouvidos, minhas frases são capengas, verbos mal empregados. Que mierda!!!
Durante o vinho chega a Leo(Leônidas) nossa cozinheira. Vestida como o povo inca, como nos Andes, tranças longas, chapeuzinho, saias rodadas.Léo tem um único dente na frente, seu sorriso é vazio. Pedimos para torrar o mani(amendoim) que as neozelandesas tinham comprado cru. Damos a ela um pouco de vinho e ela aceita e senta e conversa conosco.
Com o sempre minha curiosidade me faz de entrevistadora.Todo mundo quieto e eu perguntando. Pergunto quantos anos ela tem. Diz que tem 39 e tem 6 filhos, pergunto se é esposa de Mario ,nosso chofer, ela diz que sim.
Tem seis filhas, não tenho certeza se suas filhas são todas com ele. Quando dissemos nossa idade ela ficou olhando.
Caramba!!! ela parece mais velha que minha mãe, que não é velha, tenho que corrigir isso. A dureza da vida castiga demais essas pessoas, e as tornam muito sofridas inclusive na aparência, os homens não parecem muito,mas as mulheres são castigadas e ainda tem muitos filhos. Esse povo é aparentemente muito calmo, dócil , acho que isso deve ser uma característica deles, sem pressa para nada. As vezes sugere uma certa passividade, não são explosivos, assim me pareceu, desde as crianças que são lindas e dóceis,e calminhas demais.
As meninas do nosso grupo também acharam que nós éramos mais novas . Elas tem 30 e 29 anos . São maneiras, depois do vinho saímos para fotografar o lado de fora do abrigo, era final de tarde. Mas não agüentamos , o frio era enorme e eu e Malu estávamos de havaianas no pé. Voltamos, comecei a escrever e a chuva, agora de verdade, caiu. Deitamos um pouco e Mario nos chamou para a ceia.
Macarrão com molho de tomate e sopa de legumes e mais vinho.
O forte da expedição foi a comida. A sopa deliciosa e o resto da comida também, muito gostosa. Comemos e bebemos, tiramos foto de nossa mesa e depois fomos fotografar o lado de fora, que estava com uma cor linda depois da chuva. Não agüentei o frio mesmo tendo posto uma meia com as havaianas. Muito frio.
As lhamas chegam junto com os carneiros.A cor do horizonte da lagoa é maravilhosa. Um vermelho que se mistura com o branco da neve e a água. Um visual lindo que contrasta coma s pedras cinzas do em torno. O alojamento é coletivo mas muito melhor que o de ontem, o primeiro dia da expedição.
Ontem depois da ilha do pescado que fotografamos e onde ficamos muito tempo, comemos etc, quando saímos pegamos uma longa estrada pelo meio do deserto, umas 2 horas até chegamos a San Juan nosso primeiro alojamento. Nesse, ficamos num quarto para nós três ,mas o banheiro era embaixo no primeiro piso junto como o comedor ,como eles chamam o refeitório. Nesse alojamento não tinha água, muito menos no chuveiro, se tivesse água dava para tomar banho, mas bomba não funcionou, nos lavamos como pudemos numa biquinha no quintal e depois lenços de bebê.
Quando chegamos subimos ao quarto horrível, feio,mas limpo e depois logo descemos tentando um banho. Que nada. Eu entro no chuveiro tiro toda roupa, vou abrir o chuveiro e nada, um filete de água que se dissipa no mesmo segundo,ainda o castelo do registro estava quebrado. Fiquei puta da vida, parti para a parte das pias, nada de água. Que Merda!!, Ainda bem que tínhamos tomado banho de manhã antes de sair do hotel no Uyuni.
Então mudei de roupa depois de tomar um banho com os lenços. Mário veio nos chamar para um chá. Descemos e tomamos chá, achando que seria a única comida. Não, depois do chá subimos, uma hora depois nos chamam para jantar. Deus, como comemos, ontem e hoje, Acho que foi a maior comidaria de toda viagem. Comemos sopa e um outro prato com uma mistura de carne, salsicha e papas fritas, uma bomba atômica.
As meninas subiram e fiquei conversando com Sebastian na mesa, falamos sobre política, sociologia, ele é sociólogo, falamos sobe nossos países e suas crises etc e tal. De repente, já era tarde ,a luz se apaga ,eu ainda não havia escovado os dentes, a galera que tava no comedor levanta toda. Eu, ele e outros saímos do comedor para o quintal , tudo escuro,o gerador havia pifado. Mas olhamos para o céu e estava deslumbrante. Tanta estrela, nos desnorteamos com a beleza e a intensidade. Acho que foi o céu mais lindo que já vi e mais perto também, pois há 4900 de altura...
Vi o cruzeiro do sul e outras constelações, lembrei do céu da ponta do bispo que é tão estrelado,mas não tanto quanto este. Deu saudade de casa, Como é lindo meu canto, minhas estrelas, meu céu.
Escovei os dentes e subi, as meninas já dormiam.Não dormi bem, embora estivesse quente tive sonhos entrecortados até Mario nos chamar as 6 da manha . Sebastian me falou que teve os mesmos sonhos. Falei para ele que eram os espíritos incas no rodeando.
Tomamos os café com todos os outros grupos no comedor e saímos. Várias paisagens diferentes, lagoas, desertos, vulcão fumando, inúmeros coisas a toda hora.
Certas horas, entretanto, ficava cansativo olhar tão vasto espaço sem qualquer construção humana.
Nos revezamos no banco de meio que era o melhor para aquele terreno, na verdade eu e Malu acabamos o dia inteiro atrás porque Kelly estava com o braço quebrado e o solavanco do carro estava fazendo sua mão ficar muito inchada.
Subimos há mais de 4900 de altitude chegando ao topo da montanha onde estava nevando para ver pedras deformadas pela erosão do vento. Uma pedra se parece com uma árvore,muito frio para tirar fotos. Almoçamos a beira de uma lagoa . Frango cozido, couve flor, todas as coisas fritas, macarrão com legumes, de sobremesa papaia,e para beber coca cola.
Depois do almoço saímos para lagoa onde passamos a noite.
Esses passeios no geral acabam sendo sempre a mesma coisa. São muitos os carros com turistas. De fato é um lugar muito difícil de chegar, não vejo carros que não são de expedições como a nossa. Acho inclusive que o salar tá na moda. São muitos grupos, só não sei se para esse roteiro a coisa poderia ser diferente. Creio ser perigoso ficar perdido por aqui, a não ser que tenham uma bússola , é deserto demais. A noite deve ser maravilhosa, só que as expedições não ficam até tarde na estrada.percebemos que a vida dessas pessoas em San Juan e outros vilarejos vem mudando muito com esse acesso rotineiro de turistas. Sua economia passa a ter um outro direcionamento. Novos contatos levam a transformações e também a uma nova forma de viver e ver as coisas, valores que são questionados e é preciso uma identidade muito forte para não se deixar levar. Como tem muitas crianças, essas, com esse contato já se norteiam por outras observações, outras formas de ver e contar as coisas . novas formas de representações.
A viagem foi boa, chegamos a Potosi às 6 da manhã e fomos para o Hotel que o Agnaldo, que encontramos em Copacabana, nos indicou, “Companhia de Jesus”(47 bolivianos por pessoa), bonzinho com um pátio interno bem bonitinho.
A cidade de Potosi é conhecida pela prata, foi a mina mais importante do império espanhol, está bem preservada mas com o término, em parte, do metal, ficou com sua economia debilitada.
Hoje não sei do que vive a cidade, tem um bom comércio e muitos colégios. Muitas crianças trabalham também aqui na Bolívia, tal como no Peru.
Ficamos em Potosi 2 dias, terça e quarta,mas na quarta aproveitamos e fomos a Sucre, depois de comprarmos nossas passagens para o Uyuni . A viagem até Potosi foi de fato boa, quando vimos já tínhamos chegado. Ao chegar pegamos um táxi e fomos para o hotel que era bem central em Potosi, não tínhamos reservado, mas havia um quarto nos esperando, a sorte nos acompanhou durante todo o nosso trajeto, sempre encontrávamos algo. A cidade é grande mas o centro histórico pequeno.Como sempre fica preservado o miolo mas as periferias crescem de uma maneira absurda engolindo a cidade antiga e a descaracterizando bastante. Na verdade é o mesmo crescimento urbano desordenado e traz poucas coisas de interessante para essas cidades antigas.
A poluição é demais também aqui em Potosi, como em Lapaz, muitos ônibus soltando uma fumaça negra o tempo todo que asfixia a todos na rua, mas os da Terra parecem nem mesmo se tocar do que está acontecendo aqui, ainda soma a isso o pó das minas que deixa o nariz ressecado e com bolas de sangue por dentro.
Rodamos tudo pela cidade, depois a Lilia foi dormir e eu e Malu pusemos as capas de chuva, única vez, porque tinha dado uma chuva de verão de granizo, muito forte, e saímos.
Desse vez, deixamos de Aldo o centro histórico ou fomos no seu limite e no mercado municipal. A mesma coisa de sempre, poluição e muita sujeira, o povo na rua.
Acho que acabamos sempre saindo um pouco do convencionalismo do turismo organizado de city tours e coisas belas. Sempre que saímos andando nos embrenhamos por ruas sinuosas a procura de coisas diferentes e acabamos dando em locais que não são tão turísticos, pelo contrário, populares demais. Lugares onde nem a urbanização, nem a saúde pública chegam, onde não há água encanada, nem banheiros bons. De novo a higiene é precária. Fico com nojo de comer e o cheiro me causa intolerância, e eu não sou fresca.
Depois de andarmos muito procurando uma casa de câmbio que trocasse real, voltamos ao hotel para logo sairmos de noite com a Lilia para comer algo.
Saímos para tomar um lanche, tentamos comer uma pizza, mas na pizzaria o garçom era tão enrolado que desistimos , apesar da vontade da Malu de comer pizza. Acho que o filho dela nascerá com cara de pizza. Fomos então comer um sanduba em um café. Não tem muitas opções por aqui, a não ser coisas fritas, frango frito com batatas para variar. Nem mesmo tem muitos restaurantes perto da praça central.
Bem o sanduba , ma sinceramente sempre acho que tão sujo.Devo está psicótica com isso.
Nunca fui maníaca com limpeza mas a coisa por aqui é mesmo braba. Voltamos ao hotel e dormimos.
