sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Foram tantas emoções...

31\12\2010-Paris- Último dia do ano

Estou na casa da Amélia, são 11 horas da manhã, ainda não saí hoje, estou descansando do trajeto de ontem, o dia inteiro para chegar a Paris. Cheguei aqui depois das 10 da noite, fiz outro caminho para chegar, em vez de pegar o sutlle de ônibus peguei o trem. Um rapaz muito simpático me ajudou no trem até a Gare du nord e de lá peguei o metro. Ao sair na estação Saint George, olha o santo guerreiro de novo, perguntei de novo e cheguei bem mais fácil que na primeira vez. Está muito frio, mesmo com aquecimento ligado tá frio. Coloquei meu diário em dia, e logo vou a rua. Amélia agora mora em outra estação do metro, antes era na Concorde, agora na ,mesma linha(12), mas a frente, pertinho da Sacre Coeur, de Pigalle, um lado menos chique mas também central. Estou com medo do frio na rua, mas vou sair.
Falei agora no telefone com a Emili em Mangaratiba, e falei com Alice também, bateu uma saudade boa, bom que todo mundo está lá em casa, vai ter festa, bem legal.
Aqui não sei o que farei, acho que provavelmente verei fogos na rua, mas também nada muito cheio. Com o frio não dá nem vontade de sair. Amélia vai trabalhar amanhã e depois, e hoje também está trabalhando. Ela é um amor de pessoa. Por hoje é só, vamos a Paris, que não é todo mundo que tem a sorte de estar aqui... Vualá...





30\12\2010- Zurique , aeroporto.
Porcaria, tudo tem que pagar aqui, tentei conectar enquanto espero o vôo, mas não consigo é igual Portugal, mesma droga, entra a rede mas para entrar a sua página não se consegue.
Bem, um dia inteiro perdido só para se deslocar de uma cidade a outra. De Istambul para Paris , saí do hostel às 10 da manhã, são 17:15 , já anoitece e ainda não cheguei a Paris,pqp, o melhor é mesmo viajar de trem, você chega e chega, não tem que tirar roupa, tirar sapato, ficarem te enchendo de perguntas, te apalpando,é F.
Ainda bem que o resto da viagem vou fazer de trem,talvez perca-se menos tempo com burocracias de segurança, faço viagem a noite e chego de dia, de avião saio de dia , perco o dia todo e chego de noite, por causa do inverno.
Hoje dia 30 o aeroporto está lotado e vou chegar a Paris de novo a noite, para ralar no metrô até a casa da Amélia. Tomara que não esteja nevando, porque aqui em Zurique já nevou muito hoje, está tudo tão branco. Dentro do aeroporto é muito calor, abre-se uma porta e bloom o vento gelado entra. Eu não sei como o povo consegue ficar de casaco o tempo todo. Um calor da peste. Por isso que a roupa deles fica fedendo, porque suam e não tiram o casaco. Depois, haja nariz.
Tem montes de italianos aqui, porque é transferência de vôo para Milão, Bari, Roma, Veneza.
Estou torcendo para Paris estar mais quente, já não agüento mais tanta roupa.
Tô cansada, esse trânsito, esse deslocamento é “very tired”.
Um belo italiano empurra um carro, que bate em mim, pede desculpa. É legal ficar olhando-os com olhos antropológicos: como falam, como gesticulam. Sempre como se tivessem sido desaforados. Reclamam, o mundo deles é que é certo.Uma mulher indignada porque aqui em Zurique o avião para longe e tem que vir para dentro do aeroporto de ônibus.
(Parêntesis)Acaba de sair meu vôo, e dá também a temperatura em Paris, 2graus, caramba, vou virar pinguim... tem que botar luva etc, espero que não esteja chovendo e que não tenha neve.
Devo chegar à casa da Amélia pela nove horas ou mais, o brabo é o vento. Já estou com medo, o frio faz eu me sentir abandonada, louca para logo tomar um banho.
Hoje é o penúltimo dia do ano, tanta coisa aconteceu. Estava no avião e de soslaio olhei a revista em francês de uma mulher que estava do meu lado, ela lia o horóscopo. Vi lá meu signo, e prometia. Nem vou falar para não criar “uruca”, essa gíria é muito velha.
O povo tampou a minha visão, fica todo mundo louco para embarcar. Meu próximo voo é curto, acho que uma hora. Quando cheguei a esse aeroporto hoje, a pouco, lembrei-me de um viajante de entre-lugares, pensei se o encontrasse num lugar desse, o que ele faria, o que eu faria, nada??, olharia e ficaria por isso, seria muita ironia do destino. Deixa pra lá, que esse destino parece não me pertencer.
Tentei ligar para casa, o telefone parece que não faz mais esse tipo de chamada, não tem onde comprar cartão telefônico, quando liguei meu pai atendeu na casa da Emili e disse que Alice estava com febre de novo, aí acabou o cartão e fiquei sem saber.Quando chegar na Amélia vou tentar ligar para o Rio. Espero o dia de levar a minha lindinha para viajar. Tem tanta criança viajando, agora mesmo tem uma pequena ,deve ter no máximo um ano de idade, lourinha,está a minha frente, solta, brincando, muito fofa.
Amanhã tenho mil coisas para fazer em Paris, antes de encerrar o ano . Abriram de novo o portão e o frio. Vou para fila.




29\12\2010-De volta a Istambul.
O tempo corre e passa devagar ao mesmo tempo, parece que estou aqui faz um tempão. O dia é curto e logo é noite, não aguento mais falar inglês, língua chata e povo chato o americano,vai me dando um nervoso, e tem só 8 dias que saí do Brasil. Mas a droga do imperialismo americano faz isso, o mundo todo fala inglês, ou deve falar inglês, e eles não se sujeitam a falar qualquer outra língua.
Ontem(28) no tour que fiz na Capadoccia tinha uma americana que ficava o tempo todo falando, estava ela e o filho, me parecia que devia ser da academia , alguma professora ou estudiosa . Ela tudo perguntava, tudo tinha comentário, não deixava o coitado do guia em paz, ele por sua vez, com um inglês talvez muito bom, falava rápido demais. Eu quase não entendia, para mim, ele falando parecia o som da reza que se faz aqui nos auto-falantes a cada 3 ou 4 horas,quando tocam os sinos das mesquitas e eles rezam voltados para Meca,ou devem rezar. Obrigação de muçulmano. Mas acho que esse costume aqui na Turquia está perdendo a força. Não vejo muita gente parada na hora da reza. Bem, a explicação do guia para mim é como uma ladainha, rs,rs. Tem hora que ele explicando as imagens nas cavernas e só entendo quando ele fala Jesus Cristo. Nas cavernas as pinturas são bizantinas, e é o início do cristinismo. Aqui na Capadoccia tem muita imagem ,nas cavernas, de São Jorge( o santo guerreiro- feriado 23 de abril no Rio de Janeiro) , e Jesus Cristo. Então ele fala, param,param, param, Jesus Cristo.parece piada mas é verdade. Embora tenham todas essas imagens, nada de cristanismo se vê, nenhuma imagem do santo guerreiro para vender , afinal o país é muçulmano.
Também as pessoas agem normalmente, (comum para o resto da europa), com roupas normais e é interessante que há certos vídeos que passam na televisão onde as mulheres são expostas como as do Brasil. De maiô, cantando, dançando de forma muito sensual para um país muçulmano.
No dia do natal, nem lembro mais o que fiz. Mas no dia 26 fui ao Taksin, bairro que tem discotecas, cafés etc, e um comércio fenomenal. É uma coisa de louco o comércio daqui. Andei o dia todo e a noite peguei o ônibus para Capadoccia. Abre-se um capítulo. Antes porém, do Taksin fui andando, andando até que dei de novo na Torre Gálata, sobre a qual já falei. Tirei de novo foto e desci, atravessei a ponte do mesmo nome e cheguei ao lado do Mercado egípicio( Spice bazar) onde vendem especiarias e toda sorte de coisas.
Ali na praça do Spice bazar e a Mesquita Nova(Yeni Cami) fiquei horas, tem uns restaurantes no barco, na verdade lanchonetes no barco, o barco é a cozinha e o povo compra sanduíche de peixe com cebola, e na mesinha, ao relento mesmo, tem molho de limão. Lógico, que foi o que comi, vi o povo todo comendo achei que não me faria mal, e não fez. Fiquei ali observando os passantes, parece que domingo é o dia em que todos vão para rua , para as compras, mais que no sábado.A passagem subterrânea era um coisa de louco. Se a pessoa bobear é pisoteada. É um subterrâneo que atravessa as pistas de carro e train, o trem de superfície que dá a volta na cidade.
Acho também que no domingo tinha alguma manifestação política, porque estavam muitas pessoas com uma bandeira diferente na mão e com fitas verdes escritas em árabe. Depois de comer fui passear de barco pelo Bósforo. Uma visão muito bonita, o lado asiático com muitas casas a beira do mar,casas maravilhosas , e também os palácios vistos de longe e o forte, e a cidade. É uma cidade enorme, alegre, cheia de gente.
Chama atenção também o número de pescadores, as pessoas param sobre a ponte Gálata e ficam pescando, é programa legal da cidade, tirei foto. Também ao logo do Bósforo e do canal se vê gente pescando, pode estar o maior frio. Quando fui pegar o ônibus para Capadoccia era uma espécie de parque a beira mar e a noite o povo pescando.
Nesse mesmo dia 26, fiquei parada em frente ao Spice bazar depois do passeio ao Bósforo e fotografei o lugar. Era tanta gente, um mar de gente, homens , mulheres , crianças, velhos, jovens, uma pluralidade interessantíssima.
É interessante também ver que as roupas aqui são muito escuras, homens na maioria vestem preto e mulher também;os casacos são pretos. Ao contrário disso são os orientais, turistas que estão por toda parte. A europa e a Turquia foram invadidas , tem mais coreano, japonês etc do que qualquer coisa. Eles só chegam em bando, todos de casacos coloridíssimos. Vermelho, rosa, azul, todas as cores. Invadem todos os espaços e os europeus os chamam de china.
Pelo que observei, os coreanos são mais comedidos nas compras. Não ficam entrando nos lugares e comprando, como os japoneses tempos atrás. Pelo contrário, eles não compram nada, até bala trazem do seu país. Pelo jeito a Turquia está na moda na corea, eles vem e ficam por aqui, não vão para outro país.
Creio que daqui a uns poucos anos eles invadem o resto, vamos ver se estou certa.
Prova disso é que nos tours por aqui, Istambul e Capadoccia só tem coreano, my god!!! E quando falam, tem rixa com os japoneses. Muito engraçado.
Mas voltemos a americana chata que várias vezes vinha me perguntar algo que eu não entendia e respondia. E ela parava, ía puxar assunto com outros. Em uma hora, descendo o cânion, veio ela me dizer que o Rio de Janeiro era muito caro. Eu disse que sim, realmente é uma cidade cara, que está mais barato viajar pela Europa do que pelo Brasil. Até aí nada, o problema é que esses caras, americanos etc, querem só moleza, exploram os países e querem que sua moeda tal como a língua sejam as maiores e melhores. O americano, e tem pouco por aqui, está F. e ainda tem uma arrogância horrível, ainda parece que são os donos do mundo. Falam como se só eles soubessem das coisas. O Europeu também é assim, mais ainda o italiano, todavia eles vêm perdendo a pose diante das crises. Espero que o brasileiro não se torne um povo arrogante com o giro que a história nos reserva.

Mas mudemos um pouco de assunto.
Por outro lado certas línguas ou linguagens são universais, isso é fantástico . A Capadoccia foi um show, dois dias intensos desde o ônibus até a chegada aqui em Istambul. Mas, capítulo a parte será feito em forma de ficção. Deixe a imaginação se fartar porque relato de viagem deve ser relato, afinal é viagem de conhecimento, meu e de outros, digamos. ,
Então, ficam no Elipseficcional certas partes para imaginação fértil... ou não.
Cheguei a Göreme , pequena cidade da Capadoccia pela manhã, o transfer chegou e me levou. Marmed, o rapaz que veio me pegar,( se não for esse nome não tem problema, nomes são coisas a parte,não dá para decorar em tão pouco tempo, ainda mais em outra língua)era dono ou gerente do star cave, onde fiquei. Amanhecia, me levou para ver os balões , muito lindo, o céu estava azul e os balões coloridos iam subindo enfeitando o céu, eu não voei porque não daria tempo, pensei.
Todavia isso não era para o transfer fazer, em vez de me levar ao hotel, ele foi passear comigo , me dava a mão, me abraçava,dizia que o lugar era romântico, me mostrou as montanhas, tirou foto me dando beijo no rosto, andava de mão dada comigo, eu pensava, será que isso é um costume...
Alá, alá,alá.....salamaleico salem...
Tudo bem que o turco é hospitaleiro , mas já estava meio demais, tanta coisa assim num só dia. O ônibus, a chegada, são “ tantas emoções”. Bem o tempo que fiquei no hotel, falava com Marmed naturalmente e ele ficava me olhando. Era um turco muito bonito, um homem fisicamente interessante. A noite quando cheguei do restaurante estava lá com uma criança bonitinha da idade da Alice, disse que era seu filho, vai saber.
Fato é que ao sair do hostel na noite de 28 Marmed foi me levar a porta do hotel, Marmed muito hospitaleiro e carinhoso. Acho que deve ser do costume muçulmano beijar as pessoas e abraçar muito. Me chamou para jantar com ele e como estava tudo vazio tomamos juntos um chá que ele fez. Eu tinha hora para o ônibus but...O tempo as vezes é feito por nós, jamais é perdido, sempre se ganha, sempre... Perguntou-me se eu voltaria ali outra vez. Quem sabe...
Fui embora, no ponto do ônibus ía sentar-me no terraço de um restaurante ao lado da estação de ônibus para aguardar, sentei, pedi uma sopa de ervilha. Aí dentro do restaurante estava o espanhol e seus filhos, e me chamaram para entrar e comer com eles. Mandou um turco que falava espanhol me chamar, entrei, comi com eles. Olhares a parte, eles também iriam embora naquela hora. Todavia nosso ônibus era diferente. Eles foram no mesmo ônibus que vieram e meu voucher era de outro. Despedi-me deles, mas antes troquei e-mail com o espanhol e disse que talvez os visitasse na Espanha. Fizemos uma foto no restaurante.
Meu ônibus demorou mais de uma hora para chegar, mas veio vazio, fiquei com duas poltronas para mim, tomei um remédio relaxante e dormi toda viagem chegando a Istambul pelas 7 horas da manhã, ainda noite.


