04\1\2011 Paris.
Hoje foi o último dia de Paris, uma sensação estranha me invade agora a noite. São 19:30, Amélia ainda não chegou, amanhã levantarei muito cedo pois o TGV parte as 7:10 da manhã. Logo devo me levantar as 5:30, para sair as 6 ou antes. Certamente ainda estará escuro. Não gosto de sair muito cedo, mas também, não chegarei tarde no local.
Vamos amanhã , eu e Lucilene e Julia, sua filha. Todavia mesmo assim aquela sensação de partir me acomete . Não senti isso em Istambul, mas não deixei lá pessoas que gosto. Aqui como sempre deixo essa querida amiga, que sempre foi tão gentil, amiga e companheira comigo. Uma amizade desinteressada, generosa, me recebe em sua casa como se aqui fosse um hotel 5 estrelas, melhor impossível, conversamos, comemos juntas, vemos programa na televisão, discutimos sobre a vida e seu sentido. Queria muito que um dia ela fosse a minha casa para eu retribuir-lhe, não sei se a altura, pois não tenho a sua sofisticação parisiense.
Mas estou triste pela saída. Recordo-me quando aqui a primeira vez estive, e que sair desse aconchego de amiga foi muito difícil, eu estava sozinha, com 22 anos e toda a europa a frente para conhecer. Montei um roteiro louco que passava por todas as capitais, da Holanda a Portugal, passando pela Inglaterra, subindo pela Itália, passando por Viena, Alemanha, Suíça, uma viagem corrida, de passe, dormindo muitas vezes no trem, mas não estava frio,era primavera. Foram 42 dias, no fim estava exausta, ansiosa para voltar mais satisfeita. Pensei muito sobre minha vida, quando estava sozinha, vi o que não queria mas não decidi o que queria. Foi logo depois de me formar em direito. Depois voltei para ficar um ano na Itália, fiz de novo um pequeno giro com meus pais, com a Êmili e depois com o Emil. Mesmos lugares e lugares diversos, sempre numa eterna curiosidade que me é peculiar. Querendo sempre saber e sempre ver. Entrando por vielas e descobrindo jardins , como é bom descobrir jardins. Hoje menos ansiosa, um pouco mais consciente do que espero da vida e de seu sentido, mas não completamente. Acho que isso nunca vou achar, já que o sentido está no próprio caminho a própria vida, nas pessoas que conhecemos nos lugares que vamos, no valor que damos a essas pessoas e no afeto que lhes dispensamos, pois como diz meu amigo Marcelo Augusto, não se deve guardar afeto para o perecimento. Afeto se distribui, o quanto mais, melhor, depois de morto para que termos o afeto de alguém? E até agora ninguém provou que morto tem afeto por alguém.
Dos que foram resta a lembrança viva, e talvez isso seja o sentido da vida eterna. Porque de quem foi, além da fotos desbotadas na parede e das lembranças , nada há. E como diz Drummond, e como dói. Sei lá.
Fico pensando naquela pessoa que mal dispensa afeto, que não quer ter afeto, que louca, que louco, tenho pena, não pode dispor da beleza ,da alegria de ter afeto e de se doar.
Mas não vou fazer disso tudo um manual de lembranças ocasionais vindas a tona por causa da partida. Tenho consciência de que para mim, partir sempre foi o mais difícil, mesmo tendo que voltar, sabendo que vou voltar. Será que ainda volto a Paris nessa vida? Levando-se em conta que devo morrer com uns 80 anos, volto sim, pelo menos uma 3 ou 4 vezes, uma a cada sete anos, ou dez anos. Bom número, sofisticação e bom gosto e coisa gostosa, tem que ser cultivado, e só aqui é possível esse máximo.
Nenhum outro lugar do mundo, que me perdoem as outras cidades maravilhosas, mas é isso.
Mas quero vir fora do excesso de frio, para sentar na rua e ficar, primavera tá bom, sem muito calor também.
Bem a viagem segue, pela França não muito, entraremos na Espanha e depois na Terrinha, Portugal. Li no guia que Laura me emprestou muita coisa sobre Portugal. O Porto, Lisboa , tudo mais pequenino, como dizem eles, estás a perceber... tenho que treinar meu sotaque. Aqui eu não falo nada, na Espanha vamos ver. Lucilene e a filha vão comigo até o Porto, vamos ver a casa do Miguel Torga, e todas aquelas coisas por lá. Creio que por lá as coisas são mais baratas que aqui. Todavia por mais que tentemos não conseguimos ficar sem comprar nada. A mala está cheia, um saco carregar mala, descer metro etc e tal. A comodidade é a rainha. Com ela imperando não saímos de casa. Temos é que desapegar e levar menos coisa possível e não comprar.
Mas é difícil ainda mais em época de liquidação.
Tem montes de berimbau por aqui , que temos que controlar para não levar...
Já to com saudade, estou também cansada, andei hoje ,v i coisas, saí com as meninas e agora aqui espero Amélia que hoje foi ao Vale do Loire, o tour pelos castelos. Muito bonito. Eu já fiz com ela esse passeio .