Ontem quarta feira, 14, fomos a Sucre, . A cidade é capital constitucional da Bolívia . Bonitinha, toda ou quase toda branquinha. É conhecida como A cidade branca, tem o centro turístico histórico e o resto é igual às outras, crescimento desordenado que descaracteriza a cidade. Andamos todo dia. Ou melhor meio dia porque chegamos já era quase uma da tarde e tínhamos que voltar as 18:30.
Gostei da cidade. Antes de voltarmos a rodoviária achamos um supermercado de verdade , como os nossos. Graças , tínhamos que comprar algumas coisas para levar ao Uyuni, ela tinha um banheiro limpo.Não sabíamos como seria a expedição ao Salar, então era melhor prevenir comprando cereais, chocolate e outras cositas.
Nessa viagem também conhecemos um grupo de argentinos que foram e voltaram conosco de Sucre. Universitários muito legais, estudantes de psicologia, eram de Córdoba . O papo foi bom, simpáticos, eram meninos e meninas. Foi muito divertido.
Em Sucre também vimos uma imagem que imaginava não ver mais. Uma criança fazendo coco no bueiro de uma esquina, também um mulher em trajes típicos junto da criança.
A população de Sucre é bem diferente. Parece mais mestiça, menos índios, bem menos que nos outros lugares. Mais brancos e parecem de classe mais alta. Casas mais luxuosas e tudo mais caro. Fui tentar trocar dólares e o cara teve a desplante de reclamar e não aceitar meu dólar porque estava amassado e rasgadinho no meio, na dobra do papel. Absurdo, já que o dinheiro deles, o boliviano é velho e muito sujo, da até nojo de pegar.
Aqui na Bolívia também está maior campanha pelo referendo da nova constituição, que é a primeira que tem elementos indígenas. Dentre seus preceitos exige que funcionário público fale duas línguas, o castelhano e o indígena, Kichua ou Kalamari( acho que é isso). Aí o cara da rádio pergunta se o Evo Morales será demitido porque não fala nenhuma língua indígena , Muito engraçado, o comentarista dizendo que vão demitir o Evo.
A campanha pelo referendo que ocorrerá dia 25 de janeiro está na rua com pichações pelo país todo, em pedras,árvores, galhardetes, etc.
Até o Lula aparece fazendo a campanha., dizendo que será bom para Bolívia .
Quando chegamos de Sucre, de novo em Potosi, entramos num a loja igual ao Mac Donald comemos e fomos dormir.
Despesas: Hotel em Potosi 141 bolivianos quarto triplo,passagem Uyuni 25 bolivianos, passagem Sucre- 22bol, ida 17,50 volta museu 10 bolivianos.
UYUNI
Hoje viemos cedo para o Uyuni. Saímos às 10 da manhã e só chegamos aqui às 17 horas,sem hotel, sem nada, estrada de chão o tempo todo.
A estrada de chão nos proporcionou momentos lindos, outros cansativos demais. È como uma estrada no meio do nada. Uma terra prateada, às vezes, arroxeada, uma cor escura mais não é negra. A vegetação é baixa, vegetação de frio.
Muitas pedras, alguns riachos, nesses riachos que formam lagoas, muitas lhamas, alpaca, vicunhas soltas nas pastagens verdes e na parte seca. Muitas pedreiras. Às vezes a mesma paisagem por horas. Uma planície imensa, depois morrinhos, muita terra desabitada. Penso no conflito entre Palestinos e Judeus. Podia alguém vender um pedaço dessa terra para os Judeus que tem dinheiro e podiam comprar. Assim, acabava essa guerra e tudo isso e a matança de gente inocente civis e crianças por uma faixa de terra seca. Se é que é mesmo só isso, porque nossas notícias nem sempre são as mais corretas. E tudo que diz respeito ao oriente médio fica sempre sem que possamos entender de fato o que se passa.
Depois de quase 7 horas de viagem chegamos ao Uyuni, não ao Salar, que só vamos amanhã.
Uma baixada imensa sem árvores, seca, árida, uma cidade no meio do nada. A entrada da cidade parece um grande lixão, plásticos, lixo espalhado, grudados na vegetação rasteira. Tudo seco demais. Hoje havia uma grande feira ,mas só passamos por ela rapidamente a procura de hotel.
A indicação de hotel que tínhamos não rolou, estava lotado, fomos a um outro muitíssimo caro então achamos um hotel novo, que tinha vagado um único quarto, tudo novinho e 50 bolivianos por pessoa sem café da manhã , o preço mas alto da Bolívia,mas valeu a pena. Tem uma coisa que é interessante, é que quando deixamos de fazer a conversão do dinheiro, tudo parece caro, se fizermos a conversão, aí vemos que é muito barato.
Achamos o hotel, deixamos as coisas porque o quarto ainda ía limpar e fomos comer, Entramos num restaurante bonito, vazio aquela hora e pedimos, foi a pior comida da viagem, um macarrão feio e ruim, frio, uma carne queimada e uma salada insossa
Saímos indignadas e muito caro.
Fomos a feira para Lilia comprar um toalha para levar ao Uyuni, já tínhamos fechado a expedição, com a agência do mesmo nome, muito boa, indicada pelo Agnaldo . Mariza dona , muito simpática com um bebe, ela disse que devíamos comprar água, papel higiênico, e outras coisas para levar. Então fomos às compras. Não tinha muita loja, mas a feira estava terminando e deu para ver algo.
Depois disso, fomos telefonar e votamos ao hotel, para dormir, mas uma vez não saímos a noite, o cansaço era muito..
Despesas: Hotel Uyuni, 150 bolivianos quarto triplo, Expedição ao Salar- 600 bolivianos.
17 janeiro ,Reserva da lagoa Colorado 4900 de altitude-
Ontem dia 16 saímos do Uyuni em direção ao Salar. Tudo no carro, expedição montada, 6 turistas e dois da terra para dirigir e cozinhar ( Mário e Léo sua mulher). O carro parte, uma 4x4 com a bagagem em cima, pegamos os melhores lugares e depois fomos revezando com os outros Sebastian, Kim, e Kelly. Vimos primeiro um cemitérios de trens, um monte de trens abandonados e enferrujados no meio do deserto. Bom para fotos interessantes, depois direto para o salar.
Uma enormidade de sal que mais uma vez faz a gente se sentir um nada diante daquela coisa tão grande e branca, que ofusca os olhos e os sentidos. Lá temos a dimensão de quanto a Terra é redonda, é como quando estou indo para Ilha grande, no meio da baia tenho a mesma sensação de que de fato é redonda.
O Salar é um mar pré-histórico, um dia tudo aquilo foi água e agora é sólido e branco, temos que estar de óculos escuro todo tempo para não queimar as retinas .
Andamos muito, o branco do sal nos dava sono, o motorista cochilava e estávamos controlando também para não dormir. Era meio dia, olhávamos para os lados e muito longe víamos algum vulto de terra marrom. De resto tudo branco, branco. Já tínhamos parado no meio da salinas, montes de sal que é arrumado em montinhos para depois ser levado para a industrialização e refino,muitas pessoas trabalhando e os turistas fotografando. Os montes ficam duros e podemos até subir neles. Passamos também pelo hotel de sal e o museu de sal. Eles constroem com o próprio sal fazendo blocos como tijolos e fica muito sólido e seco. Nos museus tem esculturas de sal com motivos andinos, tiramos fotos. O hotel é bonitinho e quente, tudo branco o que dá um aspecto de limpeza. Nos quartos as camas são largas e com colchas coloridas, camas de viúva que eles usam.
No meio do salar não tem pistas definidas para o carro, cada um vai por onde quer, onde sabem que não é mole o sal e não tem água. Pelo salar tem cruzes como aquelas que encontramos nas estradas para marcar alguma coisa, acidentes etc . Ficamos preocupadas porque nos avisaram que tinham motoristas que dirigiam bêbados nas expedições.
A Malu fica preocupada com o sono do motorista e eu também, embora não tivesse como bater em ninguém ficamos tensas.Finalmente chegamos a Ilha do Pescado. Um bloco de pedra grande no meio do salar. Ali inúmeros cactos milenares compõem a paisagem linda.
Pagamos os 15 bolivianos necessários para entrada e subimos. Fomos ao ponto alto da Ilha, eu e Malu. Por causa da altitude Lilia voltou, não se sentia bem.
Do alto é belíssimo. O sal do alto parece um mar, aquele branco condensado, as veias ficam marcadas como se tivessem composto um quebra cabeças. Não podemos ficar sem os óculos porque dá um desconforto, como na neve. Nossas retinas não estão mais fatigadas mas sim alertas, acordadas para tudo de novo que possa surgir.
Eu sempre preferi viagens por cidades, sempre pensei em ver o que o homem criou, porém hoje vejo que nos últimos anos tenho ido mais em busca do que existe e que não foi criado pelo homem.
Cânions, desertos, morros, neve, florestas, águas, sal, mares, tudo isso tenho visto e é de fato impressionante como impactam nossa visão e nossos sentidos.
Várias pessoas tem optado por esse tipo de viagem, roteiros ecológicos, mas eu..., jamais pensei em fazer o tal turismo Eco e vejo que sempre foi o que fiz. Aqui agora na laguna colorado na fronteira da Bolívia com o Chile estamos num abrigo que mais parece a Antártida. Eu chamei de estação Antártida e realmente parece.
Um lago congelado a frente, morros com neve no alto, minério cinza no chão, as casinhas com o telhado de resina, acho eu, que fazem um barulho enorme quando começa a cair a chuva de granizo que insiste em cair. Não molha nada mais o granizo faz um puta barulho.
Nosso quarto tem sete camas, dessa vez ficamos todos juntos menos o casal que nos leva. Somos 3 brasileiras, duas neozelandesas e um argentino, único homem depois do Mario.
É quente aqui, muito quente, aquecido, porque lá fora é gelado.
Chegamos ao cedo ao abrigo, nos lavamos como pudemos, de novo lenços umidecidos, não tem chuveiro. Eu peguei uma água mineral na garrafa e ensaiei um banho. Brasileiros sem banho não vivem. Com os lenços umidecidos , aqueles de limpar bunda de bebê, tomamos um banho tcheco,como digo.
Nossa!!!, depois de tanta poeira minha vontade era de mergulhar na lagoa. Finalmente uma certa sensação de banho. Eu e Malu colocamos biquini por baixo da roupa pois amanhã as 5 da manhã iremos sair e depois de ver os geisers iremos as termas onde podemos mergulhar numa água de 35graus.