27\12\2010, Capadoccia

Aqui estou num restaurante com a cara da Turquia e de todo mundo árabe, coisa de filme. Tudo vermelho, com sofá também vermelho estampado, de tapete. Tudo fofo quase no chão, como aquelas tendas árabes que vê nos filmes e livros, um clima da terra, do oriente médio, das mil e uma noites que sempre me encantaram desde criança.
Dentro do restaurante está bem quente. Tem mesa de coreanos, de ocidentais e eu sozinha sentada na mesa fofa escrevendo, coisa que no Rio na faço, mas que acho aqui muito bom. Observo tudo, tomo um cálice de vinho da Capadoccia e como um yogurte com pão, e escrevo, e olho as coisas e penso. Essa liberdade de curtir as coisas que gosto, de curtir mesmo sozinha. É bom viajar sozinha, não esperava que tantos anos depois eu fosse fazer isso de novo. Todavia quando viajo com a Malu e a Lílian nós rimos muito, caçoamos das coisas, brincamos, em grupo se ri mais, é mais gente para dividir .
Cheguei a Capadoccia hoje pela manhã, foi dos dias mais intrigantes da viagem.
Comprei um pacote na agência do lado do hostel, tudo incluído, hotel, ônibus, almoço, com a mochila pequena.
Eis que estou no ônibus e senta ao meu lado um espanhol que chega com dois filhos adolescentes(14 anos). Chamou minha atenção, não sei porque.talvez fosse atraente...
Ônibus saiu depois de muitas confusões de lugares marcados e não marcados, cheio de chinas, como dizem os europeus.
Ele, o espanhol, ao meu lado num péssimo lugar do ônibus, junto à geladeira no meio do Ônibus onde não dá para esticar as pernas, e as pernas começaram a se confundir, e as pernas e pernas e pernas e braços e pele e frio e casaco e mãos...
Ele me falou sobre ele, seus filhos e uma filha portuguesa, seu trabalho, eu falei do meu e chegamos a Göreme, a cidadezinha pequena onde ficam os hoteis da Capadoccia. Não os vi mais nesse dia, até procurei,não nos cruzamos no tour, mas os vi chegando na vam tour de longe..
No tour, hoje, fui a muitas cavernas. Junto comigo estava Nico, um argentino, 27 anos, simpático, de Córdoba, ficamos amigos, juntos, todo o tour. Olhando ele era super parecido com Paulo Marcio, mas sem baraba. Ele esta viajando pela europa, etc desde março e foi me dizendo o que fazia, muito bom humor,nada parecido com os portenhos. Foi bom porque finalmente tive alguém para tirar fotos minhas nos lugares. Aliás isso é o grande problema de viajar sozinho, as fotos. Não que eu seja narcisista, mas PÔ, quero ter pelo menos uma foto minha no lugar que estive, but, está um terror, os coreanos batem foto muito mal . Você pede para fazerem um foto sua no espaço, no monumento e eles tiram só você e aí tem que depois ficar procurando que monumento é aquele. Alá ... Ou seja, tenho pouquíssimas fotos minhas nos lugares, fazer o que é o preço que se paga.


25\12\2010, Istambul

Nada como viajar a um país muçulmano, não tem natal, hoje 25 tudo funciona..
Andei, andei “até ficar com dó de mim”,nunca andei tanto, vou caminhando e olhando e vendo coisas diversas e iguais e esqueço o tempo, não vejo a hora passar. É legal, meus pés doem mas não estou cansada . Penso em nada, ou melhor, em compras agora. Entrei nas mesquitas e esqueci de pedir, esqueci que mesquita é igreja também, falha terrível para uma viagem “mística” como essa. Tudo bem, tô legal.
Sei que certas coisas não mudam e outras mudam sempre. Estou gostando muito de viajar sozinha de novo, é bom. Nada como os amigos para rirmos juntos, mas se ninguém pode, sozinha é uma opção gostosa estou constatando. Também estar sozinho interfere na disponibilidade para conhecer pessoas, na verdade nunca estou sozinha acabo conhecendo alguém e fazendo amizade e ficando papeando . Ainda bem que não está o frio que pensei aqui em Istambul. Amanhã vou para Capadoccia e lá veremos, mais dois dias e volto para cá e vou para Paris. Sem nada pensar, isso é possível... Gastando sem preocupação o dinheiro suado que ganhei num ano de muito trabalho. Dia 29 é dia de comprar tudo que vou levar aqui da Turquia. Seria melhor comprar aqui, mas como carregar, por mim levava tapetes, almofadas, aguiler, tudo do mundo de Ali Baba e Aladim, mas tem ainda 20 dias para carregar e depois isso pode virar um berimbau... lembro da Débora, que fazer com um berimbau em casa, enfiar em que lugar. Aquelas coisas que compramos em viagem e depois viram um traste dentro de casa , não combinam com nada , até que resolvemos nos desfazer delas, e um grande problema se desfaz. Aliás, como quase tudo na vida, quando desapegamos, let it be, passa, e não são mais problemas, e percebemos o quanto de tempo ficou imobilizado na coisa.
As duas coreanas que andam comigo podiam ser minhas filhas. Tudo bem que eu teria que ter filho cedo, mas podiam. No entanto, nos damos bem, não tem diferença brutal de comportamento, ficaram pasmadas quando eu disse minha idade, meus 30 e uns, rs, disseram que pareço uns 27, adorei, fantástico.
Voltando falar da cidade, essa é encantadora, continuo afirmando,me encanta, hoje descobri a universidade. Acho que eu toparia ficar aqui morando por um semestre como leitora de português e cultura brasileira. Morando aqui nesse bairro,para ir a pé para a universidade. Um período. Traria todos os amigos para ver os mistérios da bela cidade.
Tem muito homem aqui, se vê mulheres na rua mas os homens são maioria. As mulheres cobrem os cabelos mas os lenços são cada vez mais coloridos. Ou seja, chamam mais atenção que os cabelos. Não ter muitas mulheres na rua , no entanto não quer dizer que tem menos mulheres, talvez isso ocorra porque elas ficam dentro de casa. É uma possibilidade. A cultura é machista na maioria dos países islâmicos. Todavia, as mulheres na rua, mesmo algumas com cabelos cobertos usam jeans apertado, coisa igual no Brasil, essa é a massificação e globalização da vestimenta.



Istambul, 24\12\2010


È natal e aqui não tem nada que se pareça com isso, minto, tem muita gente passeando nos pontos turísticos, muita gente viajando, chegando e saindo, mas não aquela loucura de consumo, que na verdade, sejamos justos, mesmo sem natal, deve ter nascido aqui.
O que tem de loja, bazar, tenda, quiosque etc e tal, é uma coisa enorme com tudo que se pode imaginar, é o Saara multiplicado por mil, eu não conheço a 25 de março em São Paulo, mas isso aqui deve ser maior, e algo diferente, é que aqui os vendedores ficam do lado de fora pegando o cliente . Eles vem atrás de você para te capturar para dentro da loja e se você não for eles ficam brabos, querem que você negocie com eles. Se não tem preço, já viu, é para chorar ,negociar, até que ele te convença a comprar.
Fui hoje com as duas coreanas ao Topkapi, Palácio do Sultão, uma coisa tão rica , tantas jóias, parece que o mundo todo presenteava o Sultão. Os aposentos são divinos, não no conceito divino e de luxo ocidental, não, aqui os desenhos, os azulejos os tapetes é que fazem, a riqueza. Tem ouro também, nas jóias e nos mantos, pedras preciosas são muitas, vários diamantes,esmeraldas, safiras, rubis e turquesas. A beleza do local é incrível e tem pontos de onde se vê toda Istambul, e o Bósforo dividindo ásia e europa.
Depois do palácio fomos caminhando, paramos num restaurante comemos kebab, restaurante bem típico, cheio de tapete, confortável, agradável. Tirei fotos.
Aí tomamos o traim elétrico e fomos ao outro lado, saltamos e subimos o morro para Gálata a torre de onde se vê toda a cidade, que é muito grande. Foi construída em 528 pelo rei de Bizâncio. Ao descer fomos por caminhos diversos até a margem do Bósforo onde tem muitos pescadores e também onde se vende peixe fresco. Tirei muitas fotos, mas não estou dando sorte com quem tira fotos minhas, cada qual pior. Será uma viagem onde eu apareço de longe nas fotos, bom exercício de desapego, de perder o narcisismo primitivo do ser.
Sim, porque é interessante, vamos aos lugares e queremos nos ver lá, não basta sentir e estar lá, temos que fotografar o tempo todo, e hoje a tecnologia massifica de tal forma fotografia que também os lugares estão perdendo sua aura.
Eu vi a Mesquita Azul várias vezes antes de entrar nela, de fato é impactante,mas é menos do que eu imaginava. O tamanho das Mesquitas não deixam nada a dever para o vaticano, a igreja de São Pedro, em Roma, ou a Catedral de Aparecida do Norte, todas se impõem pelo tamanho que tem, enormes ,fazendo nós mortais nos sentirmos um átomo diante daquela enormidade. Será que esses arquitetos, se sentiam assim diante de Deus, um mísero grão de área. No entanto, tem também o outro lado, faziam para que o povo se sentisse assim e continuasse a obedecer e talvez temer. Sempre existiu e sempre existirá o cerceamento das vontades da maioria, não tem jeito, sempre alguém tem que guiar.Mas deixamos isso de lado.
Gostei tanto dessa cidade, que moraria aqui um tempo. Aparentemente é muito segura, não tem problemas de medo, de segurança. As pessoas na rua têm comportamento tranquilo. As mulheres são muito bonitas, os homens, alguns sim, outros não. Todavia o mais incrível é que não tem uma uniformidade de feições, é uma misturada enorme. A facilidade de locomoção, a invasão dos países do leste, a invasão de turistas, só estando aqui e vendo para se ter certeza do que é o multiculturalismo.
Aliás é isso que se vive aqui onde estou, no quarto tem, 2 coreanas, eu, e agora mais duas, belgas, mas nem tanto, uma de família turca e outra de marroquina; ou seja o livro da Adriana Lisboa perto disso aqui é nada. Por isso que gosto de albergue, tudo bem que não é a melhor coisa do mundo, sem comentários. Mas se estivesse em hotel jamais conheceria gente como se conhece nos albergues.
Fora isso é a disposição para saber das pessoas. Jantamos eu e as coreanas num restaurante, comemos kafka com salada e o garçom me disse que gostava do Roberto Carlos, eu logo cantei – eu te proponho- e caímos todos na risada. Foi ótimo. Consegui enfim ligar para casa, que bom, escutar todo mundo e Alice.
Os dias passam devagar, mesmo anoitecendo cedo, ou talvez por isso, porque chega uma hora em que não aguento mais andar, aí tenho que parar. E venho para escrever.
Um relato cotidiano,nada sentimental, relato apenas, não sei se é isso que eu queria fazer de verdade quanto ao que escrevo. Sei que as impressões mais fortes essas vêm com o tempo, não de imediato, e temo que ao escrever de imediato perca o tempo de elaboração do que vejo e sinto.
Esse tempo, essa forma é que para mim são importantes. Ao observar cada coisa revejo as minhas, coisas da terra ,das pessoas, por isso o viajante é um ser em busca de si mesmo, e como jamais se encontra vive viajando tentando encontrar fora o que tá dentro. Eu sei disso, não busco nada fora, sei que tudo está sempre dentro, as misérias humanas, as angústias, as questões sem sentido, os casos mal terminados, a falta de sentimentos e as loucuras dos outros que temos que aceitar aprendendo a perder.
Tudo isso faz parte da viagem, não seria justo colocar um casaco e uma mochila e esquecer que dentro tem algo que não vai mudar, se não tiver disposição para tal.
Cada mesquita, cada templo, cada praça ,cada ponto tem uma história, mas a história individual, cada um com a sua dentro daquela história maior é que vai dar o clima do lugar. Vou pensar mais sobre isso.