Hoje é dia 4, agora parece passar rápido, só tenho mais 16 dias de férias. Vou parar de contar. Amanhã TGV às 7 da matina.
Mas hoje fui ainda a Pigale, flanei pelo Boulevard Rochechuart, comprei uma boina, preto e branca, para eu usar com Alice e proteger do f rio.
Depois encontrei com as meninas e fomos as compras para elas comprarem coisinhas, fomos ao terraço da Printemps e, por estar demasiado frio não andamos mais. Creio ser muito complexa a relação de mãe e filha que elas tem. Complexa demais. Existem filhos tiranos, filhos que fazem questão de abusar de sua posição de filhos, que obrigam e sujeitam os pais, tudo por atenção, e pais que por culpa ou sei lá o que se sujeitam a tudo. Muito difícil, as vezes penso que é melhor mesmo não ter filhos,não sei se saberia lidar com tudo isso.
03\1\2011 - Paris
Rua, flanar, flanar, flanar. Frio, quente, frio. Saí cedo a flanar pela cidade sem mapa. Me encontraria com Amélia as 12:30 no Metrô Tulieres, Jardim do Louvre, para almoçarmos. Perdi-me e achei-me, cheguei, vi milhões de coisas para comprar que não vou comprar. Para que eu quero mais roupa de frio, não há necessidade, mas é F, dá a maior vontade de comprar tudo. Mas pra que? pergunto-me antes de ceder a tentação. Mas um bagulho na gaveta sem usar ,ainda mais com o aquecimento global. Mas é brabo não ceder, tem que ter força, ainda mais com as liquidações.Montes de casacos, blusas e cachecol, gorros. Imagino, se esse casaco que tô usando agora estava guardado há 7 anos, pra que eu quero outros, sem condições, e as botas... loucura, mas como levar.Comprei uma bolsa...
Encontrei Amélia e fomos a Defense almoçar . Passamos na Place de Voges, da casa do Victor Hugo, aquela gracinha, fomos pelo Marré e chegamos num típico e tradicional restaurante Francês, Bulfinger, uma comida deliciosa e uma sobremesa muito boa com um vinho bom, deu até calor. Como é bom. Eu me rendo aos prazeres parisienses... quero vir todo ano, risos... Acho que tinha que ter uma máquina de giro, máquina de flanerie mundial.
Voltamos para casa de ônibus.
Nesse dias esqueci das minhas drogas chinesas, faz tempo que não tomo nada, só champanhe... ui,ui, ui...
02\1\2011Paris
Lucilene me ligou dia primeiro e combinamos de nos encontrar ontem no Museu D’orsai, que tem todo povo( arte) do século XIX: Monet, Goughain, Van Gogh, Gustavo Moreau, Delacroix, e muitos objetos e móveis Art noveaux , as peças que misturam madeira, ferro, vidro, exóticas, belíssimas daquele século. Tinha também outras exposições temporárias, cheias de simbolismo. Fiquei esperando Luci, um tempão, ela se perdeu e foi sem a Julia, que não passara muito bem a noite. Eu também me confundi, saí da casa da Amélia cedo para ir a pé, desci a Rochefoucoult entrei na rua do lado da Lafaiete, passei Madeleine e cheguei na Praça Concorde, fui pelo Champs até os Palais Royal, quando me dei conta que não era ali. Puts, desci peguei o metrô correndo e fui até o lugar combinado. Fiquei aguardando, aguardando e nada, o frio estava de matar, a fila monstruosa. Eu rodava, rodava, talvez estivesse mais frio por estar na beira do Sena. Sei que quando ela apareceu ainda ficamos uma hora na fila para conseguir entrar. Todo povo estava nos museus ontem, porque era o primeiro domingo do mês e nesse dia os museus são de graça. Fomos apenas ao D’orsai , já vi os outros e quero mais dessa vez sentir a cidade do que ficar dentro dos museus, que de certa forma ,creio perderam um pouco da sua força. De novo aquela questão da aura. Lógico que no museu o contato é direto com a obra, tem-se contato com sua aura e todas as suas características estão ali presentes e podemos ter a recepção que se espera, ou não .
Todavia com a internet através de imagens mais fortes que a de papel dos livros se entra nos museus e se visita o que quiser, com todos os inter-textos que lhe darão as mais variadas informações. Já conhecemos a obra antes de termos contato com elas e isso pode , quem sabe, fazer com que ela perca um pouco a sua mágica aura. Num museu lotado de gente, que quer apenas fotografar e mostrar que ali esteve, quem pode ficar ali parado contemplando uma obra daquelas. Poucos que não foram engolidos pelo “esquemão” de visita guiada por gente ou por áudio-guia.
Mas eu gostei da ida ao museu ontem, mesmo lotado, vi uma parte que creio não tinha visto , a parte Art noveaux, que eu aprecio muito.
No mais estou andando na rua, no metrô, em algumas igrejas, quase nenhuma. A proposta de Paris dessa vez foi outra. Foi a deixar levar... ir, FLANAR, e é só o que tenho feito. Sinto –me um verdadeiro flâneur. Saio de manha e só volto a tarde quando os pés já não aguentam mais, tomo um banho, tomo champanhe e vinho da melhor qualidade no meu hotel 5 estrelas, digo a Amélia .Ainda tenho vontade de morar um tempo por aqui. Quem sabe?? Eu sou louca, quero habitar todos os lugares, estar em todos e não estar em nenhum... Talvez voando sobre todos olhando-os do alto.