Depois do processo de limpeza sentamos numa mesa e começamos a tomar vinho e conversar com as meninas do grupo Kim e Kelli, trouxe o amendoim que compramos em Sucre e ficamos ali trocando experiências, foram duas garrafas que elas trouxeram. Meu parco inglês dá ainda para conversar, se eu não ficar com vergonha . O álcool me destrava a língua e falo o que sei no meu pouco inglês , elas me entendem bem,e eu as entendo e ainda sirvo de interprete para Lilia e Malu.
Odeio ter esse bloqueio lingüístico . Chega então o povo da terra e com eles exercito meu italoportunhol e sirvo de intérprete entre as neozeolandesas e os bolivianos, Deus que terror. Acho que tô falando espanhol, mas é italiano. As vezes não distingo, mas me sinto mal por não falar inglês como deveria, recalque brabo.Isso é péssimo, falo ,mas me soa mal aos ouvidos, minhas frases são capengas, verbos mal empregados. Que mierda!!!
Durante o vinho chega a Leo(Leônidas) nossa cozinheira. Vestida como o povo inca, como nos Andes, tranças longas, chapeuzinho, saias rodadas.Léo tem um único dente na frente, seu sorriso é vazio. Pedimos para torrar o mani(amendoim) que as neozelandesas tinham comprado cru. Damos a ela um pouco de vinho e ela aceita e senta e conversa conosco.
Com o sempre minha curiosidade me faz de entrevistadora.Todo mundo quieto e eu perguntando. Pergunto quantos anos ela tem. Diz que tem 39 e tem 6 filhos, pergunto se é esposa de Mario ,nosso chofer, ela diz que sim.
Tem seis filhas, não tenho certeza se suas filhas são todas com ele. Quando dissemos nossa idade ela ficou olhando.
Caramba!!! ela parece mais velha que minha mãe, que não é velha, tenho que corrigir isso. A dureza da vida castiga demais essas pessoas, e as tornam muito sofridas inclusive na aparência, os homens não parecem muito,mas as mulheres são castigadas e ainda tem muitos filhos. Esse povo é aparentemente muito calmo, dócil , acho que isso deve ser uma característica deles, sem pressa para nada. As vezes sugere uma certa passividade, não são explosivos, assim me pareceu, desde as crianças que são lindas e dóceis,e calminhas demais.
As meninas do nosso grupo também acharam que nós éramos mais novas . Elas tem 30 e 29 anos . São maneiras, depois do vinho saímos para fotografar o lado de fora do abrigo, era final de tarde. Mas não agüentamos , o frio era enorme e eu e Malu estávamos de havaianas no pé. Voltamos, comecei a escrever e a chuva, agora de verdade, caiu. Deitamos um pouco e Mario nos chamou para a ceia.
Macarrão com molho de tomate e sopa de legumes e mais vinho.
O forte da expedição foi a comida. A sopa deliciosa e o resto da comida também, muito gostosa. Comemos e bebemos, tiramos foto de nossa mesa e depois fomos fotografar o lado de fora, que estava com uma cor linda depois da chuva. Não agüentei o frio mesmo tendo posto uma meia com as havaianas. Muito frio.
As lhamas chegam junto com os carneiros.A cor do horizonte da lagoa é maravilhosa. Um vermelho que se mistura com o branco da neve e a água. Um visual lindo que contrasta coma s pedras cinzas do em torno. O alojamento é coletivo mas muito melhor que o de ontem, o primeiro dia da expedição.
Ontem depois da ilha do pescado que fotografamos e onde ficamos muito tempo, comemos etc, quando saímos pegamos uma longa estrada pelo meio do deserto, umas 2 horas até chegamos a San Juan nosso primeiro alojamento. Nesse, ficamos num quarto para nós três ,mas o banheiro era embaixo no primeiro piso junto como o comedor ,como eles chamam o refeitório. Nesse alojamento não tinha água, muito menos no chuveiro, se tivesse água dava para tomar banho, mas bomba não funcionou, nos lavamos como pudemos numa biquinha no quintal e depois lenços de bebê.
Quando chegamos subimos ao quarto horrível, feio,mas limpo e depois logo descemos tentando um banho. Que nada. Eu entro no chuveiro tiro toda roupa, vou abrir o chuveiro e nada, um filete de água que se dissipa no mesmo segundo,ainda o castelo do registro estava quebrado. Fiquei puta da vida, parti para a parte das pias, nada de água. Que Merda!!, Ainda bem que tínhamos tomado banho de manhã antes de sair do hotel no Uyuni.
Então mudei de roupa depois de tomar um banho com os lenços. Mário veio nos chamar para um chá. Descemos e tomamos chá, achando que seria a única comida. Não, depois do chá subimos, uma hora depois nos chamam para jantar. Deus, como comemos, ontem e hoje, Acho que foi a maior comidaria de toda viagem. Comemos sopa e um outro prato com uma mistura de carne, salsicha e papas fritas, uma bomba atômica.
As meninas subiram e fiquei conversando com Sebastian na mesa, falamos sobre política, sociologia, ele é sociólogo, falamos sobe nossos países e suas crises etc e tal. De repente, já era tarde ,a luz se apaga ,eu ainda não havia escovado os dentes, a galera que tava no comedor levanta toda. Eu, ele e outros saímos do comedor para o quintal , tudo escuro,o gerador havia pifado. Mas olhamos para o céu e estava deslumbrante. Tanta estrela, nos desnorteamos com a beleza e a intensidade. Acho que foi o céu mais lindo que já vi e mais perto também, pois há 4900 de altura...
Vi o cruzeiro do sul e outras constelações, lembrei do céu da ponta do bispo que é tão estrelado,mas não tanto quanto este. Deu saudade de casa, Como é lindo meu canto, minhas estrelas, meu céu.
Escovei os dentes e subi, as meninas já dormiam.Não dormi bem, embora estivesse quente tive sonhos entrecortados até Mario nos chamar as 6 da manha . Sebastian me falou que teve os mesmos sonhos. Falei para ele que eram os espíritos incas no rodeando.
Tomamos os café com todos os outros grupos no comedor e saímos. Várias paisagens diferentes, lagoas, desertos, vulcão fumando, inúmeros coisas a toda hora.
Certas horas, entretanto, ficava cansativo olhar tão vasto espaço sem qualquer construção humana.
Nos revezamos no banco de meio que era o melhor para aquele terreno, na verdade eu e Malu acabamos o dia inteiro atrás porque Kelly estava com o braço quebrado e o solavanco do carro estava fazendo sua mão ficar muito inchada.
Subimos há mais de 4900 de altitude chegando ao topo da montanha onde estava nevando para ver pedras deformadas pela erosão do vento. Uma pedra se parece com uma árvore,muito frio para tirar fotos. Almoçamos a beira de uma lagoa . Frango cozido, couve flor, todas as coisas fritas, macarrão com legumes, de sobremesa papaia,e para beber coca cola.
Depois do almoço saímos para lagoa onde passamos a noite.
Esses passeios no geral acabam sendo sempre a mesma coisa. São muitos os carros com turistas. De fato é um lugar muito difícil de chegar, não vejo carros que não são de expedições como a nossa. Acho inclusive que o salar tá na moda. São muitos grupos, só não sei se para esse roteiro a coisa poderia ser diferente. Creio ser perigoso ficar perdido por aqui, a não ser que tenham uma bússola , é deserto demais. A noite deve ser maravilhosa, só que as expedições não ficam até tarde na estrada.percebemos que a vida dessas pessoas em San Juan e outros vilarejos vem mudando muito com esse acesso rotineiro de turistas. Sua economia passa a ter um outro direcionamento. Novos contatos levam a transformações e também a uma nova forma de viver e ver as coisas, valores que são questionados e é preciso uma identidade muito forte para não se deixar levar. Como tem muitas crianças, essas, com esse contato já se norteiam por outras observações, outras formas de ver e contar as coisas . novas formas de representações.
domingo, 24 de maio de 2009
Chegamos a Bolívia- Titicaca e La Paz
Bolívia
Copacabana, 7 de janeiro 2009
Ficamos em Cusco todo o dia andando, comprando e se despedindo da cidade. Assistimos uma missa na Igreja da Mercês na Plaza de armas. Sentei na praça para escrever e a noite partimos rumo a Copacabana, já na Bolívia.
Esse dia foi de reflexões sobre nossa estada no Peru. A noite saímos às 8h para a rodoviária rumo a parte mais complexa da viagem.
Pelos cálculos a maior parte do tempo será mesmo na Bolívia. A viagem de ônibus não foi péssima mas foi ruim. Pegamos o melhor ônibus, o mais caro para ter conforto mas esse termo por aqui parece desconhecido, era da empresa Litoral e pagamos 70 soles, o ônibus ia para La Paz e nós ficaríamos em Copacabana, seria uma viagem direta sem trocas em Puno, seria.Saímos às 10 h da noite e às 7da manhã nos deixaram numa encruzilhada onde uma van caindo aos pedaços nos recolheu para levar a Copacabana. Era um frio medonho, muito frio mesmo. Entramos no carro e rumo a fronteira, aduana, polícia, tudo tranqüilo sem apurrinhações, ou propinas. A guia do ônibus no encaminhou a um hotel ,caro mas nem por isso muito bom. Decidimos ficar mesmo assim, era bem central, mas aqui em Copacabana é tudo central, a cidade deve ser do tamanho de Mangaratiba. Uma pracinha com a igreja da Virgem e o lago Titicaca. Nosso quarto do Hotel colonial(45 bolivianos por noite) parece a estrutura do panóptico, quatro janelas de vidro e ferro com vista para todos os lados. Imagina pensando em Foucault a essas horas. Mas o que é interessante é que depois descobrimos que de baixo eles também nos viam, ainda bem que olham pouco para cima. Era um quarto de esquina e dava a vista para a praça em que ficavam os ônibus e a rua que dava no lago. De mal gosto mas limpo e grande, a droga das comparações é que sempre o padrão que temos é muito mais alto, então tudo fica mais ou menos, mas com o tempo se acostuma com essa estética.
Não entramos de imediato no quarto somente depois de 11:30 da manhã .
Deixamos as mochilas e fomos então trocar dinheiro e comer algo. Demos uma volta pela cidadezinha, fomos a Igreja tiramos fotos e voltamos ao hotel. Banho e cama no meio do dia. Dormimos até as 4 da tarde. Quando acordamos tínhamos que ir ver o lago, comer. Saímos para o lago, andamos e paramos para comer em frente ao lago. Comemos truta e tomei cerveja pacenha, muito bom e ali no restaurante encontramos 2 brasileiros com os quais consegui boas dicas. Agnaldo um paulista e o nome do outro esqueci. Depois fiquei com dor de cabeça não sei se da cerveja ou da altitude.