Istambul, 23\23\2010

Fim de tarde, dia lindo, céu azul, sem frio, pouco frio, uma temperatura pouco mais baixa do que a que estou acostumada no Rio. Deve estar uns 23, sei lá.
Saí às 9 horas , duas coreanas vieram para o meu quarto. Simpáticas, com um inglês como o meu, assim podemos conversar, porque tem a disponibilidade e interesses das partes.
Fiz programas de turista, fui a Mesquita Azul, a Sofia e ao Museu de Arqueologia, imenso, 3 museus juntos. Andei muito, tanto que nem fui ao palácio do sultão, Topokai., que tinha até harém, vou amanhã.
Tudo aqui parece tranqüilo, ainda não me aventurei a pegar um trem qualquer e ver onde vai dar. AS cidade é enorme, aqui do terraço do hotel , lá no alto se vê o Bósforo e grande parte da cidade. E vindo de metro, que é em parte de superfície eu vi a parte nova. A cidade é nova, e os monumentos ficam dentro dessa nova cidade, é diverso de Roma por exemplo,ou Paris. Que tem o centro histórico e o em torno completamente diverso.
Andei tanto que esqueci de comer, comi agora fim de tarde.
Tudo parece barato porque o euro vale 2liras, é essa moeda?
Mas tudo muito interessante. Tem muita identidade com a Grécia, Tudo aqui lembra a Grécia . No museu arqueológico me senti em Atenas e vi o quanto eles estão investindo nesse lado, tudo muito organizado, arrumado mesmo, talvez melhor que não Grécia. Eu senti isso.
Sei que apesar de não ter quem tire foto de mim, estou gostando muito, as pessoas que pedi para tirar a foto , tiraram muito mal, puxa vida, isso é mal. Vou internalizando as coisas e depois escreverei.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

É natal, será mesmo?

Istambul, 24\12\2010


É natal e aqui não tem nada que se pareça com isso, minto, tem muita gente passeando nos pontos turísticos, muita gente viajando, chegando e saindo, mas não aquela loucura de consumo, que na verdade, sejamos justos, mesmo sem natal, deve ter nascido aqui.
O que tem de loja, bazar, tenda, quiosque etc e tal, é uma coisa enorme com tudo que se pode imaginar, é o Saara multiplicado por mil, eu não conheço a 25 de março em São Paulo, mas isso aqui deve ser maior, e algo diferente, é que aqui os vendedores ficam do lado de fora pegando o cliente . Eles vem atrás de você para te capturar para dentro da loja e se você não for eles ficam brabos, querem que você negocie com eles. Se não tem preço, já viu, é para chorar ,negociar, até que ele te convença a comprar.
Fui hoje com as duas coreanas ao Topkapi, Palácio do Sultão, uma coisa tão rica , tantas jóias, parece que o mundo todo presenteava o Sultão. Os aposentos são divinos, não no conceito divino e de luxo ocidental, não, aqui os desenhos, os azulejos os tapetes é que fazem, a riqueza. Tem ouro também, nas jóias e nos mantos, pedras preciosas são muitas, vários diamantes,esmeraldas, safiras, rubis e turquesas. A beleza do local é incrível e tem pontos de onde se vê toda Istambul, e o Bósforo dividindo ásia e europa.
Depois do palácio fomos caminhando, paramos num restaurante comemos kebab, restaurante bem típico, cheio de tapete, confortável, agradável. Tirei fotos.
Aí tomamos o traim elétrico e fomos ao outro lado, saltamos e subimos o morro para Gálata a torre de onde se vê toda a cidade, que é muito grande. Foi construída em 528 pelo rei de Bizâncio. Ao descer fomos por caminhos diversos até a margem do Bósforo onde tem muitos pescadores e também onde se vende peixe fresco. Tirei muitas fotos, mas não estou dando sorte com quem tira fotos minhas, cada qual pior. Será uma viagem onde eu apareço de longe nas fotos, bom exercício de desapego, de perder o narcisismo primitivo do ser.
Sim, porque é interessante, vamos aos lugares e queremos nos ver lá, não basta sentir e estar lá, temos que fotografar o tempo todo, e hoje a tecnologia massifica de tal forma fotografia que também os lugares estão perdendo sua aura.
Eu vi a Mesquita Azul várias vezes antes de entrar nela, de fato é impactante,mas é menos do que eu imaginava. O tamanho das Mesquitas não deixam nada a dever para o vaticano, a igreja de São Pedro, em Roma, ou a Catedral de Aparecida do Norte, todas se impõem pelo tamanho que tem, enormes ,fazendo nós mortais nos sentirmos um átomo diante daquela enormidade. Será que esses arquitetos, se sentiam assim diante de Deus, um mísero grão de área. No entanto, tem também o outro lado, faziam para que o povo se sentisse assim e continuasse a obedecer e talvez temer. Sempre existiu e sempre existirá o cerceamento das vontades da maioria, não tem jeito, sempre alguém tem que guiar.Mas deixamos isso de lado.
Gostei tanto dessa cidade, que moraria aqui um tempo. Aparentemente é muito segura, não tem problemas de medo, de segurança. As pessoas na rua têm comportamento tranquilo. As mulheres são muito bonitas, os homens, alguns sim, outros não. Todavia o mais incrível é que não tem uma uniformidade de feições, é uma misturada enorme. A facilidade de locomoção, a invasão dos países do leste, a invasão de turistas, só estando aqui e vendo para se ter certeza do que é o multiculturalismo.
Aliás é isso que se vive aqui onde estou, no quarto tem, 2 coreanas, eu, e agora mais duas, belgas, mas nem tanto, uma de família turca e outra de marroquina; ou seja o livro da Adriana Lisboa perto disso aqui é nada. Por isso que gosto de albergue, tudo bem que não é a melhor coisa do mundo, sem comentários. Mas se estivesse em hotel jamais conheceria gente como se conhece nos albergues.
Fora isso é a disposição para saber das pessoas. Jantamos eu e as koreanas num restaurante, comemos kafka com salada e o garçom me disse que gostava do Roberto Carlos, eu logo cantei – eu te proponho- e caímos todos na risada. Foi ótimo. Consegui enfim ligar para casa, que bom, escutar todo mundo e Alice.
Os dias passam devagar, mesmo anoitecendo cedo, ou talvez por isso, porque chega uma hora em que não aguento mais andar, aí tenho que parar. E venho para escrever.
Um relato cotidiano,nada sentimental, relato apenas, não sei se é isso que eu queria fazer de verdade quanto ao que escrevo. Sei que as impressões mais fortes essas vêm com o tempo, não de imediato, e temo que ao escrever de imediato perca o tempo de elaboração do que vejo e sinto.
Esse tempo, essa forma é que para mim são importantes. Ao observar cada coisa revejo as minhas, coisas da terra ,das pessoas, por isso o viajante é um ser em busca de si mesmo, e como jamais se encontra vive viajando tentando encontrar fora o que tá dentro. Eu sei disso, não busco nada fora, sei que tudo está sempre dentro, as misérias humanas, as angústias, as questões sem sentido, os casos mal terminados, a falta de sentimentos e as loucuras dos outros que temos que aceitar aprendendo a perder.
Tudo isso faz parte da viagem, não seria justo colocar um casaco e uma mochila e esquecer que dentro tem algo que não vai mudar, se não tiver disposição para tal.
Cada mesquita, cada templo, cada praça ,cada ponto tem uma história, mas a história individual, cada um com a sua dentro daquela história maior é que vai dar o clima do lugar. Vou pensar mais sobre isso.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

chegando ao velho continente

Istambul 22\12\2010
O avião vai descendo, aterriza, a primeira imagem ao olhar pela janela, aquela bola de sol vermelho se pondo, pensei no país do sol poente, bela imagem, dizendo que o resto ainda está por vir. Dia inteiro de viagem, o segundo depois de ontem, os caminhos são longos, a poeira nunca sai dos cabelos, e eu cheguei aqui. Meio medrosa ainda para chegar no lugar.
Fila, longa fila, no aeroporto, horas em pé. Tirei a bota umas duas vezes pelo menos hoje, tanta segurança... e viver é tempestade, sem guarda chuva,já dizia Rahel por Hanna Arendt..
Meu hostel é atrás da Mesquita Azul, quem não veio, deve vir ver, uma rua cheia de restaurantes e hotéis tão linda que da vontade de ficar. E ainda tem milhões de pessoas querendo saber da onde você é, te oferecendo tudo, chamando para um drink. Pensei logo na Malu, quando saí, o que tem de loja de bijouteria por aqui e só andei um quarteirão, ela ficaria louca.
Os turcos são muitos simpáticos e como o brasileiro não tem cara, vim de metro até um ponto e depois peguei um táxi. Furada que fiz, teria transporte direto a 5 euros, e paguei mais que 15. Vivendo e aprendendo. Motorista não fala inglês, tudo bem nem eu, mas alguma coisa em que ser, eu não falo mas converso, vim conversando com uma menina do karzaquistão , ela mora na Inglaterra, e veio a passeio, tem cara de chinês amenizado. Pele branca e olhos puxados.
Passeie e voltei para o hostel ,hoje é descansar para repor as forças de dia sem dormir, no avião, e com os fusos, tem diferença.
Não bati nenhuma foto o que começo a fazer amanhã.



Paris, 22\12\2010


Começando pelas máquinas, sem dúvida esse mini computador foi a aquisição mais maravilhosa dos últimos tempos.Por isso até esqueci da caneta.
Vamos escrevendo direto e conectando com o mundo. Pode ser ruim porque não se desliga nunca, por outro lado é a informação. Pretendo ir escrevendo sempre, relatos e não relatos. Impressões de viagem... é isso que vou fazer.
Ainda está escuro não amanheceu, parece que começa o sol a sair. Nasce tarde e dorme cedo esse sol por aqui no hemisfério norte, essa época do ano. Pode isso parecer que o tempo é curto, ainda mais para quem vive muito o dia como eu.
Não sou noturna, gosto do dia, de produzir de dia, de vibrar com ele na sua esplendorosa luz.
Vou parar sabe-se lá quanto tempo ainda vai durar essa bateria...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

viagem sentimental 2

Vamos de novo...

“Los viajes son una metáfora, una réplica terrenal del único viaje que de verdade importa:el viaje interior. El viajero peregrino se dirige,más allá del último horizonte,hacia uma meta que ya está presente em lo más íntimo de su ser, aunque aún siga oculta a su mirada. Se trata de descobrir esa meta, que equivale a descobrir-se a si mismo; no se trata de conocer al outro.” Javier Moro.

De volta ao velho continente, dessa vez, Constantinopla, modernamente Istambul.

