sexta-feira, 20 de setembro de 2019

E o destino tá sempre escrito 1

O vento chegou hoje aqui outra vez, a  noite foi mal dormida e  fria, acordo mais tarde sem a sensação de  que posso ser chamada atenção. De certo eu não tenho noção da relação que  temos. Besteira  minha isso.  Cheguei  à cozinha e Yves já tinha  comido seu cereal e feito o café. Estava com o computador sobre a bancada  ouvindo música brasileira, o Boca Livre num concerto, bem legal. E depois  uma galera bem jovem também cantando nossa música.  Falei a  ele da notícia do Brasil, caí no choro. Me contive, não é fácil, de repente aquela sensação outra vez de tirarem o solo dos seus pés.
Que turbilhão que é a vida da  gente. Calma, preciso  me controlar, tudo vai dar  certo. Se existe destino ele está já traçado,meu pai disse, mas destino às vezes  é por demais cruel.
Tomei meu café , lavei a louça e  fomos arrumar o portão.  Lógico que minha dor de tensão no quadril começa a me acompanhar e ainda aquela sensação de  medo que dói na  boca do estômago.
Tempo para elaborar as coisas. 
Acho que vai esfriar, o tempo parece que tá mudando. Não fui a Villefrance vender anéis, desanimei um pouco. Falei com Emili a pouco, como sempre muito assustada. Precisamos acalmar.

Almocei e depois da sesta fui terminar de passar óleo de linhaça no portão, ficou lindo ainda pintei de  amarelo a dobradiça, depois fui a oficina do Yves, certamente nunca varrida, perguntei a ele, ele respondeu: sometimes, logo, never. Perguntei se podia, comecei  a varrer, ele animou, aí fui. Tirei  tudo, era muito pó, tanto que meu cabelo saiu duro. Varri, limpei as prateleiras, puxei as máquinas juntei as coisas iguais.  Ele fez um chá, subi tomei, conversamos um pouco e ele me contou de sua vida e de quando conheceu Margareth.  Ele morou na Argélia, nasceu lá, veio para França já com 10 anos.Filhos de pais franceses eu acho. Contou-me que  seu irmão mais novo foi preso político, se entendi bem na Argélia. Acho devia ser pró-colonizador. Enfim, ficamos  conversando.  Depois voltei a  oficina  e só sai quando acabei. Ainda tem uma outra sala da oficina. Talvez eu limpe na segunda.
   Tomei meu banho e fui fazer o jantar. Fiz cuscus marroquino e  vagem( de novo- não, só outra vez,todo dia) com ovo,  foi o jantar, depois queijo e yogurte de  baunilha.
Pois então,  que um simples relato do dia não supre a  reflexão que nos acomete. Para quem as relações são  eventuais, tanto faz, tanto fez, mas  para quem para e pensa, a angústia, o medo, que nos invade  é  horrível. 
Meu amigo me disse que certos momentos são os piores, com o tempo o ser humano  vai indo, indo, indo.Oxalá, tudo vai dar certo, não há de ser. 

Um comentário:

  1. Oi,amiga, com certeza, há momentos em nossas vidas em que parece que vamos sucumbir...mas, de repente, emerge toda aquela força própria da natureza humana, talvez mais da feminina...e tudo parece ir voltando, aos poucos, ao eixo. Somos assim mesmo, turbilhão e mansidão.Basta sabermos equilibrar. Carpe diem, amiga querida!!!
    Amando ler você...

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