Aqui não é muito alto, ou é? Não tinha tomado remédio somente chá de coca.Voltamos ao hotel e comecei a escrever e depois dormi.
O lago- uma enormidade, olhando parece mesmo que estamos no mar. Escrevo agora no barco, no meio do lago, a sensação é de que estamos no meio da baia indo para Ilha Grande, com a diferença de que estamos todos com excesso de roupa. Todo mundo empacotado. As terras laterais não tem muita vegetação. Cascalhos e aquele capim, ou grama rasteiros e amarelado, alguns pinheiros.
No sol, aqui no teto do barco é quente, mas na sombra é muito frio. O barco é lento, ou está lento, apesar dos dois motores a disel me parece.
Aqui no teto do barco muitos argentinos e outros não se de onde. Lilia e Malu conversam o tempo todo sobre assuntos variados. Se importam e perguntam em parte estou do diário, sabem que estou atrasada. Falam de gatos e televisão e outras cositas, elas são semelhantes em sua maneira de ver. Vaidosas se preocupam com a aparência o tempo todo, acho isso legal, não consigo ter a mesma disciplina, o mesmo ritual de beleza que a Lilia tem. Tem que acordar uma hora mais cedo para arrumar a pele, a roupa etc, aí ninguém mais dorme, são saquinhos, potinhos e por aí vai
Muito tempo convivendo com as pessoas, as conversas se repetem. Algumas pessoas repetem muito as coisas, não entendo muito porque.
Outra coisa interessante é a forma de organização. Às vezes elas se perdem nas próprias coisas. Colocam seus pertences em múltiplos lugares e perdem, aí depois de longo tempo até acha-os outra vez. Todo dia tem coisa pedida e achada. Parece uma grande brincadeira. Até eu acabo perdendo coisas como o pratinho que comprei para minha mãe e não sabia aonde tinha colocado, aí elas me sacanearam. Talvez sejam os duendea que somem com as coisas, mas o fato é que o quarto fica uma zona, eu delimito espaço para cada uma quando chegamos ao quarto. Se não a cosia fica impossível . Procuro não desfazer muito a mochila, com preguiça de arrumar depois, mas é quase inviável porque para tirar uma coisa , tem que tirar o resto e está muito apertada a mochila.
Copacabana 9/1
Pegamos o barco e fomos para Ilha do sol e ilhas flutuantes no meio do Titicaca. A dor de cabeça da altitude tem sido minha constante companheira aqui. Mesmo com o chá de coca ainda me resta um pouco de incômodo na cabeça. Deixei para trás a linearidade e cronologia do relato, talvez seja melhor assim.
No barco que começa a andar com dois motores logo fica comum só. O frio é impossível para nós que viajamos no teto do barco. Chegamos a ilha e compramos o ingresso para o museu e o sítio arqueológico , vimos o museu, mas o sítio desistimos no meio do caminho, cada subida , por mínima que seja é seguida de um cansaço horrível. Paramos no meio porque não conseguiríamos voltar a tempo para pegar o barco e ver ainda a parte sul e as ilhas flutuantes.Chagamos a tempo mais o barqueiro ficou 45 minutos esperando sei lá o que. Como sempre começamos a reclamar, as meninas falam e ficam buzinando e eu é quem acabo indo falar.
Finalmente saímos. O lago realmente impressiona, pelo tamanho e cor, um verde esmeralda intenso, lindo!! Não coloquei a mão na água mais ainda vou faze-lo. Tem muita gente que vem à ilha para ficar. Jovens que chegaram com barracas para ficar acampados na praia. Acho que já passei dessa fase. O conforto da minha casa é tudo de melhor. Talvez esteja envelhecendo, porque não quero mais passar perrengues em viagem. Cama boa, hotel bom, água quente, limpeza, tô ficando chata e ainda convivendo com outros chatos fica pior. Daqui a pouco encarno o ermitão G e não saio mais de casa. Um perigo para mim porque de certa maneira já faço muito isso.
Mas a experiência está sendo boa. Não sei se certos lugares da Terra conseguem mudar mesmo com esse fluxo intenso de turistas. Talvez eles tenham pequenas transformações, seu povo descubra novos formas de viver e modifique seus hábitos, seu estilo de vida, acho que isso já acontece. Lugares onde passava uma pessoa nova a cada ano, hoje recebe mil turistas por dia, é lógico que isso causa um impacto, pensando bem as transformações devem ser grande e não pequenas. Não tem mais a coisa do desconhecido, tudo é mais que descortinado em todos os meios de comunicação, se quisermos achamos todo tipo de informação, tem comunidades e sites que dizem tudo, eu preferi dessa vez não ver nada, nem a história eu vi direito, queria ser surpreendida, na medida do possível, assim como não vejo mais programas como viajantes, tribos etc.
Faço isso porque não quero mais saber tudo antes de sair, quero viver o lugar, se isso é possível, se não acabo decepcionando, porque a edição torna tudo divino e maravilhoso. A não ser que eu vá fazer como De Esseintes, do As avessas, colocar em casa tudo que lembre e que me faça pensar que estou em viagem, mas sem sair de casa e sem correr perigos. Acho que em mim isso não dá, porque preciso viver nesse limite, na tangente, na beira do abismo, no risco, às vezes, total. Para a adrenalina ir ao alto.
Titicaca-16 horas. Estamos à deriva. Nervosismo a bordo, vou parar de escrever.
Ficamos por mais de uma hora à deriva, quando voltávamos da Ilha do Sol. O motor do barco quebrou e o mestre ficou o tempo todo tentando ligar e não conseguia. Não agüentávamos mais, as pessoas tensas, já iradas com o barqueiro.. Aí o motor pegou mais andando com uma velocidade muito baixa. Demoramos muito para chegar às ilhas flutuantes. Outros barcos passavam mas o barqueiro era demais orgulhoso e não parava,nem mesmo olhava para os outros barcos, quanto mais pedir ajuda. Incrível é ver que também os outros barcos viam o nosso à deriva e nada faziam. Uma falta completa de solidariedade. Eu estava calma, mas Lilia estava muito nervosa, talvez com medo, assustada porque não sabe nadar. Eu fazia piadas, mas também estava preocupada, embora tivesse certeza de que sairíamos dali, a marinha boliviana viria de alguma forma nos resgatar, eu falava.
Não tive medo, mas sei que não são todos assim, tem gente que não sabe nadar e fica apavorada com as possibilidades de naufrágio. Eu fico olhando a costa e vejo o quanto perto ela está e vejo se posso nadar, o problema é a temperatura da água que é muito gelada.
Mesmo no toque, toque do motor demorando o dobro do tempo chegamos às ilhas flutuantes.
Pode ser que tenham outras ilhas, mas essa era o maior cenário armado para turista idiota ver. Inclusive nós. Tudo arrumado, casinha de palha, barquinho, uma cena realmente bonitinha com todo glamour de produção cinematográfica. Como está do scripti saímos e fotografamos como todos os outros.
Estranho isso, tudo parece mesmo organizado dessa forma. As viagens são assim agora. Todos fazem o mesmo, o que já viram fazerem. Tudo pré-concebido sem muita naturalidade. A ordem é total, o controle também com poucos ou nenhum imprevisto. De novo lembro da viagem de Des Essentes. Queria ir a Londres. Saiu de casa chegou até o cais, entrou numa bodega estilo londrino com personagens como os de Dickens e comeu uma comida londrina e achou que era melhor voltar a Fontenay-aux-roses sua casa, seu museu de formas, sem correr os riscos da viagem . E voltou sem mesmo ter saído de Paris.
Entretanto, as pessoas ainda vão aos lugares. Tem vários programas na televisão que mostram os mais variados destinos e cada um escolhe o seu estilo de viagem.
Faz tempo, já disse, que deixei de vê-los porque me tirariam a surpresa dos lugares. Dessa vez li pouco, não reservei nada. Marquei os lugares no mapa e fomos chegando até lá. No meio do caminho pegamos as informações. Eu li dois livros que me fizeram fazer essa viagem . um foi o “ Diário de Motocicleta” que o Guillermo me emprestou, o outro foi “Inês de minhalma” romance histórico da Isabel Allende. Diários do Che me aguçaram para ver se a realidade daqueles povos tinha mudado algo. Acho que mudou o fluxo de pessoas que passam agora pelos lugares, eles parecem que também agora começam a acordar para o fato de que podem ganhar dinheiro com isso e de fato ganham. Entretanto, é de uma precariedade absurda. Porque uma coisa é irmos para um lugar que se encontra em estado natural, outra é saber que tem gente e que mesmo assim as pessoas não se dão conta da precariedade que vivem, ou se dão conta e nada tem a fazer.Sei que muitos estão saindo da agricultura de subsistência e indo para o terceiro setor da economia, vendem coisas para os turistas, artesanato, comida, e ainda bem que é frio, porque se não só ia ter gente com butolismo e diarréia.
Ketchua no Peru e Tiuanaco na Bolívia , não sei bem, devo confirmar essas informações, são diferentes. Acho que dois nomes que deram os incas, será?? Mas são diversos, fisionomias e detalhes de vestimentas possuem detalhes que mostram sua diversidade. Os bolivianos são mais parrudos que os peruanos, são de estatura maior, o rosto é mais largo, menos anguloso, tem a face ovalada. Os cabelos são iguais, lindos pretos e pesados. O peruanos são menores, baixinhos, face mais triangular, são mais morenos que os bolivianos.
Passamos hoje num bairro da periferia de La Paz em que vendiam as saias que as mulheres usam, uma coisa típica ,mas de uma cafonice só para nossa forma de vestir. Elas sempre tem um chale e aquele chapeuzinho sobre a cabeça. Os cabelos em tranças enormes muito compridas e grossas. Elas gostam de se arrumar. No interior se vêem mais mulheres vestidas assim do que nas capitais.