domingo, 30 de agosto de 2009

Altiplano boliviano, Deserto do atacama, Salta e Buenos Aires








Dia 18 lagoa colorado
Acordamos às 4 da manhã para ir ver os geisers, o frio era medonho, colocamos todas as roupas de frio que tínhamos, saímos ainda noite do abrigo que chamei de Antártida, ainda vimos o céu super estrelado. O frio não deixava ninguém se mexer. Sentamos no último banco da vam. Andamos muito até chegarmos no geisers. Quando chegamos, saltamos para ver e tirar fotos, era 5 horas da manhã, frio demais para sair do carro, mas fomos, coloquei a mão no gás para tentar tirar foto, Sebastian tentou duas vezes mas não conseguiu,coloquei as pernas e era de fato quentinho,minha vontade então era de ficar sobre o gás. Malu depois conseguiu fazer uma foto minha .
De lá partimos para as águas termais , o frio nos corroia, ainda o sol não tinha nascido quando chegamos. As duas neozelandesas foram logo tirando a roupa e entrando, nós não conseguimos entrar, me sentia abandonada, que é a sensação que tenho quando sob o frio extremo. Fomos para o comedor e tomamos café. O café era preparado por cada cozinheiro do grupo fora do comedor, no meio do frio. O motorista e a cozinheira percorrem o salar com turistas cada 3 dias, dormindo fora pelo menos 2 dias. Depois do café fomos de novo para a piscina termal que estava já lotada, pois todos os carros haviam chegado, o sol já apontava, então nos animamos, tiramos a roupa e entramos, eu e Malu, a Lilia não teve coragem.
Que delícia!!!, aquele frio rachante do lado de fora e nós dentro da piscina , água a 35 graus, maravilhosa. Quando tirei a roupa, o biquíni estava por baixo, pois dormimos com ele. Tirei muito rápido a roupa e mergulhei, não tinha vestiário. Ao sair sentimos menos frio, vestimos a roupa nos trocando ali mesmo, minha mão queimada de limão ficou boa naquele momento, o enxofre da água produziu uma reação química que descascou todo o queimado ficando uma pele nova e límpida.
Saímos de novo, entretanto, antes disso, fizemos fotos lindas. Era de uma beleza ímpar aquele lugar, o dia amanhecia e o azul intenso se tornava cada vez mais forte, quando saímos em direção ao Chile. A fronteira não era muito longe. Ficaríamos na fronteira com o Chile para irmos a São Pedro do Atacama, na fronteira outro carro nos buscaria . No caminho a paisagem era deslumbrante, desertos com a cordilheira ao fundo, os vários vulcões, um deserto com areia marrom com pedras soltas lembravam o quadro do Salvador Dali, as montanhas coloridas, paisagens jamais imaginadas por nós, uma natureza completamente inóspita sem nunca ter sido mexida . Sem vegetação, ou apenas com uma vegetação rasteira. Não sei do que as vicunhas se alimentam, pois tinham muitas nesses lugares, acho que devem ser selvagens, pois nada, nem ninguém existe por perto . Nosso tour está quase acabando ,ao nos deixar no posto de fronteira a expedição volta ao Uyuni em um dia, com parada apenas para comer.
Nossa expedição finaliza na fronteira, saímos das águas termais e vamos a lagoa verde, uma cor linda, mas impossível de entrar para qualquer ser, porque mistura metais pesados, ela é verde, linda, mas sem qualquer tipo de vida.
Nesse lugar faz muito frio, o tempo mudou completamente, o vento é muito forte e corta nossa face, temos que colocar toda roupa que temos,.tiramos fotos e corremos para o carro, eu tive que concluir nossa expedição fazendo mais um totem, fiz vários durante a viagem, simboliza a minha chegada àquele espaço, encontramos muitos pelo caminho e eu incorporei o ato. Fiz na lagoa verde um bem grande, várias pedrinhas umas sobre as outras.
Entramos no carro e rumamos para o posto da aduana. Lá uma fila enorme nos aguardava. Entramos no posto porque o frio era demais.Começamos a ser atendidos e logo vem a cobrança de 20 bolivianos para sair do país. Pergunto o motivo da taxa e dizem os guardas que é determinação do governo, fazer o que? Pagamos a taxa e nos encaminhamos para o carro que nos levará . Demora um tempão até que entremos no carro, um micro ônibus e vamos. A temperatura começa a mudar. As estradas agora são ótimas . Chegamos ao posto da aduana chilena, lemos as determinações de entrada, sem produtos de origem hortifrute, etc e tal. Entregamos os papeis e vamos para a fiscalização .Uma saleta ao lado do guichê, o posto muito cheio pois é domingo. Entra um cara e pede para abrirmos a bolsa, ele é brasileiro então fica tudo bem, nem vê nosso amendoim, e o monte de coisas da Lilia com sua fala dispersa. Mas não temos nada de proibido.
Desde cedo já estávamos no Chile, é um território em que os três países se confrontam, Chile, Bolívia e Argentina.O Chile tem uma paisagem muito interessante, sua faixa de terra é comprida e não é larga, embora a parte em que passamos e que passaremos será a mais larga. Nesse espaço, por muitas vezes desértico, encontramos vários oásis em que se plantam sobretudo frutas. E essas frutas são muito saborosas e suculentas.


Chile
A população chilena é também misturada. Tem gente com face de índio e morena e gente com cara de gente branca, influência espanhola. Muitos peruanos e bolivianos vem ganhar a vida por aqui. Chegamos do passeio do Vale da lua e paramos logo na padaria em frente ao hostal. Lá tinha umas empanadas de forno que comemos. De carne e de queijo com tomate e tomamos suco de pêssego muito gostoso. Um cara que entrou na padaria no presenteou com dois merengues, acho que gostou da gente, foi nossa sobremesa . Depois de comer fomos para ao hostal tomar banho e arrumar as malas. Depois de toda aquela poeira e areia do Vale da lua, tudo que queria era muita água quente, pois a noite do deserto é muito fria.
Fui tomar um banho quente e tirar toda terra que estava na pele, pé e cabelos, nós fizemos o passeio da duna e o por do sol sem sapatos. Quando chegamos a São Pedro aposentei tênis e andei o tempo todo de havaianas, mas aqui não tem calçamento e , lógico, fica tudo sujo.
As meninas também fizeram o mesmo.São Pedro é uma cidade muito cara, quando chegamos fomos ver como sairíamos daqui. Aí é que foi nossa furada. Sabíamos que só tinha ônibus 3 vezes na semana para Salta(Argentina), mas não sabíamos que não tinha vaga nos ônibus e que eles não colocam ônibus extras. Então para sairmos tivemos que a pagar mais do que o triplo da passagem de ônibus. O ônibus custa 28 mil pesos e o transporte alternativo custa 100 dolares, ou seja, pagamos, porque se não, não poderíamos chegar a Salta. A viagem é longa,demora, mas existe uma combinação entre os donos de agência e os ônibus para beneficiar aqueles, só no nosso carro o dono lucra 1400 dólares, é muito dinheiro.
O vilarejo de São Pedro cresce e vive em torno do turismo,é muito caro até para quem vive aqui e também para os turistas. Seu atrativo é que é a porta para o deserto do atacama, lagos , lagoa da cordilheira, isso faz com que a cidade, ou pueblito, se tornasse um pólo do turismo local. Não deu tempo de vermos a periferia do lugar,mas certamente existe. As casas são baixinhas, ou melhor tem um tipo de construção em meia água, mas o pé direito é muito alto. Não há sobrados e muitos telhados são de palha ou de barro,uma massa de argila que deve refrescar por dentro, como as casas gregas, só que aqui não são caiadas. Nunca chove por aqui, mas ontem pegamos uma trovoada muito forte com chuva que durou, no máximo 10 minutos.
As ruas são estreitas e barrentas, como disse, tudo gira em torno do turismo, lojinhas com artigos artesanais, prata etc, aluguel de bicicletas é uma boa opção para passear. Ou seja, como Búzios, só que no deserto, a gente que nós conhecemos nos tratou muito bem, mas os preços arrombaram nossas finanças de fim de viagem, sem comprar nada.
Gastamos mais em dois dias em São Pedro do que em 10 na Bolívia.

20/1 Caminho para Salta.

Já são 18 dias de viagem. Foram tantas coisas que nem sei se lembrarei de tudo para depois contar. Não sou muito de ficar falando das viagens que faço, nem mesmo gosto de mostrar as fotos e ficar falando o que é. Acho que isso é algo pessoal. Hoje com a internet cada um vê o que quer, a hora que quer. Se tiver curiosidade a pessoa entra e vê. Mas eu gosto de ter as fotos e manuseá-las de vez em quando. Uma materialização das fotos. Para não ficar só no computador, onde jamais abriremos. As últimas viagens que fiz, tenho tudo no computador e nunca mais vi nada, nem mesmo o interesse em montar um álbum me ocorreu. Parece que apagou, fica apenas na memória, se ficar, porque com o tempo esquecemos detalhes. Acho que a forma atual não é a melhor,a memória é seletiva demais, guarda muito pouco, ainda mais quando é algo tão rápido e intenso.
Gosto de fotografar, e não precisa ser comigo na foto, porque aí a foto nunca fica do jeito que quero. Gerencio bem as fotos dos outros que tiro, ficam boas, e com fundo bem legal. Não tenho também as preocupações que as meninas tem de aparecer na melhor forma, de roupa diversa com batom e perfume.

Salta 22/1.
Chegamos à Salta dia 20 à noite.Nos deixaram na perional, chamada rua de pedestres no centro da cidade. Era noite e não tínhamos hotel, apenas alguns nomes de albergues. Entramos primeiro no mais perto, que era o hostelling internacional,não tinha quarto para três, somente coletivo e caro 64 pesos por pessoa. Não ficamos, resolvemos tomar um taxi e fomos em busca do Los cardones, que haviam indicado para nós. Conseguimos um motorista de taxi que nos levou, eu apenas tinha 12 pesos que havia apanhado com minha mãe antes de sair, e aquela hora não tinha casa de câmbio aberta.
O taxista nos levou ao Los cardones. Entrei correndo para ver se tinha vaga. E nada. O rapaz que estava na recepção então vendo minha desilusão e cansaço resolveu ajudar.Ligou para um outro hotel e nos conseguiu uma vaga, todavia o quarto era coletivo, aquela hora era o melhor que conseguimos. A contra gosto, como não tínhamos para onde correr aceitamos, para no dia seguinte voltarmos ao Los Cardones, onde tínhamos reservado para o dia seguinte.
Entramos de novo no taxi que estava esperando e ele nos levou ao hostal Prisamata. Ao chegarmos um rapaz –Nani_ meio Hare krisna nos recebeu com beijos na porta .
O hostal, um antigo casarão lindo com redes e quartos enormes com beliches e um pé direito altíssimo.Uma cozinha coletiva e ao fundo uma outra sala com churrasqueira. Nani nos levou para conhecer tudo. No fundo do hostal, todo povo estava reunido comendo churrasco com cerveja e fumando maconha. Demos alô para a galera que em média tinha uns 21 anos, jogamos as coisas e fomos procurar um restaurante. Nani nos ofereceu a comida Hare Krisna de uma moça que estava lá,mas nós, que não tínhamos almoçado, somente tínhamos comido empanadas no posto de fronteira da Argentina com Chile não aceitamos. Saímos em busca de um restaurante, achamos um muito bom com gente local. Parecia uma galera classe média para alta, com preços bons.
Aliás os preços em Salta são ótimos para tudo, comida, hotel, compras. Se dividirmos o real pelo peso da vontade de comprar tudo e é muito mais barato que Buenos Aires. Nossa última chance de comprar artesanatos andinos e coisinhas para os familiares,já que em Buenos Aires tudo é muito mais caro e não tem artesanatos.
Têxteis e estátuas, tenho vontade de trazer, mas seguro a onda, pois depois fica tudo entulhado sem lugar para colocar em casa.
Não quero ter uma casa peruana ou só decorada com os Andes. Gosto de objetos, das minhas coisinhas que compro onde vou, como minha coleção de caixinhas. Mas aqui elas são caras e não muito diferentes.
Tem também as mantas que comprei uma de cada cor, hoje fechei com a rosa que vou levar para fazer uma bolsa. Na verdade, devia ter comprado tudo na Bolívia mas pelo peso desisti de transportar.
Aqui em Salta é tudo muito bonitinho. Tem um estilo misturado. A cidade tem influências espanholas,é lógico, coisas que parecem com o sul da Espanha , a arquitetura meio árabe , entretanto dizem que teve influência italiana e isso parece que se vê em certos monumentos com colunas Greco-latinas. A praça central é linda com uma igreja cor de rosa, muito grande e bonita, uma catedral. Parece as praças espanholas e também italianas como a de Siena ,com o em torno cheio de prédios,ou seja rodeada de sobrados que embaixo são calçadas sob arcos. Entretanto, no meio da praça tem muitas árvores , um coreto e estátuas. A cidade é muito arborizada. Do cerro que tem um teleférico vemos toda a extensão da cidade e de fato tem árvores em quase todas as ruas e tem praças verdes por todos os lados.
As ruas são largas como Buenos Aires.Não sei de quando é sua fundação mas tudo leva a crer que seja do século XIX. Os sobrados antigos são bem o estilo desse século com ferro e vidros e vitrais, muito diferentes de Cusco ou outras cidades que visitamos. A cidade agradou muito,moraríamos aqui. Ficamos ontem e hoje desvendando seus mistérios citadinos,descobrindo suas ruas e lugares que não ficam a mostra para qualquer um ver. Nosso hotel é muito perto do centro e não tomamos ônibus ou taxi nenhuma vez. Hoje fomos pela segunda vez ao Parque São Martim onde tem o teleférico e as bancarelas pelo caminho só que hoje exploramos um lado mais pobre da cidade. As caras eram diversas e o comércio também .No caminho almoçamos num lugar popular.Pelos rostos já se via que a população mais pobre tinha cara de índio e boliviano, é a mistura, bem diversa da população que estava ontem na praça 9 de julho, quando sentamos num café-restaurante e tomamos vinho e comemos pizza.
O lugar estava bombando,muita gente curtindo o verão na praça ,muitos homens bonitos,mulheres não reparei. De fato los hermanos são belos. Gente mais nova que as do restaurante do dia que chegamos. Encontramos lá a menina que veio conosco no traslado do Atacama , e ela veio falar conosco e apresentar seus amigos, hermanos. A noite então foi longa, com muitas estrelas para todo mundo.
Tomamos uma garrafa de vinho Malbec da Bodega Trapiche, muito gostoso, fiz as meninas beberem comigo, porque durante toda viagem só eu bebia e isso é chato, certas horas bebo sozinha, mas dessa vez as obriguei. Tomaram e foi ótimo . Lilia diz que ficou de porre e fala que não beberá mais, porque perde o senso e ri a toa. A Malu também bebeu bem. A noite estava muito agradável, esfriou bastante mas eu tinha levado casaco ao contrário da meninas. Odeio sentir frio porque me sinto abandonada, então sempre tenho um casaquinho em mãos ou na minha bolsinha. No fim da noite estávamos rindo a toa depois de deixarmos os ticos. Entramos numa confeitaria na Avenida Mitre e a moça nada entendeu, ríamos como crianças, viemos para o hostal e logo estávamos dormindo.