Depois do museu fui com Luci, até o seu albergue ver a Julia e depois voltar. Tomamos o metro e fomos para um quarteirão onde eu nunca havia estado, na linha da Torre Eifel. Lá longe, um bairro distante do centro um pouco, como se fosse a Tijuca. Simpático o lugar, vê-se que é uma outra cidade , mais nova, prédios antigos , mas maioria novo. Não é Paris do século XIX, mas do século XX tranqüilo , eu moraria ali na boa, o aluguel deve ser mais barato e não é tão longe. Tem infra-estrutura. Pegamos a menina no albergue e saímos, tentamos um restaurante, mas já era 3 h da tarde de domingo, fechado. Por fim paramos num pé sujo e fiz a pior refeição da viagem até agora. Um kebab parisiense com batata frita e coca cola. O garçom, atendente era multimídia, lavava, cozinhava, abria massa, fritava batata, servia e com a mesma mão, sem luvas, ele pegava o dinheiro do cliente e dava o troco. Bom, overdose de vitamina S( de sujeira). Tudo bem, as bactérias não sobrevivem muito ao frio que está fazendo. No fim nada fica a dever para ao andes bolivianos e peruanos ou Caruaru. Estou ficando expert em matéria de bactéria. Chega não pensamos mais nisso.
Depois de comermos pegamos o metrô e fomos direto para a praça Charles de Gaule Etoile, lá no arco O céu tinha aberto um pouco e tinha até lugares azuis, a torre a vista, estava um lindo fim de tarde. Fotografei nos lugares. Fomos descendo o Champs Elisier que estava super lotado, quando esfriava muito entravamos nas loja para aquecer. E foi escurecendo até que tudo se iluminou a decoração que eu ainda não tinha visto. Muito lindo, realmente. As meninas (Luci e Julia15 anos) foram comprando os apetrechos para o frio, Labello( para os lábios), luvas, cachecol, apetrechos fundamentais. Fomos andando até a praça Concorde onde está a imensa roda gigante toda iluminada, linda. Passamos pela vila de Noel e a multidão e nos pusemos na fila para subir, 10 euros, subimos, e ver Paris lá de cima a noite foi o máximo. Confesso que fiquei com medo de me mexer, eu fiquei de frente para Torre e de costas para Sacre Coeur. Na Cabine que é fechada fomos nós três e mais um casal, que ficava se mexendo, e eu fiquei assustada. Mas depois relaxei e virei para ver a igreja que gosto. As fotos ficam longe, mas a sensação é boa, lá de cima, tudo iluminado por pontinhos de luz e Paris faz jus ao nome de Cidade Luz. Duas voltas, apenas e acabou.
Descemos, fui comer um tipo wafer de chocolate, nutela, muito gostoso. Saímos de lá fomos em direção a Galeria Lafaiete, passamos pela Madeleine e saímos em frente a Printemps, só que ontem, domingo, estava tudo fechado. A Printemps ainda tinha suas vitrines acesas, onde a decoração optou por representações luxuosíssimas de quadros(creio eu) um luxo sem igual, até animais empalhados. Diferente da Lafaiete que colocou bichinhos de pelúcia como marionetes cantando e dançando, um deles era do musical Mama mia, que está em cartaz aqui.De lá vim para casa e as meninas pegaram o metro e foram. Cheguei e fui ver email e tentar montar minha viagem, creio que defini o roteiro,vou para Hendaye, país Basco francês na fronteira com Espanha, de lá Biaritz e San Sebastian, saindo de SS, para Salamanca, e depois o Porto, já Portugal, primeira etapa de TGV e depois não sei. Cansei de internet anotando hotéis e trens. Tomei champanhe e ainda comi sopinha e cama.
1\1\2011 Paris
São 8 da manhã, condicionamento é fogo, não consigo acordar tarde. Talvez melhor, porque meu dia rende muito.
Ontem saí pela cidade, me perdia, me achava. Fui a Sacre Coeur, que estava tão lotada que desisti de entrar no primeiro momento, aí fui andar por Montmartre, que delícia, mesmo lotado como estava, estava bom, porque com o frio, as pessoas fazem barreira contra o vento. Tava zero grau a tarde, ninguém merece, andei, andei, entrei em montes de lojinhas de bagulhadas, souvenir, só para sair do frio, os cafés, lotados e restaurantes também, porque o povo disputava o lugar quentinho.Muito brasileiro, muito mesmo. Dois sinais, ou a coisa para nós está boa, ou aqui é que ta ruim. Creio que para nós melhorou, se pode um pouco mais que antes. Me recordo que a primeira vez que vim a Europa, gastava-se o valor de um carro, hoje esse valor ta mais em conta. Ainda não é barato, mas já se pode dividir a passagem em suaves prestações e usar cartão de credito , ou seja, se não se vem apenas consumir bens materiais a viagem não sai assim tão fora das possibilidades de uma pessoa que ganhei mais ou menos.