Despesas: Hotel Copacabana 270 bolivianos quarto triplo,Passeio Ilha do sol. 20 bolivianos, museu ilha 10 bolivianos, Passagem para La Paz ônibus e barco- 16,50 bolivianos
La Paz
Quando chegamos hoje a La Paz, depois de nos instalarmos no Hotel Torino( 40 bolivianos por noite), no centro, ao lado da catedral, fomos andar e conhecer a cidade, é sábado, muita coisa fechada. Ficamos de fato no centro histórico, boa dica do Agnaldo que conhecemos em Copacabana, e que confirmei no guia do alemão que veio comigo de Copa para La Paz. Na catedral estava acontecendo um casamento, todos estavam na porta. Os noivos dançavam ao som de mariaquis, um conjunto que fotografei junto com a noiva. São de um estilo peculiar. Vimos isso e outro casamento acontecia, entramos na igreja, linda altar de ouro. Olhamos bem e fomos para rua passear pela cidade. Entramos no museu vimos uma exposição de arte moderna que lembra Naif, muito bonita. Depois andamos pelo comércio e chegamos a uma grande avenida próxima a igreja de São Francisco de Assis também muito bonita. Parece que nessa parte uma obra muito grande está acontecendo. Entretanto, a cidade possui muita poluição visual. Muitos letreiros nas fachadas dos casarões antigos. Os olhos ficam cansados e é feio. Muitos casarões estão caindo aos pedaços, precisam urgente de uma restauração, outros mais ou menos embora os letreiros cubram o que eles tem de bonito.
La Paz fica numa espécie de vale e a cidade foi crescendo para o morro. De cima vemos que tem pouquíssimas áreas verdes, quase nada, é árido, seco e cor de tijolo, emboço muitas vezes só na frente. Nos cerros o que há não tem emboço. As vezes eles emboçam só a frente mas os lados e os fundos ficam na alvenaria, o cimento deve ser caro, muito caro.Por isso a cidade parece Cusco na sua cor. Cor de tijolo, mas esse aqui não é o mesmo que lá.
Em Cusco os tijolos são aqueles feitos com a terra do lugar, como os tijolos maciços feitos ecologicamente ou então são palha com barro e depois emboçado.O tipo de construção espanhola. Isso vemos em Cusco no bairro que ficamos, Sanblas. Já aqui em La Paz são tijolos comuns só que sem o emboço.Olhando de cima mais uma vez, onde nosso ônibus chegou, parece realmente um grande favelão. Temos que educar os olhos e fugir do padrão americano de urbanismo.
O trânsito é caótico . Muitos carros e pouca ou quase nenhuma ordem. Poucos sinais. Hoje mesmo sábado o povo estava na cidade , na parte da avenida que tem comércio e um jardim no meio, muito bem cuidado. Andando chegamos a igreja de São Francisco de Assis, meu querido. Muito bonita,abriga um museu sacro. Não fomos ao museu, ficamos rodeando por perto até chegar a hora em que a igreja abriria e quando abriu entramos. Magnífica!!. Um altar maior de ouro, mas o Chico não estava nele, somente do lado. Contentei-me em tirar foto da frente da Igreja que é do estilo barroco mestiço com motivos da fauna e flora tropicais na fachada entalhada na pedra, muito bonita.
Andamos pela ruas cheias de lojas de artesanato tudo igual em todos os lugares. Tenho vontade de comprar mas não tenho como carregar. Minha mochila é pequena e está cheia. Que fazer?
Aqui muita gente na rua pedindo,mulheres, crianças, homens cegos. Muita pobreza, muita mesmo, quando chegamos à cidade era uma coisa horrível pela periferia, mas não era muito diferente do que vi no nordeste do Brasil, ano passado. Quando passei por vilarejos pequenos beirando a estrada. Tudo na mesma condição de miserabilidade, pobreza e sujeira. A sujeira é pior que a pobreza. As vezes, não são tão pobres ,mas o senso de limpeza é diverso,não tomam banho todo dia, mas não sentimos nas pessoas cheiro ruim. O cheiro pior era dos gringos que caminham chegam suando e cheiram muito mal, que da vontade de vomitar. Sei que sou sensível a cheiros e visuais que remetem a cheiros. Parecem que os gringos, europeus e americanos não usam desodorantes, é um fedor que os daqui não tinham.
Em La Paz , toda hora o rádio e a televisão falam do Brasil. Do comércio , que vamos suspender o volume de compra de gás etc e tal. Sabemos que a Bolívia é rica em gás, mas sabemos que precisam do nosso now how para explora-lo. Eu brinco dizendo que vou deixar de comprar gás e eles não terão para quem vender.
Parece-me que com essa coisa de nacionalização e de uma política de ir contra ou desfazer os contratos já feitos, os governantes tentam ter o apoio do povo jogando a culpa da miséria do país no Brasil. A imagem que parece que eles tem de nós, brasileiros, é de que estamos maravilhosamente bem, e somos os imperialistas da América do sul. E o povo que antes devia ser simpático, agora parece um pouco hostil. Somos o maior, o mais rico, eles dizem.
Escutava uma conversa entre peruanos e colombianos, na vam, falavam de política e eles jamais se referiam ao Brasil. Tudo bem que se identificam com a língua e isso é um grande motivo, mas também eles tem relações complicadas. Peru com Bolívia, Chile com Peru, Argentina com Chile, tudo por causa de terra, parece até a África fragmentada e reunida em etnias diversas.
Saber que muito falta para atingir um nível de crescimento e de organização social é algo complicado. Será que essa mudança não implicaria em outras, perdas culturais sociais, etc...
No ônibus conheci um alemão. Acho que uns 22 ou 23 anos. Fala espanhol e veio ficar um tempo por aqui , ficamos conversando, ele veio trabalhar em pequenos povoados, pueblos, e com crianças. Só volta para Alemanha em maio.
Penso sobre isso.Não sei se o que ele vem fazer é o mesmo que aquelas pessoas que conheci na Itália faziam com o pessoal na África . Será que querem ensinar a sua fórmula? A forma alemã de viver. Pero si, pero no, o que significaria isso em termos antropológicos. O cara tá entediando em seu país, porque tem tudo e vem para o fim do mundo mostrar aos outros como é que se vive lá, ensinar ou aprender?
Será como Ulisses que em cada lugar queria mostrar a superioridade e cultura do povo Grego? Com todo respeito ao meu avô. De outra maneira, o europeu continua fazendo a mesma coisa de sempre . Eles vem para cá pensando ou na tentativa de fazer algum tipo de trabalho voluntário. No Rio tem alguns grupos e ongs assim. Vem com muito boa vontade para ajudar, às vezes pegam no pesado, mesmo como pedreiros etc. Mas será que é isso que esses povos precisam?
Eu não sei. Fico na dúvida sobre a intervenção paternalista. Fico na dúvida também sobre o fato de ter uma forma de vida que é globalizada, presente em todas as grandes metrópoles do mundo , e essa forma ir saindo desses lugares e se alastrando pelas pequenas cidades através da televisão e dos turistas que chegam. Mas o processo é irreversível.
Penso que ainda são poucos os que vivem do turismo por aqui, digo América do Sul, mas logo que despertarem serão muitos. Entretanto, como já disse antes, algo deve mudar.
Essa forma primitiva deve dar lugar a outra maneira, principalmente em questões de higiene que leva às doenças etc.
Produtos que necessitam de refrigeração, aqui ficam expostos sem ela. o tempo todo. Sorte que é frio, porque se fosse um pouco mais quente seriam todos intoxicados.
A comida dos Andes parece saudável, com base em cereais como o milho, a quinua e outros. Também a batata é o carro forte de todos os pratos. A proteína vem da alpaca que é o bicho que tudo dá a eles. A carne é gostosa, muito mais que a carne de boi, também comem muito frango, o pollo, e truta que é boníssima. Na verdade é alpaca,lhama e vicunha. Esse são os animais,mais importantes por aqui.
Vegetais também aparecem e os empanados. Na rua vendem muita comida, daquele jeito, a céu aberto. Gelatina eles vendem em copinhos pela rua, isso em Cusco e também, aqui em La Paz .
A comida em Cusco parece saudável ,embora para os nossos padrões acabe dando certo nojo de comer.
Aqui na Bolívia, talvez por ser mais alto e frio, o uso de óleo é muito maior. Tudo é meio encharcado de óleo. Não parece que usam o azeite. É um óleo não sei de que, também não parece soja.
Eu que não uso óleo para nada, apenas azeite, sinto muita diferença. Não é que seja ruim, mas é encharcado e só de olhar já não me dá muita vontade de comer. Também as sopas são tradicionais, diferente do Brasil, eles aqui, talvez pelo frio, comem muita sopa. É sempre o primeiro prato ou o segundo, às vezes o primeiro é salada o segundo sopa e o terceiro a carne com algo mais. No Brasil é geralmente tudo junto.
La Paz -11 /1
A catedral de La Paz, como já disse é aqui do lado do hotel Torino e a cada hora soam as badaladas dos sinos. Dormi tarde a noite passada escrevendo e acordei cedo como sempre. Penso mais sobre os problemas do meu cotidiano do que eu queria. Tenho tentado resolver a questão do horário no emprego novo que entrarei, se é que entrarei, porque querem fazer um horário complexo. A disciplina é de novo Introdução ao Direito. Não me agrada de todo, mas é o que está surgindo para dar.
Hoje vou ver o que tenho no emprego antigo pela internet. Essa internet, acaba fazendo com que não desconectemos do cotidiano.
Também tem o lado do coração, sinto falta de alguém que não queria sentir. Sinto falta dos encontros, costume é mesmo uma M. Mas não quero dar corda para isso que não vale a pena, é assunto que deve ser tratado como resolvido. Mas o desejo sei que às vezes foge do controle. Mas como elaborar isso da melhor maneira, devia ser máquina, só funcionar quando liga. Mas não é. Fico pensando se a outra pessoa consegue ser tão distanciada como diz. Será? Será tão insensível ?Não é, mas parece, mas quer ser o tempo todo distante, outro lado, medindo cada ato para não dar margem a outros entendimentos. Pergunto-me porque tudo isso? De que é o medo disso tudo, de viver talvez. Deixa pra lá. Vamos para rua que a vida espera e a fila anda.
La Paz 12
Estamos na rodoviária de La Paz, aguardamos o ônibus para Potosi. Será um ônibus com cama, são 9 horas de viagem, compramos passagem no melhor ônibus , empresa Dourado, foram 80 bolivianos. De Potosi vamos ao Uyuni.
A rodoviária aqui até que é boa comparada com Cusco. Só que é uma barulheira, ficam todos gritando o nome dos destinos. _ Potosi, Potosi, Sucre, parece um mantra para vender passagem. As pessoas saem do guichê e ficam nessa ladainha e nós ficamos imitando.
La Paz é muito poluída, os carros e ônibus velhos não tem filtro de combustível, catalizador, é simplesmente horrível, soltam aquela fumaça preta,na cara da gente, respiramos monóxido de carbono o tempo todo. Acho que o povo deve estar acostumado e estar com o pulmão preto.
Nós entramos na cantoria e ajudamos o povo gritando também o mantra e os vendedores ficam rindo. Duas loucas eu e Malu.