22/1 Salta
Caramba!!! hoje já é dia 22. Abri meu email agora e vi aviso de 3 reuniões que não poderei ir , espero que isso não me prejudique. As reuniões são no cinema. Até agora parece a única turma certa que tenho.Isso me preocupa ,mas a Estácio faz sempre isso, uma total indefinição .A outra faculdade já me mandou email com as turmas de direito em Nilópolis. E a secretária ainda de outra faculdade, que não paga, me pergunta sobre o que farei . Digo a ela que não ficarei. Impossível ficar onde não nos pagam. Puta merda, saiu agora o salário de setembro. Trabalhei 5 meses de graça, o salário uma merda e ainda assim não pagam, é uma violação estúpida aos direitos do trabalhador. O básico, o pré-requisito de um contrato de trabalho é o pagamento dos salários, do pro labore e esses caras nem isso fazem. E a justiça, o Estado, nada fazem. Não sei como agirei.Preciso pensar sobre o que farei. Quero fazer obra no meu apartamento, preciso disso para viver e moderniza-lo , assim ficará do jeito que quero.
Tô entrando em outros assuntos que não são de viagem, mas como viver sem pensar no resto do ano, na sobrevivência . Meu bairro é o que eu escolhi e do qual não pretendo sair, a não ser que seja para uma casa de preferência ali mesmo. Cada dia tenho mais convicção de que era o lugar que me esperava, Santa Teresa . Estou no hotel agora, escrevendo. Aqui é muito gostoso, tem gente de todo o mundo, franceses, australianos, argentinos, americanos. Malu está na internet e Lilia dormindo, acho que ela tá muito cansada . Às vezes fico preocupada, ela diz que não dorme quando temos que acordar cedo e fica cochilando, ou mesmo dormindo na condução, dorme como criança no ônibus . Acho que o ritmo está meio pesado para ela, mas ela não dá o braço a torcer. Muito forte. Quando na altitude ela dizia que seu nariz estava muito mal, mas sempre que eu oferecia remédio não aceitava com medo e nem é um remédio forte. Mas deixa preocupadas nos duas outras.Certas vezes reclama muito de tudo. Eu faço que não escuto, como devem fazer comigo, mas é chato. O que acontece é que ela acaba atraindo para si as piores coisas. O pior lugar, o pior prato de comida, o troco errado, o furto.
Não sei se sempre foi assim, não me lembro mas deve ser algo passageiro, espero, porque torna a pessoa chata. Agora tem coisas que são muito engraçadas . A teimosia é uma delas e a repetição de histórias. Isso todas minhas amigas leoninas fazem. Elas esquecem que contam as histórias e contam sempre de novo. Lilia, Malu, Gisele e também gostam de fazer poses nas fotos e fazem as mesmas ,é incrível e engraçado de ver. Nessas viagens quando ficamos 24 horas direto com as pessoas e vivemos várias situações diferentes, e as vezes no limite do bom senso e do medo é que percebemos bem como são as pessoas. Minhas amigas, posso dizer que são muito gente boa. Apesar do medo que sentiram não colocaram tudo a perder.Não brigamos ou discutimos uma vez se quer, até agora 20 dias de viagem. Tudo que fizemos foi de comum acordo e também na base da solidariedade e amizade que é muito bom. Certamente elas também terão reclamações de mim, meu jeito de resolver as coisas com simplicidade e meio rápido para me livrar logo do que me perturba. Mas, parece que dessa vez, estou um pouco mais paciente. Deixo que cada um resolva o que é seu e não fico falando ou resolvendo as coisas pelos outros. Menos monopolizadora e menos autoritária
Cada um toma sua decisão, por isso estou menos cansada que da outra vez que viajamos em grupo.
Acho que nessa viagem o fato de querer escrever tem me feito mais introspectiva,silenciosa. Não é que eu não fale. Falo e muito, mas minhas falas e observações são mais comedidas.
Lembro de coisas de casa, do Brasil, do meu rolo pessoal com o cara. Que coisa mais doída isso. Que maluquice, certas manias e determinações que as pessoas se impõe que são sem explicações, ou melhor, que devem se explicar por algum trauma ou medo indevido, posto no lugar errado. Até mesmo a própria pessoa já deve ter percebido isso. Mas sei de antemão, o que é uma pessoa de quem nada se deve esperar em termos emocionais, é isso, me parece estranho,inexplicável demais.
É sem compreensão pensar que alguém tem intimidade com uma pessoa e fica o tempo todo se controlando para não ter. Deve ser horrível viver meio torturado e limitado por suas próprias convicções. Coisa de louco mesmo . Eu por mim sei que nada disso adianta. O que foi, ou é, ou será, não me compete. O momento para mim é o que é bom .Não que o resto não me importe, ou não me seja interessante. Importa-me e interessa-me,mas sei que o que sinto não vai mudar.
Como sempre, variam os personagens secundários da história. Eu já passei a barreira do medo, já sei que estou, e que não sei o que fazer com isso, apenas viver, mas nada. E como diz o Dalai Lama se não temos como resolver as coisas,se elas não dependem de nós, devemos deixa-las de lado, que a vida se encarrega, por si só de resolver. No vulgo, se o estupro é inevitável, relaxa e goza. Isso pode ser impactante mas é assim mesmo . Deixa que a vida se encarrega de resolver as suas próprias mazelas e as coisas que ela nos cria, principalmente quando estamos na TPM, quando tudo parece ser muito maior do que realmente é .
Nesses dias de TPM, ter atitudes desprendidas parece impossível , temos ciúmes do objeto de prazer.Mas é grande o esforço para pensar e sentir assim. E lá se vai quase um ano. Que coisa!!! Mas esse parêntese da narrativa de viagem deve acabar, afinal tem muita coisa e gente interessante por aqui, para se ver e contar.
Estava aqui sentada e um neozelandês se aproximou, fala português e começamos a conversar. Ele esta viajando há cinco meses e já passou pelo Rio. Disse que foi à Lapa e também foi a um pancadão, ou seja, baile funk. Digo que nunca fui. Também aqui uns franceses muito simpáticos, que estão sempre aqui, com seu lap top escrevendo. Eu me sacaneio com eles dizendo que estou na idade da pedra lascada com meu diário manual. Tem um com blue eyes que fica me filmando, já peguei ele olhando várias vezes e toda vez que batemos de frente ele fala assim meio tímido, sei lá. Outro Francês olha e é simpático, chegou agora com uma baguete.
Mas tem um outro carinha barbudinho, muito bonitinho,com olhos redondos parece um argentino, desde ontem que estamos numa azaração gostosa prá caramba. Um olhar assim interessante e penetrante. Hoje foi assim na manhã e depois nos encontramos no parque San Martim . O olhar foi o mesmo, super gostoso, a conversa boa e tudo mais assim também tão..., tão bom...passemos adiante.
O legal de albergue, ou hostel, é isso. Sempre rola esse contato que em hotel jamais rola , é quase impossível . Aqui ficamos sentados num lugar comum, a tarde, descansando e acabamos conhecendo uma galera. A disponibilidade para o contato aqui é enorme e não importa a idade que temos. Certas horas me sinto meio velha, o que é uma besteira, sei disso. Lembro-me quando fui a Europa de mochileira , sozinha, pela primeira vez. E escrevi um diário naqueles 42 dias que lá fiquei. Conheci nessa ocasião tanta gente, tive vontade de ficar,mas voltei. Diferente de muitos que ficaram, o que mais pesou na minha decisão foi a falta que senti de casa, apesar da enorme vontade de descobrir o mundo que eu tinha.
A saudade naquele momento foi mais forte que tudo. O tipo de relação que eu tinha em casa foi fundamental para que não tivesse vontade de ficar lá e quisesse voltar e construir aqui minha vida. E foi o que fiz.
Se como outros, eu tivesse minha relação conturbada, se minha família fosse tumultuada e chata eu certamente teria ficado naquela ocasião . Eu não tinha do que fugir, nem mesmo do meu namorado da época . Hoje tantos anos depois vejo isso com maior clareza. Minhas descobertas estavam por aqui mesmo. Ao contrário de 2003, quando fui para Itália, quando eu fugia de uma dor intensa, da perda, do rompimento da loucura que foi o ano de 2002. Fugia dos meus próprios sentimentos e achava que lá longe eu conseguiria me livrar deles, fugia então de mim mesma. E nessa fuga, descobri depois que nada adiantava fugir que aquilo tudo estava tão entranhado, que não passaria mesmo há um oceano de distância e não passou mesmo.
Quando voltei fiquei deprimida, ou melhor,não imediatamente mas um ano depois. Depois da tese defendida e quando sobrou espaço para a pressão sair. Despressionar, nessa hora o bicho pegou, sem que eu mesma me desse conta. O mundo cinza, horroroso. Hoje, aqui, vejo o mundo com a cor do pano que as incas usam para carregar seus filhos e tudo mais que carregam.
Hoje comprei esse pano, o mais característico de todos, um que é rosa choque com coloridos múltiplos entranhados. E esse rosa que antes eu não quis comprar, hoje me convenceu pois é o mais típico que existe, pois é o que elas usam.
Mas, no entanto, sei que em certas horas a cor cinza, não sei bem porque, sobrevêm . Talvez todos sejam assim, eu é que observei ou observo mal as pessoas e sei que assim faço .Uma visão meio narcísica, presa no meu mundo colorido de proteção e colo.
Uma visão, que com razão, pode parecer infantil e cor de rosa mesmo e às vezes também sem maldade ou inocente. Mas porque deve ser diferente? Não é mal achar que todos são bons até que prove o contrário. E são . Não é a teoria do Rousseau, se bem me lembro, homem bom, mal, sei lá.
Ali do outro lado o Francês fuma e me olha outra vez, dá um risinho,será que ele escreve sobre seu olhar, como eu escrevo sobre o meu. Tem uma cumplicidade de escritas rolando por aqui. Na camisa dele tem escrito,Mão Negra.
Minha caneta esta acabando, olho minha bic e seu canudo de dentro está branco. Preciso sair para comprar uma nova caneta. A outra que eu trouxe sumiu, assim como o canivete que não sei onde meti. Vou procurar. Lembro meus amigos. Ao meu lado um grupo de meninas argentinas mostram as compras que fizeram e tomam chimarrão . Parei de tomar chá de coca , aqui não precisa mais.As mulheres argentinas viajam em bandos são sempre cinco, seis,oito. Tocam o maior rebu no espaço, ontem quando Lilia queria entrar no banheiro, tarde da noite, elas estavam fazendo chapinhas no cabelo, tem que ter muito saco para esses rituais de beleza, ainda mais esses de cabelo, que levam horas para ficar prontos.


Salta 23/1

Sentadas na praça descansamos o almoço .Uma parrilhada um monte de carne vermelha num grill e ainda pedimos legumes e verduras. Comemos em um restaurante perto da praça 9 de julho. No restaurante tinha uma menininha filha da dona ou da garçonete, não sei. Bonitinha, que ficou o tempo todo nos falando, que chegava a ser chatinha. Tinha 3 anos de idade, mas era tão esperta e falante que parecia ter mais.
Hoje cedo saímos do hotel para rua já com tudo pronto.Fomos para a rua a fim de ver as últimas coisas e conhecer partes da cidade que não fomos. Agora na praça repassamos os últimos tempos nesse lugar agradável. Moraria aqui. Uma pequena grande cidade, capital da província do norte. Só não tem muitas livrarias ,mas hoje tudo se compra pela internet.
Uma cidade não tão pequena quanto Mangaratiba e não tão grande quanto o Rio, ou uma cidade média no Brasil.
É hora da cesta, as lojas fecham às 13 e reabrem só depois da 16 h, seguindo o modelo espanhol e italiano.
Estou com o maior sono aqui nesse banco da praça. O tempo parece que está mudando. Tudo está nublado, daqui a pouco, 21h, entraremos no ônibus para Buenos Aires serão 22 horas de viagem. Acabamos optando pelo ônibus não só pelo fato de sair mais barato,mas porque se fossemos de avião deveriamos ir ontem e não hoje. Mesmo hoje chegando amanhã a tarde eu tive que antecipar nossas reservas que eu achava que eram para amanhã e não eram .
Acho que já estamos cansadas,algumas mais que outras.já me preocupo com o trabalho. Ontem recebi uma proposta de trabalho de coordenação ,mas não aceitei, rejeitei,não daria tempo para dar aulas de direito em outra universidade e ainda coordenar o curso de letras em 2 campus. Mas temo que isso possa ter sido precipitado da minha parte. Eu e minha impulsividade.Nunca tive ambição por esse tipo de cargo e nem quero, me parece muita apurrinhação e estresse para um poder medíocre e sem retorno financeiro equivalente. Acho que me chatearia e não teria tempo para mais nada.
Fico com receio porque ,de fato, não sei o que terei de trabalho e isso é preocupante,mas de qualquer maneira não dá para mim,é complicado.
Nada sei o que se passa em meu país,nem aqui, nem em lugar nenhum,consegui me desligar mesmo e nem sequer abrir um jornal esse tempo todo,nem televisão , apenas de relance. Não tive preocupações , desliguei como dificilmente faço.Nem mesmo com grana me importei muito ,ou com as coisas, tive apenas o cuidado de registrar as coisas,mas também creio que falhei nesse ponto.
Por exemplo, lembro agora que não falei do Humberto. Um louco argentino que estava em São Pedro e veio para Salta. Ele chegou perto de mim e começou a falar milhões de coisas que eu pouco entendia.Falava do Fred Mercury,do presidente de futebol, tudo ao mesmo tempo. De todo mundo que ele se aproximava era o mesmo, falava até a pessoas não agüentarem mais. Quando no posto da fronteira houve a confusão com os meninos brasileiros do outro carro ele ficou que nem peru tonto, falando da sua mala primícia . Era um senhor com uns cinqüenta e poucos anos, boa aparência mas muito desorientado, o coitado.
O que aconteceu no posto de fronteira foi que os meninos, como nós, não tinham como sair de São Pedro e alugaram então uma van só para eles, que os levaria até Salta, quando estavam no meio do caminho, já passados do posto da aduana Argentina a van volta para o mesmo posto para pegar outras pessoas,atrasando a viagem deles em duas horas, eles então estavam irados demais, brigando quase batendo nos motoristas, que de fato eram os culpados da história. E diziam impropérios e fotografavam, etc e tal. De fato aquela cidadezinha é uma arapuca para o turista sem carro. Ficamos sujeitos às condições deles e tudo de uma forma impositiva, sem negociação . Aliás a negociação foi um dos grandes atrativos dessa convivência com os latinos americanos, no Peru e na Bolívia tudo pode ser negociado, existe um preço fixo que pode ser abaixado sempre, no Peru mais ainda que na Bolívia, eles olham para sua cara e vêem se você pode pagar baseado em um senso deles arbitrário, a Lilia com cara de madame, como disseram as brasilienses, acaba pagando mais, no entanto, ela desenvolveu uma técnica de contar histórias principalmente a de que foi assaltada na rua em Cusco e isso dá um enorme resultado, outra técnica é a de comprarmos tudo junto, assim sempre conseguimos um desconto, mas de qualquer maneira, o real está muito favorável nas conversões .
Aqui ao meu lado nesse banco da praça a Lilia dorme, acho que está muito cansada, o tranco foi demais para ela, mas ela é guerreira,não fala. E se não fala nada, às vezes nós impomos um ritmo mais violento no dia. Malu exercita sua matemática com a minha calculadora vermelha, que já viajou o mundo todo, esse hábito virou nosso passatempo. Contar, converter, rir das contas, errar e depois voltar atrás nos cálculos. Ela fez a média de toda a viagem, eu também anotei, mas tem coisa que esqueci .
Quando chegamos à Argentina parei de escrever tudo. Todos os gastos que estamos fazendo, eu queria anotar para depois passar para o povo da comunidade do Orkut, que tanto me ajudou para fazer os mínimos planejamentos de viagem, mas eu peguei o diário para escrever o que aconteceu, e os gastos ficaram um pouco de lado.
A proximidade da volta já me perturba, com todas as obrigações, as coisas que tenho para organizar. O bebê vai chegar , as preocupações no sentido profissional e pessoal. Talvez eu quisesse passar o resto da vida, assim lendo, escrevendo, viajando. Ou apenas dando aula uma ou duas vezes na semana, e pesquisando o resto do tempo, às vezes a gente se sente massacrado por esse mercado de trabalho que só nos estorque.
Me dá saudade da minha casa, do meu sofá branco, da minha caminha com meu povo. Comer a comida da minha mãe e comer o chocolate de sobremesa.






