segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Uma tarde, uma hora, um minuto, um segundo


                




                    16h 20 minutos, dia 14 de outubro, a casa estava vazia,  nenhum  ser trafegava naquela tarde,  estava apenas eu e meu computador . Sentada na sala aristocrática  com móveis e acessórios ingleses do Lord Dolmer tudo parece escurecer. Olho pela janela e uma imensa tempestade se avizinha. A sala naturalmente clara tem que ter as luzes acesas,  a trovoada de verão que se dá no outono traz junto consigo os raios e a chuva.
               Saio correndo para pegar as  roupas na corda, dois imensos lençóis brancos e fronhas também brancas, o vento é tão forte que quase perco os têxteis, retiro todos e me dirijo a lavanderia escura, uma porta dá somente para aquele espaço, não sei onde é a luz, por isso deixo a porta aberta e começo a dobrar, mais ou menos, os lençóis.  Vejo vários interruptores e disjuntores, aperto todos e  um deles faz a luz de repente acender. Termino o trabalho, fecho a porta que da  para  fora e   apago a luz , começo a sair e  outra  porta atrás de  mim bate com toda força.  Do lado de fora os roncos da trovoada  aumentam.  Descubro que  deixei aberta a janela da cozinha, um grande janelão de  vidro que bate sem parar, corro lá fecho, mas o trinco normal está emperrado, o fogão  vai molhando e finalmente consigo um outro trinco.  Penso nos outros cômodos da casa, estaria algum aberto, são 3 andares, do solo ao topo e ainda tem um subsolo que é um mafuá  só de  tanta coisa que tem numa bagunça terrível, tudo junto e misturado. 
                  Volto para sala, tudo está muito escuro, acendo a luz principal, pego meu o computador e começo a   usar. A internet não funciona,  roda, roda e nada acontece. O barulho da  chuva fica mais forte, forte, forte. Sentada no sofá chique,  vejo pelo vidro a minha frente o reflexo das árvores do lado de fora se debatendo e dançando com o vento.  O céu tem aquela cor esbranquiçada mas está escuro. A luz da sala é amarela e a parede também, os sofás verde e rosa pálido, esse mesmo que o povo usa na boca agora, nude, num tecido sofisticado. Sobre o cravo, ou seria piano,  três fotos, uma de um casal com máscaras, outra de uma mulher vestida de noiva e outro de uma menina.  Na parece o Lorde em trajes  de nobreza e aquele cabelo ou peruca brancos. Embaixo do piano uma mala velha daquelas antigas, não está deitada, estranho, está em pé. Quem colocaria uma mala de decoração em pé?
                  Passo os olhos pelo resto do ambiente, atrás do sofá verde a minha frente tem uma porta de vidro e do lado esquerdo da porta uma mesa cheia de retratos, embaixo da  mesa  um objeto interessante, dois círculos de madeira na horizontal com vários carreteis de  linha de coser.   Na mesma parede a lareira e sobre ela um grande espelho, o espelho aumenta o tamanho da sala.
                De repente  o silêncio invade a sala,  nem trovão, nem  chuva, nem  vento, nem  nada, apenas a respiração do computador. Enfim, tudo não passou de  alguns minutos  na observação da natureza das coisas.         



5 comentários:

  1. Lindo.Elis a poesia consagra este momentos. Escrevemos para fugir do tédio, dos medos, dos horrores. Tudo é transformado em poder e amor. Começando pela natureza... Tudo em conformidade... Os raios, a chuva, os ventos, o céu... Tudo acontecendo como um dia de chuva de verão...

    ResponderExcluir
  2. Um belo texto de um momento feliz, a poesia fluindo nas entrelinhas.

    ResponderExcluir
  3. Amiga, mais uma vez fiquei perto de você. Tive a sensação perfeita de ser conduzida pelos ventos que sopravam o seu dia...

    ResponderExcluir