No nosso hotel, Torino, que fica no centro, perto do palácio do Evo Morales, havia hoje uma passeata, fecharam a rua e o exército estava lá com barricadas. Não queriam nos deixar passar. Fizemos pressão e os manifestantes também, e nos deixaram passar.Era uma hora da tarde. Almoçamos no restaurante Torino,lindo, o pátio interno do Hotel que é muito colonial. Todo com arcos de pedra e mesas e cadeiras de ferro.
Depois fomos ao hotel quando encontramos outros brasileiros que sentaram para conversar conosco e deram dicas.
No fim da tarde, fomos então de novo para rua,para umas ruas que são chamadas de mercado de bruxarias, lá compramos um monte de coisas, luvas, mantas etc. Tudo porque disseram que no Uyuni é muito frio, e ficamos com medo.
Nesse mercado tem toda sorte de coisinhas, desde artesanato até coisa para fazer mandinga, feto de lhama, bichos empalhados, de tudo tem um pouco e com preços ótimos, pena não termos como levar.
No domingo em La Paz ficamos explorando a cidade. Andamos muito fomos ao museu de arte moderna, almoçamos em um lugar, na verdade um hotel, cheio de gente da terra, não era um lugar popular, parecia uma galera classe média, as fisionomias eram distintas. Nesse dia também fomos a pé até a rodoviária para comprar nossas passagens para Potosi , a dica do ônibus dessa vez foi dada por uns argentinos que estavam no nosso hotel, eles foram muito simpáticos e explicaram tudo, quando eu perguntei. A diferença de preço da passagem nas agências e na rodoviária é grande, isso aprendemos. Depois de muito andar por La Paz, de sentar na praça e ver muita coisa, voltamos ao hotel para um banho, um descanso e depois descemos para um café que tinha perto do hotel. Tudo muito bonitinho e gostoso, ficamos lá comendo e conversando até tarde. No sábado também saímos para um chá, mas foi no café Torino, embaixo do hotel, também muito bonito, com um garçom muito legal, que ficou nosso amigo, aliás sempre arranjamos novos amigos, quando homem a primeira pergunta era onde estavam os maridos, Oh! sociedade machista, será que mulher só pode viajar com homem colado, e o que fazer com os belos do caminho??? Consultei a internet e mandei notícias nossas. Toda a viagem eu tinha essa obrigação, via os emails e mandava outros, e resolvia as coisas pela internet, realmente o mundo é outro, a tecnologia aproxima demais, resolve. Nem todos os nossos hotéis tinham computador disponível, mas muitos tinham, se não tinha entrávamos em qualquer lan house para ver. Assim tínhamos notícias do Brasil, quando não ligávamos para casa. Eu era a que menos ligava e quando ligava muitas vezes não achava ninguém em casa.
La Paz é bonita, quando entendemos sua arquitetura e sua forma meio favelada, é importante entendermos isso para não ficar achando que tudo é pobreza, se entramos numa cidade medieval na Itália, será a mesma coisa, só que em cores diferentes.
Copacabana, 7 de janeiro 2009
Ficamos em Cusco todo o dia andando, comprando e se despedindo da cidade. Assistimos uma missa na Igreja da Mercês na Plaza de armas. Sentei na praça para escrever e a noite partimos rumo a Copacabana, já na Bolívia.
Esse dia foi de reflexões sobre nossa estada no Peru. A noite saímos às 8h para a rodoviária rumo a parte mais complexa da viagem.
Pelos cálculos a maior parte do tempo será mesmo na Bolívia. A viagem de ônibus não foi péssima mas foi ruim. Pegamos o melhor ônibus, o mais caro para ter conforto mas esse termo por aqui parece desconhecido, era da empresa Litoral e pagamos 70 soles, o ônibus ia para La Paz e nós ficaríamos em Copacabana, seria uma viagem direta sem trocas em Puno, seria.Saímos às 10 h da noite e às 7da manhã nos deixaram numa encruzilhada onde uma van caindo aos pedaços nos recolheu para levar a Copacabana. Era um frio medonho, muito frio mesmo. Entramos no carro e rumo a fronteira, aduana, polícia, tudo tranqüilo sem apurrinhações, ou propinas. A guia do ônibus no encaminhou a um hotel ,caro mas nem por isso muito bom. Decidimos ficar mesmo assim, era bem central, mas aqui em Copacabana é tudo central, a cidade deve ser do tamanho de Mangaratiba. Uma pracinha com a igreja da Virgem e o lago Titicaca. Nosso quarto do Hotel colonial(45 bolivianos por noite) parece a estrutura do panóptico, quatro janelas de vidro e ferro com vista para todos os lados. Imagina pensando em Foucault a essas horas. Mas o que é interessante é que depois descobrimos que de baixo eles também nos viam, ainda bem que olham pouco para cima. Era um quarto de esquina e dava a vista para a praça em que ficavam os ônibus e a rua que dava no lago. De mal gosto mas limpo e grande, a droga das comparações é que sempre o padrão que temos é muito mais alto, então tudo fica mais ou menos, mas com o tempo se acostuma com essa estética.
Não entramos de imediato no quarto somente depois de 11:30 da manhã .
Deixamos as mochilas e fomos então trocar dinheiro e comer algo. Demos uma volta pela cidadezinha, fomos a Igreja tiramos fotos e voltamos ao hotel. Banho e cama no meio do dia. Dormimos até as 4 da tarde. Quando acordamos tínhamos que ir ver o lago, comer. Saímos para o lago, andamos e paramos para comer em frente ao lago. Comemos truta e tomei cerveja pacenha, muito bom e ali no restaurante encontramos 2 brasileiros com os quais consegui boas dicas. Agnaldo um paulista e o nome do outro esqueci. Depois fiquei com dor de cabeça não sei se da cerveja ou da altitude.
Aqui não é muito alto, ou é? Não tinha tomado remédio somente chá de coca.Voltamos ao hotel e comecei a escrever e depois dormi.
O lago- uma enormidade, olhando parece mesmo que estamos no mar. Escrevo agora no barco, no meio do lago, a sensação é de que estamos no meio da baia indo para Ilha Grande, com a diferença de que estamos todos com excesso de roupa. Todo mundo empacotado. As terras laterais não tem muita vegetação. Cascalhos e aquele capim, ou grama rasteiros e amarelado, alguns pinheiros.
No sol, aqui no teto do barco é quente, mas na sombra é muito frio. O barco é lento, ou está lento, apesar dos dois motores a disel me parece.
Aqui no teto do barco muitos argentinos e outros não se de onde. Lilia e Malu conversam o tempo todo sobre assuntos variados. Se importam e perguntam em parte estou do diário, sabem que estou atrasada. Falam de gatos e televisão e outras cositas, elas são semelhantes em sua maneira de ver. Vaidosas se preocupam com a aparência o tempo todo, acho isso legal, não consigo ter a mesma disciplina, o mesmo ritual de beleza que a Lilia tem. Tem que acordar uma hora mais cedo para arrumar a pele, a roupa etc, aí ninguém mais dorme, são saquinhos, potinhos e por aí vai
Muito tempo convivendo com as pessoas, as conversas se repetem. Algumas pessoas repetem muito as coisas, não entendo muito porque.
Outra coisa interessante é a forma de organização. Às vezes elas se perdem nas próprias coisas. Colocam seus pertences em múltiplos lugares e perdem, aí depois de longo tempo até acha-os outra vez. Todo dia tem coisa pedida e achada. Parece uma grande brincadeira. Até eu acabo perdendo coisas como o pratinho que comprei para minha mãe e não sabia aonde tinha colocado, aí elas me sacanearam. Talvez sejam os duendea que somem com as coisas, mas o fato é que o quarto fica uma zona, eu delimito espaço para cada uma quando chegamos ao quarto. Se não a cosia fica impossível . Procuro não desfazer muito a mochila, com preguiça de arrumar depois, mas é quase inviável porque para tirar uma coisa , tem que tirar o resto e está muito apertada a mochila.
Copacabana 9/1
Pegamos o barco e fomos para Ilha do sol e ilhas flutuantes no meio do Titicaca. A dor de cabeça da altitude tem sido minha constante companheira aqui. Mesmo com o chá de coca ainda me resta um pouco de incômodo na cabeça. Deixei para trás a linearidade e cronologia do relato, talvez seja melhor assim.
No barco que começa a andar com dois motores logo fica comum só. O frio é impossível para nós que viajamos no teto do barco. Chegamos a ilha e compramos o ingresso para o museu e o sítio arqueológico , vimos o museu, mas o sítio desistimos no meio do caminho, cada subida , por mínima que seja é seguida de um cansaço horrível. Paramos no meio porque não conseguiríamos voltar a tempo para pegar o barco e ver ainda a parte sul e as ilhas flutuantes.Chagamos a tempo mais o barqueiro ficou 45 minutos esperando sei lá o que. Como sempre começamos a reclamar, as meninas falam e ficam buzinando e eu é quem acabo indo falar.
Finalmente saímos. O lago realmente impressiona, pelo tamanho e cor, um verde esmeralda intenso, lindo!! Não coloquei a mão na água mais ainda vou faze-lo. Tem muita gente que vem à ilha para ficar. Jovens que chegaram com barracas para ficar acampados na praia. Acho que já passei dessa fase. O conforto da minha casa é tudo de melhor. Talvez esteja envelhecendo, porque não quero mais passar perrengues em viagem. Cama boa, hotel bom, água quente, limpeza, tô ficando chata e ainda convivendo com outros chatos fica pior. Daqui a pouco encarno o ermitão G e não saio mais de casa. Um perigo para mim porque de certa maneira já faço muito isso.
Mas a experiência está sendo boa. Não sei se certos lugares da Terra conseguem mudar mesmo com esse fluxo intenso de turistas. Talvez eles tenham pequenas transformações, seu povo descubra novos formas de viver e modifique seus hábitos, seu estilo de vida, acho que isso já acontece. Lugares onde passava uma pessoa nova a cada ano, hoje recebe mil turistas por dia, é lógico que isso causa um impacto, pensando bem as transformações devem ser grande e não pequenas. Não tem mais a coisa do desconhecido, tudo é mais que descortinado em todos os meios de comunicação, se quisermos achamos todo tipo de informação, tem comunidades e sites que dizem tudo, eu preferi dessa vez não ver nada, nem a história eu vi direito, queria ser surpreendida, na medida do possível, assim como não vejo mais programas como viajantes, tribos etc.