24/1 Salta – Buenos Aires
Pegamos ontem a noite o ônibus na rodoviária de Salta para irmos a Buenos Aires, ônibus bom , rodoviária também muito boa e limpa, melhor que a do Rio .Embarcamos atrasados e saímos com atraso. Agora são 7:30 da manhã e já paramos para o café da manhã. O ônibus não tá cheio o que possibilitou a Malu e a mim sentarmos cada um em duas poltronas.
Dormimos mais ou menos, já estava frio, agora quando paramos para o dejejum o cara do bar entrega um papelzinho com anotação do café e um pãozinho tipo biscoito ou meia lua. A parada é ruim mas nada terrível se comparada às paradas bolivianas e peruanas que são péssimas, sendo os banheiros a pior coisa que já vi na vida. Aliás, ao vivenciar isso aqui, fico imaginando o que seja a África e a Índia em temos de higiene, ainda quero ir a esses lugares mas necessitam que eu faça um planejamento mais elaborado e que o tempo seja maior. Talvez com a Hérida morando em Singapura isso possa ser mais fácil, não sei veremos.
Mesmo o Brasil em alguns pontos na ganha desses lugares. Tenho falado tanto em banheiros nesse diário que vão pensar que tenho mania de limpeza, TOC, ou coisa parecida. Mas não é isso, somente pelo fato de fazer muito xixi é que minha ida a casinha se torna recorrente, e isso faz com que eu fique incomodada com lugares sem o mínimo conforto e limpeza. É isso, não falarei mais, exceto do banheiro do nosso próximo hotel.
O ônibus pára. e um casal vai saltar, estamos perto de Santiago Del Estero,não sei se antes ou depois de Córdoba , uma cidade grande da Argentina que fica bem no meio do país . Olhando meu pequeno mapa fica antes de Córdoba . Hoje será o dia inteiro dentro do ônibus, a paisagem do lado de fora é bonita.Nesse trecho não vemos morros ou planaltos é uma imensa planície de perder os olhos, tudo verde, com pastos e plantações não sei de que. Parecem os pampas ou a região de criação de gado no Brasil. A pista , rodovia , não é dupla,e tem muitos pedágios .Lembro-me das paisagens altiplânicas do salar, e o quanto disso ficará na minha memória, de fato a coisa mais impressionante, a imagem do deserto, mas não aquela imagem do Saara, que quase todos temos na mente. De um mundo de areia branquinho e quentinha do sol, sem nada apenas com seres vivos que se escondem sob a areia, seres que vejo sempre no Animal planet , cobras, tarântulas, escorpiões lutando pela sobrevivência, nesse lugar quase sem água.
Mas esse deserto altiplânico que não é branquinho tem variações , paisagens só de paredões de pedra cor de chumbo, meio avermelhada, ou será cobre, com uma montanha no meio onde o cume está cheio de neve. Os tufos de capim, nesses lugares que passamos, muitas vezes estão cobertos pela neve, e esses é que devem servir de alimentos aos seres escondidos que nos espreitam nesse deserto perto do céu.
Pegamos neve em vários momentos, jamais caindo em flocos grandes . Apenas flocos pequenos no alto quando atravessávamos o deserto rumo a árvore de pedra, alto da cordilheira,muito alto mesmo.
Aliás se tem algo que varia muito, isso é a temperatura, às vezes muito quente de tirar todos os casacos e de repente frio de colocar tudo que é roupa.
Chegamos a 4900 de altitude isso é muito, não sei como essas pessoas conseguem viver aqui desse jeito, só mesmo mascando a folha de coca que só aprendemos a mascar aqui, não nos tinham falado que precisava tirar o caule da planta, então eu mascava e era horrível, aquela coisa amarga, que me fazia cuspir imediatamente, por isso preferi o chá que não tinha gosto de nada, mas não tomava a noite porque como estimulante não deixava dormir direito.
Recordo-me quando o Mario nosso chofer pediu que descêssemos do carro e subíssemos um morro naquela altitude, tínhamos tomado o sorophill mas mesmo assim o ritmo acelerado que tinha colocado no início da caminhada deu lugar a uma sensação de falta de ar e cansaço indescritível. Senti meu coração pular o diafragma fazer um esforço violento para puxar o ar. Teve um momento que tive medo de desmaiar,um certo desfalecimento,a pressão parecia cair, já imaginava a confusão da situação , o mesmo medo que sinto logo depois de um dia de desmaio, na verdade, um pânico de cair a qualquer momento e ficar ali mesmo desfalecida, como no dia que estava com Querido em casa e desmaiei no banheiro. Ufa! a montanha finalmente terminou e o carro nos esperava.
As paisagens que passávamos ao longo do percurso por terra, de fato, eram fora do comum para quem vive no Rio de Janeiro ou acostumada a florestas tropicais. Transitamos no verde intenso dos vales peruanos,que tem tonalidades fantásticas, com casinhas incas espalhadas pela montanha,casinhas de pedra com telhados de palha.No caminho para Machu Pichu muitas corredeiras de pedra, lascas de pedra que contornam a montanha, com água e sem vegetação,em meio as matas que às vezes parecem de selva tropical.Dois caminhos , Santa Teresa, plantação de café e coca e na montanha mais alta apenas a tundra.
A agricultura nesses altiplanos, quando há, é feita em pequenas vilas que ainda guardam os mesmos modos e praticas da forma rudimentar de cuidar do solo. Nessas vilas esses camponeses plantam normalmente o milho (mais) e a coca, que necessitam para passar o mal da altitude, também uma planta que tem uma florzinha lilás, que serve para fazer uma comida, entretanto nas paradas, já aparece outras formas de ganhar a vida com exploração do turismo.
Em alguns lugares eles vendem uma comida dentro de um saquinho plástico. A comida parece um lavagem de porco aos nossos olhos. É um arroz , que não é arroz, é kinua beneficiada, batata e um liquido alaranjado. Essa mistura fica em saquinhos plásticos e eles comem com uma colherzinha ou com a mão mesmo , também aparece o tal saquinho com batata e ovo cozido.
Voltamos as plantações, essas são feitas em terrenos cercados com pequenos muros de pedra. Quando tem pedra no local, redondinhas ou não eles fazem o muro que não tem cimento ou qualquer rejunte para colar as pedras, o sistema de distribuição de água também é interessante, fotografei um em Machu Pichu onde água vem descendo por pequenos dutos de pedras até chegar ao seu final.
Os muros de pedra parecem com os da minha casa em Mangaratiba ,algo bem rústico. Quando não tem pedra no local eles fazem o muro com um tijolo maciço de barro que deixam secar ao sol, ficam ums blocos grossos de imagem pesada aparentemente bem ecológico . Também plantam nas curvas do relevo, mas diferente da China eles sustentam o relevo com uma murada de pedra, isso nas montanhas e não nas planícies.
É incrível ver nessas planícies vários animais, principalmente as vicunhas,lhamas e alpacas. As pessoas, quando as lhamas são suas, e não selvagens, colocam nelas vários ornamentos coloridos, nas orelhas e pescoço dos bichinhos como se fossem brincos e colares, elas ficam lindinhas, parece que gostam, e são muito dóceis . Tiramos várias fotos de lhamas,principalmente as selvagens que ficam a beira das lagoas junto com os flamingos.
Certas lagoas são os lugares preferidos dos flamingos que tem sua plumagem rosada por causa do metal que tem nas lagoas. Eram muitas aves, tão bonitas no seu bailado solitário longe da nossa presença. Nem os flamingos, nem essas lhamas nos cobravam para serem fotografados, outros animais como coiote apareciam de surpresa, outras a aves também surgiam naquela imensidão solitária. Como será viver nesse lugar? Apenas com a presença da natureza predominante sobre qualquer outra forma de pensamento ou vida. Sem dúvida que não é vazio, pelo contrário as manifestações naturais nesses lugares povoam todo o nosso imaginário e preenchem qualquer mente, como diz o Amir Klink em sua viagem a Antártida . Não existe solidão ou solitude, a natureza é tão grande que não dá tempo para quem observa de dentro ou de fora seus fenômenos, cores, manifestações. Daria para viver ali? Pensando bem, acho que sim, se tiver uma rotina metódica de observações e leituras e escrituras acho que não seria difícil habitar por aqui, ou qualquer outro ponto, mas lógico com o aquecimento suficiente para não me sentir em abandono completo por causa do frio.
A mente se povoa sozinha,isso é fato, o contato humano acaba sendo conseqüência quando vivemos na sociedade, mas se nos povoamos sozinhos com idéias, planos , teorias, sonhos, não sentimos falta de outrem, a não ser por algum prazer que não dá para ter só, ou quando é melhor acompanhado.
Uma das paisagens mais bonitas da viagem foi o caminho para Pisac, Peru. Eram como sítios plantados ao pé das cordilheiras , tudo verde e arrumadinho, também a feira de Pisac com suas mantas coloridas e o grupo de crianças vestidas para fotografar mediante uma moeda. Tem gente nova e velha fazendo isso. Em Cusco tinha um homem muito bonito vestido de inca, certamente de uma casta nobre de inca pois ele era alto, moreno, cabelos lisos e as feições bem diferentes do povo em geral. Ele cobrava pelas fotos ao lado da muralha, igual aos caras em Roma vestidos de gladiadores, que cobravam par serem fotografados no Coliseu de Roma.
Tudo igual no final das contas, tudo se copia, essa é a globalização . Uma coisa chamou minha atenção aqui nos Andes, não sei se já falei, a calma das crianças e também do adultos. Não vejo aqui aquela coisa afoita que temos aqui no Rio. São tranqüilos , as crianças ás vezes mesmo maiores são carregadas pelas mães o tempo todo.
Elas colocam o “aguacho “ aquele pano colorido que levam nas costas, que normalmente é de um cor forte com bordados coloridos. Eu comprei um e fiz foto com ele, quem sabe não vou carregar Alice assim para ela ficar calminha. As crianças são muito lindas,mas muito mesmo, as bochechas rosadas do frio, risonhas, os cabelos escuros e lisos. Calmas e belas. Peruanos de Cusco, muitos índios, baixos de estatura, mulheres que conservam o traje andino, saias fartas de um tecido pesado cortadas redondas, saias rodadas na altura dos joelhos, blusas coladas junto com as saias.Meias grossas até o joelho, cor da pele. Um xale grosso de lã de lhama, os enormes cabelos presos com duas grossas tranças negras e um chapeuzinho no alto da cabeça. Não sei a origem desse traje ,esse chapeuzinho não deve ser inca, nem mesmo o resto. Os homens vestem normal, nem é muito colorido, usam pulôver .
Ao contrário, do que certa vez ouvi dizer, não cheiram mal,já que sua alimentação é muito saudável . Acho que comem pouca carne vermelha, normalmente de alpaca ou então e frango,muito milho, amendoim, kinua e batata.
Talvez a invasão turística tenha modificado também certos padrões alimentares, isso é quase inevitável . Muita comida feita na rua, sem qualquer higiene devem acabar, o que talvez possa ser uma mudança de hábitos, que pode não ser vista como o melhor. A invasão do fast food, do refrigerante etc, uma quebra na rotina saudável e que provocará no fim coisas ruins, eu acho, como a obesidade.
Em Cusco, andamos por uma feira livre num bairro muito popular,lá pudemos observar bem o que compram e comem. Os vários tipos de batata e grãos , os vegetais, pequenos frutos de um cultivo orgânico .Foi nessa feira que passaram a gilete na bolsa da Lilia.
Também se vendem carnes que ficam expostas sem qualquer refrigeração ,ainda bem que é frio. Nesse lugar nos avisaram do perigo de ficarmos assim afastadas do centro histórico por causa de assaltos. Nos mandamos então para o centro, no caminho passamos por uma ponte sobre uma estrada e ferro e embaixo exatamente, sobre o leito da estrada os cusquenhos faziam um comércio de animais , cães e gatos. Cada filhote lindo. Aliás isso é algo comum em todas essas cidades, muitos cães pela rua, até mesmo em Salta encontramos os “perros ” que nos seguem e depois somem. Pelo que me recordo isso não existe no Rio. E aqui os perros são grandes e bonitos. Os gatos , para o prazer das minhas duas amigas de viagem, surgem também nos hotéis . Elas falam, brincam e também compram gatos,estátuas de cerâmica e madeira para suas coleções.
Para minha coleção de caixinhas comprei duas, uma de madeira e uma de sal, fui a várias igrejas do Chico mas não vi nenhuma imagem dele para acrescentar às minhas.
Há alguns dias em Salta eu vinha notando a beleza dos mosaicos que existem em entradas, igrejas etc. Então ontem resolvi fotografa-los. Na verdade são azulejos hidráulicos e outros vitrificados,não são bem mosaicos feitos com pedacinhos de tamanhos diferentes e cores também,mas são bonitos, não fotografei tantos quanto queria mas foram muitos.
Voltando às paisagens altiplânicas , que foi o que mais impressionou na viagem,lembrou-me agora das lagunas cada uma com singularidades e cores diferentes.Umas tem flamingos rosas pequenos, outras tem lhamas na sua margem, lhamas de todas as cores. Tem lagunas brancas, verdes, coloridas, azul que formam um espelho dágua refletindo o vulcão que fica ao seu lado,uma imagem linda. De acordo com o metal predominante mudam a cor. Quando tem sal e o fundo é claro a água fica mais clara refletindo o céu.
A borda das lagoas é uma massa mole com componentes orgânicos e cocô de lhama , que é redondinho, umas bolinhas pretas e marrons que fotografei, como o de ovelhas.
Depois vi uns cordões com bolinhas negras e disse que eram cordões de cocô de lhama. Permanecendo no campo escatológico lembro ainda do parque da reserva , nossa última dormida no Uyuni, há 4900 de altura, já falei dela que foi a expedição em que tomamos vinho e que fomos para a beira do lago de havaianas. Foi nesse dia também que ao irmos dormir cedo começamos eu e Malu a falar do almoço que tinha sido entre outras coisas couve flor frita e que isso provocaria no grupo um certo excesso de gases. Malu fala que em árabe chama-se “fussi” . Sei que começamos a rir falar besteiras, como adolescentes, rimos tanto, tanto, foram uns 15 minutos de gargalhadas que foi contagiando a todos no quarto. No fim nem mais sabíamos do que riamos . Mas fazia tempo que não via uma risada coletiva tão boa .Eu e Lilia também tivemos uma crise dessas de riso em La Paz,mas foi por menos tempo.
Não sei se estou me repetindo, mas vamos lá, faz parte da narrativa de diário já que só descobrimos isso depois de uma leitura total da história. Antes é impossível sabermos o que dizemos, eu esqueço, ficam flashes das coisas, mas nunca ela integralmente, a seleção de lembranças age sempre da mesma forma. E na viagem chega um estágio em que nada mais acontece de muito importante, talvez essa seja a hora de voltar para casa e pensar sobre o que foi, tem fatos que só nos damos conta anos depois quando vivemos coisa parecida, ou lemos algo.
Na minha primeira viagem a Europa eu vivi tanta coisa diferente do meu cotidiano, era tudo tão novo e mágico e interessante, e eu na pressão que não tive o sabor de observar, sublimar as coisas como deveriam, eu tinha pressa, pressa, dizia o coelho da Alice, queria ver o máximo em o mínimo tempo , talvez por ser tão jovem, mas disso só me dei conta anos depois quando voltei, ou quando li o que tinha escrito, que nem li bem. Queria na ocasião ver tudo sem distinção ou seleção, na corrida. Hoje tenho uma outra intenção mas às vezes me pego fazendo o mesmo, eu fico elétrica e esqueço de comer e ligar, é uma adrenalina, endorfina, que me atrapalha até o sono, vez por outra, por isso viajar com as meninas é bom, pois me impõem um ritmo diferente do meu,menos ligada.
Acho que nessa viagem tem um ponto marcante, os viajantes que encontramos pelo caminho. É lógico que estar em grupo inibe um pouco a disponibilidade de conversar com novas pessoas, mas mesmo assim , nós acabamos conhecendo muita gente e perguntando e falando. Foi assim que conseguimos excelentes dicas para a expedição ao Uyuni e para hotéis em La Paz , Potosi em São Pedro e em Salta. Ou seja, quase todos os lugares.Porque eu não tinha procurado nada por esses lugares. Mas não era isso que eu ia falar. Ia agora dizer dos museus e parques. Chegamos ao trajeto começando em Cusco, logicamente, Machu Pichu, que na verdade é a apoteose de toda viagem. Todos que vem por Santa Cruz , ou que atravessam a Bolívia e vem querendo conhecer a cultura inca vem conhecendo num crescente, Tiuanaco,Templo do sol, da lua, museus etc para no final chegar a Machu Pichu.
Conosco foi ao contrário , nosso primeiro ponto foi o mais alto, a apoteose, o desbunde da cidade misteriosa, porém isso nos causou um certo desinteresse pelo resto das ruínas incas ou pré-incaicas de forma que certos lugares nós nem entramos, preferimos a experiência da ruas até porque muitos sítios estão afastados e mal conservados e são todos muito parecidos. Na ilha do sol, no lago Titicaca, pagamos mas não conseguimos chegar por causa da altitude. O morro era alto e o tempo curto e nossa falta de ar começou a pesar e a preguiça também.Ou seja, depois da apoteose Machu Pichu o resto ficou sem graça, como já tínhamos ido ao museu pré-colombiano no Chile , deixamos de lado.