Depois de andar muito entrei na igreja SC e fiquei,ainda assisti a metade de uma missa. Era para sair do frio, pois os pés já congelavam.
Desci o morro e fui caminhando até a Galeria Lafaiete tava lotada, mas muito lotada, muita gente comprando. Voltei para casa e esperei Amélia que chegou com toda uma ceia para nós. Ficamos por aqui, tomando vinho, champanhe, conversando para o frio sair. Nem fui para rua, acabamos ficando por aqui. Escutei os fogos na rua mais não fui até lá, não tive coragem, o frio me imobiliza. Um saco. Mas valeu muito foi muito agradável ficar aqui.
A cidade continua tão linda, Paris tem um astral muito legal. O próprio nome já se vende sozinho , é impressionante a quantidade de produtos que tem licença para usar o nome Paris, que por si só já vende o produto.
Ao ficar sentada na igreja fiquei reparando como o turista vê as coisas, ele não vê nada, passa pelas coisa. É assim, ele entra, olha tudo como num monobloco,não respeita as indicações do local para não tirar foto, olha tudo como alguém que passa de TGV por uma paisagem, e sai para a próxima estação. Ou seja, no fim da viagem, parece que nada viu, uma ou outra imagem fica retida nos seus olhos. Tudo é visto sem muita atenção, até porque é tanta coisa, que a capacidade de apreensão fica prejudicada.
Aqui na Europa , e talvez em todo lugar do mundo deve ser assim, o que difere é que aqui, pela quantidade de monumentos, história e os muitos detalhes da história de cada um , fica realmente difícil para a pessoa captar tudo numa primeira volta.
Fiquei em casa ontem (31\12), tomando vinho e comendo gostosuras francesas com Amélia. Isso aqui é um luxo de iguarias, eu adoro, queijos, vinhos, patês, tudo de bom, e Amélia gosta e preparar e ser requintada. Logo nem saí de casa, também não tive ânimo, o frio estava demais.
Fiquei pensando se me arrependeria em não ir ao Champs Elisier, acabei dormindo com o vinho. Mas foi bom, segundo os brasileiros que encontrei agora de manhã, nada teve, só a contagem regressiva, não tem fogos aqui. Emilizinho deve se lembrar, que quando nós viemos juntos, o povo do albergue tava comentando a frustração que foi ficar naquela expectativa e nada de fogos.Ontem foi o mesmo, segundo o casal que conversei hoje cedo num café.
Hoje saí , fui até o Champs Elisier, andando sem mapa, dominando a cidade. Realmente isso é um desbunde, o francês, ou parisiense é muito sofisticado, acho que o mais sofisticado da Europa, do mundo, um luxo mesmo.
Caminhei pelo Champs, entrei num café numa galeria, tomei um chocolate e fiquei observando o povo, encontrei o casal de brasileiros de Porto Alegre e coitados, os aluguei, falei até não acabar mais, sei lá, o povo vem e fica com medo de sair das redondezas do hotel, dei para eles um monte de dicas; e fui até o arco entrei pela rua de dentro, F .Sant Honoré( onde Amélia morava), cheia de galerias de arte, o palácio do Sarcosi e grifes famosas. A vitrine da Hermes está um luxo, linda, saí na Hausmann, (aquele prefeito que mudou a cara da cidade no século XIX, e que foi copiado pelo Pereira Passos lá no Rio, o Pereira, estudou aqui e era visto como Hausmann tropical).
Aprendi sobre a reforma de Paris no Marshall Bermann, Tudo que é sólido desmancha no ar , que faz a ponte entre Baudelaire e Walter Benjamim e Paris, capital do século XIX. Da Hausmann que hoje tem a Printemps, a Galeria Lafaiete, voltei para casa. Hoje está dando para andar, só o pé que não aquece. Comi pão com queijo e vinho aqui na casa da Amélia, estou tentando não exagerar na comida. E também o comércio hoje está todo fechado, nem restaurante está aberto.
Realmente tenho que me render, Paris me enlouquece, cada vez que venho fico extasiada, isso passa,mas a sofisticação é uma coisaaaa. Não tem cidade no mundo assim, templo de consumo e templo de cultura também.
Tudo bem que tem coisa diferente no ar: tem pedinte por vários lado, dentro do café, na boca do metro, das igrejas, não sei de onde é o povo. Mas é algo diverso do que já vi, coisa comum para nós do Brasil, mas talvez não muito comum aqui no primeiro mundo, onde se supunha estarem os problemas resolvidos. Esses são pedintes mesmo, diferente daquele que eu falava quando morava na Itália. Eu dizia, tem diferença, se você entra num metrô e vem um cara cantando, dançando, tocando um instrumento e depois pede uma moeda, você diz, aqui até no metrô tem cultura, interpretação romântica, pelo lado positivo, eu poderia dizer que é pedinte de qualquer maneira. Agora se o cara está só pedindo, todo sujo, sem nada oferecer, aí dizemos sem romantismo, essa sociedade está com problemas.
Andei até tarde e antes de anoitecer já estava em casa, lendo o guia de Portugal tentando preparar a segunda parte da viagem.