Faço isso porque não quero mais saber tudo antes de sair, quero viver o lugar, se isso é possível, se não acabo decepcionando, porque a edição torna tudo divino e maravilhoso. A não ser que eu vá fazer como De Esseintes, do As avessas, colocar em casa tudo que lembre e que me faça pensar que estou em viagem, mas sem sair de casa e sem correr perigos. Acho que em mim isso não dá, porque preciso viver nesse limite, na tangente, na beira do abismo, no risco, às vezes, total. Para a adrenalina ir ao alto.
Titicaca-16 horas. Estamos à deriva. Nervosismo a bordo, vou parar de escrever.
Ficamos por mais de uma hora à deriva, quando voltávamos da Ilha do Sol. O motor do barco quebrou e o mestre ficou o tempo todo tentando ligar e não conseguia. Não agüentávamos mais, as pessoas tensas, já iradas com o barqueiro.. Aí o motor pegou mais andando com uma velocidade muito baixa. Demoramos muito para chegar às ilhas flutuantes. Outros barcos passavam mas o barqueiro era demais orgulhoso e não parava,nem mesmo olhava para os outros barcos, quanto mais pedir ajuda. Incrível é ver que também os outros barcos viam o nosso à deriva e nada faziam. Uma falta completa de solidariedade. Eu estava calma, mas Lilia estava muito nervosa, talvez com medo, assustada porque não sabe nadar. Eu fazia piadas, mas também estava preocupada, embora tivesse certeza de que sairíamos dali, a marinha boliviana viria de alguma forma nos resgatar, eu falava.
Não tive medo, mas sei que não são todos assim, tem gente que não sabe nadar e fica apavorada com as possibilidades de naufrágio. Eu fico olhando a costa e vejo o quanto perto ela está e vejo se posso nadar, o problema é a temperatura da água que é muito gelada.
Mesmo no toque, toque do motor demorando o dobro do tempo chegamos às ilhas flutuantes.
Pode ser que tenham outras ilhas, mas essa era o maior cenário armado para turista idiota ver. Inclusive nós. Tudo arrumado, casinha de palha, barquinho, uma cena realmente bonitinha com todo glamour de produção cinematográfica. Como está do scripti saímos e fotografamos como todos os outros.
Estranho isso, tudo parece mesmo organizado dessa forma. As viagens são assim agora. Todos fazem o mesmo, o que já viram fazerem. Tudo pré-concebido sem muita naturalidade. A ordem é total, o controle também com poucos ou nenhum imprevisto. De novo lembro da viagem de Des Essentes. Queria ir a Londres. Saiu de casa chegou até o cais, entrou numa bodega estilo londrino com personagens como os de Dickens e comeu uma comida londrina e achou que era melhor voltar a Fontenay-aux-roses sua casa, seu museu de formas, sem correr os riscos da viagem . E voltou sem mesmo ter saído de Paris.
Entretanto, as pessoas ainda vão aos lugares. Tem vários programas na televisão que mostram os mais variados destinos e cada um escolhe o seu estilo de viagem.
Faz tempo, já disse, que deixei de vê-los porque me tirariam a surpresa dos lugares. Dessa vez li pouco, não reservei nada. Marquei os lugares no mapa e fomos chegando até lá. No meio do caminho pegamos as informações. Eu li dois livros que me fizeram fazer essa viagem . um foi o “ Diário de Motocicleta” que o Guillermo me emprestou, o outro foi “Inês de minhalma” romance histórico da Isabel Allende. Diários do Che me aguçaram para ver se a realidade daqueles povos tinha mudado algo. Acho que mudou o fluxo de pessoas que passam agora pelos lugares, eles parecem que também agora começam a acordar para o fato de que podem ganhar dinheiro com isso e de fato ganham. Entretanto, é de uma precariedade absurda. Porque uma coisa é irmos para um lugar que se encontra em estado natural, outra é saber que tem gente e que mesmo assim as pessoas não se dão conta da precariedade que vivem, ou se dão conta e nada tem a fazer.Sei que muitos estão saindo da agricultura de subsistência e indo para o terceiro setor da economia, vendem coisas para os turistas, artesanato, comida, e ainda bem que é frio, porque se não só ia ter gente com butolismo e diarréia.
Ketchua no Peru e Tiuanaco na Bolívia , não sei bem, devo confirmar essas informações, são diferentes. Acho que dois nomes que deram os incas, será?? Mas são diversos, fisionomias e detalhes de vestimentas possuem detalhes que mostram sua diversidade. Os bolivianos são mais parrudos que os peruanos, são de estatura maior, o rosto é mais largo, menos anguloso, tem a face ovalada. Os cabelos são iguais, lindos pretos e pesados. O peruanos são menores, baixinhos, face mais triangular, são mais morenos que os bolivianos.
Passamos hoje num bairro da periferia de La Paz em que vendiam as saias que as mulheres usam, uma coisa típica ,mas de uma cafonice só para nossa forma de vestir. Elas sempre tem um chale e aquele chapeuzinho sobre a cabeça. Os cabelos em tranças enormes muito compridas e grossas. Elas gostam de se arrumar. No interior se vêem mais mulheres vestidas assim do que nas capitais.
Despesas: Hotel Copacabana 270 bolivianos quarto triplo,Passeio Ilha do sol. 20 bolivianos, museu ilha 10 bolivianos, Passagem para La Paz ônibus e barco- 16,50 bolivianos
La Paz
Quando chegamos hoje a La Paz, depois de nos instalarmos no Hotel Torino( 40 bolivianos por noite), no centro, ao lado da catedral, fomos andar e conhecer a cidade, é sábado, muita coisa fechada. Ficamos de fato no centro histórico, boa dica do Agnaldo que conhecemos em Copacabana, e que confirmei no guia do alemão que veio comigo de Copa para La Paz. Na catedral estava acontecendo um casamento, todos estavam na porta. Os noivos dançavam ao som de mariaquis, um conjunto que fotografei junto com a noiva. São de um estilo peculiar. Vimos isso e outro casamento acontecia, entramos na igreja, linda altar de ouro. Olhamos bem e fomos para rua passear pela cidade. Entramos no museu vimos uma exposição de arte moderna que lembra Naif, muito bonita. Depois andamos pelo comércio e chegamos a uma grande avenida próxima a igreja de São Francisco de Assis também muito bonita. Parece que nessa parte uma obra muito grande está acontecendo. Entretanto, a cidade possui muita poluição visual. Muitos letreiros nas fachadas dos casarões antigos. Os olhos ficam cansados e é feio. Muitos casarões estão caindo aos pedaços, precisam urgente de uma restauração, outros mais ou menos embora os letreiros cubram o que eles tem de bonito.
La Paz fica numa espécie de vale e a cidade foi crescendo para o morro. De cima vemos que tem pouquíssimas áreas verdes, quase nada, é árido, seco e cor de tijolo, emboço muitas vezes só na frente. Nos cerros o que há não tem emboço. As vezes eles emboçam só a frente mas os lados e os fundos ficam na alvenaria, o cimento deve ser caro, muito caro.Por isso a cidade parece Cusco na sua cor. Cor de tijolo, mas esse aqui não é o mesmo que lá.
Em Cusco os tijolos são aqueles feitos com a terra do lugar, como os tijolos maciços feitos ecologicamente ou então são palha com barro e depois emboçado.O tipo de construção espanhola. Isso vemos em Cusco no bairro que ficamos, Sanblas. Já aqui em La Paz são tijolos comuns só que sem o emboço.Olhando de cima mais uma vez, onde nosso ônibus chegou, parece realmente um grande favelão. Temos que educar os olhos e fugir do padrão americano de urbanismo.
O trânsito é caótico . Muitos carros e pouca ou quase nenhuma ordem. Poucos sinais. Hoje mesmo sábado o povo estava na cidade , na parte da avenida que tem comércio e um jardim no meio, muito bem cuidado. Andando chegamos a igreja de São Francisco de Assis, meu querido. Muito bonita,abriga um museu sacro. Não fomos ao museu, ficamos rodeando por perto até chegar a hora em que a igreja abriria e quando abriu entramos. Magnífica!!. Um altar maior de ouro, mas o Chico não estava nele, somente do lado. Contentei-me em tirar foto da frente da Igreja que é do estilo barroco mestiço com motivos da fauna e flora tropicais na fachada entalhada na pedra, muito bonita.
Andamos pela ruas cheias de lojas de artesanato tudo igual em todos os lugares. Tenho vontade de comprar mas não tenho como carregar. Minha mochila é pequena e está cheia. Que fazer?
Aqui muita gente na rua pedindo,mulheres, crianças, homens cegos. Muita pobreza, muita mesmo, quando chegamos à cidade era uma coisa horrível pela periferia, mas não era muito diferente do que vi no nordeste do Brasil, ano passado. Quando passei por vilarejos pequenos beirando a estrada. Tudo na mesma condição de miserabilidade, pobreza e sujeira. A sujeira é pior que a pobreza. As vezes, não são tão pobres ,mas o senso de limpeza é diverso,não tomam banho todo dia, mas não sentimos nas pessoas cheiro ruim. O cheiro pior era dos gringos que caminham chegam suando e cheiram muito mal, que da vontade de vomitar. Sei que sou sensível a cheiros e visuais que remetem a cheiros. Parecem que os gringos, europeus e americanos não usam desodorantes, é um fedor que os daqui não tinham.
Em La Paz , toda hora o rádio e a televisão falam do Brasil. Do comércio , que vamos suspender o volume de compra de gás etc e tal. Sabemos que a Bolívia é rica em gás, mas sabemos que precisam do nosso now how para explora-lo. Eu brinco dizendo que vou deixar de comprar gás e eles não terão para quem vender.
Parece-me que com essa coisa de nacionalização e de uma política de ir contra ou desfazer os contratos já feitos, os governantes tentam ter o apoio do povo jogando a culpa da miséria do país no Brasil. A imagem que parece que eles tem de nós, brasileiros, é de que estamos maravilhosamente bem, e somos os imperialistas da América do sul. E o povo que antes devia ser simpático, agora parece um pouco hostil. Somos o maior, o mais rico, eles dizem.
Escutava uma conversa entre peruanos e colombianos, na vam, falavam de política e eles jamais se referiam ao Brasil. Tudo bem que se identificam com a língua e isso é um grande motivo, mas também eles tem relações complicadas. Peru com Bolívia, Chile com Peru, Argentina com Chile, tudo por causa de terra, parece até a África fragmentada e reunida em etnias diversas.
Saber que muito falta para atingir um nível de crescimento e de organização social é algo complicado. Será que essa mudança não implicaria em outras, perdas culturais sociais, etc...