Outra coisa é a pobreza absurda do museu inca em Cusco. Estado lastimável , tudo feito domesticamente sem qualquer recurso. O acervo se estragando,mal ajambrado sem aclimatação e tudo muito mal feito,sem levar em conta a importância do acervo. Em Lima pode ser que tenha algo mais ou nos Estados Unidos, porque em muitas das peças tinha escrito: réplica do museu dos Estados Unidos.
Já na Bolívia os museus são mais tratados, organizados, profissionais.Em La Paz e Potosi tudo é arrumadinho em termos de museu e atendimento ao turista. Nos museus sacros nós optamos por não ir. As igrejas abertas já eram suficientes, eu particularmente,não tenho muito interesse em arte sacra depois da overdose de Roma e Ouro preto e Salvador. Mas faço questão de entrar em todas as igrejas que passo e ainda faço três pedidos e se tem livro de preces eu escrevo, isso sempre. Sei que no final, a rua foi nosso melhor museu e o povo nossa mais interessante experiência . Como não lembrar de Mario e Leo , ele com os olhos cheios dágua quando nos deixou na fronteira e nos abraçou, ela com seu olhar triste sem querer demonstrar . Como não lembrar dos meninos do El Grial super simpáticos e solícitos conosco e dos argentinos despachados que cantam todo mundo , onde sempre a segunda pergunta é se somos casadas.
Basta um sorriso e os caras se acham. Mas com um machismo brabo, ufa!sacal!!Não sei o que eles pensam quando vêem 3 mulheres não adolescentes viajando juntas e sozinhas. Perguntam se o marido não veio, perguntam se largamos o marido, e é uma festa quando falamos:_ sem maridos. E tanto faz se for na capital ou no interior. O modelo de homem latino ainda está entranhado. Mas em alguns países, que em outros. Mas eles olham descarados, pagam doces, pegam telefones e fazem galanteios, abraçam cheios de intimidade muito facilmente. Em todos os lugares em que preenchemos fichas temos que colocar o estado civil,não sei porque. Às vezes eu colocava solteira, outra divorciada dependendo da cara do pedinte, o que na verdade da na mesma. Todo mundo à deriva, ainda bem, sem encalhes chatos e sujeito a aventuras, que estão sendo bem interessantes e sem repetições , globalizadas, poliglotas.

25 e 26/1 domingo em Buenos Aires
Acordamos saímos cedo no domingo em direção a San Telmo. Uma gracinha de bairro parece onde moro, os sobrados antigos, muita lojinhas de arte e ateliers e no domingo uma feirinhas de antiguidades. Andamos muito até chegarmos a praça principal onde ficam os antiquários mais antigos . Ali um boa música com violão , guitarra como chamam, tocando clássicos como Vivaldi e concerto de Anraruez, que escutava muito lá em casa.
Ficamos lá ouvindo música e vendo as coisas, além de barraquinhas com toda sorte de coisas, também tinham lojas e entradas que davam em outros espaços . Antiguidades misturadas a releituras de coisas antigas e folclóricas , caras prá burro. Coisas de casa muito fashion , que me davam vontade de comprar, mas para nossa sorte ou azar, ficamos sem dinheiro o fim de semana, ou seja, sem dinheiro para consumo inútil ou besteiras.
Quando chegamos sábado a noite todas as lojas de câmbio estavam fechadas e domingo também. O que tínhamos sobrando era para pagar a reserva do hotel, que diferente dos outros cobra todas as diárias adiantadas e dinheiro para comer. Então dado esse imprevisto nada podemos comprar. Eu ainda tinha algum peso comprei 2 encharpes e deixei o resto para o almoço, já que as meninas estavam também sem nada, e não é todo lugar que aceita cartão.
Andamos , fotografamos muito, toda arquitetura de fim de século XIX, meio art noveau do bairro, também continuei fotografando os mosaicos de espaços diferentes, casas, igrejas, passeios.
Buenos Aires é uma cidade bonita e charmosa. Quando estive aqui a primeira vez, que também foi verão, achei tudo muito lindo e um quê parisiense, um estilo europeu.
É uma mistura de Paris e Barcelona, as duas lindas do velho continente, mas aqui tem um charme especial, embora o portenho seja meio marrento. É engraçado que mesmo os argentinos falam isso do portenho, acham eles bestas, afetados. Dessa vez não tivemos problemas com eles, mas da primeira eu reclamei dos atendentes do hotel que não eram nada gentis, e eles ficaram putos.