Hoje foi o último dia de Paris, uma sensação estranha me invade agora a noite. São 19:30, Amélia ainda não chegou, amanhã levantarei muito cedo pois o TGV parte as 7:10 da manhã. Logo devo me levantar as 5:30, para sair as 6 ou antes. Certamente ainda estará escuro. Não gosto de sair muito cedo, mas também, não chegarei tarde no local.
Vamos amanhã , eu e Lucilene e Julia, sua filha. Todavia mesmo assim aquela sensação de partir me acomete . Não senti isso em Istambul, mas não deixei lá pessoas que gosto. Aqui como sempre deixo essa querida amiga, que sempre foi tão gentil, amiga e companheira comigo. Uma amizade desinteressada, generosa, me recebe em sua casa como se aqui fosse um hotel 5 estrelas, melhor impossível, conversamos, comemos juntas, vemos programa na televisão, discutimos sobre a vida e seu sentido. Queria muito que um dia ela fosse a minha casa para eu retribuir-lhe, não sei se a altura, pois não tenho a sua sofisticação parisiense.
Mas estou triste pela saída. Recordo-me quando aqui a primeira vez estive, e que sair desse aconchego de amiga foi muito difícil, eu estava sozinha, com 22 anos e toda a europa a frente para conhecer. Montei um roteiro louco que passava por todas as capitais, da Holanda a Portugal, passando pela Inglaterra, subindo pela Itália, passando por Viena, Alemanha, Suíça, uma viagem corrida, de passe, dormindo muitas vezes no trem, mas não estava frio,era primavera. Foram 42 dias, no fim estava exausta, ansiosa para voltar mais satisfeita. Pensei muito sobre minha vida, quando estava sozinha, vi o que não queria mas não decidi o que queria. Foi logo depois de me formar em direito. Depois voltei para ficar um ano na Itália, fiz de novo um pequeno giro com meus pais, com a Êmili e depois com o Emil. Mesmos lugares e lugares diversos, sempre numa eterna curiosidade que me é peculiar. Querendo sempre saber e sempre ver. Entrando por vielas e descobrindo jardins , como é bom descobrir jardins. Hoje menos ansiosa, um pouco mais consciente do que espero da vida e de seu sentido, mas não completamente. Acho que isso nunca vou achar, já que o sentido está no próprio caminho a própria vida, nas pessoas que conhecemos nos lugares que vamos, no valor que damos a essas pessoas e no afeto que lhes dispensamos, pois como diz meu amigo Marcelo Augusto, não se deve guardar afeto para o perecimento. Afeto se distribui, o quanto mais, melhor, depois de morto para que termos o afeto de alguém? E até agora ninguém provou que morto tem afeto por alguém.
Dos que foram resta a lembrança viva, e talvez isso seja o sentido da vida eterna. Porque de quem foi, além da fotos desbotadas na parede e das lembranças , nada há. E como diz Drummond, e como dói. Sei lá.
Fico pensando naquela pessoa que mal dispensa afeto, que não quer ter afeto, que louca, que louco, tenho pena, não pode dispor da beleza ,da alegria de ter afeto e de se doar.
Mas não vou fazer disso tudo um manual de lembranças ocasionais vindas a tona por causa da partida. Tenho consciência de que para mim, partir sempre foi o mais difícil, mesmo tendo que voltar, sabendo que vou voltar. Será que ainda volto a Paris nessa vida? Levando-se em conta que devo morrer com uns 80 anos, volto sim, pelo menos uma 3 ou 4 vezes, uma a cada sete anos, ou dez anos. Bom número, sofisticação e bom gosto e coisa gostosa, tem que ser cultivado, e só aqui é possível esse máximo.
Nenhum outro lugar do mundo, que me perdoem as outras cidades maravilhosas, mas é isso.
Mas quero vir fora do excesso de frio, para sentar na rua e ficar, primavera tá bom, sem muito calor também.
Bem a viagem segue, pela França não muito, entraremos na Espanha e depois na Terrinha, Portugal. Li no guia que Laura me emprestou muita coisa sobre Portugal. O Porto, Lisboa , tudo mais pequenino, como dizem eles, estás a perceber... tenho que treinar meu sotaque. Aqui eu não falo nada, na Espanha vamos ver. Lucilene e a filha vão comigo até o Porto, vamos ver a casa do Miguel Torga, e todas aquelas coisas por lá. Creio que por lá as coisas são mais baratas que aqui. Todavia por mais que tentemos não conseguimos ficar sem comprar nada. A mala está cheia, um saco carregar mala, descer metro etc e tal. A comodidade é a rainha. Com ela imperando não saímos de casa. Temos é que desapegar e levar menos coisa possível e não comprar.
Mas é difícil ainda mais em época de liquidação.
Tem montes de berimbau por aqui , que temos que controlar para não levar...
Já to com saudade, estou também cansada, andei hoje ,v i coisas, saí com as meninas e agora aqui espero Amélia que hoje foi ao Vale do Loire, o tour pelos castelos. Muito bonito. Eu já fiz com ela esse passeio .
Hoje é dia 4, agora parece passar rápido, só tenho mais 16 dias de férias. Vou parar de contar. Amanhã TGV às 7 da matina.