No ônibus conheci um alemão. Acho que uns 22 ou 23 anos. Fala espanhol e veio ficar um tempo por aqui , ficamos conversando, ele veio trabalhar em pequenos povoados, pueblos, e com crianças. Só volta para Alemanha em maio.
Penso sobre isso.Não sei se o que ele vem fazer é o mesmo que aquelas pessoas que conheci na Itália faziam com o pessoal na África . Será que querem ensinar a sua fórmula? A forma alemã de viver. Pero si, pero no, o que significaria isso em termos antropológicos. O cara tá entediando em seu país, porque tem tudo e vem para o fim do mundo mostrar aos outros como é que se vive lá, ensinar ou aprender?
Será como Ulisses que em cada lugar queria mostrar a superioridade e cultura do povo Grego? Com todo respeito ao meu avô. De outra maneira, o europeu continua fazendo a mesma coisa de sempre . Eles vem para cá pensando ou na tentativa de fazer algum tipo de trabalho voluntário. No Rio tem alguns grupos e ongs assim. Vem com muito boa vontade para ajudar, às vezes pegam no pesado, mesmo como pedreiros etc. Mas será que é isso que esses povos precisam?
Eu não sei. Fico na dúvida sobre a intervenção paternalista. Fico na dúvida também sobre o fato de ter uma forma de vida que é globalizada, presente em todas as grandes metrópoles do mundo , e essa forma ir saindo desses lugares e se alastrando pelas pequenas cidades através da televisão e dos turistas que chegam. Mas o processo é irreversível.
Penso que ainda são poucos os que vivem do turismo por aqui, digo América do Sul, mas logo que despertarem serão muitos. Entretanto, como já disse antes, algo deve mudar.
Essa forma primitiva deve dar lugar a outra maneira, principalmente em questões de higiene que leva às doenças etc.
Produtos que necessitam de refrigeração, aqui ficam expostos sem ela. o tempo todo. Sorte que é frio, porque se fosse um pouco mais quente seriam todos intoxicados.
A comida dos Andes parece saudável, com base em cereais como o milho, a quinua e outros. Também a batata é o carro forte de todos os pratos. A proteína vem da alpaca que é o bicho que tudo dá a eles. A carne é gostosa, muito mais que a carne de boi, também comem muito frango, o pollo, e truta que é boníssima. Na verdade é alpaca,lhama e vicunha. Esse são os animais,mais importantes por aqui.
Vegetais também aparecem e os empanados. Na rua vendem muita comida, daquele jeito, a céu aberto. Gelatina eles vendem em copinhos pela rua, isso em Cusco e também, aqui em La Paz .
A comida em Cusco parece saudável ,embora para os nossos padrões acabe dando certo nojo de comer.
Aqui na Bolívia, talvez por ser mais alto e frio, o uso de óleo é muito maior. Tudo é meio encharcado de óleo. Não parece que usam o azeite. É um óleo não sei de que, também não parece soja.
Eu que não uso óleo para nada, apenas azeite, sinto muita diferença. Não é que seja ruim, mas é encharcado e só de olhar já não me dá muita vontade de comer. Também as sopas são tradicionais, diferente do Brasil, eles aqui, talvez pelo frio, comem muita sopa. É sempre o primeiro prato ou o segundo, às vezes o primeiro é salada o segundo sopa e o terceiro a carne com algo mais. No Brasil é geralmente tudo junto.
La Paz -11 /1
A catedral de La Paz, como já disse é aqui do lado do hotel Torino e a cada hora soam as badaladas dos sinos. Dormi tarde a noite passada escrevendo e acordei cedo como sempre. Penso mais sobre os problemas do meu cotidiano do que eu queria. Tenho tentado resolver a questão do horário no emprego novo que entrarei, se é que entrarei, porque querem fazer um horário complexo. A disciplina é de novo Introdução ao Direito. Não me agrada de todo, mas é o que está surgindo para dar.
Hoje vou ver o que tenho no emprego antigo pela internet. Essa internet, acaba fazendo com que não desconectemos do cotidiano.
Também tem o lado do coração, sinto falta de alguém que não queria sentir. Sinto falta dos encontros, costume é mesmo uma M. Mas não quero dar corda para isso que não vale a pena, é assunto que deve ser tratado como resolvido. Mas o desejo sei que às vezes foge do controle. Mas como elaborar isso da melhor maneira, devia ser máquina, só funcionar quando liga. Mas não é. Fico pensando se a outra pessoa consegue ser tão distanciada como diz. Será? Será tão insensível ?Não é, mas parece, mas quer ser o tempo todo distante, outro lado, medindo cada ato para não dar margem a outros entendimentos. Pergunto-me porque tudo isso? De que é o medo disso tudo, de viver talvez. Deixa pra lá. Vamos para rua que a vida espera e a fila anda.
La Paz 12
Estamos na rodoviária de La Paz, aguardamos o ônibus para Potosi. Será um ônibus com cama, são 9 horas de viagem, compramos passagem no melhor ônibus , empresa Dourado, foram 80 bolivianos. De Potosi vamos ao Uyuni.
A rodoviária aqui até que é boa comparada com Cusco. Só que é uma barulheira, ficam todos gritando o nome dos destinos. _ Potosi, Potosi, Sucre, parece um mantra para vender passagem. As pessoas saem do guichê e ficam nessa ladainha e nós ficamos imitando.
La Paz é muito poluída, os carros e ônibus velhos não tem filtro de combustível, catalizador, é simplesmente horrível, soltam aquela fumaça preta,na cara da gente, respiramos monóxido de carbono o tempo todo. Acho que o povo deve estar acostumado e estar com o pulmão preto.
Nós entramos na cantoria e ajudamos o povo gritando também o mantra e os vendedores ficam rindo. Duas loucas eu e Malu.
No nosso hotel, Torino, que fica no centro, perto do palácio do Evo Morales, havia hoje uma passeata, fecharam a rua e o exército estava lá com barricadas. Não queriam nos deixar passar. Fizemos pressão e os manifestantes também, e nos deixaram passar.Era uma hora da tarde. Almoçamos no restaurante Torino,lindo, o pátio interno do Hotel que é muito colonial. Todo com arcos de pedra e mesas e cadeiras de ferro.
Depois fomos ao hotel quando encontramos outros brasileiros que sentaram para conversar conosco e deram dicas.
No fim da tarde, fomos então de novo para rua,para umas ruas que são chamadas de mercado de bruxarias, lá compramos um monte de coisas, luvas, mantas etc. Tudo porque disseram que no Uyuni é muito frio, e ficamos com medo.
Nesse mercado tem toda sorte de coisinhas, desde artesanato até coisa para fazer mandinga, feto de lhama, bichos empalhados, de tudo tem um pouco e com preços ótimos, pena não termos como levar.
No domingo em La Paz ficamos explorando a cidade. Andamos muito fomos ao museu de arte moderna, almoçamos em um lugar, na verdade um hotel, cheio de gente da terra, não era um lugar popular, parecia uma galera classe média, as fisionomias eram distintas. Nesse dia também fomos a pé até a rodoviária para comprar nossas passagens para Potosi , a dica do ônibus dessa vez foi dada por uns argentinos que estavam no nosso hotel, eles foram muito simpáticos e explicaram tudo, quando eu perguntei. A diferença de preço da passagem nas agências e na rodoviária é grande, isso aprendemos. Depois de muito andar por La Paz, de sentar na praça e ver muita coisa, voltamos ao hotel para um banho, um descanso e depois descemos para um café que tinha perto do hotel. Tudo muito bonitinho e gostoso, ficamos lá comendo e conversando até tarde. No sábado também saímos para um chá, mas foi no café Torino, embaixo do hotel, também muito bonito, com um garçom muito legal, que ficou nosso amigo, aliás sempre arranjamos novos amigos, quando homem a primeira pergunta era onde estavam os maridos, Oh! sociedade machista, será que mulher só pode viajar com homem colado, e o que fazer com os belos do caminho??? Consultei a internet e mandei notícias nossas. Toda a viagem eu tinha essa obrigação, via os emails e mandava outros, e resolvia as coisas pela internet, realmente o mundo é outro, a tecnologia aproxima demais, resolve. Nem todos os nossos hotéis tinham computador disponível, mas muitos tinham, se não tinha entrávamos em qualquer lan house para ver. Assim tínhamos notícias do Brasil, quando não ligávamos para casa. Eu era a que menos ligava e quando ligava muitas vezes não achava ninguém em casa.
La Paz é bonita, quando entendemos sua arquitetura e sua forma meio favelada, é importante entendermos isso para não ficar achando que tudo é pobreza, se entramos numa cidade medieval na Itália, será a mesma coisa, só que em cores diferentes.
O Centro está tratado e limpo, os jardins são muito bem cuidados, somente as partes em obra estão feias, ainda. Os museus aqui são muito melhores, nota-se o profissionalismo ao montar as exposições, tem um cuidado especial, Posso dizer que o “Evo ta cumplindo”.
A cidade é diferente nos fins de semana, vazia, na segunda feira, tudo parece muito mais louco e movimentado.
No dia seguinte, segunda feira, tudo aberto em La Paz, andamos muito e depois de tomarmos um lanche final, nos despedimos de La Paz. Tomamos uma táxi e fomos para a rodoviária as 7 horas, o ônibus saia as 8 da noite. O ônibus sai na hora e logo pára, não sei para que, nos arredores de La Paz., um lugar feio, sujo, parece uma outra rodoviária, com bares, e lugares de banheiro, muita gente pela rua e chama atenção as ligações elétricas, um poste com milhões de fios ligados, uma loucura,se entra em curto um explode o bairro todo.Finalmente o ônibus sai.
Despesas: Ônibus Potosi – 80 bolivianos, hotel La Paz -240 bolivianos quarto triplo, museus- não anotei
A cidade é diferente nos fins de semana, vazia, na segunda feira, tudo parece muito mais louco e movimentado.
No dia seguinte, segunda feira, tudo aberto em La Paz, andamos muito e depois de tomarmos um lanche final, nos despedimos de La Paz. Tomamos uma táxi e fomos para a rodoviária as 7 horas, o ônibus saia as 8 da noite. O ônibus sai na hora e logo pára, não sei para que, nos arredores de La Paz., um lugar feio, sujo, parece uma outra rodoviária, com bares, e lugares de banheiro, muita gente pela rua e chama atenção as ligações elétricas, um poste com milhões de fios ligados, uma loucura,se entra em curto um explode o bairro todo.Finalmente o ônibus sai.
Despesas: Ônibus Potosi – 80 bolivianos, hotel La Paz -240 bolivianos quarto triplo, museus- não anotei
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