27/1

Quase dia de ir embora. Ainda não contei tudo que aconteceu,diário é assim chega uma hora em que ficamos com preguiça de escrever e juntamos tudo, ou quase tudo para uma hora de disposição .Também tem o fato de não ter escrito da maneira que eu esperava, não será um diário apenas informativo, já que é uma escrita subjetiva, e por isso cheia de meandros, coisas que nos vem a mente que nada tem a ver com a viagem, mas que lembramos ao andar pelo caminho.
Percebo que eu, de fato, me desligo pouco do meu cotidiano,penso muito sobre ele mas do que eu queria. Venho teorizando mentalmente inúmeras questões e ações e já sinto certa mudança na forma de ver algumas coisas. Mas sei que muito dessa viagem só mesmo compreenderei depois de muito tempo, depois do amadurecimento das imagens que fiz em minha mente, assim como agora revejo as outras viagens que fiz.
Os dias no fim da viagem passam mais rápido . Caminhamos por Buenos Aires desvendando a cidade que ainda não conhecemos por completo. Bairros, praças, lugares que não fazem parte do roteiro turístico e que tornam esse lugar ainda mais interessante. Saímos da Florida , passamos a Paraguai, atravessamos a 9 de julho e vamos toda a tarde caminhando por ruas desconhecidas , residenciais. Vemos a vida acontecer calmamente, sorrateiramente nesses lugares. Prédios novos misturados a uma arquitetura de século XIX, que muito me agrada, a mistura de ferro e vidro e concreto. Balcões belos, janelas bem colocadas . É como já disse uma mistura da capitais européias de maior sucesso, talvez Barcelona e Paris.
A Paris reformada por Haussmanm e aquela falada exaustivamente por Baudelaire e que o Marshal Berman fala no seu” Tudo que é sólido desmancha no ar”, a Paris da Belle epòque que tanto agrada do Decadentistas. Acho que Buenos Aires é meio assim, em suas ruas largas demais, que nunca tem um fim, seu obelisco imponente no meio da 9 de julho. As ruas parecem que convergem para um ponto que não é o Arco do Triunfo ,mas o obelisco, tão grande quanto fálico.
Assim como nossa Av.Presidente Vargas intencionava ser, as ruas são como veias do coração, era essa a idéia do prefeito francês e que nosso Pereira Passos copiou e muitos outros também copiaram. Não sei se Barcelona teve a mesma transformação ,mas lembro de seus prédios, principalmente os do Gaudi, que eu muito gosto, e que muitos são parecidos por aqui em Buenos Aires.
Aqui não é uma cidade de grande monumentos ,mas é uma cidade para flanar. Talvez eu esteja já repetindo um monte de coisas mas é assim mesmo. Uma cidade para flanar, andar sem destino pelas ruas observando tudo que nela acontece, um voyere da multidão que passa apressada para o trabalho, e a gente aqui passeando sem hora, ou tempo, de férias ainda. Três mulheres sozinhas olhando toda a beleza do lugar, sem destino certo, vamos até onde a perna agüentar, às vezes voltamos de ônibus, ou a pé mesmo por caminho diverso da ida. Nosso hotel é central por isso para qualquer lado que formos não tem diferença.
Tudo meio baudelariano, nessa nossa estada.
Fato é que tempo aqui já é diferente dos Andes., é mais apressado, mais estressado, parece mais com Rio e São Paulo, é mais pós- moderno do que moderno, a gente sente isso na veia o tempo todo , muito diferente de estar no altiplano, sem nada, sem tempo, sem espaço definido, em busca de nada também, ou de uma imagem qualquer jamais vista por nós. Talvez essa seja a busca do turista hoje, uma imagem que ninguém viu, mil fotos, por uma única inusitada.
Flanamos ontem o dia todo, fizemos compras e vimos o que deveríamos ver. Mesmo andando tanto não nos poupamos de quilos a mais. Acho que engordei tudo que tinha perdido em 3 meses de dieta, uma lástima . Do peru até aqui , haja batata!!! Sempre as variações são em trono do mesmo prato, ou carne e batata ou batata e carne.
Muitas vezes em alguns lugares conseguimos comer trutas, a beira do Titicaca e ontem aqui comemos peixe. Suspendi os helados e tenho tomado apenas uma sopinha no jantar, que depressão, acho que não passará de um dia. Essa noite não dormi bem, tenho que voltar para a minha acupuntura. Deixamos a janela do hotel aberta e foi tanto barulho que me atrapalhou o sono.
O dia parece nublado, as meninas não acordaram ainda e eu já. Quase sempre assim. Não sei se vamos encontrar a Luciene e família às 10 h no porto, chegará num transatlântico . Tomara que sim, pelo menos para eu ver a Aninha Luiza que deverá está grande, minha afilhada. E a Alice vai ser a quarta, eu sempre digo que sou péssima madrinha, desnaturada, esqueço datas, não dou presentes e até esqueço o que é ser madrinha,aviso isso tudo para os pais das crianças, mas eles não se importam. Então fico como madrinha e amo minhas afilhadas, as minhas meninas. Pena não ter contato com elas sempre, Julia e Ana Luiza são do mesmo dia 18 de janeiro, Oh sorte a minha, mas nunca as vejo. Mentalizo sempre boas coisas para elas.
Já estou preocupada com o trabalho e muito, rejeitei dirigir o Curso de Letras na baixada e não sei se isso pode me trazer represálias.
Mas eu não tinha como. Não levo jeito para o administrativo e deve-se ganhar uma miséria para o show de pepinos a resolver. É o poder que não me atrai, jamais atraiu. É pouco demais, só serve para quem acha que isso é status , ou gosta de mandar nos outros. Ainda mais na Estácio, às vezes é coisa para 10 minutos.

Mas estou preocupada, preciso das turmas para sobreviver independentemente. Na verdade eu tinha é que arrumar um emprego público para ficar tranqüila,sem essa neura todo fim ou melhor, início de ano e período.
Lembro-me de Ana Teresa, será que ela já foi para Moscou? Caramba que loucura. Nem me responde, por quanto tempo será? Acho que será bom para ela.
E o chocolate foi para Los Angeles. Vou chegar ao Brasil e os meus contatos semanais estarão todos fora. Que saco!!!
Chocolate doido mesmo, mas não sei o que fazer, nem quero pensar, porque não quero deixar.
Ontem pensava sobre o tempo de viagem, talvez tenha sido longo demais, porém não dava para fazer o mesmo roteiro em menos tempo.
Falei com a Êmili ontem e me dizia que havia um problema com o Felipe da agência de viagem. Espero que as pessoas não estejam se excedendo.

Noite-

O dia foi longo, hoje saímos cedo para encontrar Luciene só que não encontramos, talvez ela já tivesse saído e não tivemos contato. Uma pena queria ver a pequena, que nem deve me conhecer mais.
Andamos muito, eu e Malu, até encontrar o porto, depois voltamos para o hotel e encontrar Lilia. A tarde saímos para almoçar aqui embaixo do hotel algo que não tinha batata, depois fomos caminhar por ruas ainda não exploradas. Quando uma certa hora estávamos na Lavalle, a bolsa da Lilia estava aberta, ela fechou mas logo depois parece que alguém cuspiu ou jogou água no pescoço dela e se aproveitou para furtar a carteira amarela com os documentos e o cartão de crédito. Certamente a pessoa pensou que havia dinheiro, mas não havia. Imediatamente tivemos que ir para a delegacia que ficava na mesma rua. Ficamos lá um tempão, para fazer a queixa e depois tomar todas as medidas necessárias. Quando voltamos para o hotel , tinham deixado os documentos lá. Um lixeiro havia encontrado a carteira com tudo e entregou pois havia na bolsa um cartão do hotel. Apenas faltava o cartão de crédito e o papel de entrada no país.
Mas foi algo muito chato, o nervosismo e tudo mais,as providências etc e tal.
Andamos tanto que meu quadril tá duro e doendo. Falta de óleo de chocolate talvez, brinco com as meninas. Entramos em muitas lojas mas nada de comprar porque não temos grana para isso,mas o câmbio é favorável às compras.
Na volta fiquei com os meninos conversando um tempo até ir para o quarto.Amanhã será nosso último dia aqui. Acho que voltarei, mas quero voltar no frio e curtir a cultura do frio como diz o G.
Nenhuma notícia da Estácio o que me deixa na neura.

28 janeiro

Tem tanta coisa ainda para lembrar e já estou naquela ansiedade horrível de início de período e fim de viagem. Ainda não arrumei a mala, essa é a parte mais chata,adoro viajar mas detesto fazer e desfazer malas. A volta é sempre mais complicada porque nunca tem espaço suficiente para enfiar tudo que já está amassado e tudo que comprei. E eu normalmente quase não compro nada. Dessa vez o que mais tenho são mantas incas comprei 6, mas não daquelas mais lindas, porque além de muito pesadas são caras e eu somente com minha mochilinha preta, a menor da equipe, quiçá do hotel.
Mesmo sendo equilibrada, ainda trouxe roupas que não usei. Meu vestido negro que trouxe para o tango, não usei, nem a camiseta da mesma cor não saímos de fato à noite,para balada, nenhuma vez, saíamos para jantar. Andávamos tanto o dia inteiro que por mais que eu insistisse elas não saiam, todo mundo morto.
Algumas poucas vezes que saímos foi legal, mas também foi no frio e vestido e camiseta eram impossíveis .
Hoje, andamos muito à tarde depois de tirarmos um cochilo gostoso. Almoçamos cedo no mesmo restaurante de ontem que é um daqueles que o povo do lugar come. Estava cheio, muita gente que trabalha por perto da Tucumam. Parece os restaurantes do centro do Rio. Comemos bem e sem papas fritas. Eu e Lilia ainda tomamos café e comemos torta.
Estávamos rolando ao sair, então resolvemos subi ao hotel para um soninho, fui a primeira a dormir e a primeira a acordar. Levantei,ou melhor, acordei as meninas dizendo que a rainha da Argentina nos esperava para audiência, La khisner.nos espera.
Saímos e fomos de novo por outros caminhos, eu procurava umas botas e uma livraria. Descemos a Corrientes,atravessamos o obelisco e fomos. Logo encontrei o livro que queria.Na verdade uma espécie de álbum com os primeiros anos da vida de um bebê, indo direto pela rua, muita livrarias, teatros, na transversal muitas livrarias , um paraíso, não me lembrava de já ter passado ali na outra viagem,andamos mais um pouco e chegamos até Abastos um mercado antigo, transformado em shopping, uma construção arredondada, interessante, meu quadril doía muito, entramos para sentar, ficamos sentadas observando a população local que se movia no shopping e logo resolvemos voltar. Já era quase 7 da noite. Tomamos um ônibus para voltar. Descemos pela própria Corrientes e quando saltamos perto da Florida já era 20:20, andamos até a Tucumam entramos numa loja de sanduíche e tomamos um lanche com pão de mica tostado. Um pão fininho e para mim muito sem graça.
Subimos para o quarto, tomei um banho e fui arrumar a mala. Oh! coisa ruim, fazer e desfazer malas, mas acho que já disse isso. Eu tinha que enfiar tudo na minha pretinha e em outra pequena laranja.
O pior é que depois que a gente usa a roupa ela fica volumosa. Comecei pelas mantas e na mochila laranja toda roupa suja.
Coloquei as meias dentro do tênis, fui apertando as roupas até não passar nem uma linha entre elas. Coloquei os bagulhos que comprei pelo meio para não quebrarem, mesmo assim a lhama de pedra que comprei se partiu e tive que colar. Consegui colocar tudo. As meninas ficaram surpresas como fiz aquilo de colocar toda trouxa inca que tava sobre a cama naquelas duas pequenas mochilas. Depois disso tentei dormir mas não consegui. Como sempre a ansiedade da volta. Acabei pegando no sono tarde e ainda assim dormi mal.

29 janeiro

Acordamos cedo, eu e Malu logo nos arrumamos e fomos para o café. Coloquei meu vestido preto e meu sapato também preto e a bolsa toda colorida que comprei para ir ao mercado aqui no Rio. Bolsa tipo ecobag para não usar sacola de plástico.
Acho que o vestido ficou meio chamativo porque foi um sucesso nas ruas. Um vestido básico, só realça o busto e por isso talvez os argentinos tenham olhado tanto. E o Lucas, o uruguaio, gerente do hotel, todo alegrinho, se chegado. Ficamos conversando por mais de uma vez nesse tempo em que ficamos aqui. Ele me contava de sua vida junto com turistas.
Há uma coisa engraçada, os argentinos são muito mais atrevidos na rua, do que os outros americanos, peruanos, bolivianos e Chilenos que já são metidos a conquistadores.
Eles,argentinos , mexem com as mulheres descaradamente, ainda mais se vêem que são estrangeiras. A Malu é um tipo exótico, faz muito sucesso, é grande e chama atenção, até mesmo eu que não sou grande, percebia o que era e ganhava galanteios ao ouvido e olhares, e nem estávamos perto da construção civil.
Tomamos o taxi as 11:30. Gustavo no levou ao aeroporto. A estrada era longa, passa por bairros distantes do centro. Segundo ele bairros favela com muitos peruanos nos diz, e que tem muita droga. Talvez uma visão preconceituosa em relação aos imigrantes. Pergunto sobre o valor de um apartamento em Buenos Aires. Nos bairros que eu acho mais interessantes como San Telmo por exemplo, Recoleta etc. Ele diz que o aluguel é alto e o condomínio mais ainda.
Acho que Buenos Aires seria uma cidade em que eu moraria por um tempo. Conversando com Tamires, a menina que trabalha no hotel, que é brasileira de Porto Alegre, e tem 20 anos e mora em BA, ela me diz que esta adorando morar na cidade. Estuda na Faculdade de BA e faz Letras. Faz inglês e espanhol e quer trabalhar com tradução, disse que é legal estudar na Argentina. Não entendi bem se ela já está na faculdade ou começará ainda. Que saudade dos meus 20 anos e quando viajei e tinha a pretensão de ficar pela Europa. Lembro que só não fiquei porque nada poderia ser melhor do que o contato com meus pais, irmãos e amigos.nem toda vontade de ver o mundo, ter vivências não foram suficientes para me fazer ficar naquele ano. Talvez eu não tivesse do que fugir por isso não fiquei. Depois fui de novo para um ano, para fugir talvez da falta de compreensão da história de mim mesma. Mas acho que já falei isso. E de fato o que valeu foi que descobri que o que está dentro não some com a distância, nos acompanha sempre até no lugar mais diferente, difícil, inóspito. O que tá dentro de nós, na verdade, só sai com o tempo, com a troca por outro dentro, com o auto-divórcio de algumas de nossas obsessões que muitas vezes nos perseguem e nos impedem de viver coisas que podem ser muitos interessantes e prazerosas.
Tomamos avião e o vôo foi bom. Às 17 horas chegávamos ao Galeão.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

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