Mas hoje fui ainda a Pigale, flanei pelo Boulevard Rochechuart, comprei uma boina, preto e branca, para eu usar com Alice e proteger do f rio.
Depois encontrei com as meninas e fomos as compras para elas comprarem coisinhas, fomos ao terraço da Printemps e, por estar demasiado frio não andamos mais. Creio ser muito complexa a relação de mãe e filha que elas tem. Complexa demais. Existem filhos tiranos, filhos que fazem questão de abusar de sua posição de filhos, que obrigam e sujeitam os pais, tudo por atenção, e pais que por culpa ou sei lá o que se sujeitam a tudo. Muito difícil, as vezes penso que é melhor mesmo não ter filhos,não sei se saberia lidar com tudo isso.
03\1\2011 - Paris
Rua, flanar, flanar, flanar. Frio, quente, frio. Saí cedo a flanar pela cidade sem mapa. Me encontraria com Amélia as 12:30 no Metrô Tulieres, Jardim do Louvre, para almoçarmos. Perdi-me e achei-me, cheguei, vi milhões de coisas para comprar que não vou comprar. Para que eu quero mais roupa de frio, não há necessidade, mas é F, dá a maior vontade de comprar tudo. Mas pra que? pergunto-me antes de ceder a tentação. Mas um bagulho na gaveta sem usar ,ainda mais com o aquecimento global. Mas é brabo não ceder, tem que ter força, ainda mais com as liquidações.Montes de casacos, blusas e cachecol, gorros. Imagino, se esse casaco que tô usando agora estava guardado há 7 anos, pra que eu quero outros, sem condições, e as botas... loucura, mas como levar.Comprei uma bolsa...
Encontrei Amélia e fomos a Defense almoçar . Passamos na Place de Voges, da casa do Victor Hugo, aquela gracinha, fomos pelo Marré e chegamos num típico e tradicional restaurante Francês, Bulfinger, uma comida deliciosa e uma sobremesa muito boa com um vinho bom, deu até calor. Como é bom. Eu me rendo aos prazeres parisienses... quero vir todo ano, risos... Acho que tinha que ter uma máquina de giro, máquina de flanerie mundial.
Voltamos para casa de ônibus.
Nesse dias esqueci das minhas drogas chinesas, faz tempo que não tomo nada, só champanhe... ui,ui, ui...
02\1\2011Paris
Lucilene me ligou dia primeiro e combinamos de nos encontrar ontem no Museu D’orsai, que tem todo povo( arte) do século XIX: Monet, Goughain, Van Gogh, Gustavo Moreau, Delacroix, e muitos objetos e móveis Art noveaux , as peças que misturam madeira, ferro, vidro, exóticas, belíssimas daquele século. Tinha também outras exposições temporárias, cheias de simbolismo. Fiquei esperando Luci, um tempão, ela se perdeu e foi sem a Julia, que não passara muito bem a noite. Eu também me confundi, saí da casa da Amélia cedo para ir a pé, desci a Rochefoucoult entrei na rua do lado da Lafaiete, passei Madeleine e cheguei na Praça Concorde, fui pelo Champs até os Palais Royal, quando me dei conta que não era ali. Puts, desci peguei o metrô correndo e fui até o lugar combinado. Fiquei aguardando, aguardando e nada, o frio estava de matar, a fila monstruosa. Eu rodava, rodava, talvez estivesse mais frio por estar na beira do Sena. Sei que quando ela apareceu ainda ficamos uma hora na fila para conseguir entrar. Todo povo estava nos museus ontem, porque era o primeiro domingo do mês e nesse dia os museus são de graça. Fomos apenas ao D’orsai , já vi os outros e quero mais dessa vez sentir a cidade do que ficar dentro dos museus, que de certa forma ,creio perderam um pouco da sua força. De novo aquela questão da aura. Lógico que no museu o contato é direto com a obra, tem-se contato com sua aura e todas as suas características estão ali presentes e podemos ter a recepção que se espera, ou não .
Todavia com a internet através de imagens mais fortes que a de papel dos livros se entra nos museus e se visita o que quiser, com todos os inter-textos que lhe darão as mais variadas informações. Já conhecemos a obra antes de termos contato com elas e isso pode , quem sabe, fazer com que ela perca um pouco a sua mágica aura. Num museu lotado de gente, que quer apenas fotografar e mostrar que ali esteve, quem pode ficar ali parado contemplando uma obra daquelas. Poucos que não foram engolidos pelo “esquemão” de visita guiada por gente ou por áudio-guia.
Mas eu gostei da ida ao museu ontem, mesmo lotado, vi uma parte que creio não tinha visto , a parte Art noveaux, que eu aprecio muito.
No mais estou andando na rua, no metrô, em algumas igrejas, quase nenhuma. A proposta de Paris dessa vez foi outra. Foi a deixar levar... ir, FLANAR, e é só o que tenho feito. Sinto –me um verdadeiro flâneur. Saio de manha e só volto a tarde quando os pés já não aguentam mais, tomo um banho, tomo champanhe e vinho da melhor qualidade no meu hotel 5 estrelas, digo a Amélia .Ainda tenho vontade de morar um tempo por aqui. Quem sabe?? Eu sou louca, quero habitar todos os lugares, estar em todos e não estar em nenhum... Talvez voando sobre todos olhando-os do alto.
Depois do museu fui com Luci, até o seu albergue ver a Julia e depois voltar. Tomamos o metro e fomos para um quarteirão onde eu nunca havia estado, na linha da Torre Eifel. Lá longe, um bairro distante do centro um pouco, como se fosse a Tijuca. Simpático o lugar, vê-se que é uma outra cidade , mais nova, prédios antigos , mas maioria novo. Não é Paris do século XIX, mas do século XX tranqüilo , eu moraria ali na boa, o aluguel deve ser mais barato e não é tão longe. Tem infra-estrutura. Pegamos a menina no albergue e saímos, tentamos um restaurante, mas já era 3 h da tarde de domingo, fechado. Por fim paramos num pé sujo e fiz a pior refeição da viagem até agora. Um kebab parisiense com batata frita e coca cola. O garçom, atendente era multimídia, lavava, cozinhava, abria massa, fritava batata, servia e com a mesma mão, sem luvas, ele pegava o dinheiro do cliente e dava o troco. Bom, overdose de vitamina S( de sujeira). Tudo bem, as bactérias não sobrevivem muito ao frio que está fazendo. No fim nada fica a dever para ao andes bolivianos e peruanos ou Caruaru. Estou ficando expert em matéria de bactéria. Chega não pensamos mais nisso.
Depois de comermos pegamos o metrô e fomos direto para a praça Charles de Gaule Etoile, lá no arco O céu tinha aberto um pouco e tinha até lugares azuis, a torre a vista, estava um lindo fim de tarde. Fotografei nos lugares. Fomos descendo o Champs Elisier que estava super lotado, quando esfriava muito entravamos nas loja para aquecer. E foi escurecendo até que tudo se iluminou a decoração que eu ainda não tinha visto. Muito lindo, realmente. As meninas (Luci e Julia15 anos) foram comprando os apetrechos para o frio, Labello( para os lábios), luvas, cachecol, apetrechos fundamentais. Fomos andando até a praça Concorde onde está a imensa roda gigante toda iluminada, linda. Passamos pela vila de Noel e a multidão e nos pusemos na fila para subir, 10 euros, subimos, e ver Paris lá de cima a noite foi o máximo. Confesso que fiquei com medo de me mexer, eu fiquei de frente para Torre e de costas para Sacre Coeur. Na Cabine que é fechada fomos nós três e mais um casal, que ficava se mexendo, e eu fiquei assustada. Mas depois relaxei e virei para ver a igreja que gosto. As fotos ficam longe, mas a sensação é boa, lá de cima, tudo iluminado por pontinhos de luz e Paris faz jus ao nome de Cidade Luz. Duas voltas, apenas e acabou.
Descemos, fui comer um tipo wafer de chocolate, nutela, muito gostoso. Saímos de lá fomos em direção a Galeria Lafaiete, passamos pela Madeleine e saímos em frente a Printemps, só que ontem, domingo, estava tudo fechado. A Printemps ainda tinha suas vitrines acesas, onde a decoração optou por representações luxuosíssimas de quadros(creio eu) um luxo sem igual, até animais empalhados. Diferente da Lafaiete que colocou bichinhos de pelúcia como marionetes cantando e dançando, um deles era do musical Mama mia, que está em cartaz aqui.De lá vim para casa e as meninas pegaram o metro e foram. Cheguei e fui ver email e tentar montar minha viagem, creio que defini o roteiro,vou para Hendaye, país Basco francês na fronteira com Espanha, de lá Biaritz e San Sebastian, saindo de SS, para Salamanca, e depois o Porto, já Portugal, primeira etapa de TGV e depois não sei. Cansei de internet anotando hotéis e trens. Tomei champanhe e ainda comi sopinha e cama.
1\1\2011 Paris
São 8 da manhã, condicionamento é fogo, não consigo acordar tarde. Talvez melhor, porque meu dia rende muito.
Ontem saí pela cidade, me perdia, me achava. Fui a Sacre Coeur, que estava tão lotada que desisti de entrar no primeiro momento, aí fui andar por Montmartre, que delícia, mesmo lotado como estava, estava bom, porque com o frio, as pessoas fazem barreira contra o vento. Tava zero grau a tarde, ninguém merece, andei, andei, entrei em montes de lojinhas de bagulhadas, souvenir, só para sair do frio, os cafés, lotados e restaurantes também, porque o povo disputava o lugar quentinho.Muito brasileiro, muito mesmo. Dois sinais, ou a coisa para nós está boa, ou aqui é que ta ruim. Creio que para nós melhorou, se pode um pouco mais que antes. Me recordo que a primeira vez que vim a Europa, gastava-se o valor de um carro, hoje esse valor ta mais em conta. Ainda não é barato, mas já se pode dividir a passagem em suaves prestações e usar cartão de credito , ou seja, se não se vem apenas consumir bens materiais a viagem não sai assim tão fora das possibilidades de uma pessoa que ganhei mais ou menos.
Depois de andar muito entrei na igreja SC e fiquei,ainda assisti a metade de uma missa. Era para sair do frio, pois os pés já congelavam.
Desci o morro e fui caminhando até a Galeria Lafaiete tava lotada, mas muito lotada, muita gente comprando. Voltei para casa e esperei Amélia que chegou com toda uma ceia para nós. Ficamos por aqui, tomando vinho, champanhe, conversando para o frio sair. Nem fui para rua, acabamos ficando por aqui. Escutei os fogos na rua mais não fui até lá, não tive coragem, o frio me imobiliza. Um saco. Mas valeu muito foi muito agradável ficar aqui.
A cidade continua tão linda, Paris tem um astral muito legal. O próprio nome já se vende sozinho , é impressionante a quantidade de produtos que tem licença para usar o nome Paris, que por si só já vende o produto.
Ao ficar sentada na igreja fiquei reparando como o turista vê as coisas, ele não vê nada, passa pelas coisa. É assim, ele entra, olha tudo como num monobloco,não respeita as indicações do local para não tirar foto, olha tudo como alguém que passa de TGV por uma paisagem, e sai para a próxima estação. Ou seja, no fim da viagem, parece que nada viu, uma ou outra imagem fica retida nos seus olhos. Tudo é visto sem muita atenção, até porque é tanta coisa, que a capacidade de apreensão fica prejudicada.
Aqui na Europa , e talvez em todo lugar do mundo deve ser assim, o que difere é que aqui, pela quantidade de monumentos, história e os muitos detalhes da história de cada um , fica realmente difícil para a pessoa captar tudo numa primeira volta.
Fiquei em casa ontem (31\12), tomando vinho e comendo gostosuras francesas com Amélia. Isso aqui é um luxo de iguarias, eu adoro, queijos, vinhos, patês, tudo de bom, e Amélia gosta e preparar e ser requintada. Logo nem saí de casa, também não tive ânimo, o frio estava demais.
Fiquei pensando se me arrependeria em não ir ao Champs Elisier, acabei dormindo com o vinho. Mas foi bom, segundo os brasileiros que encontrei agora de manhã, nada teve, só a contagem regressiva, não tem fogos aqui. Emilizinho deve se lembrar, que quando nós viemos juntos, o povo do albergue tava comentando a frustração que foi ficar naquela expectativa e nada de fogos.Ontem foi o mesmo, segundo o casal que conversei hoje cedo num café.
Hoje saí , fui até o Champs Elisier, andando sem mapa, dominando a cidade. Realmente isso é um desbunde, o francês, ou parisiense é muito sofisticado, acho que o mais sofisticado da Europa, do mundo, um luxo mesmo.
Caminhei pelo Champs, entrei num café numa galeria, tomei um chocolate e fiquei observando o povo, encontrei o casal de brasileiros de Porto Alegre e coitados, os aluguei, falei até não acabar mais, sei lá, o povo vem e fica com medo de sair das redondezas do hotel, dei para eles um monte de dicas; e fui até o arco entrei pela rua de dentro, F .Sant Honoré( onde Amélia morava), cheia de galerias de arte, o palácio do Sarcosi e grifes famosas. A vitrine da Hermes está um luxo, linda, saí na Hausmann, (aquele prefeito que mudou a cara da cidade no século XIX, e que foi copiado pelo Pereira Passos lá no Rio, o Pereira, estudou aqui e era visto como Hausmann tropical).
Aprendi sobre a reforma de Paris no Marshall Bermann, Tudo que é sólido desmancha no ar , que faz a ponte entre Baudelaire e Walter Benjamim e Paris, capital do século XIX. Da Hausmann que hoje tem a Printemps, a Galeria Lafaiete, voltei para casa. Hoje está dando para andar, só o pé que não aquece. Comi pão com queijo e vinho aqui na casa da Amélia, estou tentando não exagerar na comida. E também o comércio hoje está todo fechado, nem restaurante está aberto.
Realmente tenho que me render, Paris me enlouquece, cada vez que venho fico extasiada, isso passa,mas a sofisticação é uma coisaaaa. Não tem cidade no mundo assim, templo de consumo e templo de cultura também.
Tudo bem que tem coisa diferente no ar: tem pedinte por vários lado, dentro do café, na boca do metro, das igrejas, não sei de onde é o povo. Mas é algo diverso do que já vi, coisa comum para nós do Brasil, mas talvez não muito comum aqui no primeiro mundo, onde se supunha estarem os problemas resolvidos. Esses são pedintes mesmo, diferente daquele que eu falava quando morava na Itália. Eu dizia, tem diferença, se você entra num metrô e vem um cara cantando, dançando, tocando um instrumento e depois pede uma moeda, você diz, aqui até no metrô tem cultura, interpretação romântica, pelo lado positivo, eu poderia dizer que é pedinte de qualquer maneira. Agora se o cara está só pedindo, todo sujo, sem nada oferecer, aí dizemos sem romantismo, essa sociedade está com problemas.
Andei até tarde e antes de anoitecer já estava em casa, lendo o guia de Portugal tentando preparar a segunda parte da viagem.
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